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Uma notícia sobre o professor Alfonso López Quintás

Gabriel Perissé

 

O autor, mestre em Literatura Brasileira pela USP, desenvolve pesquisa sobre a obra de Alfonso López Quintás, na Faculdade de Educação da USP. É autor dos livros Ler, pensar e escrever e O leitor criativo

Alfonso López Quintás nasceu em Santiago de Franza (La Coruña) em 21 de abril de 1928. Estudou filosofia e teologia nos anos 40 e em 1951 ordenou-se sacerdote. Entre 1957 e 1960 morou em Munique, e lá ampliou seus estudos de filosofia com professores como Alois Dempf, Romano Guardini e Ernesto Grassi.

Quintás doutorou-se em 1962 com a tese El ente superobjetivo y la crítica del objetivismo, mas desde 1961, com 33 anos de idade, já ministrava aulas de filosofia na Universidade de Madri, da qual é hoje é um dos seus mais prestigiosos catedráticos. Em 1970, ajudou a fundar o Seminário Xavier Zubiri; pertenceu, em 1983, ao Comitê Executivo da FISP (Federación Internacional de Sociedades de Filosofía) e foi eleito em 1984 membro da Real Academia de Ciencias Morales y Políticas de Madrid.

Em 1987, fundou a Escuela de Pensamiento y Creatividad, em cuja programação encontramos cursos de títulos extremamente sugestivos: “El arte de pensar con rigor y vivir de forma creativa”, “Cómo formarse en ética a través de la literatura y el cine”, “Grandes cuestiones de ética” e “Literatura, creatividad y formación ética”, este último divulgado pela internet desde 1998, num convênio entre a Universidade Complutense e o Ministério da Educação e Cultura espanhol.

Quintás visitou o Brasil algumas vezes, mas praticamente ninguém soube que esteve entre nós. Assisti a duas conferências suas, e pude constatar a simplicidade e a profundidade de seu pensamento. Simplicidade e profundidade que constituem sinais inequívocos de um novo humanismo, imprescindível após duas guerras mundiais não menos devastadoras do que uma outra guerra, atualíssima, invisível, de instruídos contra desinformados, de demagogos contra cidadãos, de poderosos contra indefesos.

Esse novo humanismo, ainda em formação, ainda em luta, foi concebido e proposto por alguns pensadores do século XX pouco mencionados hoje em dia no Brasil: um Guardini, um Martin Buber, um Theodor Haecker, um Gabriel Marcel, entre outros, vozes a que, em seu tempo, muitas pessoas deram ouvidos, mas que, por outro lado, muitos governantes e outros configuradores sociais, se ouviram, fingiram não entender.

Citando constantemente o pensador austríaco Ferdinand Ebner, Quintás insiste numa idéia muito clara: o grande problema da filosofia, da arte, da moral, da política dos últimos anos é que muitas vezes sonha-se com a filosofia, com a arte, com a moral, com a política, mas não se vive nada disso. O novo humanismo, portanto, exige a coragem de mudar, de substituir, na vida pessoal e social, os anti-valores da competitividade, do consumismo, do suicídio em seus mais sutis procedimentos, pelos valores da solidariedade, do serviço, do encontro.

A esse ideal Quintás dedicou toda a sua vida, escrevendo dezenas de livros, centenas de artigos, orientando teses de doutoramento, proferindo inúmeras palestras na Europa e na América Latina. O ideal consiste em configurar um novo humanismo, marcado pelo bom senso, pela abertura ao transcendente, pelo amor à literatura, à palavra, à arte, à beleza. Quintás é mestre em estimular em seus leitores e ouvintes uma vontade nova. Uma coerência nova. Uma mudança estrutural, e não meros consertos periféricos.

Para Quintás, nem tudo está perdido. Só ameaçado. E por isso sua obra e sua figura humana transmitem sempre um otimismo firme, nada ingênuo. Transmitem alertas, mas nada que lembre o apocalipse.

Um dos conceitos-chave de seu pensamento é o de que as obras literárias são um “lugar” propício para a compreensão do ser humano, para uma “viagem”, digamos assim, em que podemos sobrevoar nosso tempo e verificar seus contornos, dimensionar seus problemas, entrever soluções.

Na maneira de Quintás entender a cultura e a sociedade, a literatura não é um pretexto para sermões moralísticos, nem uma simples fonte de “exemplos”. A experiência de uma leitura criativa abre-nos a inteligência para perceber, em contato íntimo com a palavra, quem somos (ou quem deveríamos ser), para onde vamos, o que estamos fazendo, o que estamos desfazendo... O que devemos refazer com novo ímpeto, com nova objetividade.

Uma de suas principais contribuições ao mundo cultural hispânico tem sido orientar professores. A propósito, os professores do mundo ocidental enfrentamos hoje o desafio da popularização da educação num mundo cada vez mais complexo e, ao mesmo tempo, vítima da massificação e da manipulação. Esta realidade, bem atual no Brasil, requer docentes cultos, com sensibilidade para o mundo da arte, com uma formação ética generosa, lúcida. Docentes humanistas... e não tecnicistas, nem meramente especialistas. Docentes que despertem a curiosidade, mas não a busca vazia de “algo”. Docentes que adiram a um humanismo realmente humano e que saibam contribuir para libertar as liberdades, frase-insight de João Paulo II em sua pedagógica encíclica Veritatis Splendor.

Alfonso López Quintás poderá ser um ótimo “antídoto" para um problema que já se anuncia entre nós. De fato, a aplicação dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) pressupõe uma formação ampla, integral, que os professores precisamos adquirir com urgência. Essa aquisição não se fará com a leitura dos textos oficiais dos próprios PCN. É preciso que o professor esteja preparado para pensar e agir com criatividade, com ética e com sabedoria, “coisas” que não se improvisam nem surgem por força de decretos.

 

 
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