www.pucsp.br/~marcusbastos . convergência de mídias I . programa

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Ainda em "Da convivência à convergência das mídias", Santaella sustenta que a indústria cultural estava fadada a passar por "mutações que trariam conseqüências para toda a nossa compreensão de formações socioculturais daí para a frente", no que está implícito o entendimento de que as mídias eletrônica e digitais deslocam o processo de aproximação entre erudito e popular descrito acima para outros territórios, em que "os processos de caldeamento e mesclagem" entre linguagens são de outra ordem. (Mais adiante, essa questão será aprofundada, no âmbito de uma discussão sobre a não separação lógica entre palavra, imagem e som, na linguagem digital).

É possível circunscrever esse processo no âmbito de uma complexidade cultural crescente, que tem pontos-de-inflexão importantes na invenção da imprensa (início de um período de mecanização da cultura que se estende até a invenção da fotografia, auge efêmero da cultura mecânica; no início do século XX, aparelhos elétricos e eletrônicos, como o Rádio e a TV, passam a assumir maior importância cultural, inaugurando uma cultura)

Para Santaella, portanto, a cultura das mídias "não se confunde nem com a cultura de massas, nem com a cultura digital ou cibercultura"; trata-se de "uma cultura intermediária, situada entre ambas. Quer dizer, a cultura digital não brotou diretamente da cultura de massas, mas foi sendo semeada por processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais" que cumpriram o papel de preparar suas audiências para um consumo cada vez mais personalizado ou, para usar uma palavra que marca os tempos atuais, um consumo cada vez mais customizado.

Nesse sentido, é possível apontar dois momentos importantes do processo de convergência das mídias em questão: o primeiro é a invenção do jornal, quando surgem condições técnicas para o uso combinado de palavra e imagem e, também, o contexto em que a cultura de massa começa a ser desenhada. Da mesma forma que a cultura das mídias prepara o contexto para a cultura digital, o surgimento do jornal prepara o contexto para a cultura de massa.

É importante observar, no entanto, que esse processo acontece de maneira mais intensa do ponto-de-vista da recepção que do ponto-de-vista da produção, o que reforça o entendimento da cultura das mídias como um momento de transição entre a cultura de massas (além das demais características descritas em "Da convergência à convivência das mídias", vale acrescentar a ênfase da diversificação do ponto-de-vista das possibilidades de produzir) e cultura digital (em que o processo de diversificação acontece também na esfera da recepção ou, para ser mais preciso, em que há um embaralhamento da fronteira entre ambas as esferas, de que fenômenos como os 'blogs" e os "mods" e as redes sociais e, num circuito mais restrito mas mais contundente, a cultura da código aberto são bons exemplos):

— a TV a cabo permite a escolha entre uma quantidade muito maior de canais e a introdução na grade de programas destinados a nichos de mercado que nunca seriam atendidos pelas redes de TV aberta e fomenta o surgimento de produtoras indepentedentes capazes de pleitear espaço para veiculação de seus produtos, mas não consolida formatos tão diferentes em termos de linguagem dos já desenvolvidos pela TV tradicional;

— o videocassete permite a locação de fitas de vídeo que podem ser assistidas conforme a conveniência do locatário, inclusive pela possível interrupção através do controle remoto, e de comandos para avançar e retroceder a trechos que lhe interessam ou que lhe entediam, e também fomenta um circuito de cinema, TV e vídeo independente; no caso do vídeo, a diversidade de formatos é maior que no da TV mas, do ponto-de-vista da produção, tendo em vista especialmente os custos do equipamento, o acesso ainda é restrito ao âmbito profissional.

— o mercado sob demanda permite a encomenda de produtos com características determinadas pelo comprador, que tem certa liberdade de escolha; a diversidade de modelos aumenta, ainda que a partir da combinação de características existentes, e não pela criação indistinta de outras até então inéditas. Como nos outros casos, aumentam as possibilidades de escolha, mas o acesso aos mecanismos de produção continua restrito.

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