Queixa escolar e seus fenômenos multideterminados

Linguagem e Subjetividade

Queixa escolar e seus fenômenos multideterminados

11/2012

Queixa escolar e seus fenômenos multideterminados

Dayane Lotti; Isabela Leite Concílio*

Resenha sobre o minicurso “Orientação à Queixa escolar”, realizado em 15 de Agosto de 2012, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo por Beatriz de Paula Souza.

Em um minicurso ministrado pela psicóloga mestra Beatriz de Paula Souza na Semana de Psicologia 2012 da USP, foram apresentados aspectos sobre o tema “Orientação à Queixa Escolar”. O conteúdo fazia parte do livro homólogo organizado pela psicóloga e tratava da importância em considerar a dimensão social da subjetividade no atendimento psicológico das crianças e adolescentes que apresentam dificuldade na vida escolar.

Primeiramente, é ressaltado o equívoco de não tratar da questão do ambiente escolar problemático como fator capaz de influenciar os problemas da criança, pensando apenas que a origem da dificuldade da criança está em fatores endógenos desta ou em fatores familiares apenas.

Há uma tendência de diagnosticar os comportamentos dessas crianças e tratá-los como sintomas de hiperatividade, déficit de atenção ou dislexia, porém, dificilmente é pensado, por exemplo, que a escola possa não estar adaptada para as crianças contemporâneas. É necessário enxergar o que é do aluno e que o é de ordem coletiva (política e institucional). O aluno não é um sujeito que atua isoladamente em suas atividades, ele se produz a partir de uma relação entre instituição escolar, a família e a própria criança, que pertence a um contexto socioeconômico que delimita uma política educacional específica.

Diversos são os fatores que podem contribuir para a dificuldade escolar da criança e estes devem ser analisados historicamente para uma melhor compreensão do aluno, revelando um sentido da sua queixa escolar.

Alguns aspectos precisam ser considerados para ajudar a entender o problema da queixa escolar, possibilitando uma reflexão sobre a necessidade de repensar a atitude comum de apontar ou os pais, ou os alunos, ou os professores como responsáveis diretos e únicos por essa situação.

Existem exemplos de fenômenos que contribuem para a dificuldade do aluno e que incidem sobre os educadores a partir dos órgãos centrais, como a mudança constante de professores em pleno ano letivo, o que prejudica a educação do aluno, uma vez que essa inconstância de profissionais enfraquece a relação professor-aluno que deveria ser bem estabelecida. Essas mudanças ocorrem, por exemplo, pelo adoecer recorrente de professores (outro problema que merece atenção), e pela burocracia que impede que professor substituto torne-se fixo em uma escola. Outro ponto a ser destacado é o das políticas públicas implantadas de maneira autoritária e desorganizada, como a mudança dos anos de escolaridade em que crianças de seis anos, ao invés de frequentarem o pré-primário ou qualquer outra série mais apropriada, cursam o primeiro ano e se expõem a regras com as quais têm dificuldade para se adaptar. E, por último, os baixos salários dos professores são fatores desse fenômeno que podem influenciar indiretamente na dificuldade escolar do aluno.

Direcionando o olhar sobre os educadores a partir do ambiente interno, veremos que existe a ausência de espaços sistemáticos e organizados de reflexão onde eles possam aprimorar e elucidar suas atuações; a ausência de projeto político pedagógico da escola; excesso de cobrança aos professores e falta de interlocutores que os orientem ao invés de criticá-los; a desconsideração do saber desses profissionais e a desconsideração do professor como um ser de possibilidade e necessidades.

A exibição desses exemplos é importante para a mudança de uma visão que busca culpar, unicamente, ou o professor, ou os pais, ou os alunos pelos problemas da educação.

Essas colocações visam sugerir que o problema da queixa escolar é, na verdade, multideterminado por fenômenos que não são apenas de responsabilidade direta de determinado grupo. Como dito por Beatriz de Paula Souza, “existe uma rede de relações na qual a queixa escolar emerge, ao longo de uma história que lhe dá sentido.” (Souza, 2001).


Referências bibliográficas

FRELLER, C.C.; SOUZA, B. P.; ANGELUCCI, C. B.; BONADIO, A. N.; DIAS, A. C.; LINS, F. R. S.; MACÊDO, T. E. C. R., Orientação à queixa Escolar. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 2, p. 129-134, jul./dez. 2001.

 

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