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Longa faz uma parábola do nosso tempo
Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009.
Francisco Borba Ribeiro Neto.
 
Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e biólogo, é coordenador de Projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
 

"Anjos e Demônios", o filme baseado na obra de Dan Brown, não mostra a verdadeira história da Igreja. Pelo contrário a falseia e denigre. Contudo, mostra-nos que, nos tempos atuais, a pessoa humana continua olhando, com um misto de perplexidade, confusão e desejo, para a Igreja e para a possibilidade que ela representa de um encontro verdadeiro entre o homem e Deus.

Um filme com lugares-comuns é ruim, mas um filme cheio de lugares-comuns é um clássico. Assim são as obras de Dan Brown.
Em "Anjos e Demônios", pode-se aprender tanto sobre a Igreja Católica, tema central do filme, quanto sobre a Antiguidade em "A Múmia" (1999) ou com Indiana Jones. Existiram múmias, pirâmides, a Arca da Aliança - e paramos por aí, quase todo o resto é reconhecidamente inventado. Galileu existiu, teve problemas com a igreja, existem sociedades secretas - e também paramos por aí, quase todo o resto é inventado. Aqui, quase tudo tem uma base real, mas quase nada corresponde à realidade.
Realidade e ficção se misturam de tal forma que não se sabe onde uma começa e outra termina -e parte do sucesso vem daí. A Igreja Católica de Dan Brown é uma caricatura grotesca daquela real, mas para mostrar isso são necessárias tantas páginas de dados históricos quantas têm os seus livros. No Brasil, por exemplo, o teólogo Pedro Vasconcellos, professor da PUC-SP, escreveu "O Código Da Vinci e o Cristianismo dos Primeiros Séculos" (Paulinas) só para abordar uma parte do problema.
Somos saturados de informações e contrainformações até não conseguirmos discernir o que aconteceu do que não aconteceu. Essa avalanche de informações não nos torna mais críticos, mas faz com que ideias preconcebidas e uma confiança cega nos meios de comunicação se tornem os critérios de verdade. É um processo gerador de preconceito e obscurantismo, que leva à crença de que a Igreja real é igual à do filme.
Com sua notável capacidade de perceber o que o público quer ver e ouvir, Brown - mais do que mostrar quem é a Igreja - mostra quem somos nós. Essa Igreja Católica "de mentirinha" é uma projeção de nossas incertezas, nossos preconceitos, nossos medos e nossa obstinada nostalgia do totalmente outro, do ser que se esconde - na luz ou nas trevas - a nos repetir insistentemente que nossa vida é mais do que vemos em nosso singelo cotidiano - e aí reside outra boa parte de seu sucesso.

Paranóia
Ao mesmo tempo, paira sobre a trama essa paranoia atual que em todos os lados vê conspirações, sociedades secretas e poderes ocultos. Paranoia talvez bem justificada pelos cartéis de drogas e pelo terrorismo, mas nem por isso menos paranoica.
O homem primitivo via nas catástrofes naturais a presença maligna e aterrorizante de um poder sobrenatural, o homem de hoje se sente aterrorizado pelo poder oculto nas estruturas de sua sociedade. Esse é o grande tema da ficção atual: a luta do homem comum contra um poder oculto, que a todos domina e controla sem que ninguém perceba.
O filme se assenta num tripé: essa igreja contraditória, confuso objeto de desejo por seus mistérios e de desprezo por seus erros; esses poderes ocultos, ameaças perenes à nossa segurança e liberdade; e uma ciência prometeica, que com seu afã por trazer bem e poder ao homem acaba por abrir a caixa que contém os males do mundo. Essa é a fórmula do sucesso de Dan Brown.
"Anjos e Demônios" é para quem quer se divertir sentado à soleira da porta do mistério do mundo. O único perigo é o de querer usá-lo para atravessar a porta.

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