Hiperficção

"A página se converte na tela, a tela substitui a página. Poderíamos chamar a este movimento de substituição de ‘história’. Os textos eletrônicos se apresentam a si mesmos em meio de sua dissolução: se lêem onde se escrevem, e se escrevem enquanto se lêem" (Joyce, 1998, p. 280).

Esta definição, de Michael Joyce, dá uma idéia clara a respeito do texto hipertextual. O autor define exatamente a forma virtual tomada pelo hipertexto.

Hiperficção, ficção em hipertexto, ficção interativa, são alguns nomes desta nova literatura produzida e disponibilizada nos meios digitais, como a World WideWeb, disquetes e CD-Roms. A ficção em hipertexto constitui-se de histórias repletas de bifurcações e com várias escolhas de seqüência narrativa.

Um dos primeiros a escrever hiperficção foi o norte-americano Michael Joyce, que publicou "afternoon, a story", em 1992, em disquetes de computador. Esta hiperficção é objeto de uma análise mais aprofundada ao final desta monografia. A história de Joyce começa numa tarde, quando o autor está indo para o trabalho e passa por um acidente de carro, no qual reconhece sua mulher e seu filho. A trama fica entre o sonho e a realidade. Eram mesmo sua mulher e seu filho os acidentados? Hoje esta ficção em hipertexto está disponível em disquetes e também em CD-Rom, distribuídos pela empresa Eastgate Systems. Mas já existe um grande número de hiperficções povoando a Web.

No Brasil, ainda são poucos os sites de hiperficção, ao contrário dos exemplos em inglês. A primeira hiperficção em português na Web, segundo seus autores, é "Tristessa", disponibilizado pelo grupo desde 1996.

A hiperficção mais comum veiculada pela Web tem um texto com várias opções de continuação (bifurcações), através de links à escolha do leitor, que assim cria sua própria história. A ficção em hipertexto assemelha-se a um jogo, cuja estrutura é um labirinto a ser decifrado. Não é à toa que muitas hiperficções têm o símbolo do labirinto como ilustração ou mesmo como parte de sua estrutura de navegação. O autor da hiperficção começa o jogo ao disponibilizar seu texto na Web; cabe ao leitor, participar ativamente da empreitada, fazendo de sua leitura a continuação para o jogo, ou, em alguns casos, outros jogos. Este jogo não tem regras: pode iniciar e terminar em qualquer ponto do hipertexto, que não tem um começo definido, sendo esta uma das primeiras escolhas do leitor. Também pode terminar onde e quando o leitor quiser. Quanto ao centro, pode ser qualquer ponto da história, em suas múltiplas ramificações.

As hiperficções podem ser encontradas de diversas formas: naquela mais interativa, o leitor pode participar clicando em links para continuações diferentes da história. Pode ler o texto e escolher os destinos dos personagens, suas ações e reações, ou ainda, navegar na Web pelos sites lincados pelo autor da hiperficção. Nas hiperficções colaborativas, parte-se de um texto inicial, cuja seqüência vai sendo escrita pelos leitores, que mandam pela Web suas colaborações.

 

A Dama de Espadas – Um dos poucos exemplos de hiperficção em português. O autor, Marcos Palácios, juntou uma série de sites da Web relacionados com sua trama, sempre com a opção de voltar ao mapa de links, através do ícone do labirinto. 

TristessaSegundo os autores, esta hiperficção é um "work in progress", que deverá ser concluída até o ano 2.004. A interface gráfica é muito boa, e o texto, apesar de longo, permite uma excelente navegação.

Victory Garden – Assim como "Afternoon", de Michael Joyce, também está publicada em disquetes, mas há na Web um exemplo (sampler) para ensaiar uma navegação. A história se passa durante a Guerra do Golfo, e mistura personagens em Londres e num campus universitário, discutindo desde guerra, até televisão e consumo.

The CouchEsta é a história de um grupo que faz terapia no 14º andar do famoso edifício "Flatiron Building", de Nova York.

 

Hiperficção Colaborativa

BecomingsCada leitor pode adicionar novas histórias àquelas já iniciadas pelo autor e continuada pelos demais leitores, numa verdadeira rede de contribuições.

Rádio Visual – Conto interativo, disponibilizado pelo site Literartura Argentina Contemporânea, que também tem outros contos, já começados ou concluídos, com lista dos autores/colaboradores. 

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