Nadia Virginia B. Carneiro [ nadiavi@zaz.com.br ]

Projeto: O Humano das Tecnologias: Processos criativos entre um artista e os dispositivos eletrônicos"

No momento em que começamos a observar e refletir sobre o que vem ocorrendo nas artes contemporaneamente, na arte digital ou eletrônica, como preferirmos chamar, o risco de repetir discursos anteriores, é sempre grande. O que pensar? o que dizer quando o assunto é o fazer artístico, o processo de criação do artista, se sua matéria são as novas tecnologias?

Por detrás do medo que assusta muita gente só de se tocar no nome T E C N O L O G I A, tem toda uma história de desconfiança, desinformação e preconceito que teve seu começo desde as primeiras criações técnicas do homem, como se ao invés de, com as técnicas ou a partir delas termos nos aproximado mais de nós mesmo e dos outros através do uso de nossas potencialidades, tivéssemos cavado um abismos que só tendeu a crescer e crescer com o tempo, criando essa espécie de mitologia entre os homens de um lado e as máquinas do outro.

Resultados disso, já conhecemos: do lado de cá, nós os homens, do outro, uma figura monstruosa bem parecida com o Frankenstein de Mary Shelley. O problema é que vivemos, de fato, nesse entremeio. Dito isto, que é só um pouco do muito que se precisa esclarecer e compreender sobre nossas relações com as tecnologias, chegamos ao cerne da reflexão que pretendemos empreender, que se trata de retomar a antiga "Questão da Técnica" e seus resquícios no discurso sobre a arte hoje, sobretudo quando se remete ao trabalho artístico produzido a partir do uso criativo das tecnologias digitais. As produções de Eduardo Kac, artista carioca que inovou a arte eletrônica desenvolvendo a holopoesia (1983) e a telepresença (1989), serão analisadas à luz dessa questão principal. Só para se ter uma idéia das conexões existentes ressaltamos que algumas das obras produzidas pelo artista citado, têm causado discussão e polêmica, precisamente por que Kac ousa diminuir, ou senão, ignorar o suposto abismo existente entre seres humanos e máquinas. As suas experiências atingem bem em cheio a discussão entre homem X máquina, simplesmente ignorando-a, e acende a discussão entre arte e tecnologia, sobretudo quando envolve o biológico, o próprio corpo do artista implicado na obra.

 

Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. Professora Assistente da Universidade Estadual de Feira de Santana - BA (UEFS). Doutoranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP.