Edições Anteriores

I Simpósio de Estética

TEMAS EM TORNO DA ARTE CONTEMPORÂNEA

Organização:
Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini
Profa Dra Sônia Campaner Miguel Ferrari
Promoção: Departamento de Filosofia PUC-SP
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia

Apoio: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
FAPESP

Introdução e Justificativa

Mais de 60 anos após Adorno e Horkheimer forjarem o conceito Indústria Cultural verificamos a extrema atualidade desse conceito. Deliberadamente orientado para a produção e a difusão de uma cultura de massa, o funcionamento da Indústria Cultural não se mostra, também no presente, em condições de favorecer uma experiência estética de "qualidade" e "profundidade" que possa ser partilhada. Essa situação torna ilusória e problemática a reconciliação entre ética, estética e política. De resto, esta não é a via que os artistas atuais parecem estar decididos a seguir, uma vez que eles se mostram muito mais reticentes ao consenso e ao compromisso com a ordem existente do que permite crer o discurso dominante sobre a arte contemporânea.

O que constatamos sob o nome de revés da democratização cultural repousa em parte sobre esta comutação: a cultura, produto de consumo, aparece como sucedâneo da experiência estética. Esse fenômeno oferece um desmentido radical aos discursos consoladores que afirmam não apenas a diversidade e a pluralidade culturais como também que os consumidores culturais respondem às solicitações do sistema, unidos no mesmo fervor comunicacional. Seria o papel da arte contemporânea no contexto do jogo consensual e participativo que defende a idéia do pluralismo cultural romper com a identificação entre arte e comunicação? Para alguns críticos da cultura um rápido olhar sobre o modo como as práticas culturais são efetuadas no Brasil revela que a distância entre a cultura erudita (como a arte contemporânea) e a cultura de massa não cessa de crescer. As clivagens culturais, para esses autores, só teriam se acentuado nas últimas décadas. Nem o ensinamento das artes plásticas, nem o dinamismo das escolas e dos centros de arte, nem o voluntarismo das instituições – como comprovou a última Bienal de São Paulo – nem as mostras de grande repercussão na mídia, ensaios ou catálogos tem sido capazes de resolver essa fratura. Para outros críticos, contudo, estaria ocorrendo, em sentido inverso, uma dissolução das fronteiras entre os níveis da cultura. Segundo esses críticos, as possibilidades de interações, passagens, transferências entre os níveis da cultura são numerosas, porém o que se constata nas últimas décadas é que essa circulação no mundo da cultura tem assumido uma direção única, a saber: a da apropriação dos signos da cultura erudita pela indústria cultural, ou mundo mass-midiático.

A questão dos níveis da cultura é inseparável do tema da autonomia da obra de arte. Clement Greenberg defendeu, no início do século XX, a pureza da arte. Podemos encontrar, inclusive, similitudes entre essa defesa da forma pura e a defesa da arte como forma de negatividade em pensadores como Adorno. Se em 1935 Benjamin era otimista em relação às possibilidades de democratização da arte e de progresso político das massas pelas técnicas de reprodução audiovisuais, em 1939 esse otimismo já havia se desvanecido face ao uso dessas mesmas técnicas pelo nazismo; ou seja, frente ao risco da atrofia da experiência e do rompimento com a tradição. Adorno, por outro lado, defende, anos mais tarde, a "obra de arte autêntica", principalmente na música e a literatura. Destas posições resultam algumas questões: A defesa da pureza da arte por Greenberg que consiste, entre outros aspectos, na aceitação dos limites do medium próprio a cada uma das artes (sua especificidade) se justificaria ainda hoje quando assistimos a uma espécie de mixagem de meios na qual a escrita também comparece? Como pensar no contexto da produção artística contemporânea o tema da homologia, da correspondência, ou da tradução entre linguagens artísticas? Neste contexto da contaminação recíproca entre as linguagens como situar a literatura? O fato de que a obra literária, por exemplo, passou a ocupar espaços inauditos, como exposições que utilizam os novos meios tecnológicos em centros culturais ou museus, como o "Museu da Língua Portuguesa" em São Paulo seria um sintoma desta hibridização das linguagens?

Frente a estas questões evidencia-se a importância de um debate sobre a arte atual entre críticos, teóricos da arte e artistas que pense critérios que permitam interpretar um cenário tão complexo. Depois da desestabilização dos critérios da estética e da história da arte – como as noções de arte autônoma; de níveis da cultura; de movimento artístico; de estilo moderno que se mostravam aptos na interpretação da arte de vanguarda – provocada pela arte contemporânea é possível produzir novas noções, ou critérios, que devolvam à crítica a potência teórica necessária para fazer frente aos discursos que reduzem a arte à mercadoria cultural?

A essa concepção dominante de cultura se opõe uma outra idéia de criação artística na qual a arte pode ser vista como objeto que se endereça a todos, mas a cada um à sua maneira. Uma concepção de arte que se oponha a essa concepção dominante deverá discutir o lugar que ocupa o artista na criação. Em 1975 o artista Mel Ramsden – associado pelos críticos à arte conceitual – já denunciava a situação dos artistas em um mercado regido por galeristas, marchands e críticos, entre outros protagonistas do circuito das artes. Esse artista denunciava, como se sabe, a proliferação de assessores, gestores, críticos, conservadores, numa palavra: "operadores" que administram as "manifestações de liberdade", alienando-as e utilizando-as como signo de prestígio no interior do meio artístico. O desafio é verificar em que medida este diagnóstico de que há uma ilusão de liberdade de criação no circuito de arte se mantém útil para entender a nova configuração do circuito artístico? Sob o discurso da pluralidade, diversidade, subjetivismo, relativismo – características atribuídas com freqüência pelos críticos e curadores à arte contemporânea – teríamos ainda a sujeição da produção da arte ao mercado, ou seja, a sua institucionalização no sentido descrito há quatro décadas por Ramsden?.

Nesse contexto, o que se chamava de transgressão artística parece ter se tornado impossível, como já mostravam, na década de 1960, críticos como Harold Rosemberg e Octavio Paz. Desta constatação da institucionalização da arte moderna e do apagamento dos limites entre os níveis da cultura, como vimos, resultaram, assim, algumas questões: Seria a arte contemporânea uma atividade inofensiva ou gratuita – haja vista que perdeu todo poder de negatividade ou forma de contundência – destinada apenas ao público especializado? O que fazer com a proposição paradoxal segundo a qual os artistas são levados a reinventar indefinidamente as condições de sua própria liberdade para que a arte não acabe reduzida à mercadoria cultural? Que efetuações artísticas e proposições da crítica permitiriam sair desse círculo vicioso? É possível um debate público sobre as relações entre as formas tão plurais da arte atual – como a pintura, a instalação ou o grafite - e a sociedade? A celebração de uma arte oficial (erudita e de mercado) considerada, muita vez, sem razão como vanguardista e inovadora não se dá em detrimento de outras formas de expressão? Em que medida as mostras, feiras, ou exposições em galerias ou museus resultantes da parceria entre instituições públicas e privadas viabilizadas por leis de incentivo fiscal, contemplam formas de produção artística que não as já consagradas pelo mercado? Por fim, qual o lugar da literatura, dada suas especificidades, nesse panorama?

Objetivo Geral e específicos

Desde o surgimento das vanguardas no início do século XX há um questionamento do conceito de arte, seja no campo da produção artística como na esfera da crítica e teoria da arte. Essa discussão resultou, sobretudo, da utilização dos novos meios técnicos, ou de sua figuração, no campo artístico. Com isso as fronteiras entre o que é e o que não é arte teriam sido, segundo alguns autores, definitivamente dissolvidas. Essa questão, contudo, é constitutiva da modernidade artística, inclusive no campo da literatura. Um desses exemplos é o romance de James Joyce, Ulysses, cuja forma de construção foi inédita, assim como outras formas de poesia que utilizaram suportes que não o livro como a poesia concreta. A literatura, portanto, encontra-se – segundo esta versão da crítica - na mesma situação de impasse que as artes plásticas. Esse impasse talvez possa ser expresso melhor nas palavras do escritor austríaco Thomas Bernhard, para quem o que escrevem os escritores (e pode-se acrescentar: o que exprimem os artistas em suas obras plásticas) tem como matéria a realidade decaída, corrompida e catastrófica; de modo que o resultado, para alguns críticos, não é necessariamente uma escrita contra a realidade, mas uma escrita que teria tão-somente, sua origem nela. Para Bernhard – cabe lembrar - a própria realidade é assustadora de modo que a arte viveria, de certo modo, os impasses desta mesma realidade. Sua distância em relação ao dito real nada tem a ver, contudo – vale acrescentar - com um desengajamento ou desinvestimento no campo social ou político; mas seria antes o resultado da autonomia que a arte reivindica e se esforça por conservar para se prevenir contra sua morte já muitas vezes anunciada. Não seria o caso de considerar a arte contemporânea, em sua diversidade, como rica em contrastes ou contradições, como feita enfim de luz e sombras, no sentido de Bernhardt? Basta observar que diversos artistas contemporâneos se recusam a representar de modo edulcorado e complacente a realidade, sob o signo da beleza, no sentido da harmonia da forma artística, como já dissera Adorno a propósito de certa arte moderna. Em outros termos: a noção de "crise da aparência", entendida em termos adornianos como a revolta da arte contra a falsa idéia de reconciliação entre arte e vida, – presente também em Bernhardt – continua eficaz para compreender a arte contemporânea? São questões como estas que deverão orientar as reflexões das palestras e comunicações do Simpósio.

Estrutura geral do evento

O evento ocorrerá nos dias 14, 15 e 16 de junho de 2010 no TUCARENA- PUCSP e outras dependências da Universidade.
O público visado é o de estudantes de Filosofia e de demais cursos interessados no debate acerca da arte contemporânea, professores e pesquisadores das áreas de Filosofia, particularmente de Estética e de áreas afins à temática. Espera-se um público de aproximadamente 200 pessoas.
O Simpósio de Estética consistirá em quatro mesas-redondas, três delas antecedidas pela apresentação, na forma de vídeos, conferência ilustrada e outras, da obra de três artistas plásticos brasileiros da atualidade, além de apresentação oral de comunicações .
A primeira mesa-redonda, do dia 14 de junho, tem como tema as artes plásticas hoje. A segunda, no dia 15 de junho de manhã discute a relação entre arte e política. A terceira mesa, 15 de Junho à noite, aborda a questão da Literatura contemporânea. E a quarta e última mesa, dia 16 de Junho, à noite, discute as questões suscitadas à arte pelas transformações das cidades e o surgimento de novas técnicas.
Cada mesa contará com a participação de três expositores e um mediador. O tempo de exposição será de vinte minutos para cada debatedor.
Segue a programação do evento:

DATAS: 14/15/16 DE JUNHO
LOCAL: TUCARENA

DIA 14/06:
18hs: Exposição ou exibição de filme da obra de artista plástico (Hélio Cabral)
19h00 – abertura
19h30 – Mesa Redonda: ARTES PLÁSTICAS HOJE
Celso Favaretto (Educação-USP)
Leon Kossovitch (Filosofia-USP)
Luís Armando Bagolin (IEB-USP)
Márcio Alves da Fonseca (Filosofia –PUCSP)- Mediador

DIA 15/06:
9h30 – Mesa Redonda: ARTE E POLÍTICA
Martin Grossman (Centro Cultural São Paulo)
Peter Pal Pelbart (Filosofia- PUCSP)
Ricardo Nascimento Fabbrini (Filosofia-USP)
Maria Constança Peres Pissarra - (Filosofia – PUCSP) - Mediadora

14hs- 17hs- Apresentação de comunicações

18hs: Exposição ou exibição de filme da obra de artista plástico (Nuno Ramos?)

19h30- Mesa Redonda: LITERATURA CONTEMPORÂNEA
Elisa Angoti Kossovitch (Educação - UNICAMP)
Jeanne Marie Gagnebin (Filosofia-PUCSP)
Jorge de Almeida (Letras-USP)
André Constantino Yazbek - (Filosofia – PUCSP) - Mediador

DIA 16/06:

14hs- 17hs- Apresentação de comunicações

18hs - Exposição ou exibição de filme da obra de artista plástico (Guto Lacaz)

19h30- Mesa: ARTE TÉCNICA, CIDADE
Lúcia Leão (COS –PUCSP)
Vera Pallamin (FAU-USP)
Sônia Campaner (Filosofia-PUCSP)
Yolanda Gloria Gamboa Muñoz - (Filosofia – PUCSP) - Mediadora

Resultados Esperados

A realização deste primeiro simpósio de estética na PUCSP visa contribuir na universidade para a extensão do espaço de reflexão e debate acerca da produção artística de um ponto de vista filosófico e para a visibilidade da Estética como uma área de pesquisa importante da Filosofia, seja no plano da pesquisa acadêmica, suscitando o interesse do bacharelando para a pesquisa de mestrado e/ou doutorado nessa área, seja no plano da pesquisa e discussão de estratégias de ensino da filosofia ao considerarmos a arte como uma porta de entrada para a discussão de temas filosóficos de amplo interesse.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
DTI-NMD