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A organização espacial, a paisagem e as diferentes formas de ocupação da cidade de São Paulo têm sido determinadas, em grande parte, por sucessivas intervenções urbanas. Sistemas e equipamentos de trânsito, programas habitacionais, obras de recuperação de sítios históricos, diferentes tipos de legislação e operações urbanas interferiram significativamente na configuração e nos usos do espaço urbano.

Essas intervenções, dada a escala que viriam adquirir, sobretudo quando da restruturação viária metropolitana, tenderam à afetar profundamente os territórios já consolidados, sobre os quais foram realizadas. Áreas inteiras foram condenadas à desertificação, ao uso como corredor de passagem e à ocupação informal. Só a partir daí aflora a consciência destes processos entrópicos, do espaço urbano como área sinistrada. Novas intervenções, agora de caráter revitalizador, são propostas para essas regiões, em geral próximas ao centro. Seus resultados são também, com qualquer ação sobre situações tão complexas, múltiplos e controversos. Intervenções podem gerar grandes desastres urbanos.

Embora condicionados, a cada fase, pelos imperativos do desenvolvimento da cidade e pelos instrumentais disponíveis, a concepção e a implantação destas intervenções se fizeram sob um leque de variáveis e possibilidades. Suas conseqüências, positivas e negativas, podiam ser avaliadas. Em suma: tiveram autoria.

Destacar esse aspecto significa mais do que imputar responsabilidade aos administradores e planejadores urbanos. Trata-se de destacar que esses desastres não são naturais, conseqüência inevitável do crescimento da cidade, mas o resultado de políticas urbanas e ações concretas. Ao faze-lo, está-se apontando para a necessidade de, a cada caso, avaliar de modo mais consistente as estratégias a serem adotadas e envolver outros setores da sociedade no processo de tomada de decisões. Criar outros mecanismos de planejamento urbano.

A proposta de Antoni Muntadas consiste em colocar placas comemorativas em diversos pontos da Zona Leste, considerados situações de desastre urbanístico e social. À partir de uma pesquisa, foram determinados os projetos e operações que engendraram essas configurações críticas. As placas, concebidas nos mesmos moldes daquelas usadas em inaugurações de obras públicas, devem trazer os nomes dos responsáveis pelas intervenções e as datas de sua realização.

Espalhados pela região, esses monumentos aos desastres urbanos balizam uma verdadeira via crusis. O itinerário da população que tem de suportar e pagar pelos erros e desmandos das políticas urbanas e da administração. Uma carta-convite para a inauguração festiva das placas será difundida. Também serão produzidos postais com fotos das situações, nos mesmos moldes daqueles que tradicionalmente retratam os pontos turísticos da cidade. No Sesc-Belenzinho deve ser montado um mapa com a localização das placas e um ponto de venda dos postais.