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BOLETIM CLÍNICO - número 19 - novembro/2004

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


4. Homeopatia e Psicossomática

Efraim: Como estávamos falando da outra vez, desde os tempos antigos, Asclépio na antiguidade, eles faziam uma medicina ao mesmo tempo corporal, anímica e espiritual, então seria uma medicina psicossomática espiritual. Essa tradição de Asclépio, passou para Hipócrates, que foi o criador da medicina homeopática e também da medicina alopática, pois foi ele o fundador das duas medicinas. Hanneman, que foi o grande criador da homeopatia, de todos seus fundamentos, tudo o que se sabe da homeopatia foi ele que colocou. E ainda no século XX, temos grandes pesquisadores como o Leon Vannier, na França, que é homeopata e ao mesmo tempo psicossomático. Então eu gostaria que você me colocasse como você vê a homeopatia e a psicossomática.

Denise: Uma das maiores dificuldades da interdisciplinaridade é o uso de termos técnicos com sentidos diferentes pelos profissionais das diversas áreas. Por isso usar a palavra "psicossomática" me intimida um pouco. Já vi pessoas dando significados diferentes para ela. Às vezes eu uso medicina "mente-corpo", que é um termo que não se vincula a uma linha teórica de pensamento.

Na verdade, eu penso que o psiquismo faz parte do todo que você é e o corpo também faz parte do todo que você é. Tudo o que acontece num pólo, tem um correspondente no outro pólo; o que acontece no corpo tem um correspondente no psiquismo, o que acontece no psiquismo tem um correspondente no corpo. Na realidade prática não há essa dissociação. Essa dissociação só existe num sentido didático, porque aprendemos a trabalhar com o ser humano com instrumentos diversos, que podem ser diretamente ligados ao psiquismo, por exemplo as terapias psicológicas, ou diretamente ligados ao corpo, por exemplo cirurgias ou remédios. Mas na verdade, por qualquer ângulo que você aborde, você está entrando numa rede complexa e completa. Quando o cirurgião extrai um órgão do indivíduo, ele está mexendo com o psiquismo dele também. A diferença é só o instrumento você está usando. Para determinados problemas, em determinadas pessoas, em determinadas circunstâncias, um ou outro instrumento será o mais adequado. A sabedoria consiste em saber definir que instrumento terapêutico usar.

Efraim: Trabalhando com o todo, você não está falando de uma medicina holística, ou sistêmica, não seria isso? Não é que se dá atualmente, mas esses termos são muito usados por aí, só mais dentro do médico é pouco utilizado esse conceito sistêmico.

Denise: É. Nossos cursos de medicina são organicistas. Acredito que isso se deva principalmente em função do desenvolvimento da tecnologia. A medicina no Brasil se guia muito pela medicina americana, que é uma medicina tecnológica, que prioriza os exames cada vez mais sofisticados. Na Europa não é tanto assim. A saúde pública da França, por exemplo, inclui a homeopatia. As nossas faculdades seguiram a visão americana. Há uma pesquisa que as entidades médicas (sindicato, APM e AMB) fizeram para avaliar os cursos de medicina. Acompanharam por alguns anos os alunos de vários cursos. A conclusão a que chegaram é que o problema dos cursos de medicina está sendo justamente a falta de humanismo. Os cursos são voltados para a especialização e para a tecnologia, para a sofisticação; e não têm o hábito de se cultivar a relação médico/paciente como fundamental para se fazer um diagnóstico, um tratamento. A relação de confiança mútua foi substituída pelo medo de processo por erro médico. O profissional pede exames demasiadamente, para não dizerem que ele errou. E a relação médico/paciente, que é básica, fica de lado.

Apesar de eu ter feito essa mesma faculdade, essa mesma residência médica, com esse modelo que existe no Brasil, como eu sou homeopata, eu pude perceber o outro lado da questão. Na homeopatia é fundamental que o médico adentre de uma certa forma a intimidade afetivo-emocional do paciente. Nós temos que procurar a emoção que desencadeou a doença. Nós perguntamos há quanto tempo o paciente sofre do problema de saúde que o traz em consulta, e investigamos a vida dele nos meses ou anos que o precederam. Uma vez encontrado um evento emocionalmente traumático para ele, nós buscamos descobrir que emoção ele sentiu naquela época. É muito importante para o tratamento usarmos remédios que tratam os transtornos físicos provocados por aquela emoção. O resultado do tratamento comprova com muita clareza o quanto a emoção participa do nosso processo de adoecimento (e do nosso processo de cura também). Quem faz homeopatia não tem como não ver essa realidade. Os outros médicos não têm consciência disso ou porque não perguntam, ou porque o tratamento convencional, alopático ou cirúrgico, não utiliza a emoção vivida pelo paciente como um dado de valor para a escolha do remédio. Mas para tratar com homeopatia você verifica que o paciente tem tal problema há X tempo, e ao interrogar sobre como era a vida dele antes do problema acontecer, fatalmente vai aparecer um evento importante que tenha mexido com o paciente, e muitas vezes você consegue descobrir que emoção aquele evento provocou no paciente. Se você usar um remédio de homeopatia que é listado para tratar transtorno por aquela emoção, por exemplo mágoa, o sucesso do tratamento é muito mais rápido do que quando não se descobre qual foi a emoção. Então, só de comparar a evolução do paciente que foi tratado usando-se a rubrica "transtorno por tal emoção", com os pacientes em que isso não foi descoberto, nós confirmamos como a emoção é um gatilho que desencadeia processos de adoecimento no organismo.

Efraim: Pode ser também Denise, qual que é o início dando a isso, uma emoção negativa, se não for trabalhada da mesma maneira que trabalhamos as emoções através da psicoterapia, que é uma maneira da pessoa tomar consciência pelo menos verbalizar a sua emoção, ou então através de uma atividade qualquer que ele consegue se livrar dessa emoção, se a mágoa for muito intensa pode se desencadear e câncer, a somatização é realmente uma coisa muito perigosa para a saúde e para a vida.

Denise: Na verdade Efraim, pela experiência que eu tenho de consultório, qualquer emoção pode facilitar a instalação de qualquer doença. Eu não acho que exista uma relação direta, tal emoção provoca tal doença. Eu vejo que a mágoa facilita o início das mais diferentes doenças. Eu já vi mágoa iniciando uma Narcolepsia, eu já vi mágoa iniciando um Cólon Irritável, eu já vi mágoa iniciando um Artrite Reumatóide, enfim, doenças as mais diferentes. Eu acho que o adoecimento mostra bem como nós somos um todo inseparável "mente/corpo". A emoção que a pessoa sente, quando profunda ou duradoura o suficiente, vai modificar o padrão de funcionamento cerebral, gerando excesso de produção de determinados neurotransmissores, peptídeos, hormônios, que por sua vez vão agir sobre o genoma, ativando ou desativando genes, provocando mutações. A pré-disposição que você já trouxe na bagagem genética, a doença você já é predisposto a ter, vai ser ativada pela emoção. As moléculas de informação vão agir no interior da célula, modificando a fabricação de proteínas dentro dela. Esse processo de ativação de gene pela emoção é um processo que na verdade já foi destrinchado, já existe esse conhecimento. Mas quando eu falo sobre isso com colegas médicos, geralmente eu escuto: "mas você acredita mesmo que a emoção pode fazer isso?"

Efraim: Eu tenho a perfeita certeza de que isso existe, no consultório de psicoterapia eu estou cansado de ver isso.

Denise: O médico que não está acostumado a fazer perguntas sobre a esfera afetivo-emocional, e que também não estuda o que as neurociências conseguiram descobrir sobre essa ligação, não sabe disso. Para ele é uma novidade. No curso de medicina formal, ninguém fala nisso, e se ele não tem uma vocação natural para estudar esse assunto, ele também não vai atrás, ele só vai estudar a especialidade dele. O inverso também acontece, com o psicólogo. Eu escuto psicólogo negando a contribuição do corpo, dizendo que tudo está só na esfera psíquica e não acredita em nada de predisposição, de gene, quer dizer, é o erro no sentido oposto. Essa unidade existe, é concreta e nós só temos que descobrir, num determinado momento, que instrumento é mais útil para o paciente: remédios, cirurgia, terapia, tudo ao mesmo tempo? É simplesmente tirar férias algumas vezes por ano? Buscar uma religião? Tem gente para quem é muito claro que a causa do adoecimento dele é a falta de significado da vida, muitas vezes essa pessoa melhora indo atrás de uma religião, de alguma filosofia que dê uma resposta para as crises existenciais dele.

Efraim: Está claro que Viktor Frankl é um psicoterapeuta que viu no campo de concentração que aqueles que perdiam os sentidos da vida, ou seja, que não havia mais futuro para eles, que não se empenhavam em ajudar os outros, esses morriam. E aqueles que como ele começaram a ajudar, dizer: "vamos nos salvar que vai chegar ajuda e não teremos que morrer, e vamos continuar a viver depois", esses continuaram vivos.

Denise: Com certeza! Isso para mim é muito claro. Se a pessoa baseia sua vida em valores exclusivamente materiais, nunca vai estar satisfeito, porque quando ele comprar o carro mais moderno, já fizeram um carro mais moderno ainda.

Efraim: Como o computador!

Denise: Computador nem se fala! Quando ele está pagando na loja, já fizeram três upgrades do computador dele. Então a busca não vai ter fim. Já quando você procura valores morais, éticos, espirituais, que dêem realmente um sentido para a vida, tudo fica mais fácil. E eu não me refiro a valores estabelecidos pela sociedade, mas sim aos dela mesmo. À sua ética pessoal. O conflito é que faz adoecer. Não importa o que você faça, se estiver de acordo com a sua ética pessoal, não vai haver conflito, nem adoecimento.

Eu tenho uma experiência familiar sobre isso. Eu comecei a tratar os meus filhos com homeopatia (o resultado foi tão brilhante que eu fiquei impressionada de não ter tido nenhuma aula sobre isso na faculdade e fui estudar homeopatia). Só uma das minhas filhas não melhorava. Eu levei-a a vários médicos e nada. Todos os outros já estavam bem, só ela não melhorava. A homeopatia só começou a fazer efeito quando ela foi fazer terapia, porque ela tinha um bloqueio tão grande que o remédio não fazia efeito. Quando ela começou a fazer terapia ainda continuava com o problema de pele, mas aí nós voltamos a usar o mesmo remédio que nós já tínhamos tentado, sem sucesso, e ela sarou. O que houve de diferente nessa tentativa em relação às outras, foi o fato de que ela estava sendo submetida a um processo terapêutico. Pra mim é muito nítido, muito claro, isso não é claro para todos os médicos porque os nossos cursos de medicina não abordam isso. A ciência hegemônica é materialista. Mesmos grandes pesquisadores, excelentes cientistas, defendem que o psiquismo é um subproduto do cérebro. Tudo é neurobioquímica. Mas, e o significado? O que faz o cérebro uma hora decidir de um jeito e outra hora decidir de outro? Eles não ultrapassam para o campo das idéias, só ficam no campo da matéria mesmo. Na hora que você trabalha com saúde, com tratamento médico, só levando em consideração o concreto, você vai deixar de trabalhar com uma coisa fundamental, que é o simbólico, que é o significado, o campo abstrato, o campo das idéias. Quando você não leva em consideração o campo das idéias, você restringe demais o raciocínio. Lógico que excelentes profissionais fazem coisas fantásticas sob a ótica materialista, mas isso não significa que é possível trabalhar só com esse campo. Aí reside muitos dos insucessos dos tratamentos convencionais. Então um gastroenterologista muito bom fez uma cirurgia maravilhosa, ou fez um tratamento medicamentoso espetacular, mas o paciente vai adoecer de novo, ou da mesma doença ou de outra coisa, se ele não tiver trabalhado paralelamente os seus valores. A sorte é que as pessoas vão procurar outras coisas, elas vão atrás, apesar de muitas vezes o profissional achar que foi só o seu tratamento que funcionou.

Efraim: Eu queria concluir uma coisa, por que será que é tão difícil ser intuitivo, é tão difícil ser uma pessoa que procure as coisas de forma sistêmica, não será porque a maneira de aprender, nosso sistema nervoso acostumou a ficar de maneira analítica, porque a lógica formal, o conceito de classe, ordem, ritmo, espécie entre indivíduos é uma classificação analítica.

Denise: Eu acredito Efraim, que não é isso não, porque o nosso cérebro é muito plástico. A hora que você quiser adotar uma visão sistêmica, ele responde, ele vai fazer novas sinapses. A diferença é a crença. Se a pessoa não acredita na visão sistêmica, não acredita que o mundo das idéias interfere permanentemente com o mundo físico, ela não vai dar importância para isso. Eu, por exemplo, quando fui estudar homeopatia, já tinha até mestrado. Eu realizei uma pesquisa ontogenética com receptores cerebrais. Foi uma pesquisa extremamente bonita, com abordagem organicista. Então eu teria tudo para não ter mudado de paradigma. Só que na hora em que eu percebi o efeito da homeopatia nos meus filhos, eu tive que parar para pensar: como é que um remédio diluído acima do número de Avogrado, não tendo, portanto, mais nenhuma molécula da substância original, faz efeito? Não há reação bioquímica, porque não há mais nenhuma molécula da substância. Então é outra coisa... Como as coisas acontecem em rede, as mudanças não são isoladas, na mesma época eu comecei a dar aula aqui na PUC, comecei a ter contato com psicólogos, fiz terapia. E quando eu entrei em contato com essa nova visão, o meu cérebro foi capaz de responder. O significado vem antes do cérebro. Se eu mudo o significado da vida para mim, o meu cérebro, com a sua maravilhosa plasticidade, se modifica. Porque ele não é o centro, ele é o grande instrumento, não mais do que isso.

Efraim: Porque o fundamental é a consciência, e a nossa consciência fica analítica pela lavagem cerebral, porque a nossa linguagem é analítica, e se fala tanto em psicossomática, em uma unidade, e de repente nesse colóquio, nesse seminário: "Entre a psique e a matéria", pois se fala entre separando, entre o doutor e o paciente, nós não estamos separados, não formamos um novo dado, essa maneira de usar nossa linguagem que já é analítica é um legado de Aristóteles, é a lógica dos gregos, não tem como fugir dessa. Um computador é a imagem e semelhança de nossa maneira de pensar, e é analítica, é sim ou não, sim ou não... e forma uma cadeia enorme e chega a fazer coisas extraordinariamente maravilhosas, só que um computador não sai disso, é uma máquina de somar e subtrair, se soma pelo sim e subtrai pelo não, o não, não vale para nada, deixa vir uma seqüência de sim. Então só para entender que o computador funciona dessa maneira analítica é porque o programador, o analista de sistema (olha que nome analítico), que não é sintetizador de sistema... é o analista de sistema. A grande dificuldade, eu penso assim porque eu sou muito chato em termos de linguagem, eu acho que a linguagem tem que corresponder à semântica, e a linguagem é um instrumento de semântica que vai transmitir alguma coisa de válido, então você vê que nesse seminário, apesar de que os organizadores são pessoas que acreditam na psicossomática como uma unidade, o título no meu entender ficou fora da proposta.

Denise: Eu achei o título interessante porque as pessoas vêem desse jeito. No correr dos trabalhos, novas maneiras de encarar o assunto vão surgindo, então acaba funcionando de qualquer forma. O ideal é a aquisição de uma linguagem uniforme e apropriada, mas ainda estamos um pouco longe disso. Acho que antes de cada palestra o palestrante tem que fazer uma espécie de glossário. Quando eu falo tal coisa, quero dizer isso. Parece piada, mas eu falo sério. Às vezes eu demoro meia palestra para entender que a minha divergência é semântica e não de conteúdo. Mas mesmo que você não tenha formulado uma linguagem apropriada para essa nova visão, se você tiver de verdade essa nova visão, ainda que cometa erros de linguagem, sua atitude vai ser de acordo com essa nova visão. Um médico que na hora de receitar diga: além do meu remédio você tem que mudar os hábitos de vida, por exemplo, ele estará agindo de acordo com a visão sistêmica. O que mais importa, é a atitude. Já escutei muito discurso de mudança de paradigma proferido por pessoas positivistas, cartesianas, que nem percebem que não mudaram de paradigma.

Efraim: Olha, eu não sei como ensinar na escola uma posição minoética, eu tenho a posição definitiva, eu vejo a coisa como um todo. O último teste que eu fiz, que foi no doutorado, eu fiz o teste numa questão de segundos, que me ensinou a intuir, aproveitei músicas para fazer um teste projetivo, toca-se a música e a pessoa vai contando uma história sobre a música, e em 4-5 segundos eu tinha feito aquilo. Isso é noética, isso não é analítico, de repente chega uma idéia, uma intuição de choque, mas às vezes dentro do curso de psicologia há normas que interditam a intuição e a lógica analítica é uma barreira para a intuição. As determinantes das respostas Rorschach que são formais, lógicas, são consideradas mais importantes que o entendimento simbólico do conteúdo da resposta.

Denise: Você não pode usar das duas formas? Analítica e intuitiva?

Efraim: O que eu estou querendo dizer é o seguinte, de repente uma atitude analítica, às vezes afoga uma possibilidade noética, às vezes a intuição fica afundada porque "não faça isso, não faça isso, nem sou formado", é como o médico que está muito ligado ao laboratório, que então vai ter os problemas de trabalhar só com o laboratório, então acredite no exame, é uma coisa que eu pergunto entre nós, se realmente exame de laboratório fosse corretamente colocado, deveriam colocar a média e o desvio padrão, e que amostras foram utilizadas para essa referência.

Denise: Mas geralmente tem o limite mínimo e máximo.

Efraim: Mas isso não é desvio padrão. Metodologicamente correto não são em dados pontos, em dizer olha: a amostra foi colhida em tal lugar, com tanto caso, e o desvio padrão é tanto, e a média é tanto. Isso seria correto em termos de métodos científicos de exames consecutivos, mas ninguém faz isso. Por isso eu pergunto, eu tenho minha glicemia, minha glicemia é 111, mas a faixa normal chega até 110, então eu sou anormal, o que eu sou? Eu nem ligo para isso sabe, se alguém me dissesse que o desvio padrão dessa glicemia é pequenininho, pode até ser que eu corra o risco de diabete.

Denise: Mas existe essa informação, Efraim.

Efraim: Aonde?

Denise: Nos livros. Por exemplo, atualmente os estudos consideram até 100 normal, 110 já seria uma tendência pro diabete, o que não quer dizer que você vai ser diabético, mas quer dizer que você tem que tomar um cuidado com os carboidratos que você ingere, fazer exercícios. Os exames têm que ser interpretados pelo médico e conversados em consulta.

Efraim: Mas eu estou insistindo no ponto de vista teórico.

Denise: Eu acho que a gente não deve confundir o uso que se faz dos instrumentos com o próprio instrumento. Se a pessoa fez determinado instrumento, idealizou uma padronização, testou, viu que funcionava; aquele instrumento é usado do jeito que foi padronizado e aprovado. Você pode usar na sua prática diária aquele instrumento de outra forma, só que tem que ficar claro que você está usando de outra forma. Para que haja comunicação científica no mundo inteiro, tem que haver uma linguagem científica comum. Quando dou aula de neurologia, há assuntos em que a minha visão de saúde/doença é diferente da oficial. Com freqüência eu descrevo como é a visão oficial e depois eu digo como eu enxergo aquilo. Então o aluno pode achar uma terceira forma de enxergar, mas ele tem que saber como é o oficial. Isso dá uma margem de segurança para você, senão vira uma torre de Babel. Até para o paciente eu antes explico como é a forma convencional de tratamento, e deixo que ele decida se prefere ser tratado com homeopatia ou da forma não convencional que eu por ventura esteja propondo para ele.

É essa a minha dificuldade em usar a palavra "psicossomática". Eu vejo grupos de medicina psicossomática com uma visão psicanalítica da psicossomática; um grupo junguiano tem uma visão diferente, um médico convencional vai usar o termo "psicossomática" numa outra direção. Já eu vejo todas as doenças como psicossomáticas. Todas tem a ver com o corpo, soma, e a psique. Pode ser que a manifestação clínica apareça mais polarizada numa ou noutra direção, mas sempre tem a ver com o todo. Nós já conversamos sobre isso e você até acrescenta, muito oportunamente, a psicossomática social. Um médico convencional provavelmente vai considerar psicossomáticas apenas determinadas doenças. Eles têm uma listinha de doenças que a medicina considera como psicossomáticas. Se você usar um termo que já foi oficializado com um sentido diferente do que você pretende ao usá-lo, é importante que você esclareça ou mude a nomenclatura. Naquela palestra eu usei medicina mente-corpo simplesmente porque é uma expressão que já lançaram, vão entender o que eu estou dizendo, que é essa forma do médico olhar com um olhar mais abrangente, vendo o indivíduo com o seu corpo, seus significados, suas crenças, seu modo de vida; seria o biopsicossomaticossocial que você fala. Como eu ainda não criei nenhum termo, prefiro usar esse que é mais abrangente para o médico. Eu uso no meio médico a linguagem com a qual eu me comunico melhor, fazendo as ressalvas, como eu faço quando dou aula. É assim oficialmente, os textos dizem isso, na minha experiência não é bem assim, aí eu conto a minha experiência e o aluno adota se quiser, ele não é obrigado a adotar a minha experiência, ele sai com uma definição que é aceita em qualquer lugar do mundo. Eu acho que essa flexibilidade em relação à linguagem, nós temos que ter, porque, sem duvida nenhuma você está coberto de razão, a linguagem caminha mais devagar do que as idéias que elas representam. A idéia já está lá na frente à compreensão, e você com a linguagem aqui atrás porque ainda não conseguiu criar novas formas que acompanhem a evolução das idéias. Por exemplo, nós temos quantas cores brancas aqui? Pouquíssimas, se é que temos mais de uma, e se você for lá no Alasca, eles tem n tipos de branco: "branco urso", "branco neve", "branco não sei o que", eles têm um monte de tons de branco diferentes que nós não somos nem capazes de discernir, perceber, por falta de estimulação do cérebro para essas sutilezas. Então a linguagem seguramente caminha a reboque da percepção. Agora se você usar um termo que já existe e fizer sua ressalva, você acaba se fazendo entender... acho que é meio por aí.

Efraim: É o negócio da holística, de repente se teve um boom e todo mundo falava em holística e de repente também e ninguém mais fala, sistêmico é mais ou menos a mesma coisa, se falou muito, eu ainda acho que se está usando mais, mas é o que eu disse.

Denise: É, eu acho que o sistêmico sim, porque muitos filósofos adotaram essa nomenclatura, a física quântica também. Eu acredito que esse termo "sistêmico" vai durar mais tempo, porque ele encerra a idéia completa. Daqui a um tempo a gente vai estar falando em medicina sistêmica.

Efraim: Em psicologia sistêmica né?

Denise: Psicologia sistêmica… tá certo, é um termo interessante realmente, porque fala bem da inter-relação de todas as coisas. Acho que já se usa essa nomenclatura "abordagem sistêmica" na psicologia.

Efraim: Então Denise, nós já conversamos bastante sobre psicossomática e homeopatia, eu gostaria que a gente desse uma atenção específica à homeopatia. O que significa homeopatia, qual é a tradição dessa especialidade médica e, de preferência, colocando a sua experiência como médica especialista em homeopatia.

Denise: Bom, na verdade, homeopatia é uma forma de tratamento. Então o médico, homeopata, é um médico como os outros, ele tem que examinar os pacientes, ele tem que fazer uma hipótese diagnóstica clínica, ele tem que saber que doença o paciente tem, até pra saber com que instrumentos esse paciente deve ser tratado: se é remédio, se é terapia, se é cirurgia, fisioterapia... ele tem que ter um diagnóstico, e, até esse ponto, ele é um médico absolutamente igual aos outros médicos. A diferença aparece quando ele opta por tratar com homeopatia. Quando, pela minha experiência, eu sei que aquela doença responde melhor à homeopatia, que vai haver vantagem em tratá-la com homeopatia e não de outra forma, então eu tenho que fazer a consulta homeopática. A consulta homeopática é uma consulta que visa achar qual dos medicamentos homeopáticos é o similimum daquele paciente, porque a homeopatia trata pelo semelhante.

Efraim: Similimum é semelhante?

Denise: Seria nesse sentido, similimum seria o mais semelhante de todos, digamos assim. Tanto quanto às características mentais, como gerais e locais. Características mentais seriam por exemplo, se um indivíduo é introvertido ou extrovertido, se ele é de guardar mágoa, se ele tem pavio curto, se fala na hora o que pensa e depois esquece, se ele é ciumento, se ele é medroso, do que ele tem medo, como ele fica quando está aborrecido, se prefere se isolar ou quer companhia, etc. As características físicas gerais, são por exemplo se o paciente é calorento ou friorento, se ele adoece mais quando o tempo está quente ou frio, ou se quando está chuvoso, o que ele gosta mais de comer, o que ele come e faz mal, o que ele tem aversão por comer, como é que funciona o intestino, o suor, a sede, o sono, etc. Por fim, as características locais são as características da doença dele "nele". Quer dizer, o que da doença não costuma acontecer em todos mas sim nele. Por exemplo, um paciente tem uma crise de asma que melhora quando ele senta inclinado para frente, em outro a respiração fica mais confortável se ele se sentar dobrado em cima das coxas, outro prefere ficar deitado estirado, então, a asma é igual pra todo mundo, mas tem um detalhe que naquele paciente é diferente dos outros. Estas seriam as características locais. Juntando o perfil mental, geral e local, nós vamos achar qual dos remédios que é o mais parecido com ele. Esse é o similimum. Quando você acha o similimum do paciente, aquele remédio serve para qualquer problema que ele tenha, desde enxaqueca, colite, tendência a micose no pé... não importa, é o remédio que, organizando as suas energias, faz com que seu corpo físico funcione bem. É muito importante descobrir o similimum, mas nem sempre é possível, ou porque o paciente não se conhece o suficiente para responder de forma adequada às perguntas, ou porque o similimum dele, por exemplo, é um remédio mais raro que o próprio médico não conhece bem, você só pensa naquilo que você conhece, muitas vezes, achar o similimum de uma pessoa demora muito tempo, outras vezes você consegue achar na primeira consulta. Se o similimum for um remédio muito comum, muito conhecido, então às vezes fica facílimo você encontrar que o similimum daquele paciente é aquele. Agora, mesmo quando você não acha o similimum, se você der um que nós podemos chamar de similar, está no grupo dos que são mais parecidos com o paciente, você pode obter um resultado satisfatório, mas quando é o similimum, o resultado é muito superior. Um similar pode ajudar, muitas vezes você precisa lançar mão de similares enquanto você ainda não tem certeza de que achou o similimum. Existem catalogados cerca de três mil remédios na homeopatia.

Efraim: Mas me fala uma coisa o repertório de Kent que colocou os sintomas em ordem alfabética com um detalhamento terrível, você acha que esse repertório ou essa repertorização da homeopatia ajuda a encontrar...

Denise: O ideal é quando você descobre o similimum por imagem patogenética, ou seja, você está conversando com o paciente e tudo que ele lhe diz vai formando a imagem de um remédio na sua cabeça. Isso aí é receitar por imagem patogenética. Quando você tem duvidas, está com alguma dificuldade, repertorizar pode ajudar. Você não pode é levar a repertorização ao pé da letra, porque aumenta a chance de erro. Muitas vezes eu repertorizo no computador (existe já o repertório em programa de computador) para ver se aparece algum remédio que tinha me escapado durante o raciocínio. Mas com freqüência o remédio que eu opto não é o remédio mais pontuado. Pode estar entre os doze primeiros, por exemplo: "Ah! É esse aqui!". Então eu me guio juntando a repertorização com a imagem patogenética.

Efraim: A intuição também né?

Denise: É, a intuição. A imagem patogenética é bastante por intuição. Existe a memória consciente, mas tem muito de memória inconsciente também, quando você intui qual é o remédio do paciente. A repertorização é um instrumento coadjuvante. Se você começa a precisar muito de usar repertório, significa que você está precisando voltar a estudar Matéria Médica, que é justamente a descrição dos remédios. Cada vez que alguém começa a usar o repertório com uma freqüência muito grande, isso é um indício de que está precisando dar uma parada e voltar a estudar para refrescar a memória. Porque são três mil remédios. Existem os que costumam ser remédios de fundo (similimum), muitos são remédios acessórios, é muita coisa para guardar na memória. É preciso sempre voltar a estudar.

Existem várias linhas na homeopatia, os unicistas que só trabalham com similimum, e dentro dos unicistas ainda existem dois grupos, um que acha que o similimum da pessoa é sempre o mesmo e outro que acha que não, que a pessoa muda e com isso o similimum muda. Existem os complexistas, que além do similimum usam complexos específicos para as doenças, além de tratar o doente, tratam a doença também. E existe o pluralista, que além do similimum usa outros coadjuvantes, como por exemplo um "drenador de terreno" para aquela pré-disposição familiar. Eu, pessoalmente, uso todas as linhas, fiz curso em uma escola unicista, mas não era uma escola unicista radical porque eles levavam em consideração que se a pessoa mudar a forma de enfrentar a vida ela vai mudar de similimum.

Efraim: Se muda o estilo de vida não pode continuar o mesmo similimum né? Denise: Pois é. Depois eu estagiei no consultório de uma complexista e de um pluralista. A conclusão que eu cheguei vendo os resultados nas três experiências, é que todos os três tinham muito bons resultados, o que acontece é que, dependendo do tipo de paciente e do tipo de doença vai ser um tipo de abordagem que você precisa fazer. Se um médico é unicista radical, provavelmente aquele paciente que precisa de algo mais do que o similimum, naturalmente, vai acabar abandonando ele pra ir a um outro médico. O mesmo acontece com o que é pluralista e com o que é complexista. Todos eles tinham alto percentual de sucesso, e os pacientes que não estavam melhorando, eles mesmos, pelo bom senso deles, acabavam indo procurar outra pessoa para se tratar.

Efraim: Vou fazer uma pergunta à você. Existe alguma forma de atração que leva determinados clientes para um determinado terapeuta? Na psicoterapia que eu faço, percebo um fato muito curioso: raramente se vão à mim pessoas com problemas de homossexualidade, raramente em 40 anos de trabalho quatro ou cinco homossexuais masculinos me procuraram, eu acho esse número muito pequeno.

Denise: Sei. Não é a média da população.

Efraim: Exatamente, muito mais baixa. Uma pessoa que foi bem atendida por mim, se sentiu ajudada ela tem um determinado tipo de problema e vai passando isso para a pessoa que tem uma semelhança de alguma forma, não digo que são iguais, não é o mesmo problema sempre, mas alguma coisa acontece porque minha clientela me dá tranqüilidade, me dá satisfação, e eu respondo de uma forma adequada à eles.

Denise: Olha, sem dúvida que eu também noto isso. Com o médico a coisa é parecida, nos dois sentidos. E não tem muito a ver com o instrumento que o médico usa, mas com a postura do médico. Tem paciente, por exemplo, que gosta de médico que tem um distanciamento que parece Deus falando, e aí ele se sente seguro na mão daquele médico, e já tem paciente que prefere um médico mais próximo, mais amigo, para que ele se sinta acolhido. Eu por exemplo sou desse segundo estilo. É claro que se um paciente me procura esperando encontrar uma pessoa com uma postura mais distante, que transmita uma sensação de poder acima dos outros (muitos pacientes querem isso) seguramente que esse não vai continuar comigo. Acho que tem isso em relação à própria postura, a forma de tratar o paciente já seleciona, cada médico tem o paciente que merece e cada paciente tem o médico que merece, é uma coisa meio por aí. Em relação ao instrumento, sem dúvida muita gente não acredita em homeopatia, esse "não acredita" pode ter várias faces, pode ser só ignorância do assunto, se ela se tratar e der certo ela vai começar a acreditar; às vezes o não acreditar tem uma raiz mais profunda, uma rejeição mesmo, pelo estilo, pelo o que significa ser homeopata, pela crença numa coisa maior, num sentido universal maior. Hoje em dia existem muitas pessoas com essa mentalidade de videoclipe mesmo, é tudo pra ontem, é tudo pra já, não quer mudar o estilo de vida, quer simplesmente tomar uma pilulinha mágica que resolva os problemas. Esse tipo de pessoa vai ter muita dificuldade de se tratar com a homeopatia. Eu tenho uma experiência interessante em relação à isso, porque eu já tinha mais de dez anos de neurologista quando fui estudar homeopatia, então já tinha uma clientela que me conhecia como alopata e eu era uma alopata convencional, positivista, certo? Tinha um enfoque bem organicista. Depois que eu fui fazer homeopatia eu fui tendo uma transformação pessoal muito grande, muitas coisas foram mudando dentro de mim e na minha vida. É interessante porque eu recebo ainda muitos pacientes, apesar de já ser homeopata há cerca de quinze anos, eu ainda recebo pessoas que chegam à mim sem saber que eu faço homeopatia. Dessas pessoas que chegam procurando a neurologista sem nem saber que eu faço homeopatia, um alto percentual se trata com homeopatia, a maioria. Mas tem um pequeno percentual que se recusa, e eu aprendi a ser flexível. Eu aceito, digo: você não quer que eu trate com homeopatia eu não trato, mas é uma pena, porque isso daí ia se dar muito melhor com a homeopatia.

Efraim: Iam dar remédio químico, portanto...

Denise: De uma maneira geral sim, eu receio alopatia. Mas existem patologias que eu tenho mais experiência em tratar com homeopatia do que com alopatia, porque nunca trato, então acontece de eu dizer às vezes: "Olha, se você não quer se tratar com homeopatia eu vou te encaminhar para uma pessoa que tem grande experiência com isso com alopatia, e se um dia você decidir dar chance para a homeopatia você pode voltar aqui que eu estou de braços abertos".

Efraim: Me cita alguma coisa assim...

Denise: Por exemplo: uma depressão mais intensa. Eu trato depressão leve a moderada com homeopatia. Se eu chego à conclusão de que aquela depressão não reage bem à homeopatia, ou se de saída o paciente se recusa a se tratar com homeopatia, eu prefiro encaminhar para um psiquiatra, mas isso para depressões maiores, transtorno bipolar, não para qualquer depressão. Tourret é outro exemplo. Eu prefiro tratar com homeopatia, mas se o paciente não quer, eu encaminho para alguém que eu confie para tratar com alopatia.

Efraim: Distrofia?

Denise: Distrofias, Esclerose Lateral Amiotrófica, ou outras doenças mais raras e sem cura, eu acabo encaminhando para um especialista. Dentro da neurologia há os especialistas em doenças menos comuns. A não ser que ele queira fazer um tratamento homeopático coadjuvante, para melhorar a qualidade de vida. Às vezes existe uma relação médico-paciente de confiança, então eles acabam fazendo a tentativa. Ás vezes eles optam pela homeopatia como coadjuvante.

Efraim: Denise, eu publiquei um livro "A Velha e a Nova Mitologia" no qual na primeira parte apresento a terapia centrada na relação, pois eu considero que o mais importante no trabalho psicoterapêutico é a relação cliente/terapeuta, terapeuta/cliente, se você ver que vai haver respeito, admiração mútua, confiança mútua, se acontece um afeto "allegro ma non troppo", então eu consigo ser um bom terapeuta. Eu tive alunos que escolheram diversas linhas teóricas em psicoterapia: existencial, tipo análise ortodoxa, Gestalt, comportamental tem um leque muito grande de estilos e de teorias psicoterapêuticas, eu vejo que o que explica que todas essas psicoterapias tem um resultado positivo e que todas essas psicoterapias tenham sucesso e que os terapeutas sejam profissionais competentes, deve-se ao fato de que conseguem estabelecer uma relação terapêutica com os clientes, a linha teórica é necessária para que o terapeuta tenha confiança no que faz. Por exemplo, se fosse só a teoria, só a teoria que tivesse bom resultado, então seria só uma ou duas dessas psicoterapias que estão aí no mercado que teriam resultados terapêuticos e todas tem em comum, então, alguma coisa que não é a teoria e que para mim é a relação entre terapeuta e cliente, que está dentro das condições de relacionamento que leva ao processo de mudança do cliente, o que eu acabo de dizer Denise, está bem de acordo com o que você falou sobre a relação médico/paciente.

Denise: É, eu acho sim que a relação médico-paciente é fundamental, mas como nosso instrumento não é a terapia, no sentido de você esmiuçar os problemas junto com a pessoa, como é que ela funciona em relação...

Efraim: ...ao que é a vida...

Denise: Exatamente. Ajuda muito, é fundamental, mas ela também sozinha não dá conta.

Efraim: É evidente.

Denise: Já aconteceu de eu ter pacientes que tinham uma ligação muito boa comigo e que eu estava vendo que ele não estava melhorando. Nesses casos eu encaminho o paciente para outro profissional. De uma maneira geral quando o paciente não melhora, eu consigo perceber se é porque o caso dele é muito difícil mesmo, se é porque eu é que estou com dificuldade e não consigo achar o remédio correto, ou se é porque a doença dele não é tratável com homeopatia. Felizmente geralmente eu consigo discernir qual das três situações eu estou vivendo. Se eu chegar à conclusão de que a doença não é tratável por homeopatia, eu mudo para alopatia ou uso a homeopatia só como coadjuvante. Se eu chegar à conclusão que eu é que não estou achando o remédio dele, mesmo a gente tendo um vínculo muito bom, eu peço para o paciente ir a um outro homeopata. Talvez ele perceba alguma coisa que está escapando de mim. Às vezes o paciente se sente meio traído por mim quando eu faço isso.

Efraim: Eu falei, o vínculo de afeto deve ser "allegro ma non troppo", pois se transforma num vínculo íntimo, em um envolvimento emocional, já deixa de ser terapêutico.

Denise: É verdade, é.

Efraim: Deixa esse terapeuta um amigo, quase namorado... Bom mas eu queria te fazer outra pergunta, o Hanneman fez de uma forma extraordinária, o que ele chamou de experimentação com pessoas sãs, que para os europeus é um dos pontos fortes da homeopatia. Não é isso?

Denise: Sim, a matéria médica homeopática, ela é toda baseada no experimento do indivíduo são e sensível. Porque se uma pessoa não sensível ao remédio tomá-lo, ele e água é a mesma coisa. Tem que ser saudável e ser sensível ao remédio, para desenvolver os sintomas do remédio.

Efraim: E como que Hanneman sabia quem era sensível, eu acho que Hanneman era um grande intuitivo.

Denise: Eu acho que dava a medicação e anotava as modificações que as pessoas tinham. Depois que tomou o remédio, como é que ela ficou e o que o remédio provocou, seria a patogenesia, seria o efeito do remédio.

Efraim: Mas aquele que não é sensível?

Denise: Não ia mudar nada tomar o remédio ou água...

Efraim: É descartável

Denise: É descartável, ele anotava só as modificações, quem não se modificou, é porque não era sensível ao remédio.

Efraim: A outra pergunta que sempre me provocou muito interesse, Lycopodium é um remédio que é similar ao meu estado de humor, então eu fui ver uma matéria médica, Lycopodium não tem efeito na experimentação, não tem patogenesia experimental. Bom, eu vi que na matéria médica...

Denise: Tem, tem...

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