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Formação do Conhecimento Coletivo: O Papel do Professor em Tempos de Web Arte e Copylef

 

Características do Ciberespaço

Talvez o avanço tecnológico de maior repercussão do último quarto do século passado foi o desenvolvimento dos ambientes telemáticos, pois, através deles, a informação sob o formato digital pôde ser compartilhada por um número de usuários tão grande quanto à extensão do atendimento de conexões e a capacidade de processamento dos gerenciadores das redes.

Entretanto, a palavra compartilhar não é suficiente para que se possa avaliar o potencial desses ambientes: neles, os usuários podem interagir a ponto de construir, concomitantemente, produtos de informação, que chamaremos simplesmente de textos, sejam pictóricos, alfanuméricos, sonoros ou um amálgama desses.

Esse amálgama, chamado de hipermídia, pode se apresentar ao usuário sob a forma de animação (sucessão de quadros numa seqüência contínua e automática) ou de um emaranhado de atalhos e ligações que, ao serem navegados, sugerem um significado do percurso informacional, como se esse fosse fruto de uma leitura. A denominação de texto para essas seqüências de quadros amplia o entendimento de signo e estabelece novas condições de composição de enunciados, que podem fluir conjuntamente ao contexto em que se inserem.

Dessa forma, a interface, na qual se reúnem os usuários, estabelece o contexto comunicativo e amplia as condições de interação, seja diminuindo as restrições físicas, seja criando maneiras de contato; em suma, servindo de ambiente onde se dão essas interações. Nela, todos se encontram conectados e envolvidos num contexto informacional dinâmico e personalizado: dinâmico, pois a participação dos usuários, um a um, altera a carga informacional; personalizado, pois a interface tem a possibilidade de se apresentar diferentemente para cada usuário, mesmo em uso simultâneo, conforme o que foi estabelecido pela programação.

Essa intervenção conjunta sobre o objeto de informação que se encontra disponível para a avaliação, enquanto está sendo composto, dá-lhe aspecto de enunciação, na qual o discurso coletivo pode ser documentado e compreendido em sua história de produção: no texto oriundo de ambientes telemáticos, convivem o síncrono (histórico) e o assíncrono (no momento em que ocorre o ato da enunciação) o que permite que os interlocutores tenham a dinâmica e fluidez do discurso oral associada à documentação do texto escrito.

É importante notar que a contextualização do enunciado é suprida por um ambiente virtual, o ciberespaço, dotado de características e limitações próprias, muitas vezes distantes daquelas encontradas no cotidiano como, por exemplo, a capacidade de acessar simultaneamente documentos antigos e atuais e a possibilidade de socializar e racionalizar a confecção de um produto informacional. Essa última possibilidade corresponde a um importante fator de aumento da taxa de produção de conhecimento por unidade de tempo, muito superior à capacidade de compreensão (continência) do mesmo pela comunidade global. Dessa forma, a sociedade da era da informação é vítima da “síndrome da fragmentação” e busca, sem sucesso, uma solução como aquela obtida pelos enciclopedistas da era moderna; surge, assim, uma antítese inquietante para o espírito do homem de nossa era: a especialização e o aprofundamento num ponto dentro da área do conhecimento é fundamental para que se possa continuar almejando obter respostas de necessidades cada vez mais complexas, porém, em contrapartida, somente uma abordagem mais ampla pode garantir soluções mais completas. Sob a óptica dessa antítese, é mister repensar o papel e os instrumentos da educação, bem como, o que se pretende dessa nova geração que, hoje, está nos bancos escolares e o que pode ser feito a partir dos novos preceitos de relações interpessoais e administrativas, para que se possa diminuir o ônus individual do trato da informação e a sua correspondente responsabilidade no ato conjunto da produção.

Nunca se produziu tanto conhecimento e, comparativamente, se conheceu tão pouco frente a sua totalidade. A ampliação do acesso à educação formal e aos meios de comunicação foi, sem dúvida, o estopim dessa explosão produtiva, mas o desenvolvimento do computador como poderoso auxiliar da modelagem matemática e da robótica como extensão segura do homem para a manipulação seriada de alta performance catalisaram a reação iniciada nos bancos escolares e sugerem mudanças nos procedimentos educacionais para que se possa prosseguir o caminho esboçado, porém pouco definido, para o tratamento do conhecimento e do seu valor agregado na produção de riquezas. Trata-se, portanto, não apenas de uma questão educacional, mas, sobretudo, de uma questão econômica: enganam-se aqueles que vêem na educação o princípio e o fim de si mesma, pois se encontra conectada na economia de forma que forneça os subsídios necessários para o aumento do binômio produtividade/competitividade e receba, segundo a consistência de uma política educacional, os investimentos oriundos dos resultados obtidos. Assim, a educação voltada para a cidadania ainda é, na prática, a educação voltada para as necessidades do mercado de trabalho. Tal fato, por si, explica o grande avanço na educação mediada por computador, em especial através da internet, para dar atendimento às necessidades dos cursos de extensão e treinamento, bem como, o investimento que grandes instituições financeiras têm feito para o desenvolvimento de cursos sobre essa plataforma.

O resultado do fato da taxa de produção de informação estar sendo incrementada de forma irrefreável faz com que parte do valor da informação, sob o título de conhecimento "organizado", esteja vinculado ao custo do procedimento de busca e classificação; assim, enquanto a oferta de informação cresce e lhe reduz o valor intrínseco, o custo da busca aumenta seguindo a tendência da oferta e faz com que a sociedade da informação pague cada vez mais caro para evitar a fragmentação do conhecimento. Seguindo o caminho do mercantilismo da informação, os valores das instituições suportam-se em estruturas instáveis construídas a partir de categorias de pensamento de consumo transitório e, destarte, a educação é, ela mesma, um produto de consumo sujeito até aos anseios levianos e volúveis do mercado de capitais.

Não apenas os aspectos técnicos e econômicos são de suma importância para que se possa pensar, a partir do contexto em que se insere a educação, no papel e nas competências do professor, mas também os aspectos decorrentes da modificação rápida dos tradicionais institutos jurídicos, como o direito autoral ou o direito da propriedade intelectual, servem para descrever o desenvolvimento da atividade do professor, como autor de material didático.

É fácil acreditar que, até 1990, a maior parte do conhecimento formalizado ainda não se encontrava sob o formato digital; nesse período, qualquer material didático que não estivesse impresso em forma de livro ou de revista, sob as vistas de um conselho editorial respeitável, era considerado descartável. Durante uma década instituições financeiras e outros setores da sociedade passaram a confiar as suas operações e os seus processamentos de dados à nova tecnologia digital.

A confiabilidade adquirida pela adoção de procedimentos informatizados para a documentação de operações administrativas, bem como para o seu armazenamento, acabou por atingir outros setores refratários ao uso da tecnologia digital por considerá-la supérflua e instável, entre eles a educação.

 

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