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O Ensino de Línguas na Era do Informacionalismo

Segundo Castells (1999, pág. 461) o novo sistema de comunicação instaurado no bojo do informacionalismo é capaz de abarcar todas as formas de expressão, bem como a diversidade de interesses e valores do mundo globalizado, mas “o preço a ser pago pela inclusão no sistema é a adaptação à sua lógica, à sua linguagem, a seus pontos de entrada, à sua codificação e decodificação”. Em outras palavras, tornar-se interagente não demanda do indivíduo apenas um certo status sócio-enconômico, mas o engajamento em hábitos culturais e o domínio de certos conhecimentos específicos. No cenário contemporâneo do ensino-aprendizagem de línguas, é possível observar-se um forte interesse nos efeitos sobre o processo de ensino-aprendizagem de línguas dessa adaptação das pessoas e das instituições à lógica do informacionalismo.

Uma primeira fonte de interesse é o flagrante papel das novas tecnologias, especialmente da Internet, nas mudanças lingüísticas dos idiomas utilizados na – ou excluídos da – grande rede. Autores como o renomado lingüista britânico David Crystal têm procurado desenvolver uma perspectiva lingüística no estudo da influência da comunicação via Internet sobre o inglês (Crystal 2001) assim como das possibilidades da Internet no resgate e preservação de línguas ameaçadas de desaparecer em várias partes do mundo (Crystal, 2000, 141-143). Ao mesmo tempo, autores interessados no papel histórico do livro e da leitura, como Chartier (2002), adotam uma postura crítica com relação à expansão do inglês através da Internet e à vinculação de características lingüísticas do inglês às formas de manipulação e representação da informação no ambiente eletrônico. Tais autores vêem esses fatores como uma ameaça à pluralidade lingüística do mundo contemporâneo.

Uma segunda vertente da investigação e reflexão sobre a relação entre as tecnologias de redes interativas e as práticas de ensino de línguas está relacionada à área de Aprendizagem de Línguas Auxiliada por Computadores (cuja sigla em inglês é CALL8). De especial interesse para os estudiosos de CALL é a revisão do seu status como área específica tendo em vista a evolução histórica da tecnologia da informação na última década. Seriam a Aprendizagem de Línguas Auxiliada por Computadores (CALL) e a Aprendizagem de Línguas em Rede (cuja sigla em inglês é NBLT9) áreas distintas? (Chapelle 2000). Seriam as práticas de NBLT algo radicalmente novo ou apenas o renascimento da área de CALL? (Warschauer 2000 b). Ou, finalmente, seriam as práticas de NBLT uma expansão das práticas de CALL ou a sua reconceptualização? Independentemente das respostas que os estudiosos da área proponham para essas questões, cabe-nos aqui ressaltar que essa problemática revela um aprofundamento na relação entre ensino de línguas e informacionalismo. Se no passado muitas das discussões giravam em torno da necessidade/efetividade do uso de computadores no ensino de línguas com base em estudos psicométricos (Chapelle et al 1996), hoje se discute sobre qual a perspectiva mais adequada para que possamos tirar proveito de um entrelaçamento inexorável entre as tecnologias da informação e da comunicação e ensino-aprendizagem de línguas.

Uma terceira vertente de reflexão e investigação tem ganhado notoriedade em função do forte impulso dado pela Internet à atividade de aprendizagem de línguas à distância. White (2003, Pág. 2) inventariou criticamente diversas iniciativas de ensino de línguas à distância por meio da Internet, assim como por outros meios técnicos. Já em seu primeiro capítulo, a autora salienta que “embora a tendência tenha sido a de focalizar a tecnologia como o fator mais importante, educadores e estudiosos mais experientes em ensino à distância argumentam insistentemente que a tecnologia per se não é tão importante quanto outros fatores tais como motivação do aprendiz, a compreensão do contexto maior do ensino à distância e as demandas impostas aos participantes (...)”. Para a autora, embora as novas tecnologias propiciem uma série de vantagens, a atividade de ensinar-aprender línguas à distância (por meio da Internet, inclusive, mas não unicamente) exige que os participantes – professores e alunos – adquiram novos papéis e desenvolvam novas habilidades. A seguir apresento uma breve reflexão sobre quais seriam algumas dessas habilidades, e aponto exemplos de recursos disponíveis para professores e aprendizes que desejem adquiri-las.


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Notas

8 Computer Assisted Language Learning. voltar ao texto

9 Network-based Language Teaching. voltar ao texto