Sumário
 
 

Nota dos Editores

    

O postulado de Clausewitz, que trata a guerra como a continuação da política por outros meios, nos permite considerar a violência como algo central nas relações sociais. Quando Michel Foucault inverteu essa proposição tratando a política como uma guerra continuada, mostrou que a distinção e a oposição entre guerra e paz não é tão simples, e que cabe encontrar no cotidiano as forças que atuam sobre os homens e que mostram a guerra como algo que é gestada diariamente. Avaliar a guerra como símbolo da violência nos permite considerar sua importância para a política. Não se trata de avaliar apenas o campo de batalha, mas reconhecer a violência presente nas instituições, na educação, na subjetividade, enfim, nas diferentes esferas que congregam o humano.

 

Na sociedade contemporânea, os estudos sobre o tema se realizam com tamanha intensidade, principalmente, devido ao fato de que a violência é transformada em espetáculo. As formas de violência atravessam diferentes épocas e culturas, contextos sociais e políticos distintos e tomam forma de acordo com o conjunto de circunstâncias que se apresentam. Para caracterizar a violência, portanto, é preciso olhar para os meios de comunicação, para as relações internacionais, para o mercado, para a família, para a escola e para tantos outros espaços de socialização.

 

A Revista Aurora, na edição de número 7, reúne reflexões acerca da violência. A abordagem procurou ser o mais ampla possível a fim de oferecer ao leitor exemplos consistentes da amplitude do tema e das relações possíveis com a arte, a mídia e a política.

 

João Barata, em seu artigo, analisa o discurso da violência na mídia, chamando a atenção para a mídia policial televisiva e a forma com que as práticas e os discursos são engendrados. Fhoutine Marie aborda as dificuldades da cobertura jornalística do atentado às Torres Gêmeas e da invasão ao Iraque, apontando para a importância das novas tecnologias na produção da informação e as relações de controle presentes em casos específicos como os analisados. Marcello Rollemberg discute a decisão do STF pela não obrigatoriedade do curso de jornalismo e as implicações dessa decisão na prática da profissão. Em uma perspectiva diferente, Daniela Avena analisa a violência doméstica no campo das relações homosexuais femininas, apontando a complexidade das questões de gênero e as alternativas possíveis para o problema.

 

Abordando diferentes violências na periferia e nos movimentos sociais Francisco Comáru analisa as políticas urbanas e os direitos humanos na cidade de São Paulo e Carlos Freitas aborda a articulação da sociedade civil na periferia de Belo Horizonte a partir da produção audiovisual de jovens organizados em torno da Rede Jovem de Cidadania. Artur Zimerman avalia o crescimento da violência na luta pela terra em governos democráticos pós-1985 oferecendo uma valiosa sistematização de dados, fruto de sua pesquisa. Já o artigo de Nildo Avelino discute o crime de anarquismo a partir da Conferência Internacional pela Defesa Social contra os Anarquistas de 1898 e Gilberto Teixeira avalia a obra O ensaio sobre a cegueira , de José Saramago, analisando diferentes manifestações do tema da violência presente em distintos momentos do romance.

 

A Revista Aurora traz ainda a coluna de Syntia Alves, tratando do silêncio a respeito da morte de Federico Garcia Lorca, além de uma valiosa entrevista com Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, que pondera sobre as pesquisas que estão sendo realizadas na área e as especificidades da violência na sociedade contemporânea. O leitor terá ainda a oportunidade de ler as poesias de Rodrigo Estramanho, feitas para essa edição, e Encarnado , imagens de Daniela Lemos de Moraes.

Rafael Araújo
Silvana Martinho
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