Especial Vida de Checador

Especial Vida de Checador

Marcelo Fontoura

Por Marina Jonas
Equipe PUC CHECK


Marcelo Fontoura. Foto: Divulgação
Marcelo Fontoura. Foto: Divulgação

Marcelo Fontoura tem graduação em Jornalismo, além de mestrado e doutorado em Comunicação Social, todos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Desde 2015 é professor na PUCRS, onde ensina sobre jornalismo e mídia digital, focando em jornalismo digital, cultura digital e internet. Atualmente também é professor substituto de estudos básicos da comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde 2018, trabalha como avaliador de iniciativas de fact checking na IFCN (International Fact-Checking Network, em português: Rede Internacional de Checagem de Fatos), criada pela Poynter Institute com o objetivo de integrar a comunidade internacional de fact-checkers em defesa da informação factual na luta global contra a desinformação.

 

PUC CHECK: Para onde você já trabalhou e/ou trabalha como checador?

Marcelo Fontoura: Atualmente, sou avaliador de iniciativas íbero-americanas de fact-checking na IFCN. Minha função como avaliador é analisar propostas de equipes de checagem de fatos para avaliar se elas se adequam, ou não, aos códigos de princípios da IFCN, rede internacional que tem como objetivo dar uma “acreditação” aos checadores de fatos, assessorando a qualidade de seu trabalho. Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa (algumas das principais equipes de checagem no Brasil) tem um selo de qualidade que faz parte da IFCN. Para obter esse selo, a equipe de checagem preenche um formulário com uma série de informações sobre o seu trabalho - quando surgiu, que tipo de conteúdo faz cobertura, quais as suas principais características, que tipo de método utiliza, que tipo de fontes se utiliza etc. E, para analisar as submissões que recebe, a IFCN conta com uma rede de jornalistas do mundo inteiro que, de acordo com os princípios e normas da organização, seleciona quais as equipes que mais se adequam ao seu código.
Sou um desses jornalistas que realiza esse processo de análise. Comecei analisando iniciativas nacionais e, hoje em dia, trabalho com iniciativas ibero-americanas, de Portugal, Espanha, Brasil e outros países da América Latina.

 

PUC CHECK: Diferentes checagens: pontos em comum, pontos de contraste. Como funciona esse trabalho?

Marcelo Fontoura: Analisar iniciativas de diferentes países o possibilita ver diferentes realidades de checagem de fatos, podendo perceber as semelhanças e as diferenças entre os lugares que analisa. A checagem de todos os lugares que analiso têm pontos em comum: o método utilizado, os princípios e a questão da transparência; tudo isso é muito parecido, enquanto o conteúdo abordado e a forma de abordagem em cada país são mais distintas. A partir desse trabalho de análise, é possível perceber a evolução das equipes de checagem de fatos: há uma maior procura por uma metodologia clara. Ao mesmo tempo, também percebe-se os desafios que elas têm em comum: como lidam com erros, como lidam com ataques, entre outras questões.

 

Reportagem
 

 

Marcos André Lessa

Por Marina Jonas
Equipe PUC CHECK


Marcos André Lessa. Foto: Divulgação
Marcos André Lessa. Foto: Divulgação

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense, localizada em Niterói, Rio de Janeiro, Marcos fez pós-graduação em Comunicação e Imagem pela PUC-Rio. Tem sólido conhecimento em análise de mídia, jornalismo narrativo, gêneros literários (crônica e biografia), documentários e metodologias de cocriação. Faz parte do Coletivo Bereia desde o início de 2021 e, em agosto desse mesmo ano, assumiu o cargo de editor-executivo, o qual ocupa até hoje. O Coletivo Bereia trabalha com checagem de notícias, checando fatos publicados diariamente em mídias religiosas e em mídias sociais brasileiras que abordam conteúdos sobre religiões e suas lideranças no Brasil e no exterior.

 

PUC CHECK: Como se tornou um checador de fatos? Para onde trabalha como checador?

Marcos André Lessa: Eu comecei como voluntário no Coletivo Bereia, no começo de 2021. Estava buscando novas experiências profissionais (sempre trabalhei com comunicação corporativa) e, por já ter um background familiar na religião protestante, achei que poderia contribuir no trabalho do Bereia, cujo nicho de checagem é a desinformação no meio religioso e nas mídias religiosas. Embora não seja pré-requisito ter esse background e nem mesmo ser religioso. Nosso trabalho é distribuído por duplas ou até trios de checagem conforme um dia da semana, e comecei fazendo parte de uma dessas duplas. Mais tarde, me tornei editor-executivo.

 

PUC CHECK: Como é a rotina de checador? Quantas horas trabalha por dia?

Marcos André Lessa: Tive duas experiências diferentes. Quando fazia parte de uma equipe de checagem, dedicava cerca de 4h semanais para cada checagem. Depois, como editor, essa carga triplicou. A gente recebe a checagem do dia (ou faz uma ronda nos principais perfis e sites, ou aproveita o que está viralizando nos meios religiosos) e usa muito a internet para o trabalho. Fazemos rondas por fontes primárias, como Diário Oficial, Biblioteca Nacional e perfis verificados de autoridades públicas. Por exemplo, se um jornal faz reportagem sobre um decreto que estamos checando, buscamos o link do decreto original, e não da reportagem.

Trocamos bastante informação pelo WhatsApp, nossas reuniões de pauta são por lá, assim como a troca de ideias com nossa dupla nas checagens e também o contato com fontes. Usamos Google Docs, tanto para a checagem, como para o texto e as revisões – todas feitas colaborativamente. Essa realidade online facilita muito o trabalho voluntário, porque cada um realiza suas entregas de conteúdo dentro das horas disponíveis como quiser. O Bereia já fazia home office e interação online desde que nasceu, mesmo antes da pandemia de Covid-19.

 

PUC CHECK: Quais as maiores demandas de checagem no momento?

Marcos André Lessa: Suposta perseguição religiosa a cristãos no Brasil (que não existe); ‘ideologia de gênero’; possibilidade de implantação do comunismo no Brasil; esquerda teria agenda de fechar igrejas; supostos feitos do governo federal e de seus apoiadores

 

PUC CHECK: Como o checador se protege contra possíveis ameaças?

Marcos André Lessa: Não sei se há uma receita, pois quem quiser te prejudicar, vai acionar todos os meios possíveis, conforme seus recursos. Uma coisa que incorporamos bem em nosso trabalho é a fundamentação das checagens: links no texto e ao final com tudo o que checamos, de onde veio (daí novamente à importância das fontes primárias, sempre que possível). Deixar claro, em nosso site, a lógica das etiquetas de checagem, como e por que classificamos uma checagem como Verdadeira, Enganosa, Falsa etc. Criar o máximo de blindagem possível para que a informação que estamos publicando possa ser também checada pelo leitor. E seguimos os protocolos do IFCN* também. Link do site do IFCN (International Fact-Checking Network): https://www.poynter.org/ifcn/

 

PUC CHECK: Quais os maiores desafios na vida de um checador?

Marcos André Lessa: Gerenciar a expectativa e a ansiedade: aceitar que não conseguiremos checar tudo. Parece óbvio, mas muitas vezes nos vêm a sensação de estar “enxugando gelo”, desanimando. No entanto, temos que nos manter no foco, seja da metodologia, ou do recorte temático de checagem, e fazer o nosso melhor. É um “tijolinho” educativo nesses novos tempos. E ter sempre autocrítica e ver o que pode melhorar no seu processo de trabalho. Outra coisa é ter “estômago” para ver o que acaba chegando, muitos conteúdos desinformativos possuem tom apelativo em diversos níveis. Faz parte do trabalho, a gente até poderia ganhar um “adicional de insalubridade (risos).

 

Conheça as checagens do Coletivo Bereia

Reportagem
 

 

Laís Martins

Por Marina Jonas
Equipe PUC CHECK


Laís Martins. Foto: Divulgação
Laís Martins. Foto: Divulgação

Laís Martins é jornalista pela PUC-SP e mestra em comunicação política pela Universidade de Amsterdam. Suas reportagens focam em direitos humanos, política e tecnologia. No Núcleo, atua como repórter.



PUC CHECK: Como é a rotina de trabalho de um checador de fatos? Quantas horas trabalha por dia?

Laís Martins: Eu não trabalho diretamente com checagem de fatos, mas como repórter que cobre desinformação e plataformas, meu trabalho pressupõe que eu esteja ativa nas redes sociais. Então geralmente começo meu dia com uma ronda nas redes. No Twitter, uso listas que organizo por tema para conseguir fazer uma leitura mais focada nos assuntos que me interessam. Agora no período eleitoral, também faço uma ronda nas redes sociais dos candidatos para ver o que eles postaram ou se algum post foi removido ou sinalizado pelas plataformas como falso ou enganoso.


PUC CHECK: Quais as maiores demandas de fact-checking no momento?

Laís Martins: Por estarmos em ano eleitoral, as principais demandas dizem respeito às urnas, à legitimidade e confiabilidade do processo eleitoral. Do meu lado, embora não esteja no dia a dia da checagem, isso se reflete nas pautas que apuramos. Na última semana, por exemplo, fiquei mergulhada em vídeos com falsas alegações de fraude eleitoral e como as plataformas reagiram a isso em termos de moderação de conteúdo. Identificamos que apesar do longo caminho até aqui, empresas grandes como o Youtube ainda não respondem numa velocidade adequada da perspectiva de combate à desinformação.


PUC CHECK: Como o jornalista checador se protege contra possíveis ameaças?

Laís Martins: Nesses últimos anos e particularmente nos últimos meses, há uma confusão entre a mensagem e o mensageiro. Parece que o mensageiro, que faz o alerta de que certo conteúdo não é verdadeiro ou é enganoso, que é o errado, o culpado. Acho que isso nos leva a uma discussão muito maior que é: as pessoas não querem saber a verdade, elas querem ter a sua própria verdade confirmada. Mas como todo jornalista, devemos seguir firmes no exercício da profissão e cobrar de organismos responsáveis para que possamos fazer nosso trabalho com segurança e respeito. Isso vai desde órgãos de governo até entidades da sociedade civil.


PUC CHECK: Quais os maiores desafios na vida de um checador de fatos?

Laís Martins: O que me assusta é o que eu disse antes: para muitas pessoas, já não importa mais se o conteúdo é verdadeiro ou falso. Importa se aquilo confirma ou não suas crenças e isso sim irá ditar como essa pessoa se relaciona com a checagem de fatos. É triste, mas precisamos entender melhor isso para saber como dialogar com esse grupo. Esse é um desafio que precisamos encarar. Isso não retira, porém, a importância da checagem, que seguirá sempre necessária. Vejo que há sim uma parcela significativa de pessoas que utilizam a checagem de fatos e que estão abertas a mudarem de visão após uma checagem.


Conheça algumas reportagens de Laís

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Chico Marés

Por Marina Jonas
Equipe PUC CHECK


Chico Mares. Foto: Divulgação
Chico Marés. Foto: Divulgação 

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, Chico fez mestrado de um ano em jornalismo interativo na City, University of London, focado na área de dados e redes sociais. Ele é especializado em jornalismo político, de dados e checagem de fatos e já trabalhou como repórter de política por cinco anos na Gazeta do Povo (de 2011 a 2016). Desde 2017, mora no Rio de Janeiro e trabalha na Lupa, agência de fact-checking, onde já foi repórter e editor. Atualmente, trabalha como coordenador de jornalismo/redação.



PUC CHECK: Como é a sua rotina de trabalho sendo um checador de fatos? Quantas horas trabalha por dia?

Chico Marés: Geralmente, a primeira coisa que fazemos é olhar nossos monitoramentos de redes sociais para ver quais conteúdos potencialmente falsos estão viralizando, o que tem de interessante para ser checado. Depois, partimos para apuração: verificar as informações “checáveis”. Por fim, com as informações em mãos, escrevemos o texto. Os editores fazem a edição e, caso esteja tudo certo, publicamos. Além disso, dependendo do calendário, também participamos de checagens de discursos de políticos, ou fazemos reportagens sobre o tema. Falo no plural porque hoje estou coordenando a equipe de jornalismo, então não estou tão envolvido com alguns processos.

Já sobre horas de trabalho, isso varia. Em períodos normais, é um trabalho comum, que pode variar entre 6 e 8 horas de trabalho. Durante as eleições, as horas se estendem bastante. Eu tenho chegado a trabalhar 14, 16 horas em dias mais movimentados com debates, ou o domingo de votação. E, atualmente, trabalhamos todos de nossas casas


PUC CHECK: Como o checador se protege contra possíveis ameaças?

Chico Marés: Algumas medidas que eu tomo são deixar meus perfis em redes sociais fechados, evitar usar nome completo nessas redes e, mesmo assim, evitar opinar sobre política nesses espaços. É importante também seguir recomendações de segurança para todas as contas na internet, como, por exemplo, o uso de verificação em duas etapas.


PUC CHECK: Quais os maiores desafios na vida de um checador de fatos?

Chico Marés: Acho que o maior desafio de todo checador é avaliar quais conteúdos, em um mar de informação que cresce a cada dia, são mais relevantes para serem checados. O que é potencialmente danoso e o que não é. Além disso, é preciso lidar com o fato de que nem tudo o que é desinformativo na internet é possível — ou passível — de ser verificado, o que, por vezes, gera frustrações imensas.

 


 

Daniel Tozzi Mendes

Por Marina Jonas
Equipe PUC CHECK


Daniel Tozzi Mendes. Foto: Divulgação
Daniel Tozzi Mendes. Foto: Divulgação (perfil LinkedIn).

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, Daniel teve sua primeira experiência como checador de fatos no curso trainee de jornalismo econômico do Estadão, em 2021. No início deste ano, trabalhou no Estadão Verifica e, desde julho, trabalha como checador no site da revista Piauí, realizando reportagens sobre desinformação nas redes sociais e, principalmente, checagens para o Projeto Comprova, iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos que reúne jornalistas de 43 veículos da comunicação brasileira (incluindo a revista Piauí) para descobrir e investigar conteúdos suspeitos em circulação nas redes e aplicativos de mensagens, relacionados à políticas públicas do governo federal, às eleições presidenciais de 2022 e à pandemia da covid-19.



PUC CHECK: Como é a rotina de trabalho de um checador de fatos? Quantas horas trabalha por dia?

Daniel Tozzi: Na minha experiência atual trabalho como freelancer, mas cumprindo jornada de segunda à sexta-feira. Em média trabalho de 6 a 7 horas por dia.


PUC CHECK: Quais as maiores demandas de fact-checking no momento?

Daniel Tozzi: Sem dúvida, postagens falsas ou enganosas sobre eleições. Nesse contexto, um dos assuntos que mais se destacam são ataques pessoais às candidaturas. Há também muitos materiais que tentam descredibilizar ou adulterar conteúdos de pesquisas de intenção de voto. Ainda que esteja aparecendo menos agora, conteúdos de desinformação sobre a pandemia da covid-19 e principalmente sobre as vacinas também são recorrentes e dominaram a pauta entre o segundo semestre de 2021 e o início de 2022.


PUC CHECK: Como o checador de fatos se protege contra possíveis ameaças?

Daniel Tozzi: É complicado, pois uma parte essencial do processo de verificação é tentar contato com os autores do conteúdo desinformativo, e nem sempre eles recebem bem os questionamentos. Nesse caso, a única saída é ser educado o tempo todo e, caso ocorra algo mais grave, acionar os editores/responsáveis sempre.


PUC CHECK: Quais os maiores desafios na vida de um checador de fatos?

Daniel Tozzi: Acredito que eventuais ameaças mesmo, como mencionei na questão anterior, mas é algo quase generalizado na profissão de jornalista hoje em dia. Outro ponto que destaco é que, a depender da empresa/veículo que você trabalha, a pressão para publicar uma verificação o quanto antes pode ser um empecilho. Se para um jornalista a margem de erro tem que ser baixa, para checadores e verificadores o erro tem que ser praticamente zero.


Algumas reportagens de Daniel:

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