Aluna; Thais Waisman

Profa. Maria Lúcia Santaella Braga

 

Módulo: Semiótica Pierciana

 

Resenha: A PERCEPÇÃO – uma teoria semiótica

Santaella, Lúcia,  1988 Ed. Experimento, 2ª edição

 

Apresentação

Neste precioso livro que Santaella ofertou aos leitores brasileiros, vamos sendo conduzidos a um passeio através das diferentes formas de abordagem da percepção humana, desde as primeiras citações, feitas por J.Locke, 1690, pertencente ao grupo dos empiristas ingleses que já diziam que “a mente ao nascer, é uma tábula rasa, uma página em branco onde vamos registrando nossas aprendizagens”; passando por  Gibson, 1974 dizia que os órgãos sensoriais funcionavam como janelas abertas para o exterior e que o processo de organização da mente ocorre no córtex cerebral, porém sem saber como ocorre, exatamente.

Dando um salto para a Gestalt (O indivíduo é capaz de perceber porque faz associações com aquilo que foi percebido), traz-se à tona uma questão aparentemente muito simples, porém difícil de ser respondida: Como nós podemos ver as formas? O que tentavam entender era a correspondência do mundo visual, já que hoje sabemos que o indivíduo é 75% visual, com a aprendizagem em si.

 

Teoria Geral dos Signos

Através da obra de S.C.Pierce, Santaella torna simples o que antes parecia complicado, explicando e justificando claramente o que é a Percepção, levando-nos a um mergulho nas águas profundas da Teoria Geral dos Signos, da qual farei um brevíssimos sumário, apenas para facilitar o entendimento do leitor e para que possa acompanhar a minha interpretação da interpretação que Santaella faz de Pierce. Pronto, sem perceber já introduzi o leitor nesta teoria, pois quando falo da minha interpretação, estou colocando-me com interpretante dinâmico de um signo produzido por um objeto. No caso, os textos de Pierce são o objeto e o livro de Santaella  é o

signo produzido pela mente da autora que o interpreta  dinamicamente este objeto, produzindo outro signo que será interpretado por cada um que for lendo o livro.

Semiose do signo – semiose do percepto

Estamos falando de semiose do signo e da existência de vários tipos de signos. Isto nos mostra que não há definições engessadas nem interpretações fechadas para nada: cada leitor é um interpretante livre imediato deste signo produzido a partir de um objeto.

Para que o leitor tenha mais subsídios para entender a Percepção, Lúcia nos convida a outro mergulho pelas maravilhas das Categorias Universais de Pierce, pelas quais aprendemos o mundo:

¨      primeridade ou qualidade,

¨      secundidade ou reação

¨      terceridade ou mediação

 

Quando se fala em Percepção, fala-se em secundidade pura, pois é aquilo que se apresenta, o que é percebido, que está no aqui e agora; Pierce diz que todo pensamento lógico entra pela porta da percepção e sai pela porta da ação deliberada (secundidade).

Perceber é estar diante de algo que se apresenta, não somente vendo com os olhos , mas utilizando outros sentidos sensoriais e aguçando o sistema cognitivo.

Após estas incursões, Lúcia então , nos apresenta os itens lógicos que nos ajudam a entender a percepção:

q       percepto – aquilo que se apresenta , estímulo, bruto, lógico, teimoso. Insiste, é aquilo que está fora, “MUDO”, que bate à sua porta. Não vem com rótulo, apenas estimula a percepção. O percepto é recebido pela mente interpretadora e converte-se em percipuum

q       percipuum – modo como o percepto se conforma e se adapta às condições mentais dos esquemas sensórios/motores – zonas de transição. Faz o percepto se conformar a uma determinada configuração. É o modo como o percepto está representado no juízo perceptivo. Seria um certo filtro adaptado à nossa sobrevivência e está limitado ao  mundo sensorial

q       juízo perceptivo -  percepto filtrado pelos sentidos ( percipuum), entra no fluxo dos esquemas mentais com os quais estamos dotados, caindo no fluxo do pensamento. É o julgamento de percepção ou juízo perceptivo que vai nos dizer o que estamos interpretando.

 

A percepção

Entendendo isto, a percepção passa, então a estar limitada a tudo que nós estamos preparados para perceber. Está implicada em ação inteligente e logo é transformada, fazendo com que possamos aprender o que está fora da mente, podendo ser rudemente explicado como  um esquema sensorial.

Fazendo as analogias com a Teoria Geral dos Signos, o Percepto está para o Objeto Dinâmico, assim como o Percipuum está ara o Objeto Imediato e o fundamento para o julgamento percepção.

Onde colocamos o interpretando nessa semiose? Ele é quem traduz o julgamento de percepção através da proposição. A percepção é signo e se comporta como semiose, se fim, cíclica. Da mesma forma que o objeto insiste, o percepto também insiste e logo  existe.

Não temos acesso direto ao percepto, pois vem sempre mediado pelo percipuum e o julgamento de percepção, que é hipotético e não corresponde ao percepto. Por isso a abdução tem que ser checada pela indução. Vale lembrar que Santaella evitou concluir, neste ponto, que o percepto é um objeto físico, como fez Almender Se há dúvida, surge outro julgamento de percepção que se contrapõe ao juízo perceptivo anterior, entrando na semiose do percepto, que insiste..

Quando erramos, o interpretante se manifesta, mas envolve ensinamento. O que aparece à nossa percepção pode ser primeridade pura, mas em geral as experiências de primeridade são perceptivas (julgamentos suspensos).

 

Conclusão

Para terminarmos, vale a pena ressaltar que o falibalismo, nome com que Pierce batizou seu sistema de pensamento científico, dentre outras coisas, insistia na necessidade da percepção na fundação  do pensamento, enfatizando que o conhecimento começa na porta da percepção, e não a partir de pressupostos forjados pela dúvida.. Pierce afirma, ainda que o conhecimento que e gera a partir da experiência, só tem valor na medida em que contribua para futuras interpretações.

Este brilhante texto de Santaella, baseado nos CP de S.C.Pierce e na discussão de alguns autores que interpretaram Pierce ou o contrapuseram, revela-nos importantes pontos antes cegos da retina e oferece uma lógica e clara explicação de como nós aprendemos o mundo e o interpretamos e traduzimos; valorizando a infinidade de pontos de idéias e opiniões geradas a partir de um percepto em imensuráveis mentes interpretadoras através da estrada do percipuum, levando-nos ao julgamento de percepção num ato contínuo, como contínuo é o pensamento e contínua é a aprendizagem do indivíduo.