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Sobre “perder” a fé durante o curso universitário
Trechos do artigo publicado em COMMUNIO, revista internacional de teologia e cultura, Vol. XXVII, No. 2
(Abr/Jun 2008)

James V. Shall
  Esse artigo é uma colaboração da revista


James V. Schall, S.J. é sacerdote jesuíta, professor titular de Ciência Política da Georgetown University e membro do Conselho Editorial do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP). Foi professor da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma e da University of San Francisco, na Califórnia, além de membro da Pontifícia Comissão Justiça e Paz do Vaticano. É autor de mais de vinte e cinco livros e centenas de artigos acadêmicos.

Muito se fala sobre a perda da fé na Universidade. Nesse texto, encontramos uma visão diferente do problema. Um docente experiente nos conta que “há sempre estudantes universitários que contemplam, com perplexidade, a verdade das coisas”, e propõe um caminho moral e intelectual para responder às “aspirações mais profundas pela vida e pela verdade”.


[...] Primeiramente, não é verdade que todos os alunos percam a fé durante a universidade. O oposto, também, acontece em muitos casos, dependendo da escola e do aluno, e com maior freqüência do que poderíamos suspeitar. Como regra geral, os alunos que descobrem ou recuperam a fé durante a universidade são mais interessantes do que os que a perdem, embora não pretenda subestimar o drama da perda da alma universitária. Dado que a maior parte das culturas universitárias é hostil ou indiferente à fé, em particular ao catolicismo, o fato é que há certa aventura ou entusiasmo na busca do componente epistemológico da fé e de sua base filosófica. Os universitários ainda percebem, de relance, essa sanidade. Alguns são corajosos o bastante para ver para onde essa percepção poderá levar. Na verdade, há, apesar do habitual e óbvio fanatismo que os alunos encontram nas aulas sobre catolicismo, uma suspeita de que ele deve ser intelectualmente reconhecido. De fato, a incapacidade ou a má vontade em reconhecê-lo intelectualmente é, muitas vezes, a causa do fanatismo. A maioria dos alunos, mais cedo ou mais tarde, acaba se deparando com isso [...]

Durante muito tempo estou ciente de que “lá fora”, por assim dizer, há sempre estudantes universitários que contemplam, com perplexidade, a verdade das coisas. Platão (428-347 a.C.) diz que isso é o que eles devem fazer. Na verdade, eu os encontro o tempo todo [...] Os sites da Internet transformam o mundo todo num único local. O conhecimento, com tal, é livre. É o bem comum que todos buscamos. O que quer que pensemos a respeito disso, há alunos nas universidades que querem saber sobre a totalidade das coisas. Suspeitam de que não estão aprendendo tudo o que deveriam ou gostariam de saber [...] Tais instâncias sempre me recordam a passagem em Evelyn Waugh (1903-1966), creio que tirada da pesca, sobre o leve “puxão” na linha que nos mostra que a pessoa é curiosa e busca por respostas. Esse “puxão”, por sua vez, obviamente refere-se a “eu vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19) [...]

Mas por que, mesmo admitindo que alguns a descubram, muitos estudantes “perdem” a fé durante a universidade? Penso que há, fundamentalmente, duas razões. A primeira é de ordem moral [...] Meu objeto, nesse artigo, não é tanto o que acontece nas universidades. A vida universitária não é o único local de desordem de almas em nossa sociedade. O que me interessa é a relação entre a vida moral pessoal, a perda da fé e seus efeitos na inteligência [...]

Dentro do relacionamento da razão com a moral está a condição da fé da pessoa, pois um óbvio componente da fé inclui a pergunta “como devo viver?” tendo por base aquilo que acredito. A fé também é um componente da ação. Se já estamos vivendo uma vida que pode mais ou menos corresponder ao acima descrito pelo grande apóstolo, seja em dormitórios ou em qualquer outro lugar, teremos de nos explicar para nós mesmos ou para nossos amigos, exatamente aquilo que estamos fazendo. Teremos de justificar nossos costumes, definir as ações. Teremos de nos orgulhar, sermos humilhados ou confundidos. Não podemos viver por muito tempo sem uma explicação [...]

O segundo argumento é que ainda existe a questão da própria inteligência da fé. As pessoas, igualmente, perdem a fé, quando têm um conhecimento sofisticado e desproporcional sobre algum assunto, seja Física, Biologia, Literatura, História, Filosofia ou Administração de empresas, em face de um conhecimento um tanto primitivo do componente intelectual da fé. Na prática, isso significa, para a maioria dos alunos, mesmo os de escolas católicas, que precisarão tomar alguma iniciativa para aprimorar o conhecimento intelectual da fé. Provavelmente essa é uma postura contracultural, mas é uma façanha bastante interessante. Tenho notado que, quando os alunos começam a ficar preocupados com a inteligência da fé, na maioria das vezes, encontram aliados [...]

Essa consideração faz-me recordar a última parte de meu conselho, a saber, bons livros. Penso que um aluno, em quase todos os lugares, pode encontrar dez ou doze livros que o sirvam bem, caso seu problema seja principalmente intelectual. [...]

Bento XVI disse aos universitários na sala de audiências Paulo VI: “Jesus Cristo de nada vos priva, mas completa as nossas aspirações mais profundas pela vida e pela verdade!”.

Esse “nada vos priva” é verdadeiro, mas temos de aprender bastante, viver bastante, estudar bastante, para saber por que é assim. Essa afirmação também é endereçada ao nosso conhecimento. As “aspirações mais profundas pela vida e pela verdade” que possuímos dentro de nós mesmos. Elas podem, no entanto, ser seriamente desviadas ou mortas pelo modo como vivemos. Ainda, mesmo se vivêssemos a mais nobre das vidas, poderíamos, ainda veríamos essa busca pela inteligência e pela verdade como um aspecto essencial de nossa existência.

As universidades devem ser lugares onde tal objetivo pode, harmoniosamente, ser buscado. Se a universidade em que estamos não é tão aberta, não devemos desanimar. A própria vida da fé nos leva a pensar sobre a verdade das coisas e como aquilo que é dirige-se a nós, dirige-se às “aspirações mais profundas pela vida e pela verdade”. Qualquer um pode ser “livre” para perder a fé durante a universidade, mas também pode encontrá-la, juntamente com a inteligência que a ela orienta e dela emana. Como vivemos, repito, afeta como pensamos. Mas, pensar é aquilo que nos constitui, somos animais racionais, e não nos contentamos com qualquer explicação, mas somente com uma explicação que também seja verdadeira [...]

James V. Schall, S.J. é sacerdote jesuíta, professor titular de Ciência Política da Georgetown University e membro do Conselho Editorial do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP). Foi professor da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma e da University of San Francisco, na Califórnia, além de membro da Pontifícia Comissão Justiça e Paz do Vaticano. É autor de mais de vinte e cinco livros e centenas de artigos acadêmicos.

 
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