Sumário
 
 
Goeldi: da melancolia ao inevitável

Luis Fernando Zulietti*

Resumo: Este artigo pretende enfatizar o artista e seus pensamentos passo a passo em sua produção artística. Goeldi na sua produção buscou refletir seu caminho pessoal e político, sua melancolia e paixão sobre os intensos aspectos mais latente em sua obra como: cidades, peixes, urubus, caveiras, abandono, solidão, drama e medo.

Abstract: This article intends to emphasize the artist and his thoughts , step by step in his artistic production. Goeldi's production aimed at reflecting his personal and political path, his melancholy and passion on the most intense aspects latent in his work , such as cities, fish, vultures, skulls, abandonment, loneliness, fear and drama.

 

Introdução

Raros são os artistas brasileiros que procuram ter a percepção do mundo exterior através das variações da luz sobre os objetos, seres e coisas do mundo, em especial sobre os espaços construídos nas cidades em sua produção quanto Oswaldo Goeldi, por isso ele tem um trabalho sobre tudo moderno e exemplar.

Oswaldo Goeldi nasceu no Rio de Janeiro em outubro de 1895. Morou em Belém do Pará, às margens do Amazonas, até os seis anos de idade. Em 1901, despede-se temporariamente dos trópicos e parte com a família para Berna, antiga capital da Suiça, terra de seu pai, o naturalista Emílio Goeldi.

Sob a escura atmosfera da I Grande Guerra, inicia seu percurso de vida inteira, a começar pela morte, tema recorrente em toda sua produção. O Artista segue colecionando seus segredos, para revela-los pouco a pouco – peixes, cidades e urubus, abandono e solidão. Em 1919 retorna à sua cidade natal, mas será sempre um estrangeiro observador.

 

“O que me interessava eram os aspectos estranhos do Rio suburbano, com postes de luz enterrados até a metade na areia, urubu na rua, móveis na calçada, enfim, coisas que deixariam besta, qualquer europeu recém chegado. Depois descobri os pescadores, e toda madrugada ia para o mercado ver o desembarque do peixe e desenhava sem parar.” (GOELDI)

O tema urbano, tão raro aos artistas modernos, em Goeldi, conta a história, não apenas do Rio de Janeiro, mas de qualquer cidade industrializada. Esse grande artista fala em sua obra sobre a experiência de habitar lugares que não acolhem, sobre a solidão, a incomunicabilidade, o desajuste e o esquecimento , buscando uma interpretação pessoal e intensa sobre a natureza humana, refletindo um estado de insatisfação, melancolia e paixão.

Goeldi invade a angústia intrínseca do ser humano. “A solidão, à noite, os rejeitados, os animais entoam uma estranha canção nostálgica e natural. Em meio ao trópico, ao delírio, à exuberância, Goeldi faz do exercício da xilogravura uma revelação dos aspectos sombrios do ser humano” (MATTOS; COSTA, 1994, p. 12).

O mistério da imagem: o que vemos e o que nos olha

“A realidade é muito aparência e a força do artista está em captá-la ”.
(GOELDI).

A obra de Goeldi de fato impressiona pela amplitude de sua independência e profundidade das questões apresentadas. Os homens desocupados que estão na superfície negra de sua gravura, embora estejam sempre a caminho ou a procura de algo, na verdade são homens anônimos, homens urbanos. Como podemos ver na gravura 1.

Gravura 1: Oswald Goeldi – Dois Homens – Xilogravura - 14,3 x 13,2cm – Coleção Academia Brasileira de Letras – Biblioteca Lucio de Mendonça. Fonte: www. oswaldogoeldi .org.br/ 2009.

 

Nesta gravura podemos ver Dois homens urbanos se movendo em uma estreita rua onde a faixa de luz nos remete diretamente a madrugada fria e sombria. No entanto nada os acolhe. Nada os intimidam, eles precisam atravessar esta atmosfera espessa, que lhes dificultam os movimentos. Na verdade para o artista o espaço da rua é sempre um lugar problemático, perigoso, ou seja, um labirinto. Na gravura Dois homens a imagem causa estranheza por sua escuridão e por sua aparência labiríntica. No labirinto Segundo Borges apud Souza; Bechier ( 2008, p. 8)

 

Não haverá nunca uma porta. Estás dentro E o alcácer abarca o universo E não tem nem avesso nem reverso Nem externo muro nem secreto centro. Não esperes que o rigor de teu caminho Que teimosamente se bifurca em outro Que obstinadamente se bifurca em outro, Tenha fim. É de ferro teu destino Como teu juiz. Não aguardes a investida Do touro que é um homem e cuja estranha Forma plural dá horror à maranha De interminável pedra entretecida. Não existe. Nada esperes. Nem sequer No negro crepúsculo a fera”. Jorge Luis Borges (1969).

Para Souza; Bechier ( 2008, p. 8) “O labirinto acompanha a passagem dos tempos, desde os mais remotos [...]. Ele representa o ritmo cíclico da natureza, de vida e morte”. Nesta cena os riscos diagonais entre os dois homens a esquerda e a direita são um emaranhado de labirintos multiformes e multicentrados, pois a rua é o território daquele que deriva sem-lugar: “o labirinto é a pátria de quem hesita. O itinerário daquele que teme chegar ao fim desenhará facilmente um labirinto” (BENJAMIN, 1989, p. 162). O mistério da imagem deriva justamente das suas esquinas de seus recantos perdidos de uma paisagem urbana existente em qualquer cidade, onde por todos os lados a morte mostra sua face obscura. Goeldi nesta gravura penetra na alma de figuras sombrias, onde cada risco, cada linha de maneira sintética, estilizadas em poucos traços pode servir para desvendar e descrever a fria noite aberta a golpes de goiva. Para Goeldi cada traço é um pedaço de nervo com a veemência de um coração bárbaro.

Nesta gravura o artista descobre e desvenda a cidade retratando suas imagens alegóricas que servem como enigmas. Para o gravador, o espaço da rua é sempre um lugar onde não existem regras, a liberdade e a independência estão sempre próximas à morte.

Olhando para os Dois homens podemos perceber que Goeldi constrói sua gravura abrindo um clarão de linhas horizontais e verticais onde estão figurados personagens de seu repertório que ele capta e interpreta aspectos simbólicos do tema da morte e do cotidiano. As linhas horizontais sem contorno criam uma tensão entre os dois homens em um fundo negro aveludado onde o céu é descrito na sutileza realística de suas nuvens em movimento. Assim o próprio preto intenso e as linhas em movimento na composição, são tensões de pavor causado pela luz que nos dá à impressão de pesadelo intencional, teatral. Mas olhando para o céu na gravura de Goeldi não parece que as nuvens tenham vindo para ficar, e por trás dessas nuvens escuras em movimento, existe um céu azul e um sol forte que aparecerá no dia seguinte, dando esperança de dias melhores. Da mesma maneira que em Shakespeare em Herinque VI - 3 parte-ato V- cena III: Clarence “ Nem toda nuvem gera tempestades”.

 

“ Aprendi muito na rua. Os fenômenos da natureza me empolgam, ventanias, nuvens, céu e mar, sol e chuva torrencial e noite cheia de mistério, pássaros e bichos. Os dramas da alma humana me comovem”(GOELDI).

Nesta gravura, per figura imagens que estão no universo do artista: como arvores, nuvens, muro e calçada; a construção em negro faz surgir à figura não pela linha, mas pelo vazio e sua ausência, organizando as imagens por massas escuras. A figuração da rua, da noite, nos leva à espera de todos os crimes representando uma cidade fragmentada em resquícios nostálgicos de um passado recente, processo de um expressionista independente que se sacrifica a qualquer modismo. Segundo Naves (apud Rufinoni, 2006, p. 229) “se enfatizamos a versatilidade sombria das gravuras de Goeldi identificamos uma característica expressionista”. Expressionista que dá saída a suas pressões internas, tornando suas gravuras uma espécie de válvula de escape, através do qual retorna a equilibrar a angústia e o medo intolerável. Tal desprendimento de energia é capaz de conduzir a traços exagerados, a distorção da aparência natural, atingindo o grotesco. Goeldi na gravura Dois homens revela toda a cidade em sua extensão, lugar por excelência do convívio humano, cidade que mais oprime do que liberta.

Goeldi é aquele artista que esta sempre se testando, sempre inovando e sempre preservando a sua caminhada dura, mas única e independente.

 

“É preciso testar a si mesmo, dar-se provas de ser destinado à independência e ao mando; e é preciso fazê-lo no tempo justo. Não se deve fugir às provas, embora seja porventura o jogo mais perigoso que se pode jogar, e, em última instância, provas de que nós mesmos somos as testemunhas e os únicos juízes” (NIETZSCHE, 2005 p.43).

Na gravura Dois homens, podemos sentir a escuridão e o frio da noite e as figuras caminhando em uma calçada estreita, desenhados por linhas retas e deselegantes, fundamentado no contraste preto do fundo e do branco que corresponde ao testemunho do movimento. Este movimento pode ser visto pelo claro-escuro da gravura tendo como conseqüência liberar o preto, a ponto do preto adquirir uma presença real da noite, e a luz branca ilumina e difusa toda a gravura. Nesta gravura de Goeldi , o efeito do movimento de seus traços tem por significado básico a liberdade à autonomia de escolher o material a ser utilizado, neste caso a matriz em madeira, caminho que ele sempre seguiu independente do mercado de arte.

 

O limite da gravura: a morte caminho inevitável

 

 

“Comecei a gravar para impor uma disciplina às divagações a que o desenho me levava. Senti necessidade de dar um controle a essas divagações” (GOELDI).

 

A xilogravura permite logo de início o plano preto para um trabalho em negativo, a goiva abre lastros de luz; a madeira oferece resistência, não é dócil como a pena; o corte é desviado nos veios, lascado, interrompido, a criação é mediada por esse outro trabalho físico; o preto e o branco, os cheios e os vazios são radicalizados, pois esta é a característica da criação material de uma figura no taco (RUFINONI, 2006, p.77).

As figuras de Goeldi como prostitutas, pescadores, carroceiros, caveiras, transeuntes ou ladrões são figuras criadas e trabalhadas na madeira onde as goivas vão abrindo veias e linhas vazias que formam cenas de seu repertório. Assim ele vem mostrando a realidade da vida que nos cerca. Em todo o lado Goeldi mostra a face da vida e da morte. Segundo Naves (1999, p. 8) “Urubus, caveiras, figuras sombrias e esqueletos nos lembram que temos a sorte selada. Vaidade e arrogância são paixões vãs, a morte tudo iguala e não há quem a escape”.

As xilogravuras de Goeldi burlam os limites da gravura em vários momentos o gravador capta e interpreta aspectos simbolistas do tema da morte como perda da vitalidade do que é belo, sempre latente mesmo no que é fresco, no que é jovem, no que é verdade. Para Goeldi a morte tem sua finalidade. Segundo Kant apud (Naves, 1999, p. 27) “ O coração humano recusa-se a acreditar num universo sem uma finalidade”. Goeldi faz da morte a medida reveladora de nossa verdadeira imagem. Podemos citar em Péricles (1608-1609) de Shakespeare ato I- cena I : Péricles “ A imagem da morte deve ser como um espelho que nos ensina ser a vida apenas um sopro passageiro”(SHAKESPEARE, 1998, p.85). Mas para Goeldi a morte não é o fim de tudo, é o espelho do que passamos e encontramos fatalmente em nosso percurso. Na gravura 2 “ O Rei ” abaixo de Goeldi podemos observar que a vida é um sopro passageiro no abraço da morte, nesse momento o gravador capta e interpreta como já citado antes aspectos simbolistas do tema da morte como perda da vitalidade do que é belo. Pode-se ver a caveira descarnada e seu crânio redondo onde a luz surge do céu dando a ilusão da passagem do tempo pela vida, do tempo entre a vida e morte, que surge na figura emblemática da caveira onde o abraço representa a morte para todos. Não podemos esquecer que “a morte é um processo biológico natural e necessário, é condição indispensável à sobrevivência da espécie e fundamental para a “aventura humana sobre a terra”(MALRAUX, 2005, p. 29). Através da morte a vida se alimenta e se renova. Desta maneira a morte não seria a negação da vida e sim um artifício da natureza para tornar possível a manutenção da vida.

 

 

Gravura 2: OSWALD GOELDI – O Rei -Xilogravura- 22 x 16 cm  , s/data. Fonte: www.bolsadearte.com/.../126-20Goeldi.jpg 2009.

 

Goeldi investe em cortes verticais e horizontais abruptos revelando a luminosidade criada pelo gesto minucioso e explícito da ferramenta contra a madeira. Usando esse recurso gestual e simples, podemos ver a luminosidade vigorosa em torno da cabeça da caveira a fragilidade da vida e a importância da manutenção deste ciclo. Outra forma de iluminação usada por ele é riscar a cena por traços verticais, criando um cenário perspectivo, espectral para a cena O Rei. Esse tratamento dramático da iluminação dá um contraste entre as forças dos personagens desenhados por linhas arredondadas e deselegantes. O traçado dessa gravura funciona como um elemento de construção que expressa uma vontade explícita do artista, o circulo em volta da cabeça da caveira sugere poder, força, domínio. O triangulo na imagem e a forma piramidal dá equilíbrio e harmonia aos traços inseridos na madeira. A disposição da caveira personagem principal esta acima e no centro em uma forma piramidal e envolvendo os outros personagens em um abraço largo e forte, que nos remete a série os Caprichos de Goya que tratam do tema da morte como parceiro da vida. As soluções luminosas e figurativas que saem dos pequenos golpes de goiva parecem derivar do universo de Goya. Goeldi trabalha essa cena com a ambigüidade dos Caprichos de Goya, esse trabalho quase todo em preto nos remete a imagem sombria da caveira e pode ser também um pesadelo macabro. Assim nesta gravura ele usa e vária os expedientes de iluminação com poucas linhas verticais e horizontais condensadas. O fundo em negro com pequenos riscos luminosos nos leva a refletir sobre a angustia e o medo da morte narrativa explícita na xilogravura. As linhas brancas geram uma contenção dramática nos vários pontos de luz, conservando-se ao mesmo tempo a força do fundo escuro e a visibilidade luminosa fantasmática da face da caveira onde prevalece o tom sombrio da morte sobre a vida.

Na gravura O Rei o personagem a baixo da gravura entre os homens na parte central a sua face nos mostra que foi trabalhada com grandes cortes de goiva que abriram lastros de luz que refletem uma claridade brutal, que deforma sua boca, seus olhos e seu nariz. A proximidade da morte invade o seu semblante, transfigurando seu rosto demarcando a luz e a sombra em sua face em cortes profundos. Em uma única cena como O Rei, tão simplificada em sua forma, o artista condensa vários sentidos, de forma sutil, remetendo-nos uma sensação extrema de isolamento e solidão, quando olhamos os dez personagens sendo abraçados e enviados para o circulo da morte. O que aparece agora nesta gravura é a proximidade absoluta da grande superfície plana e negra que funciona como fundo e constitui um espaço fechado sombrio e obscuro. Mas no alto os riscos verticais e diagonais fortes e profundos feitos pelas goivas nos remetem ao inevitável ciclo da vida, dessa maneira podemos ver todas as pessoas que estão no abraço da caveira se contorcendo desesperadamente. Entre as figuras, há sempre uma história que se insinua ou tende a se insinuar para ilustrar o medo no conjunto da gravura. O medo da desgraça, muitas vezes, é pior do que a desgraça em si, o medo de sofrer é pior do que o sofrimento. Para Goeldi é natural ter medo; é algo humano, mas devemos enfrentá-lo para que ele não paralise a nossa vida. Há muitas formas de se ter medo: temos medo do futuro incerto, da doença, da morte... Esta imagem mostra que o medo da morte, ao mesmo tempo que ajuda a elaborar a idéia da finitude humana, provoca um certo desconforto, pois deparamo-nos com essa mesma finitude, o inevitável, a certeza de que um dia a vida chega ao fim.

 

Revelando a forma: revelando a natureza

 

Goeldi passa pela catástrofe, agarra o caos e tenta escapar dele assinalando uma função moderna para a gravura, isto podemos ver na gravura 3 Urubus abaixo.

Gravura 3: OSWALD GOELDI – Urubus -Xilogravura sem título, circa 1925, sem assinatura-14,8 x 14,8 cm-Coleção Hermann Kümmerly. Fonte: www. oswaldogoeldi .org.br/ 2009.

 

Segundo Naves (1999, p. 22) “ seus urubus muitas vezes não são apenas urubus e trazem mensagens agourentas, lembrando-nos a todo instante de uma companhia com quem não queremos caminhar” Nos riscos finos da gravura Urubusi produzem uma luz intensa de muita energia, nas áreas negras penumbrosas e nas áreas planas Goeldi nos leva a sua visão do que a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a Humanidade. Nesta gravura o próprio corte da madeira reforça a força da natureza, trata-se de um corte que procede verticalmente, como a da posição da árvore nesta cena aonde ele aproveita graficamente os veios da madeira, proporcionando uma impressão mais chapada. Os filetes brancos originados pelos riscos das goivas na madeira como estrias abertas geram uma luz exterior com muita intensidade, onde podemos ver os urubus a espera da carniça. Como em Shakespeare em noite de reis ato I – cena II: Viola “(...) embora a natureza às vezes cubra de lousas aprazíveis a carniça”. Os diversos traços que ele aplica em diversas direções de linhas brancas geram um contraste e tensão entre a sombra e a luz. A dinâmica gerada por esses contrastes leva a luz a exercer uma verdadeira pressão sobre a superfície negra que luta para atravessá-la gerando uma enorme agitação entre a vida e a morte e os supostos eventos que a sucedem bem como uma inesgotável fonte de temores, angústias e ansiedades para os seres humanos isso está presente no lado negro da cena, enquanto no lado luminoso tudo se passa num outro tempo, mais lento e menos acolhedor essa imagem ajuda a acentuar os aspectos reais da natureza como em Coriolano ato II – cena I: Sicínio “ a natureza ensina os animais a conhecer os amigos.

Na gravura Urubus a luz produz a impressão de interioridade, de estarmos dentro de um universo mais intenso e dinâmico reforçados pelos traços fortes e profundos das goivas. Na cena de fundo a parte retangular deitada superior onde a casa aparece com as portas abertas nos sugere que lá existe alguém, onde a solidão nos fala de um tempo de espera, de uma necessidade de uma proximidade com a nossa liberdade que está livre dos padrões vigentes. Para enxergar esta liberdade é preciso ter olhos aguçados para ver nas sombras e no cinza, todos os contrastes assustadores como a angustia e o medo, elementos primitivos da verdadeira expressão dos sentidos, que são levados ao limite em suas gravuras. Nesta gravura exige alto grau de imaginação do telespectador, porque não há interferência do gravador que esclarece o que esta cena possa transmitir naquele momento; cada traço cada risco, cada ponto fala por si só, e toda a imagem existente na gravura tem que chegar ao publico alvo. Goeldi nos mostra nesta xilogravura a representação plena de que a morte chegará em um momento em que estaremos sós.

A vida também pode ser desafiadora e fascinante, pelas experiências que põem em risco a própria existência, porque junto ao risco da morte, elas trazem por instantes a vida com uma intensidade ímpar. Segundo Damásio (2008) “ a mortalidade é o emblema da existência humana. Ser mortal não é apenas estar sujeito à morte, mas sentir-se injustiçado por ser, entre todas as coisas, [...]”.

Notas

*Doutor em Ciências Sócias pela PUC-SP e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP. Prof. da Faculdade Anhanguera, Faculdade Veris e do Colégio Objetivo, zulietti@directnet.com.br

Bibliografia

BENJAMIN, W. Parque central. In W. Benjamin, Obras escolhidas III . São Paulo: Brasiliense. (Trabalho original publicado em 1939).1989.

BORGES, J. L. O Labirinto. In História universal da infâmia & outras histórias . São Paulo: Círculo do Livro. 1969.

DAMASIO, L. Morte e Liberdade em Hannah Arendt, Seminário de Pesquisa em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina-SC. 28/10/2008.

GOELDI, O. Projeto Goeldi. Site oficial projeto Goeldi < www. oswaldogoeldi .org.br/> acesso 15/07/2009.

MALRAUX, A . A condição humana . Forense Universitaria , 2005. p. 29

MATTOS,A; COSTA, M.L. Poética da Resistência- Aspectos da Gravura Brasileira. São Paulo,SESI; Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna, 1994.

NAVES, R. De fora: Goeldi . São Paulo: Cosac & Naily. Edições, 1999.

NIETZSCHE, F. W. 1844-1900. Além do Bem e do Mal – São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

SHAKESPEARE, W, 1564-1616. Shakespeare de A a Z: livro das citações / selação de Sergio Faraco; tradução de Carlos Alberto Nunes. Porto Alegre: L&PM,1998.

SOUSA, E. L. A. de e BECHLER, J. Labirintos na cidade contemporânea . Psicol. cienc. prof. , jun. 2008, vol.28, no.2, p.390-403. ISSN 1414-9893.



Download versão .pdf

 
 
 
Direitos Reservados Neamp, 2008. Desenvolvido por Syntia Alves e J.M.P.Alves. Versão html - Gustavo Araújo