Religião e Política na Fronteira:
desinstitucionalização e deslocamento numa relação historicamente polêmica

Joanildo A. Burity []

Resumos/Abstracts

Este trabalho passa em revista o debate contemporâneo sobre as novas fronteiras entre religião e política, destacando os limites da concepção liberal clássica, que animou e ainda anima boa parte dos trabalhos sobre o tema, notadamente os de cunho mais normativo. A nova situação aponta para uma configuração do religioso que opera segundo uma lógica de deslocamento de fronteiras e ressignificação ou redescrição de práticas. O efeito contraditório mais marcante destes dois processos é o de que o aprofundamento da experiência religiosa como algo pessoal, individual, íntimo se dá ao par com uma desprivatização ou publicização do religioso. Não se tratando de uma deontologia da relação religião/política, mas uma construção histórica de longa data da qual a solução liberal é apenas um capítulo, argumenta-se que mudanças históricas, ocorridas particularmente a partir dos anos 80, contribuíram para redefinir a fronteira público/privado de modo a alterar ou provocar um realinhamento na relação entre religião e política. A redefinição das fronteiras disdisdissolveu ou deslocou o sentido do político e do religioso - fundamentalmente desterritorializadores e, em parte, desinstitucionalizando-os.

This article reviews the recent debates on the new boundaries between religion and politics, highlighting the limits of the classical liberal conception that has animated much of the work on the subject, particularly the more normative-oriented ones. The new situation points to a delimitation of the religious dimension that works in accordance to a logic of dislocation of frontiers and resignification or redescription of practices. The most salient contradictory effect is that the deepening of religious experience as something personal, individual, even intimate, goes hand in hand with a deprivatisation or publicisation of religion. Far from adopting a deontological approach to the relation of religion to politics, the argument takes on a historical perspective wherein the liberal arrangement constitutes but a chapter. Recent changes, mainly occurred as from the 1980s, have contributed toward redefining the public/private boundary so as to alter or prompt a realignment of the religion/politics relation. Such a redefinition of limits has dissolved or displaced the meaning of the political and the religious, fundamentally de-territorialising and partly de-institutionalising them.

Ce texte repasse le débat contemporain sur les nouvelles frontières entre religion et politique. Les limites de la conception libérale classique qui oriente une bonne partie des études sur le sujet, notamment celles plus normatives, sont ressorties. La nouvelle situation indique une configuration du religieux qui opère selon une logique de déplacement des frontières et de ré-signification ou ré-description des pratiques. L’effet contradictoire mais significatif de ces deux processus a été celui de l’approfondissement de l’expérience religieuse comme une chose personnelle, individuelle, intime, et au même temps celui de la déprivatisation du religieux. Il ne s’agit pas d’une déontologie de la relation religion/politique, mais d’une construction historique de longue durée, la solution libérale n’étant qu’un chapitre. L’argument du texte est que les changements historiques depuis les années 80 ont contribués pour la redéfinition des frontières public/privé modifiant les relations entre la religion et la politique. La redéfinition des frontières a dissout ou deplacé le sens du politique et du religieux – fondamentalemnt par leur détérritorialisation et leur désinstitucionnalisation partielle.

Der Artikel gibt einen Überblick über die Debatte über die neuen Grenzlinien zwischen Religion und Politik und stellt dabei die Limitierungen der klassischen liberalen Konzeption heraus. Letztere hat einen Großteil der bisherigen, überwiegend normativen Arbeiten zum Thema stimuliert. Die neue Situation legt eine Konfiguration des Religiösen nahe, die sich an der Logik der Grenzverschiebungen und der Umdeutung von Praktiken orientiert. Dabei geraten zwei widersprüchliche Tendenzen in den Blick: erstens die Vertiefung der religiösen Erfahrung als etwas Persönliches, Individuelles, Intimes; zweitens eine Entprivatisierung und gesteigerte Öffentlichkeit des Religiösen. Dem Beitrag geht es nicht um eine De-Ontologisierung des Verhältnisses von Religion und Politik, sondern um eine Rekonstruktion größerer historischer Zeiträume innerhalb derer liberale Ansätze einen Abschnitt markieren. Jüngere Veränderungen insbesondere seit den 1980er Jahren haben zur Neubestimmung der Grenzen zwischen dem Religiösen und dem Politischen geführt, bzw. deren wechselseitige Grenzen verschoben.