Dudi Maia Rosa ergue uma nova parede, de 20 m de comprimento, entre as colunas do galpão da Matarazzo, longitudinal à linha do trem. Esse trabalho de reconstrução daquele espaço arruinado é, porém, como que imaterial. Não vem acumular mais matéria a um local já cheio de escombros, não acrescenta à sedimentação que o tempo vem efetivando ali.

Feita de isopor, essa parede sem peso, sem densidade, surge mais para indicar o que este lugar pode vir a ser. Branca, luminosa, parece fazer com que a luz que ainda vem dos trilhos reflita no interior da construção. É como uma aparição que nos revela a alma de um mundo aparentemente morto.

Sobre esse muro, foram esculpidos grandes afrescos, inspirados nos temas da pintura renascentista e barroca. Indícios de experiência, marcas particulares num universo anteriormente dedicado à produção em série. A apropriação artística fazendo com que a fábrica possa gerar individuação, indicando um outro destino possível para aqueles lugares. Recurso aos procedimentos e técnicas da pintura para resgatar o potencial latente nas ruínas. Instigante paradoxo que materiais e processos industriais possam se encarregar de fazer aflorar a poética e a vitalidade desses espaços abandonados.