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BOLETIM CLÍNICO - número 19 - novembro/2004

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos




Efraim: Sim, em sujeitos sãos? Puxa, eu vi que era neutro, por isso eu te fiz a pergunta... estou aprendendo coisas que eu não sabia.

Denise: Aliás, Lycopodium é considerado um policresto , que são aqueles medicamentos que tem um número de sintomas enorme, tanto que acontece uma coisa muito interessante com o Lycopodium. Você encontra pessoas muito diferentes entre si, cujo similimum é o Lycopodium, por determinados aspectos dele, e não por outros. Já aconteceu de vários membros da mesma família questionarem: "Eu tomo Lycopodium e sou tão diferente dele e ele toma Lycopodium também". E eu digo: "olha, por incrível que pareça vocês são semelhantes a ângulos diferentes do remédio". Os dois são Lycopodium por motivos diferentes e não pelos mesmos motivos. Nem todo remédio é assim, Lycopodium, Sulphur, são assim, são policrestos. Eles têm tantas características, que pessoas muito diferentes podem ter o mesmo similimum.

Efraim: Mas é um negócio que assim, bom minha memória agora não é grande coisa, mas eu lembro de ter lido uma matéria médica francesa: "Notions essentielles de Matière Médicale Homéopatique" escrito por Jacques Jouanny.

Denise: Olha, se eu não me engano, o remédio que deu início à trituração, se não me engano, foi o Causticum, porque ele não tinha. Ele era neutro, era inerte. Depois descobriram que triturando ele passava a ter ação, e daí se usou a trituração para vários remédios, aliás, tem um homeopata que foi meu professor, que fez uma tese de doutorado na História da Ciência, aqui na PUC, e que pesquisou muito o início do trabalho do Hanneman, e ele descobriu que Hanneman depois adotou trituração para todos os remédios, mesmo para aqueles que não precisassem ser triturados, que é uma coisa que as farmácias não fazem, elas só trituram os que precisam de trituração. Efraim: São pouco solúveis.

Denise: É, mas o Hanneman adotou para todos porque potencializava muito o efeito.

Efraim: Me lembro disso porque você havia me dito, mas de qualquer maneira, se eu achar o livro, eu vou tentar ver porque dizia que não tem efeitos experimentais. Por isso eu fiz a pergunta, porque se eu tivesse visto que tinha efeitos experimentais não a teria feito, então, em relação à homeopatia, há quem acusa a homeopatia de curar por efeito placebo. O que você diria em relação à isso?

Denise: Olha, existem muitos trabalhos mostrando que o efeito da homeopatia não é placebo. E existem muitos trabalhos que tiveram essa proposta e não conseguiram chegar a nenhum resultado. Eu atribuo uma das maiores dificuldades de pesquisa com homeopatia, é você acertar o remédio no tempo pré-determinado. Geralmente os trabalhos tem um tempo fixo, você começa a tratar e em X tempo você vai conferir o resultado, tem um prazo já marcado, e nem sempre, nesse prazo, você achou o remédio de fundo do paciente. Isso leva a uma heterogeneidade muito grande na sua população de pesquisa, porque para uns você achou na primeira consulta, para outros você achou na segunda, para outro você nem achou, e aí quando você vai comparar os resultados, é uma balburdia. Na prática, sem falar em trabalho científico, não existe uma duvida interior na gente de que seja efeito placebo, porque muitas vezes, justamente aqueles pacientes que estão mais confiantes em você, que estão mais desejosos de melhorar, acontece não ter efeito, não ter efeito, e de repente, eureka! Você acha um remédio que faz a diferença. Eu lembro de uma criança que tem uma comorbidade, ela tem transtorno por déficit de atenção e hiperatividade, transtorno obsessivo compulsivo e tiques múltiplos, não chega a ser uma síndrome de Tourrete clássica, mas ela tem tiques múltiplos. Essa é uma comorbidade que é comum, eu tenho vários pacientes assim no consultório, e ela começou a tratar comigo num mês de outubro, o quadro estava muito intenso, tanto o toc como os tiques estavam muito intensos, e os pais, quando chegou o fim de janeiro sem resultado nenhum, estressados porque as aulas iam recomeçar e ela ainda estava daquele jeito, pediram e eu fiz uma receita alopática dizendo: "ela não pode entrar no colégio com esse nível de tiques e com esse nível de toc, vocês vão tentar essa receita homeopática, se não der certo vocês compram esse remédio e dão para ela". Pois na última tentativa com homeopatia ela melhorou. Eu encontrtei o remédio de fundo dela. Ela nunca usou a alopatia, atualmente já está quase de alta, vem tratando há uns dois anos e meio mais ou menos e ela já está assintomática há muito tempo, mas é assintomática com homeopatia, pára o remédio ela regride uns 20%, mas está num ponto em que consegue ficar um mês sem homeopatia, pra começar a querer regredir alguma coisa, eu acredito que até o meio deste ano ela vai estar completamente de alta.

Efraim: Aliás, tem também um menino que nasceu prematuro, esse menino está melhorando com o remédio que você deu.

Denise: É. Eu estava tendo um pouco de dificuldade, porque vinha sempre a avó e me dava uma descrição do menino. Quando a mãe começou a vir, ela deu um outro olhar sobre o menino, que clareou um pouco a minha cabeça. Acho que juntando a informação das duas eu pude perceber melhor.

Efraim: O comportamento dele melhorou porque até umas três semanas atrás ele tava ainda com aqueles movimentos das mãos, aqueles tiques ainda, e eu comecei a marcar para ele o que ele estava fazendo e que não era para fazer e tal, e com o remédio acho que foi mais o remédio do que a marcação.

Denise: É, eu acho que dessa vez eu consegui pegar o fio da meada dele. Eu estava com dificuldade.

Efraim: Estava falando de déficit de atenção e hiperatividade, é interessante como na nosologia médica parece que há palavras que fazem sucesso até certo ponto e depois então aparece um novo nome para a mesma síndrome. Então essa síndrome, quando eu cheguei na clínica da PUC em 1960, era designada como disfunção cerebral mínima, da qual eu não ouço mais se falar, estou ouvindo muito se falar em Déficit de Atenção e Hiperatividade, não é a mesma coisa? Porque você já pegou a época da disfunção cerebral, se era no século XX, quando ainda continuava esse termo.

Denise: Quando eu comecei a estudar esse assunto ainda se usava esse termo. É e não é, é pelo seguinte: aquilo que se chamava antigamente de disfunção cerebral mínima, está dentro do diagnóstico de TDAH, transtorno por déficit de atenção e hiperatividade, porém o diagnóstico TDAH, ele ficou amplo demais, mais do que deveria, porque ele agora é feito segundo o CID10 e o DSM-4, ele é feito por checklist. Então existe uma lista de sintomas, se você tiver sete daqueles, cinco de outros, você tem tal diagnóstico. Com isso estão dando esse diagnóstico, mesmo para casos que a causa é emocional, que a causa é um desajuste social familiar, desordem de processamento auditivo está caindo nesse diagnóstico, por quê? Porque é um diagnóstico que pega só o fenótipo, só o comportamento da criança, e não leva em consideração as causas. Então a antiga síndrome do déficit de atenção, que foi o que substituiu a disfunção cerebral mínima, tinha que ser por imaturidade das vias de atenção do cérebro. O professor Lefevre, que já morreu, falava na síndrome do déficit de atenção vinculando a essa causa. O TDAH não tem essa exigência. Se o comportamento preencher a lista, o diagnóstico é esse. Só que muitas vezes o instrumento para tratar não é remédio, pode ser uma terapia individual, pode ser uma terapia familiar, pode ser uma orientação até de estilo de vida, pode ser mudar de escola. Infelizmente eu acho que esse diagnóstico de TDAH por checklist não acrescentou. Acho que atrapalhou mais do que melhorou. Deu brecha para a medicalização exagerada da agitação infantil. Para família pode ser mais cômodo, não é consciente, mas é mais cômodo dizer que o filho tem problema, que tem que tomar remédio, do que olhar a dinâmica da família e ver onde está o equívoco. Na minha opinião não avançou, embora os neurologistas e os psiquiatras de uma maneira geral, gostem dessa aquisição TDAH, acho que gostaram até demais.

Efraim: Mais uma pergunta, na centesimal Hannemaniana 13 já se superou o número de Avogrado, então, se na centesimal CH14 não tem mais moléculas desse remédio, o que cura nesse remédio?

Denise: A explicação científica nós ainda não temos. Quando eu comecei a estudar homeopatia, foi porque contra fatos não há argumentos. Eu vejo que funciona, mesmo que eu não saiba explicar como funciona eu tenho que admitir que isso é verdade. Mas os termos que Hanneman usava são muito significativos, então nós continuamos usando. Mesmo não sendo uma explicação definitiva, nós dizemos que a energia da substância inicial, com o que foi feito o remédio, impregna a solução de água e álcool, e essa energia vai agir no corpo energético, na energia vital do paciente, reequilibrando essa energia e portanto, ajudando-o a voltar ao estado de saúde. O que significa essa energia, que está lá no vidro, a gente não sabe ao certo. Existem pesquisas mostrando que, conforme se vai diluindo e dinamizando, os aglomerados de moléculas de água e álcool mudam de conformação, as pontes de hidrogênio também se modificam de alguma forma. Agora, o que significa exatamente, como isso vai agir no ser humano, ninguém sabe ainda. Eu acho que a explicação talvez venha com uma mudança de paradigma, que a física quântica trouxe e que para mim é muito intrigante, de que a matéria é um subproduto da não-matéria, e não a não-matéria um subproduto da matéria... Talvez por aí venha a se explicar. Mas os físicos quânticos que realmente mudaram de paradigma são poucos. A maioria usa a física quântica para fazer supercondutores, computadores quânticos, mas no dia-a-dia continua olhando o mundo do jeito da física clássica, determinista, positivista. Afinal, a vida no "aqui e agora" é Newtoniana e não quântica. Existem alguns físicos que realmente deram esse salto e que conseguem aplicar a descoberta da mecânica quântica ao dia-a-dia, mudaram filosoficamente. Quando nós lemos as coisas que eles escrevem, parece que é ao nível da não matéria o que nós chamamos de energia e que, de certa forma, é um termo inadequado, mas não tem nenhum outro termo que tenha sido criado e que seja mais convincente. Não adianta mudar por modismo. Eu já recebi, por exemplo, a sugestão de dizer que é informação o que tem no vidro de homeopatia, só que é muito pouco dizer que é informação, porque tudo é informação, o comprimido de fluoxetina também é informação, a fisioterapia também é informação, o tempo ficando nublado também é informação, então tudo é informação desde que percebido por nós. Por que a informação da homeopatia vai de um jeito tão diferente da dos remédios químicos? Esse "pulo do gato" a ciência ainda não deu. De qualquer forma, na minha cabeça eu trabalho muito com uma imagem de que nós temos um campo, nós temos alguma coisa que faz um efeito à distância e que nós fazemos trocas com os outros, então da mesma forma que a física quântica diz que nós estamos trocando elétrons aqui com a mesa, com o outro, e com os objetos em volta, eu imagino que existe ainda alguma coisa ainda mais sutil do que essa, que faz com que haja trocas sutis, e não-trocas também. Eu acredito que o que existe entre o similimum e o indivíduo é uma sintonia tão perfeita que as duas energias conseguem se movimentar na mesma vibração, um termo que o senhor usa e que eu acho excelente, elas conseguem vibrar de uma mesma forma e essa vibração traz o corpo físico para equilíbrio, para a saúde. Em outros sentidos também, acho que pessoas que se dão muito bem, existem pessoas que quase não tem necessidade de falar o que pensam, o outro sabe o que a pessoa está sentindo, pensando, são sintonias sutis.

Efraim: Quando eu dava aulas na graduação, sempre tinham alunos comportamentalistas, queriam saber demais a forma, do que é o objetivo e comprovado, eu perguntava: "você já viu aplicar o eletroencefalograma?", "sim, já vi", "aonde se colocam os eletrodos?", "Bom, na cabeça", se essas pulsações neuroelétricas são tão pequenas da ordem de um milionésimo de volt atravessam as meninges, a calota craniana, a resistência da pele, será que vão parar na pele ou vão continuar se espalhando pelo espaço?

Denise: O pensamento emite onda, isso já foi provado!

Efraim: Pois é, há pessoas que tem compatibilidade de "ondas", seria o caso da simpatia à primeira vista, ou à primeira "onda", e as antipatias por incompatibilidade de "ondas", que constituiriam as antipatias entre pessoas?

Denise: Sim, claro.

Efraim: Bom, eu gostei demais de conversar com você, eu acho que foi muito válido para mim e eu espero que nós tenhamos colocado os temas da forma mais adequada para o leitor do Boletim.

Denise: Ah, muito obrigada. Foi um prazer imenso. Pena que acabou!!

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