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Igreja em São Paulo: as razões da esperança - Parte II
Dom Geraldo Majella Agnelo
Dom Geraldo Majella Agnelo é Arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil

Ao receber, no dia 8 de outubro de 2007, por ocasião da comemoração de 100 anos da existência da Arquidiocese de São Paulo, a outorga do título Doutor "Honoris Causa", pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da qual foi aluno, professor e diretor, Dom Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil, proferiu uma notável saudação que iremos publicar, devido a sua extensão, em duas partes. Nesta segunda parte de sua saudação, Dom Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo de Salvador e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, acentua como foi forte e fiel a presença da Igreja na cidade de São Paulo para recordar a todos a paternidade e a misericórdia de Deus. Através de suas inúmeras obras de caridade, como o Bom Samaritano, socorreu e curou as feridas de quem vivia à margem do progresso e excluído dos benefícios aqui produzidos. Relembra a sua participação nesta história, bem como as figuras significativas de bispos e cardeais que tiveram grande importância na construção da Arquidiocese de São Paulo desde Dom Duarte Leopoldo e Silva (1907-1939) ao Cardeal Paulo Evaristo Arns (1970-1988). Acrescenta ainda ser tarefa das novas gerações de discípulos e missionários, sob o pastoreio do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, continuar a grande obra da fé e da caridade, que reconstrói a vida fraterna, a comunhão eclesial, reaviva a esperança e promove a paz. A grande cidade continuará a ser, dessa maneira, não a selva de pedra, mas a cidade da paz, que acolhe e conduz os seus filhos ao destino bom, segundo o desígnio de Deus.

É com certa emoção que quero manifestar o orgulho de ter participado desta historia, acompanhando pastores iluminados por Cristo, sacerdotes e religiosos (as) heróicos, leigos dedicados, e agradeço a oportunidade deste dia para manifestar todo o afeto, a estima, a admiração pela multidão de pessoas que tomaram parte dessa história e com generosidade e com sacrifícios se dedicaram para reconstruir o povo de São Paulo como povo de Deus, mesmo quando as forças contrárias pareciam prevalecer.

Gostaria de destacar, dentre a multidão, que tanta importância teve na construção desta história da Arquidiocese de São Paulo e que se apresenta agora à minha mente, algumas figuras mais significativas:
Dom Duarte Leopoldo e Silva (1907-1939): De 1927 a 1933, transferiu o Seminário de São Paulo, do Bairro da Luz, fundado em 1856, para a Freguesia do Ó. Em 1934, inaugurou o Seminário Central da Imaculada Conceição do Ipiranga. Deu também início à construção da Catedral de São Paulo.
Dom José Gaspar de Afonseca e Silva (1939-1943). Desde 1938 Bispo Auxiliar de São Paulo. Memorável realizador do IV Congresso Eucarístico Nacional em 1942. Faleceu em desastre aéreo no Rio de Janeiro no dia 25.08.1942.

Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta (1944-1964). Tenho nítida recordação do acolhimento que me proporcionou no Seminário Menor Metropolitano de Pirapora do Bom Jesus em 1948, e desde então tratou-me com afeto paternal. A ele dedico também afeto filial, memória saudosa e cheia de gratidão por toda a vida. - Em 1945, restabeleceu a Ação Católica na Arquidiocese, dedicando pessoalmente a assistência e formação de todos os seus setores. Ele o fez com tal precisão que formou muitos líderes leigos que se fizeram notáveis também no testemunho na política, ocupando cargos executivos e legislativos no plano estadual e federal. Faço menção especial a um deles o atual Governador de São Paulo José Serra. - Em 1946, Dom Carlos Carmelo foi nomeado Cardeal, o primeiro de São Paulo. - Seu pastoreio em São Paulo foi marcado não somente quanto ao zelo pela criação de novas paróquias e capelas, mas também com a sua manutenção. - A preocupação com a formação dos leigos se fez com a Ação Católica e a criação em 1946 da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo dentro da qual a Faculdade de Teologia dedicada à Nossa Senhora da Assunção, em atenção a ser titular da Catedral Metropolitana. Desejo assinalar aqui o primeiro doutorado alcançado na Faculdade de Teologia, em 1954, pelo querido irmão e amigo Dom Benedito de Ulhôa Vieira. - Sua Eminência foi o grande incentivador da construção da nova capital do Brasil no planalto central de Goiás, desde a pedra fundamental em 1956 à inauguração oficial em 1960. – Em 1964, renunciou ao Arcebispado de São Paulo e foi nomeado Arcebispo de Aparecida, tendo dedicado toda a sua fidelidade e devoção à excelsa Padroeira do Brasil, preparando-lhe nova e monumental basílica.

Cardeal Agnelo Rossi (1964-1970). Tendo eu retornado de Roma, no final de 69, fui por ele nomeado coordenador da Pastoral da Arquidiocese. A primeiro de novembro de 1970, partiu para Roma, escolhido, pelo Papa Paulo VI, Prefeito da Congregação para a Propagação da Fé. – Preocupou-se com a formação de leigos e fundou o Instituto Paulo VI para lhes proporcionar formação, em Itapecerica da Serra. – Nesse tempo, começaram a se multiplicar as favelas na capital paulista.
Cardeal Paulo Evaristo Arns (1970-1988). Foi o período da presença dos militares no poder central do Brasil. Muito lutou Dom Paulo pelos direitos humanos contra a tortura e pelo retorno à democracia. – Começou a articulação da pastoral nas periferias da cidade. Foram também criadas dioceses dentro do município de São Paulo.

O Clero de São Paulo teve sempre notáveis sacerdotes. Quero deixar notado um exemplar que enalteceu a missão da Arquidiocese: Mons. José de Castro Nery, presidente do colendo Cabido Metropolitano, exímio estudioso e professor de Direito Canônico, tendo sido nomeado para o grupo escolhido pelo Papa Paulo VI para revisão do Código de Direito Canônico, em cuja missão veio a falecer em 1972. Recordo o Reitor do Seminário Central Mons. Luis Gonzaga de Almeida e do Professor Mons. Roberto Mascarenhas Roxo que muito honraram estas instituições de formação sacerdotal e acadêmica.
Durante estes 100 anos da Arquidiocese aconteceram mudanças tão profundas que atingem as raízes da civilização.

O desenvolvimento científico e técnico mudou completamente o modo de viver. A vida quotidiana se beneficiou dos artefatos construídos para tornar a vida mais confortável. A globalização fez com que cada país parecesse do tamanho de uma aldeia.
Ao lado de conquistas sedutoras, verdadeiras catástrofes foram provocadas. Duas guerras mundiais produziram tanta destruição e morte como nunca antes e o ser humano alcançou, com a bomba atômica, um poder suficiente para varrer o planeta Terra do Universo. O desastre ecológico dizimou espécies animais, incinerou florestas, envenenou rios e poluiu a atmosfera. A revolta contra Deus se expandiu de grupos de intelectuais a grandes massas no mundo.
Esses fatos documentam a verdade das palavras do Papa Bento, falando aos Bispos do Brasil na Catedral de São Paulo: “Onde Deus e a sua vontade não são conhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e nem a sua presença nas celebrações sacramentais, falta o essencial também para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos.”

O Brasil se industrializou e se modernizou. Multiplicaram-se as universidades, os Meios de Comunicação ampliaram o seu poder e a sua penetração na sociedade como jamais poderíamos imaginar.. A exclusão social e a pobreza tornaram-se gritantes, enquanto a violência se expandia e a corrupção retirava os recursos para decolar no desenvolvimento sustentável e a falta de oportunidades de estudo e de trabalho para as novas gerações, juntamente com a impunidade dos corruptos e criminosos desanimavam os jovens.   

Mas a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, teve uma atuação iluminada e vigorosa para continuar sua caminhada de construção do povo de Deus, mesmo no meio de forças que pareciam destruí-lo. Como dizia o poeta Eliot: “é necessário que haja homens para construir o altar, para que os destruidores, de machado na mão, tenham um altar com o qual ocupar-se”. E assim, todos ficam ao redor do altar, uns para construí-lo e outros para derrubá-lo.
Basta recordar as figuras dos grandes e santos Papas destes 100 anos e o seu Magistério atento aos desafios do mundo moderno.

O Concílio Vaticano II foi o grande marco e divisor de águas entre uma Igreja que olhava com saudade ao seu passado glorioso, agora irremediavelmente distante e a Igreja que começou a enfrentar os desafios do presente, desafiando, por sua vez, este mundo moderno mas tremendamente velho e caduco aos olhos da fé.

As Conferências do Episcopado da América latina e do Caribe fizeram a leitura e a mediação destas grandes orientações do Magistério. Nessa perspectiva de integração e diálogo com o horizonte da Igreja na sua totalidade, tiveram um significado especial as visitas dos Papas João Paulo II e de Bento XVI ao Brasil e a São Paulo.
E a V Conferência, a de Aparecida tem tudo para constituir um marco, que inaugura nova etapa na Igreja. Com efeito, o convite para a Missão Continental nasce do fascínio que o encontro com Jesus Cristo renova em nós e da atração que Ele suscita porque responde aos nossos anseios de felicidade  e de paz, corresponde às nossas exigências mais profundas.

Muitos evangelizadores, durante esses cem anos de existência da Arquidiocese, completaram sua carreira terrena e foram para a casa do Pai com a certeza do dever cumprido. Novas gerações lhes sucedem. O dinamismo da sociedade e da cultura parece envolver tudo num vertiginoso redemoinho de mudanças. Mas os corações dos homens e das mulheres continuam a esperar a paz, a desejar a justiça, a aspirar à liberdade, a buscar a verdade, a querer amar e ser amados, em suma a procurar a realização de suas existências.

Há extraordinária abundância de ofertas de mercadorias, de ideologias, o coração humano, porém, permanece inquieto enquanto não repousa em Ti, ó Senhor, já nos lembrava Santo Agostinho. Nesse inquietum cor meum começa a se vislumbrar um caminho de luz, de resposta que não desilude quando se tem a simplicidade de invocar a Deus e reconhecer a sua indigência originária, gritando: “Senhor Jesus, Filho de Daví, tem compaixão de mim”. E do outro lado, o coração de Deus também se debruça sobre a nossa realidade, como o pai do filho pródigo, aguardando na porta o aproximar-se do Filho. Ou, como diz o livro do Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir minha voz abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo” (Ap 3, 20).
A nós, discípulos e missionários de Jesus cabe a tarefa de favorecer este encontro entre o coração inquieto que nenhuma sofisticação moderna pode satisfazer e a presença de Cristo, vitorioso sobre a morte e Senhor da história. Ele é o Redentor do homem e só ele corresponde aos desejos mais profundos do coração humano. No encontro com Cristo, na experiência da comunhão com Ele e com os irmãos, no caminho da Igreja, explode a paz, e a vida começa a ser percebida como uma festa, a festa da misericórdia, a festa da vitória sobre os males que se apresentam como antecipações da morte.

As novas gerações de discípulos e missionários em São Paulo, sob o pastoreio do Arcebispo Dom Odilo Pedro Scherer, poderão continuar a grande obra da fé e da caridade, que reconstrói a vida fraterna, a comunhão eclesial, reaviva a esperança e promove a paz. A grande cidade continuará a ser, dessa maneira, não a selva de pedra, mas a cidade da paz, que acolhe e conduz os seus filhos ao destino bom, segundo o desígnio de Deus.  

Nossa Senhora Aparecida, que presidiu aos trabalhos da Vª Conferência, abençoe esta grande cidade e a comunidade cristã que nela vive, e a todos nos cubra de graças e renove o ardor missionário, para reconstruir o Povo de Deus na unidade e na paz, na beleza e na esperança que não desilude.

        
 
 
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