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Espaços negativos


conical intersect

 


As casas cortadas de Matta-Clark também enfatizam o caráter precário e desagregado da paisagem urbana. Criam espaços críticos em que os vários planos, verticais e horizontais, se confundem, alterando continuamente a percepção do observador: Uma atividade arquitetônica negativa: cortar, escavar, des-construir. Detectar vazios, buracos existentes na cidade, espaços que restaram – que permitem rever ou desintegrar a sintaxe arquitetônica e urbana. Rasgar a arquitetura, expondo seu funcionamento secreto. Desenterrar fundações, cortar tetos, paredes e pisos, exigindo do observador um trabalho de trapezista, equilibrando-se à beira de abismos.

Os cortes inseridos nas construções, estes espaços negativos, provocam uma indiferenciação perceptiva, uma supressão da diferença entre os planos horizontais e verticais. Dissecações que rompem a unidade e a continuidade associadas à arquitetura para tornar visíveis múltiplas e inesperadas camadas espaciais e temporais. Estas aberturas, atravessando o edifício como um periscópio, mostram a destruição de toda continuidade real entre a cidade histórica e as novas construções, o esgarçamento do tecido urbano aparentemente homogêneo. Enfatizando abruptas adjacências, revelam vínculos desfeitos e aproximações entre os lugares.

Incisões que permitem ir além do que pode ser visto, os estratos, as diferentes coisas atravessadas. Sondas que desvelam informações socialmente escondidas sob à superfície. Uma criação de “ruínas” que revelam outras camadas de significados arquitetônicos e antropológicos, socialmente encobertos. Evidenciam outras maneiras de conceber a propriedade, o público e o privado. A casa cortada ao meio aponta para as camadas de referências passadas inscritas nas edificações e, ao mesmo tempo, para as disjunções no funcionamento da cidade e da sociedade. Estes cortes evidenciam o poder do ausente, do vazio e da eliminação.

Matta-Clark iria adquirir lotes nestas áreas _ expondo documentos de propriedade, fotos e mapas _ para designar espaços que não poderiam ser vistos e certamente não seriam ocupados. Invisíveis não tanto porque inacessíveis, mas porque não têm nenhuma utilidade, logo um valor só nominal. Indícios da incidência da entropia no meio urbano.

Referência

R. Deutsche, Evictions, MIT, Cambridge, 1996.

Imagens

G.Matta-Clark, conical intersect, 1975; G. Matta-Clark, splitting, 1974