Prof. Dr. Sérgio Bairon [ bairon@attglobal.net ]

Projeto: Psicanálise e Cultura: uma criação hipermídia

Esta hipermídia não é somente sobre Psicanálise, somente sobre História da Cultura ou somente sobre a linguagem hipermidiática, mas sim o resultado do encontro destas três grandes áreas. A Psicanálise produziu uma nova forma de se problematizar tanto a linguagem quanto a consciência e isto é apresentado aqui através de uma navegação hipermidiática. A Psicanálise também produziu um longo diálogo com a História, mas nos interessou neste momento a chamada História Cultural que, por sua vez, se aproximou da mídia, que foi compreendida por interpretações psicanalíticas, que produziram uma nova forma de se conceituar a própria compreensão e que, agora, graças a tudo isto, pode se manifestar numa versão hipermidiática.

São 30 conceitos básicos que possibilitam a interconectividade das navegações. São 670 páginas de hipertexto abordando relações entre hipermídia, Psicanálise e História da Cultura. São 137 animações em 3D, trabalhadas conceitualmente da estrutura de arames até a textura. São 123 transições de telas onde a ênfase é dada aos conceitos básicos. São 42 minutos de áudio distribuídos em locuções, trilhas e efeitos. São 47 vídeos produzidos ou transformados para a estrutura conceitual. Para dar conta da produção usamos 5 softwares gráficos, 2 softwares de áudio, 2 softwares de 3D, 1 software de texto, 2 softwares de autoria e estrutura de bancos de dados, bancos iconográficos e bancos de vídeo desenvolvida por nós.

Este livro conta um pouco da história desta produção, mas devemos entendê-lo como um Making Of teórico, pois desde os primeiros passos da roteirização até a programação final de autoria, sempre estivemos norteados por algumas questões conceituais que, a cada momento de nossa formação, nos interpelavam.

PREFÁCIO AUTORAL

Em 1991 elegi a hipermídia como tema de pesquisa. No Brasil naquela época falávamos em multimídia e não havia a mínima possibilidade de associarmos tal tema com qualquer questão que fosse do âmbito das humanas. Junto do colega Luis Carlos Petry, estudávamos Hermenêutica, Psicanálise, Fenomenologia e História da Cultura e tentávamos relacionar alguns temas destas regionalidades científicas com as potencialidades dos bits.

Desde então nunca deixamos de refletir sem cenas. Achávamos que obras como A Origem da Obra de Arte de Martin Heidegger, Verdade e Método de Hans Georg Gadamer, A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento de Mikhail Bakthine, apenas para citar algumas, colocavam questões essenciais no tocante a utilização de uma estrutura que transcendesse radicalmente não a escrita, mas a letra no papel. Neste momento começamos a estruturar um laboratório em nossas próprias residências e estúdios, possibilitando a produção de experiências que nos oferecessem um know how de um bom domínio técnico, nos revelassem, por fim, a mágica condição da sumissão da técnica ao conceitual. Produções começaram a surgir, ainda restritas ao âmbito acadêmico. A Linguagem Interdisciplinar das Novas Tecnologias Digitais (fruto de um curso oferecido na F.F.L.C.H/USP) A Linguagem da Hipermídia (fruto de um curso oferecido na Comunicação e Semiótica - PUC/SP) A Casa Filosófica (inspirado na casa construída em Viena por Ludwig Wittgenstein), dentre outros, foram alguns projetos desenvolvidos. Neste contexto já se apresentava límpida a idéia de que uma reflexão que, de alguma forma, conversasse com as tecnologias digitais, deveria ser mediada pela própria estrura digital. Parodiando Certeau, para nós, falar dela (da estrutura digital), fora dela, era impossível e dolorosamente inconsequente.

Começou aí uma grande trajetória por editoras e mais editoras que aceitassem a publicação de livros acompanhados de CD-ROM, mas maioria da vezes aceitavam publicar as reflexões somente no estilo codical em papel. CD-ROM, nem pensar. Trabalhos e trabalhos foram ficando engavetados ou reproduzidos, por nós mesmos, para distribuição (gratuita) entre os estudantes. Na contrapartida das editoras comerciais, editoras universitárias mostraram grande interesse em apoiar estas iniciativas. Foi o que aconteceu com a EDUSP com o projeto Rugendas - Viajante desenvolvido na Universidade de São Paulo, por exemplo.

No entanto, a presente publicação não só ratifica que valeu a pena insistirmos em toda esta trajetória como, inclusive, inaugura uma publicação sobre a metodologia de produção de uma hipermídia. E isto acontece justamente através de duas editoras universitárias que resolveram inovar e apoiaram na íntegra a publicação, EDUCS e Editora da Universidade Mackenzie.

Mestre pela F.F.L.C.H. - USP, com a Dissertação História Recalcada (1989). Doutor pela F.F.L.C.H. - USP, com a Tese História Palinódica (1991). Pós-doutor pela PUC/SP e pela Freie Universität Berlin, com a Tese Hipermimesis (1996). Pós-doutor pelo Programa de Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica – São Paulo. Professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica/SP do Programa de Comunicação e Semiótica. Professor convidado da F.F.L.C.H./USP- 1997/99.