A Leitura: cotidiana e motivacional

Linguagem e Subjetividade

A Leitura: cotidiana e motivacional

09/2014

A Leitura: cotidiana e motivacional

Dayane Lotti e Adriana Gaião *

É comum ouvirmos o quão benéfico é o hábito de ler praticado por pessoas de todas as idades para variados fins, seja por lazer, necessidade ou pela apropriação de conhecimento. Ao nos depararmos, porém, com a relação entre os brasileiros e a leitura, vemos que cada vez menos estamos envolvidos com essa atividade. O projeto “Retratos da Leitura no Brasil” desenvolvido pelo Instituto Pró Livro (IPL), é o primeiro e único estudo nacional destinado a investigar o comportamento leitor do brasileiro, e, em seu levantamento mais recente, divulgou que entre os anos de 2007 e 2011 o número de brasileiros que haviam lido ao menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa, caiu de 95,6 para 88,2 milhões de pessoas. Esses números indicam uma redução de 5% da população leitora, incluindo crianças e adolescentes em idade escolar.

Durante a vida estudantil, a escola é integrada à vida do aluno e supre pontos cruciais cotidianos, sendo por um bom tempo o seu segundo lar e a segunda família. Tornar o ambiente escolar propício à formação intelectual e pessoal da criança, requer o uso da leitura como importante ferramenta nesse processo.

Segundo Souza em seu livro “A conquista do jovem leitor”, é preciso “angariar a simpatia do aluno, oferecendo-lhe oportunidade de resgate de experiências pessoais (...) em sintonia com o texto. E quando o aluno ansiar por leituras além daquelas oferecidas pelos professores, que ela surja sem condicionamentos, enfim, quando e onde ele bem desejar, livremente” (SOUZA, 1986, p.41). Podemos compreender, portanto, que a leitura cotidiana deve estar enraizada no ato prazeroso.

A Escola Estadual Pastor Paulo Leivas Macalão, situada ao pé da Serra da Cantareira, em São Paulo, inaugurou este ano (2014), o denominado “Cantinho da leitura”. Localizado ao lado da cantina e em frente ao pátio do recreio, os livros são organizados em estantes, de acordo com o estilo literário em questão enquanto tapetes e almofadas compõem um ambiente agradável para a leitura. A iniciativa tem como intuito disponibilizar aos alunos acesso e locação de livros paradidáticos e de diversos gêneros literários (narrativas como fábulas, contos, romances, até poesias), além de gibis e revistas educativas, como uma maneira de incentivar a leitura e torná-la algo cada vez mais frequente na rotina das crianças e adolescentes que ali estudam. O diferencial desse espaço é sua localização estratégica que possibilita aos alunos a oportunidade de usufruírem dos livros e revistas durante o intervalo das aulas, além de estimulá-los na procura da leitura extra classe de forma autônoma.

Segundo Eliana Campos, professora de sala regular do 3º ano do Ensino Fundamental, “As crianças que mais se interessam têm em torno de 7 a 9 anos, sempre procuram os livros mesmo no seu intervalo, em que poderiam estar brincando de outras coisas”. Afirma também que “As crianças podem locar os livros e quando acabam de ler trocam com outros colegas e depois acabam discutindo sobre as histórias”. Nos fins de semana, o espaço é aberto e não há um professor ou adulto responsável que supervisione o local. Apesar disso, o “Cantinho da Leitura” é frequentado por algumas crianças, e, diante da ausência desse responsável, eles mesmos cuidam do lugar, e não mais rasgam os materiais nem os deixam jogados.

A troca dos livros lidos permite o debate sobre as histórias e as interpretações a respeito das personagens e do contexto, e sendo assim, a prática de discutir e argumentar acaba por desenvolver o senso crítico nos estudantes. Um texto não traz explícito o seu sentido. É ao ler que o significado é atribuído; assim, a interpretação pelo leitor é autônoma e crítica.

O teórico Antônio Cândido, sociólogo, literato e professor brasileiro, acredita que o acesso aos diferentes níveis de cultura através da literatura proporciona a possibilidade de enfrentamento de diferentes pontos de vista, que mantêm ou rompem com aquilo que está estabelecido, mas que de qualquer forma compõe a multiplicidade de idéias. Nesse processo, a leitura faz a diferença para a mudança da sociedade (CANDIDO, 2006.)

As colocações de Candido quanto aos benefícios da leitura vão ao encontro do que os professores da E.E. Macalão observaram nas crianças que costumam frequentar o Cantinho de Leitura. De acordo com a professora Eliana, o espaço é bastante valorizado pela escola e visto como um recurso muito importante na evolução escolar das crianças, pois elas “estão escrevendo melhor e estão com um pouco mais de bagagem”, além de acreditar que “depois que as crianças começam a manusear os livros, elas começam a imaginar os textos”. Na medida em que a leitura é inserida naturalmente no cotidiano, livre de automatismos, os reflexos podem ser percebidos na formação de futuros leitores assíduos e críticos.


Referências bibliográficas:
CANDIDO, A. Literatura e sociedade. Ed. Ouro sobre o Azul,Rio de Janeiro, 2006.
INSTITUTO PRÓ LIVRO. Retratos da Leitura no Brasil. 2012. Disponível em:
http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=2834. Acesso: 15 ago. 2014.
SOUZA, M. S. D. de. A conquista do jovem leitor. Florianópolis: EDUFSC, 1986, p. 39-41

 

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