A Conversão de Imigrantes Japoneses no Brasil à Igreja Adventista do Sétimo Dia

Elder Hosokawa[*] []
Haller E. S. Schuneman[**] []

Resumo

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma forte ênfase missionária. A sua expansão está muito relacionada aos processos de imigração. No caso do Brasil, o crescimento da IASD, na primeira metade do século XX, ocorreu através da adesão de imigrantes recém-chegados ao país. Os japoneses são uma exceção. Os estudos mostram que, apesar de o Colégio Adventista ter recebido muitos alunos japoneses recém-imigrados para o Brasil, trazidos por um missão japonesa protestante chamada Rikokai, o número de conversos foi extremamente restrito. Os poucos japoneses conversos ao Adventismo já eram, via de regra, cristãos no Japão. O crescimento do número de descendentes de japoneses começou a se verificar apenas a partir da década de 1960, sendo que existem duas igrejas étnicas adventistas na cidade de São Paulo, mas com um número reduzido de membros, uma vez que boa parte dos descendentes participam normalmente das outras igrejas. A pouca adesão dos japoneses ao Adventismo demonstra as dificuldades das conversões religiosas em contexto de uma religião estruturada para outra similar, no caso do Budismo para o Adventismo, que se apresenta como uma visão radical dentro do Cristianismo.

Palavras Chaves: Igreja Adventista, Conversão, Imigração Japonesa, Educação Adventista

Abstract

Seventh Day Adventist Church has one strong emphasis missionary. Its expansion is a good deal related by processes of immigration. In case of the Brazil , the growth from IASD , on first half a day 20th century occur via the adherence of immigrants recent arrived the country. The Japanese are an exception. The studies, they show what in spite of what the Brazilian Adventist College receives a good many followers japaneses immigrants, brought for a mission Japanese protesting , call Rikokai , the number of converted was extramente restricted. The few Japanese converted the Adventist already they used to be, generally, Christians into the Japan. The growth of the number of descendants of Japanese it began the grow barely the part from decade of 1960, being what exists two churches etnicas on city of São Paulo, but with a number reduced of members, since that good some of the descendants taking part normally from the another churches. The process of adherence of the Japanese in the Seventh Dau Adventist Church demonstrates the difficulties from the conversions religious person em argument from a religion structure about to another similar , in the event of of the Buddhism about to the Adventist , a vision radical inside of the Christianity.

Keywords: Seventh Day Adventist Church, Conversion, Japanease Imigration, Adventist Educacion

Introdução

A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) é uma igreja de origem estadunidense organizada oficialmente em 1863 a partir de um grupo de seguidores do movimento milenialista liderado por William Miller, fazendeiro batista norte-americano que pregou a volta de Cristo em 1844 e o fim do mundo. Após sua organização, a IASD desenvolveu uma intensa ação proselitista. A doutrina da IASD, que se justifica como a igreja verdadeira e remanescente do tempo do fim, considera fundamental a expansão mundial como imperativo.

Atualmente, segundo dados da IASD, ela seria o grupo religioso cristão de origem protestante presente no maior número de países no mundo (YOST 1990). Apesar de a IASD ter cerca de 16 milhões de membros, a distribuição se dá de forma bastante desigual, estando seus fiéis concentrados na América Latina, sul da África e em algumas regiões do Extremo Oriente, como Filipinas, Coréia e Indonésia. Em um estudo conduzido por Schünemann (2007) sobre a expansão do Adventismo, foi possível constatar a importância do fenômeno migratório tanto no desenvolvimento inicial como na manutenção de taxas elevadas de crescimento ao longo de todo o século XX. No Brasil, o estabelecimento da IASD ocorreu inicialmente nas colônias de imigrantes alemães presentes no centro-sul e, depois, através do grande fluxo de imigrantes para o Estado de São Paulo. Essa tendência é substituída na década de 1960 pela conversão de populações rurais que migram para os grandes centros urbanos do país, inicialmente Rio de Janeiro e São Paulo; e, a partir de 1980, em todas as grandes capitais estaduais que passam a receber grandes fluxos migratórios. Dentro desse processo há um grupo bastante singular de adesão ao Adventismo no Brasil - os imigrantes japoneses. Hoje, a IASD no Brasil possui congregações adventistas nipo-brasileiras, que se contam entre os grupos étnicos alcançados pelo Adventismo.

O objetivo deste artigo é focar o processo de conversão de imigrantes japoneses para o Adventismo. A IASD, embora possa facilmente ser reconhecida como uma denominação cristã, no caso do Brasil, era e é, ainda, representante de uma visão de mundo crítica à sociedade brasileira. Neste texto focalizamos, primeiramente, algumas características do Adventismo, da imigração japonesa para o Brasil, e, por fim, o aprofundamento se dará na análise da conversão dos imigrantes japoneses para o Adventismo e a formação de comunidades adventistas nipo-brasileiras.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia

Em 1831 o fazendeiro batista William Miller, residente no interior do estado de Nova Iorque, começou a pregar a respeito da sua grande descoberta. As diversas profecias bíblicas apontavam, segundo seus estudos, o ano de 1843 como o da volta de Cristo à Terra. Durante vários anos sua pregação agitou as pequenas igrejas da região em que residia. Em 1839 ele conheceu Joshua Himes, pastor de uma grande igreja de Boston, que se empolgou com a mensagem de Miller. A partir daí o movimento se expandiu com o apoio de publicações. Miller e outros pregadores adventistas, como passaram a ser denominados os seguidores de Miller, são chamados a pregar em igrejas de expressão em grandes cidades do nordeste dos Estados Unidos. A aproximação da data começou a dar força ao movimento. Para Miller, apesar de a Bíblia afirmar que ninguém sabia o dia e a hora da volta de Cristo, ela mesma indicava o ano de 1843, segundo ele, em pelo menos 15 passagens diferentes. Como o calendário judaico era diferente do ocidental, Miller previa que entre março de 1843 e março de 1844 o fim do mundo se concretizaria. Quando iniciou abril de 1844 o movimento sofreu um significativo abalo, com o afastamento de expressivo número de pessoas. Um personagem até então obscuro no movimento, chamado Samuel Snow, elaborou uma explicação para aquilo que foi considerado um tempo maior para a manifestação gloriosa de Cristo. Em primeiro lugar, a partir da parábola da dez virgens, relatadas no Evangelho segundo Mateus, seria predito um tempo de tardança para separar os fiéis dos infiéis. Em segundo lugar, ele associou uma das profecias usadas para demonstrar a volta de Cristo em 1843 como relacionada ao ritual judaico do Dia da Expiação. Como essa festa religiosa estava ligada ao calendário religioso, então baseada na cronologia da seita judaica do caraítas, eles concluíram que o Dia da Expiação de 1844 ocorreria em 22 de outubro. Houve uma grande agitação no meio adventista tão logo essas idéias foram difundidas. Elas rapidamente foram aceitas, de modo que os adventistas aguardaram o advento para o dia de 22 de outubro de 1844, o que não ocorreu, ficando conhecido como o Grande Desapontamento. No entanto, mesmo esse novo fracasso não destruiu o movimento, embora o tenha fragmentado profundamente (DICK, 1986). A mensagem de Miller foi bem recebida por uma parcela expressiva de estadunidenses, embora seja difícil precisar se chegou a pelo menos de mais um centena de milhar. Além do grande fervor de Miller e seus seguidores (os milleritas), as razões econômicas não podem ser negligenciadas. Entre 1837 e 1844 os Estados Unidos passaram por um longo período de recessão econômica. Nessa ocasião houve um declínio do otimismo do país quanto ao seu sucesso como nação. Alguns grandes empreendimentos fracassaram, levando a um sentimento de desilusão. É importante ainda ressaltar que, nessa época, a população era majoritariamente rural e formada por pequenos proprietários, que, por sua vez, compunham o perfil dos conversos ao Adventismo. O fator religioso é muito expressivo. A região na qual o Adventismo nasceu, Nova Iorque, é conhecida como burned district, em função da grande quantidade de movimentos religiosos que ali surgiram no século XIX. (SCHÜNEMANN 2002)

O Grande Desapontamento fragmentou o movimento em dezenas de subgrupos. A IASD não se originou do grupo principal, embora seja o maior herdeiro atual do movimento millerita. No fim de 1844, Ellen Harmon, uma garota de 17 anos, reinvidicou receber visões que viriam a animar os desalentados adventistas. Apenas um grupo pequeno de adventistas aceitou a “reivindicação profética” de Ellen Harmon, entre eles Tiago White, que cerca de dois anos mais tarde se tornou seu esposo, e Joseph Bates, um antigo capitão, que havia tido papel importante na difusão da mensagem de Miller, mas que após a data em questão, entrou em desacordo com Miller. Inicialmente, o principal foco de divergência entre os adventistas foi sobre a causa do fracasso. Um grupo entendeu que o advento era espiritual e, portanto já estavam salvos. Outro grupo entendeu que o erro era de cálculo e tentaram refazê-lo. Miller e Himes ficaram neste grupo, o que não impediu sua fragmentação, na medida em que as datas remarcadas se mostraram equivocadas também. Por fim, um outro grupo defendeu que a data estava certa, e que o erro era do evento. Ellen White abraçou essa posição e, aos poucos, os seguidores de Ellen White passaram a aceitar o sábado como dia de descanso e se distanciaram bastante da herança millerita. Em 1848, o grupo liderado pelo casal White organizou as Conferências Sabáticas e o surgimento da crença distintiva dos adventistas, a observância do sábado. A oficialização da IASD ocorreu apenas em 1863, quando os partidários de sua organização conseguiram se tornar maioria, transformando-a numa igreja. (ANDERSON 1986)

A IASD, em seu momento inicial, destacava algumas doutrinas como fundamentais na sua pregação. São elas: em primeiro lugar, a crença do sábado como verdadeiro dia de guarda e a observância dele como selo de Deus, que no tempo do fim iminente seria o diferencial entre os verdadeiros cristãos e os “nominais”. Em segundo lugar, a profecia encerrada em 22 de outubro de 1844, apontava para a passagem de Jesus Cristo do Santo para o Santíssimo no Santuário Celestial, para realizar a parte final do processo de salvação que seria o julgamento dos santos[1]. O término dessa tarefa implicaria que o tempo de graça, de oportunidade de salvação, teria se encerrado. Então Cristo voltaria para buscar os salvos na Terra e conduzi-los para o Céu. Lá os remidos permaneceriam durante o Milênio, ocupados em entender a causa da perdição dos infiéis. No fim desse tempo Cristo voltaria à Terra com os salvos, e então castigaria todos os ímpios. A Terra seria restaurada e habitada apenas pelos santos. Por fim, em terceiro lugar, aceitar Ellen White como a verdadeira profetisa para o tempo do fim, pois seus ensinos seriam essenciais para sobreviver espiritualmente a tal momento crítico. Essas doutrinas peculiares da IASD que deviam ser divulgadas a todo o mundo para que as pessoas pudessem entender corretamente a Bíblia e seguir toda a verdade que, de forma nada modesta, os adventistas do sétimo dia acreditariam serem os fiéis depositários da verdade para o tempo do fim. Entre os ensinamentos que Ellen White trouxe para o Adventismo estão as visões de saúde, que defendem o vegetarianismo e a abstinência de álcool, fumo, bebidas cafeinizadas e drogas (mesmo medicamentos), entre outros. (FROOM 1971)

A expansão adventista e a chegada ao Brasil

Com essa mensagem a ser difundida pelo mundo, a IASD começa a se desenvolver a partir do mundo protestante. Assim, a primeira expansão da IASD é feita na Europa, em países com maior ou menor presença protestante, na segunda metade do século XIX. A expansão em direção as regiões “pagãs” da Ásia e África, e mesmo à “semipagã América Latina, ocorreu a partir do envio de missionários às colônias inglesas. Na região austral da América Latina a IASD teve a contribuição da expansão vigorosa do Adventismo na Alemanha, que acabou enviando missionários ao Cone Sul para atender as colônias de imigrantes alemães formadas no Brasil, na Argentina e no Uruguai. No Brasil, a IASD foi uma igreja de fala alemã durante quase dez anos, pois as duas primeiras igrejas foram fundadas (em 1895) em colônias alemãs. Só em 1904 é que foi fundada a primeira igreja de fala portuguesa, embora já houvessem brasileiros convertidos ao Adventismo antes dessa data. O crescimento da IASD nas duas primeiras décadas foi lento e difícil no Brasil, apesar de o movimento ter recebido vários imigrantes alemães adventistas, que auxiliaram no fortalecimento da igreja no Brasil. Em parte, o fato de a IASD ter sido muito forte entre os alemães tornava a doutrina exótica, ainda mais difícil de ser entendida, pois diversas igrejas adventistas nesse período tinham o seu culto em alemão e repetiam uma forma litúrgica própria das comunidades protestantes alemães. A Primeira Guerra Mundial pôs fim à predominância alemã da IASD, levando a liderança estadunidense a tentar expandir mais a população adventista brasileira. O desenvolvimento do Adventismo no período entre guerras ocorreu na cidade de São Paulo, que tinha um intenso fluxo migratório, principalmente de europeus, mas a partir do início do século XX, também de imigrantes japoneses. A IASD conseguiu fazer conversos entre as mais diversas nacionalidades que migraram para São Paulo. O processo intenso de crescimento da IASD em São Paulo, especialmente nesse período, indica que os imigrantes eram um alvo potencial de conversos. (SCHÜNEMANN 2002)

A imigração japonesa no Brasil

A imigração para o Brasil começou no período imperial. O primeiro grupo de imigrantes trazidos para o país era de fala alemã e se organizou em colônias no sul do país. No período imperial, o processo de imigração européia para o país foi relativamente lento. A economia sustentada pela escravidão foi um obstáculo significativo para o trabalho imigrante. A partir de 1870, o processo de expansão do café em São Paulo, em especial na região oeste do estado, favoreceu uma política de imigrantes europeus (KLEIN 2000). Após a abolição do sistema de trabalho escravo no país, a questão da imigração envolveu aspectos raciais. O Brasil, no final do século XIX, tinha uma população afrodescendente majoritária. O fato de existir apenas uma pequena população de origem européia era considerado, pelas elites, como entrave ao desenvolvimento, daí a necessidade de acelerar o processo de imigração para o país. Skidmore (1989) deixa claro que havia uma proibição para pessoas oriundas da África e da Ásia na constituição republicana. Por essa razão, os japoneses só começaram a chegar no início do século XX, quando foi aprovada um lei para permitir a entrada deles no Brasil. Até o período da Segunda Guerra Mundial houve uma importante imigração japonesa para o Brasil.

Sakurai (2000) destaca um aspecto importante no processo de imigração japonês, a tutela exercida pelo governo japonês em alocar os excedentes populacionais do país. Ela cita que desde a abertura do Japão para o mundo, em 1868, entre as políticas imperais esteve a preocupação em lidar com o excesso populacional do arquipélago. Houve projetos de colonização da ilha de Hokkaido dentro dessa linha, no próprio Japão, e depois em direção à regiões da Ásia como a Manchúria, na China.

Em sua análise sobre o processo de imigração japonesa para o país, ela destaca que esse movimento foi parte de um projeto capitalista, pois havia a intenção não apenas de conduzir os excedentes populacionais, mas ajudá-los a se fixar e prosperar economicamente. Havia uma diferença entre o desejo dos imigrantes japoneses, de enriquecer rapidamente para voltar ao seu país, e o do governo japonês, que através de ações de controle desejava propiciar condições de sucesso econômico e, assim, evitar que os emigrantes voltasssem para o Japão. Os resultados das diversas colônias demonstram que, pelo menos durante o período entre-guerras, o sucesso do projeto foi considerável, pois rapidamente os japoneses conseguiram adquirir pequenas propriedades e desenvolver uma agricultura diversificada. No Brasil, a maioria das das colônias japonesas se instalou no Estado de São Paulo, ao longo das linhas de estrada de ferro, principalmente nas mais recentes, onde havia terras baratas e disponíveis. Esse modelo foi bem-sucedido até o Brasil declarar guerra aos países do Eixo, em 1942.

Yoshioka (1994) informa que o primeiros imigrantes japoneses desembarcaram do navio Kasato Maru (procedente de Kobe) no porto de Santos no dia 18 de junho de 1908, somando 158 famílias num total de 781 pessoas. O deslocamento imigratório entre Japão e Brasil passou por cinco fases: 1908-1923, nos primórdios da chegada de grande massa de trabalhadores para suprir com mão-de-obra as lavouras de café, principalmente de São Paulo; 1924-1941, quando o projeto de colonização direcionou o fluxo migratório para o noroeste do Estado de São Paulo e norte do Paraná; 1941-1950, período em que os japoneses sofreram represálias em decorrência da participação do Japão na Segunda Guerra Mundial e já formavam uma comunidade numerosa, já bem representativa nas áreas urbanas; 1951-1990, caracterizado pela assimilação dos imigrantes na sociedade brasileira e pela formação de colônias em áreas de fronteira agrícola como a Amazônia; e finalmente, 1990 até o dias atuais, período independente marcado pelo movimento dekassegui, quando os primeiros brasileiros naturalizados e descendentes de primeira geração partiram para o Japão em busca de trabalho nas indústrias e fugindo da crise econômica no Brasil.

A religião entre os imigrantes japoneses no Brasil

Segundo Handa (1987), em se tratando de pesquisa sobre conversão religiosa, os japoneses poucas vezes são mencionados e, quando citados, somente em estudos relativamente recentes. Eles foram percebidos como sincréticos ou como não muito ligados à religião. Mais de 90% dos japoneses que imigraram para o Brasil eram budistas e xintoístas.

A religiosidade japonesa no Brasil pode ser dividia em quatro períodos, segundo os autores do livro lançado pela comissão de elaboração da história dos 80 anos da imigração Japonesa em 1992. O primeiro período, entre 1908 e 1920, caracteriza-se pela vida e ação dos imigrantes regulada pela estratégia de trabalho temporário de curta duração e pela transição desta para a estratégia de trabalho temporário de longa duração, visto que, na década de 1910, os imigrantes iniciaram a formação de colônias. Nesse período, sua vida religiosa foi precária, marcada pelo desafio da sobrevivência e custeio da viagem, não deixando recursos extras para sustentar com ofertas e doações alguma atividade religiosa. Embora desde a promulgação da constituição de 1891 houvesse garantias legais à liberdade de culto no Brasil, a disseminação das crenças nipônicas foi inibida pelo governo japonês na tentativa de minimizar hostilidade e confronto dos colonos com a hegemonia católica, havendo a sugestão de que as cerimônias orientais, desconhecidas aos brasileiros, se realizassem do modo mais sutil e discreto.

O segundo período, entre 1920 e 1935, é marcado como a época em que os colonos japoneses se transformam em arrendatários ou trabalhadores independentes. Os trabalhadores japoneses mudaram a sua estratégia de trabalho temporário de curto prazo para trabalho temporário de longo prazo, de meeiros, arrendatários ou produtores independentes para pequenos produtores. Surgem as colônias, propriedades arrendadas ou compradas coletivamente. A estabilidade favoreceu o surgimento de atividades religiosas. Ocorreram conversões de imigrantes japoneses, podendo ser entendidas, na maior parte das vezes, como uma forma de integração ao ambiente brasileiro, uma adaptação motivada menos por crença e muito mais por interesse pessoal.

O terceiro período, entre 1935 e 1950, foi denominado de hibernação das religiões, em virtude do predomínio da política nacionalista de Getúlio Vargas que tinha como alvo o patriotismo e um fortalecimento do sentimento de brasilidade. Os japoneses passaram a inimigos dos Aliados, e conseqüentemente, do Brasil, sofrendo sérias restrições. Foi proibido o ensino de língua estrangeira aos menores de 14 anos, as escolas de línguas estrangeiras foram fechadas, as publicações na língua dos componentes do Eixo foram proibidas. Não se podia falar publicamente nos idiomas japonês, italiano e alemão. Sem a permissão para falar o idioma em locais públicos ou fazer reuniões, os espaços religiosos foram fechados.

Por fim, o quarto período começaria nos anos 50 e é chamado de ressurgimento religioso entre japoneses e seus descendentes. Os imigrantes foram fortalecidos economicamente com o crescimento da agricultura brasileira, a idéia de fixação à nova pátria passou a ser aceita e a consciência de regresso ao Japão foi se enfraquecendo. Assim, uma parte desses imigrantes, que decidiu pela permanência definitiva, passou a buscar e a reafirmar sua identidade nas tradições religiosas dos antepassados. Ressurgem religiões japonesas a partir dos anos 1950. As famílias seguem alguns traços do Budismo, mas deixavam os filhos se tornarem católicos a título de integração social e econômica com os brasileiros ou pediam aos nacionais que fossem padrinhos de seus filhos para beneficiar suas atividades econômicas. Ressaltando-se que o batismo não significava conversão e envolvimento com a religião. (MURASHITA 2003)

O Adventismo no Japão e a conexão com o Brasil

Os primeiros missionários norte-americanos adventistas enviados à Ásia foram Abram La Rue (1822-1903) e Stephen N. Haskell (1833-1922). Eles começaram a distribuir literatura entre 1889 e 1890 na região de Kobe e Yokohama, no Japão, sem alcançar nenhuma conversão. William G. Grainger (1844-1899), diretor do Healdsburg College, na Califórnia, foi professor de Teruhiko H. Okohira (1865-1939), imigrante japonês nos Estados Unidos, e trabalhou pela conversão de seu aluno. Após a conversão de Okohira, ambos decidiram ser missionários no Japão. Organizaram em Tóquio, em 1899, a primeira congregação adventista com o batismo de quatro conversos, entre eles Hide Kuniya (1896-1962), figura de destaque no Adventismo japonês. (SDAE, 1996).

A conexão do Adventismo entre Japão e Brasil é inexpressiva, a não ser pela vinda ao Brasil dos filhos do pioneiro japonês adventista Eitaro Onoda, de Kagoshima, um dos primeiros conversos no sul do Japão, no começo do século XX. No entanto, seus dois filhos Seiji e Ko, que imigram para o Brasil, abandonaram a fé adventista no Brasil durante certo período. Seiji Onoda chegou à cidade de São Paulo após viver algumas regiões do país e, quando os filhos estavam em idade escolar, mudou-se para as imediações do Colégio Adventista Brasileiro, atual UNASP (Seiji Onoda, entrevista, 15/08/2006, São Paulo).

Uma filha do casal Seiji e Tada Onoda, a jovem Tokimi, casou-se com Yuji Eida, missionário adventista japonês pioneiro entre os nipo-paraguaios. Ao contrário da imigração alemã no Brasil, que traz vários missionários germânicos para trabalhar em seus conterrâneos, a IASD no Japão era muito pequena, de forma que não houve nenhum fluxo de adventistas japoneses para o cá fora o caso relatado.

Rikokkai e o projeto protestante japonês de imigração em São Paulo

O fluxo de japoneses cristãos para o Brasil se deu por outra vertente cristã. A Nipon Rikkokai e a Shinano Kaigai Kyokai (Associação Ultramarina de Shinano) da Província de Nagano, criaram a colônia de assentamento de imigrantes japoneses denominada Fazenda Aliança. A Nippon Rikkokai também era uma entidade de cunho religioso e uma companhia japonesa de imigração de inspiração cristã. Fundada em Tóquio no ano de 1897 pelo reverendo anglicano Hyodaiu Shimanuki (1866-1913), a companhia trouxe milhares de imigrantes ao Brasil a partir de 7 de janeiro de 1923. Seu objetivo: elevação espiritual e material do povo japonês. Dedicou-se aos jovens e ajudou especialmente aos estudantes pobres. Shimanuki nasceu em Miyagi, filho de um samurai do clã Sendai. Em 1882 tornou-se professor de escola elementar. Converteu-se ao Cristianismo e entrou no Seminário de Sendai em 1886. Foi capelão durante a guerra russo-japonesa. O sucessor de Shimanuki em 1914, Shigueshi Nagata, empreendeu a tarefa de estimular a emigração para as Américas e, neste continente, o Brasil recebeu o maior contingente, estabelecendo colonos que passaram pela escola cristã da Rikkokai em Tóquio antes de migrarem ao Brasil. Nagata recomendou a muitos de seus associados o Collegio Adventista como local de instrução adequado para jovens imigrantes oriundos do Japão. (ASSOCIAÇÃO RIKKOKAI DO BRASIL 1965) A Nippon Rikkokai promoveu uma colonização planejada e dirigida com características pouco conhecidas em língua portuguesa, não obstante a existência de farto material em língua japonesa. Seu fundador pregava a idéia de se dedicar de corpo e alma para servir a sociedade. Os internos recebiam formação do espírito para desbravar. Proibia-se a bebida e o cigarro e aprendia-se que as pessoas não deveriam viver pedindo favores aos outros, tampouco negar aos que necessitam, e procurar seguir à risca os preceitos cristãos. Desse tipo de preocupação é que se infere: formar homens é tão importante quanto a formação de cafezais. Evitou-se construir uma cidade nas colônias, pois, segundo sua concepção, a mesma degenera os homens, estimula a vadiagem, a bebida, o cigarro e a prostituição. (YOSHIOKA 1994)

O Collegio Adventista e a conversão de estudantes da Rikkokai

Os primeiros japoneses que se converteram ao Adventismo o fizeram por influência do Colégio Adventista em Santo Amaro, fundado em 1915, próximo à capital paulista, numa região que abrigou, no início do século XIX, núcleos de imigração alemã e na primeira metade do século XX algumas famílias japonesas, com significativa presença nas imediações, notadamente de Itapecerica da Serra (HOSOKAWA 2001). Em 1936, os colonos receberam ajuda do governo japonês para o estabelecimento de uma escola sob a direção do professor Kunitoshi Shinohara. Na década de 1930, as primeiras famílias japonesas estabelecidas no entorno de Santo Amaro começaram a enviar seus filhos para o Collegio Adventista, situado na Estrada de Itapecerica (já em 1924 porém, há registro, no Collegio Adventista do Capão Redondo, da presença de alunos japoneses). Esse fato, coincide com a entrada de imigrantes japoneses nos Estados Unidos, aumentando o fluxo em direção à América Latina. O relato de um filho de missionário norte-americano adventista traz algumas referências aos japoneses nessa instituição:

Um dos meus colegas foi um jovem japonês, que estudava português. Ele já concluíra o curso de agronomia no Japão, mas emigrou ao Brasil, com uma bolsa de estudos do seu governo. Considerava-se ser perito na cultura do caqui, afirmando haver 14 espécies desta fruta no Japão. O jovem desejava escrever um artigo em português para uma revista de agronomia em São Paulo. Ele não tinha dicionário japonês-português, mas sim, um japonês-inglês. Ajudei o jovem preparar o seu artigo em português, como ele indicava em inglês, sobre a cultura dos seus caquis. Submeteu a sua tese que foi publicada, deixando-o eufórico. Assentávamos no mesmo banco escolar na capela, e ele me abraçava cordialmente. Tenho a impressão de que por esta amizade, tenha chamado a atenção do embaixador do Japão, quando era aluno. (RENTFRO 1998)

Em 1927, Y. Yamasaki, conselheiro da Embaixada do Japão junto ao governo brasileiro, e M. Wakamatsu, de Los Angeles, Califórnia, visitaram o Collegio Adventista, aprovam a instituição em razão das concretas condições de aprendizado da língua portuguesa, pela qualidade do trabalho agropecuário e pelos elevados princípios morais. Um dos alunos pioneiros do Collegio Adventista, filho de missionários norte americanos que introduziram o Adventismo em Portugal e que atuaram em Minas Gerais e São Paulo, escreveu sobre o tempo em que estudou e trabalhou na instituição. Rentfro (1998) rememora assim:

Chegou uma comitiva de japoneses no Colégio Adventista, entre eles o embaixador do Japão no Brasil. Recebi-os no gabinete do diretor, ausente nesse dia. Pelo que me diziam, estavam prestes a construir uma escola perto de Itapecerica para os filhos da colônia japonesa, onde pudessem estudar a agronomia. O embaixador apontava para este ou aquele edifício, e perguntava quanto custou a sua construção. Eu examinava o nosso relatório financeiro do ano anterior, onde se achava indicado o seu valor original, em mil-réis, menos a depreciação até esse ano. Os secretários marcavam tudo nos seus livrinhos de apontamentos. Ficaram impressionados com a nossa cooperação. Eram mui corteses, e saíram satisfeitos, pelo que se via. (RENTFRO 1998)

Um dos mais proeminentes colaboradores e membros da Rikkokai, Sr. Shunji Nishimura, estudou no Collegio Adventista entre 1932 e 1933, aprendendo a língua portuguesa e técnicas agrícolas durante sua estadia na fazenda que abrigada a alma mater da IASD, localizada no Capão Redondo. Embora não tenha se tornado adepto do Adventismo, afirmava-se cristão e enviou seus filhos para estudarem na mesma escola que freqüentara 25 anos antes. Fundou em Pompéia, interior de São Paulo, uma das maiores empresas de implementos agrícolas da América Latina, a Jacto. Criou a Escola Técnica Agrícola de Pompéia, mantida pela Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia. Inspirou-se no modelo da escola Rikkokai de Tóquio e no Colégio Adventista, onde estudou quando chegou ao Brasil. A instituição impunha aos alunos a obrigação de trabalhar algumas horas por dia, conforme as idéias educacionais de Ellen G. White, uma das fundadoras da IASD e que dava especial valor ao aprendizado prático, ao ambiente de serviço das escolas preparatórias missionárias em áreas rurais, que coincidiam com os ideais da Rikkokai.

Entre os membros da Rikkokai que se converteram ao Adventismo e se formaram no curso teológico temos Tossako Kanada (1912-1978), graduado em 1935, Shichiro Takatohi (1912-2005), formado em 1939, e Kiyoshi Hosokawa (1930- ) diplomado em 1960, todos ex-alunos do Collegio Adventista.

A visita do embaixador do Japão ao Collegio Adventista foi importante, pois ele recomendou a instituição aos estudantes secundaristas recém-chegados do Japão para que estudassem português e aprendessem a cultivar a terra na fazenda modelo dos adventistas, pioneira na introdução do gado holandês em São Paulo.

No registro de matrícula do Collegio Adventista, os primeiros jovens japoneses a ingressarem como alunos internos aparecem em 1924, mas permanecem somente dois anos na escola, dando a entender que estavam mais interessados no aprendizado da língua e no contato com a terra e com o gado, na progressiva adaptação a modos e usos do país. Embora houvesse no Collegio Adventista forte influência germânica e norte-americana por conta da nacionalidade dos missionários adventistas, havia estudantes de todas as regiões do Brasil, com predomínio do Sul e Sudeste.

O depoimento de um jovem que estudou na Rikkokai e no Collegio Adventista é revelador sobre a inquietação que atingia os japoneses em busca de oportunidade e sentido de vida no período entre-guerras no Japão, marcado por agitação política e crise:

Fui para Tóquio e matriculei-me numa instituição Rikkokai que preparava jovens para imigrar para o Brasil. Enquanto ali estava aprendendo algumas coisas sobre o Brasil, surgiu-me a indagação. “Para que a gente vive neste mundo?” Procurava a resposta. Sentia um vácuo no coração e queria satisfazê-lo com qualquer coisa, vagueava pelas ruas. Numa tarde andando pela rua vi uma propaganda religiosa. De noite fui assistir à palestra. Quem estava pregando não era pastor, mas um doutor em engenharia Mecânica, Dr. Sato. Não me lembro mais os detalhes de sua pregação, mas uma ilustração que ele usou ficou gravada na minha mente e revolucionou minha vida. Ele disse “A vida que levamos agora é semelhante à vida de um embrião dentro de uma casca de ovo, uma vida limitada. Quando o embrião se desenvolve e torna-se um pinto, quebra-se a casca, sai do ambiente apertado para uma existência mais ampla, significativa e livre”. Esta ilustração respondeu minha indagação. Freqüentei a cada noite as reuniões. No final fui batizado.” (TAKATOHI 2004)

Ainda escrevendo sobre sua decisão de vir para o Brasil:

Desembarquei no porto de Santos. Dali fui conduzido pela estrada de ferro para o interior do estado de São Paulo. Desci do trem numa estação chamada “Nova Nipônia”, um caminhão levou um grupo de imigrantes recém-chegados a uma fazenda que pertencia a Rikkokai, aquela instituição que treinava os jovens imigrantes. Fiquei ali mais ou menos meio ano. Compreendi que era necessário aprender a língua portuguesa. Para isso, sai de lá e fui à cidade de São Paulo. Entre os japoneses, o Collegio Adventista era conhecido e vários jovens iam para lá para aprender a língua portuguesa. Eu também queria estudar lá, mas precisava primeiro ganhar o estipêndio para isso. Economizei um conto de réis para estudar um ano no Collegio Adventista e nesse ambiente gostoso várias coisas me intrigavam. Tudo que os adventistas falam e fazem está baseado na Bíblia! Sobretudo eles não crêem no evolucionismo! Neste mundo esclarecido pela ciência, como pode ser isto? Para compreender isso, matriculei-me numa classe batismal. No meio do ano terminou o estudo e estava convencido das doutrinas bíblicas. Uma colega de nome Linda Talvik me disse “Shichiro, você vai ou não vai se batizar? Você sabe tudo, vamos nos batizar juntos?”. Com este empurrão, eu me batizei no tanque de água, junto da horta. Tornei-me adventista do sétimo dia. Foi no ano de 1935. (TAKATOHI 2004)

Como podemos observar, ainda que o Collegio Adventista tivesse recebido um número significativo de estudantes japoneses, menos de dez aceitaram a mensagem da IASD e se tornaram membros. Cabe destacar, porém, que aqueles que se converteram acabaram exercendo o papel de pastores e deram contribuições significativas dentro da IASD. A maior parte dos alunos japoneses, apesar dos esforços evangelizadores do Collegio Adventista, não aderiu ao Adventismo, sendo importante destacar que boa parte desses já era de cristãos.

Conversão de budista issei no Collegio Adventista

Kiyotaka Shirai (1920-1987), diferentemente dos demais estudantes japoneses que passaram pelo Collegio Adventista, chegou ao Brasil adolescente do Japão indo com seus pais se estabelecer em Sete Barras, no interior paulista. Sofrendo de tuberculose e lutando para fugir das péssimas condições com que se depararam seus pais, Shirai, durante a depressão econômica no vale do Ribeira, rumou para a capital, sendo roubado numa pensão na região central. Angustiado, perambulou sem rumo até encontrar-se com um japonês que veio em sua direção, cumprimentando-o demoradamente. Sentindo confiança no estranho, contou sua situação desesperadora e imediatamente recebeu a oferta de emprego para trabalhar numa horta em Santo André. Entre os muitos fregueses que compravam verduras, Shirai conheceu os adventistas, que possuíam uma grande editora nas imediações da horta do japonês. Conhecidos pelo seu estilo de vida salutar e consumidores de verduras, os funcionários da editora e membros da comunidade adventista eram presença constante nos canteiros e na quitanda do japonês. Uma adventista contou a Shirai sobre o Collegio Adventista e a possibilidade de custear seus estudos como bolsista, trabalhando nos diversos departamentos industriais. Em 1946, concretizou seus sonhos, trabalhando no aviário, na horta e na criação de gado holandês. Converteu-se ao Adventismo após curar-se da tuberculose. Essa narrativa parece ser uma exceção ao padrão dos japoneses que se converteram ao Adventismo, pois os poucos que se converteram ao Adventismo nesse período já eram cristãos (G.O.S., entrevista, 28/09/2007, São Paulo).

Restrições aos pregadores japoneses adventistas em tempos de guerra

O fato de o Brasil ter declarado guerra ao Eixo foi um problema para os poucos conversos japoneses dentro da IASD. Mesmo assim ocorreram algumas conversões, como a de Noboru Nishide (1913-2003). Ele se converteu pela influência do pastor Tossako Kanada. Kanada e Nishide foram presos em razão das restrições do Estado Novo, impostas por Getúlio Vargas, durante a Segunda Guerra Mundial, aos imigrantes oriundos de países pertencentes ao Eixo. Nishide havia sido preso em Sorocaba, no mês de setembro de 1942, por estocar combustível no seu estabelecimento comercial prevendo aumento de demanda, mas isso acabou por levantar suspeitas. O pastor Kanada já estava preso havia quase um mês. O episódio que o levou à prisão foi a justificativa apresentada por um jovem da IASD de Presidente Prudente, convocado para o serviço militar no Mato Grosso e que se recusou a trabalhar no sábado. O jovem foi denunciado e processado como desobediente à ordem superior. Ao ser interrogado sobre porque guardava o sábado e quem lhe ensinara aquela prática, disse que guardava o sábado porque é o quarto mandamento da lei de Deus, e que aprendera com um pastor japonês. O pastor Kanada foi então convocado e condenado pelo tribunal de segurança. No presídio de imigração onde esteve com muitos outros recolhidos alemães, japoneses e italianos, havia um grupo de japoneses evangélicos que cantava hinos e estudava a Bíblia. Havia outros religiosos, mas somente o pastor Kanada foi capaz de tirar as dúvidas de Nishide sobre o Apocalipse. Um soldado negro permitia que se reunissem, desde que com a Bíblia aberta para falar o japonês. Em dezembro de 1942 Nishide foi solto, após ter permanecido 100 dias na Casa de Detenção em São Paulo. No mesmo dia saiu o pastor Kanada. Nishide aceitou o Adventismo e recebeu um convite para trabalhar no Collgio Adventista, onde permaneceu até aposentar-se (N.N., entrevista, 02/09/2000, São Paulo).

Uma sorte não muito melhor teve Takatohi. Ele foi desligado da organização adventista em 1942 quando servia como pastor em Itararé, São Paulo. Obrigado a sobreviver de favor plantando nas terras de irmãos brasileiros, foi readmitido após o fim da Segunda Guerra como professor em instituição secundária de ensino adventista no Pernambuco. Foi o primeiro colocado no concurso para professor em todo o Estado. Quando chegou no porto de Recife, ficou preso sob suspeita de atividade subversiva até que as autoridades se convencessem do contrário.

Apesar de no período de guerra haver algumas dificuldades para os poucos adventistas japoneses, não há registro de apostasia entre eles.

Contribuições de pastores japoneses após a Segunda Guerra Mundial

O pastor Kiyotaka Shirai acabou tendo uma contribuição muito importante no Adventismo. No início, em razão da boa formação escolar recebida no Japão, destacou-se como calígrafo, trabalhando na confecção dos diplomas do escolares. Lá, teve contato com fotografia e eletrônica, e se formou em Teologia em 1956, não muito longe da vocação espiritual e religiosa de seu tio, que era monge budista. Shirai ainda estudou Administração de Empresas nos Estados Unidos e foi chamado para atuar como repórter fotográfico e relações públicas da Associação Paulista, órgão que dirigia o trabalho da IASD em todo o Estado de São Paulo. Teve oportunidade de registrar e publicar, com seu colega jornalista Roberto R. de Azevedo, dezenas de fotos e matérias nos jornais de São Paulo sobre o trabalho das lanchas Samaritana I, II e III, atraindo recursos médicos para a população carente da região. Participou na produção de filme e documentários sobre os índios Karajá e o trabalho das lanchas assistenciais no Brasil, na região amazônica, no Rio São Francisco, no Rio Araguaia, na Baia de Paranaguá e Represa de Furnas, em Minas Gerais. Shirai ainda montou um estúdio na Associação Paulista e assessorou a produção do programa de televisão “Fé para Hoje”, do pastor Alcides Campolongo, na TV Tupi. O programa, que estreou em 1961, é considerado o primeiro programa religioso evangélico na TV brasileira, e está até hoje no ar.

Começam alguns esforços específicos para japoneses e seus descendentes. Shirai implantou, também no final de 1959 na capital paulista, o programa evangélico de rádio “Voz da Profecia”, irradiado em japonês, com apoio do pastor Tossako Kanada, mantendo-o no ar até os primeiros meses de 1964. Esse programa acabou influenciando na conversão de algumas famílias que formaram o núcleo da primeira igreja japonesa na capital, sob a liderança de Tossako Kanada, Noboru Nishide e Seiji Onoda. Começou nas dependências da IASD Central Paulistana, que está localizada no bairro da Liberdade, região onde se concentra a colônia japonesa na capital. Como alguns dos membros residissem nas imediações do Collegio Adventista, na zona sul de São Paulo, construíram seu primeiro templo no Capão Redondo em 19 de setembro de 1981. Contavam, então, com cerca de 80 membros.

Ainda, é necessário mencionar a contribuição de Kiyoshi Hosokawa, primeiro pastor adventista nissei. Nasceu no Brasil, filho de Sueo e Tsutae, administradores da fazenda Rikkokai, na região noroeste do Estado de São Paulo. Seus pais receberam a visita de Shirai, que vendia livros religiosos adventistas (colportagem – o que é isso?) e incentivou o patriarca a enviar seus dois filhos ao Collegio Adventista em 1948. O primogênito, embora chegasse a se batizar e a estudar durante um ano, retornou, e Kiyoshi permaneceu por 11 anos trabalhando e estudando desde o curso de admissão até a conclusão do secundário e do superior. Foi pastor adventista entre os nacionais, atuando diretamente com os japoneses apenas um ano, na aposentadoria do pastor Kanada, em 1974.

Ao analisarmos as trajetórias destes quatro pastores adventistas, chama-nos à atenção que não tenham se casado com japonesas. Os dois primeiros, Kanada e Takatohi se casaram com moças descendentes de imigrantes europeus e os dois últimos, Shirai e Hosokawa, se casaram com brasileiras naturais do Mato Grosso e Sergipe, respectivamente. É provável que esse fator se deva ao fato de que o acesso à educação das moças japonesas fosse bastante restrito, e para esses pastores o casamento com brasileiras ampliasse sua integração e aceitação nas igrejas brasileiras.

O Adventismo entre os japoneses na Região Norte

O pastor Walter Streithorst, contemporâneo de Shichiro Takatohi no Collegio Adventista, enquanto missionário na região norte do Brasil, relata a conversão de Toyoyuki Tamai (1914-2002), um jovem nipônico agrônomo formado em Osaka, que chegara ao Brasil em 1934. Plantou juta em Parintins, Amazonas, na década de 1940. Tamai casou-se com uma jovem adventista brasileira e se converteu à religião da esposa. Os filhos foram enviados para dois colégios adventistas. (STREITHORST 1993) Anos mais tarde, objetivando evangelizar a comunidade japonesa na Região Norte do Brasil, o pastor adventista japonês Kojiro Matsumani radicou-se em Belém do Pará, em 1972. A família Matsunami trabalhou quase dez anos na região, fundando o Centro Nipônico Adventista, onde funcionou uma escola de língua japonesa e uma congregação adventista japonesa. Em 1981 Matsumani ocupou o cargo de secretário da União Sul Brasileira, e trabalhou com outros dois pastores japoneses, Yosaburo Bando e Kiwao Mori, entre os japoneses no Paraná e São Paulo. Matsunami fundou uma congregação japonesa adventista no bairro paulistano da Liberdade, trabalhando notadamente entre jovens e universitários nisseis. Este núcleo deu origem a atual IASD Nipo-Brasileira, nas imediações da estação do metrô Saúde, no bairro Mirandópolis.

Pastores brasileiros nikkeis no Brasil e além mar: o movimento dekassegui

Cerca de 200 mil japoneses aportaram em terras brasileiras durante o século XX. Eles e seus descendentes somam, atualmente, mais de um milhão e meio de nipo-brasileiros que se estabeleceram em várias regiões do país. Atualmente constituem-se na maior comunidade nipônica fora do Japão. Calcula-se que 300 mil brasileiros vivam na terra de seus antepassados ou em movimentos pendulares entre Brasil e Japão.

Uma dezena de jovens nisseis e sanseis recém-conversos provenientes de igrejas brasileiras e japonesas da Região Norte e de São Paulo cursaram Teologia nos anos 1980 e 1990. Três brasileiros ex-alunos do UNASP são missionários adventistas além-mar: Mateus T. Nambu, entre os imigrantes japoneses das ilhas Guam; Hiroyuki Yoshida é evangelista na província de Nagano; e Moysés A. da Silva, na cidade de Hamamatsu, dirige o trabalho entre os dekasseguis.

O Japão é o país que abriga mais imigrantes brasileiros que qualquer outra nação asiática. Na província de Shizuoka, nos últimos quatro anos foram estabelecidas duas congregações adventistas em Hamamatsu e Kakegawa Na cidade de Hamamatsu, com uma população estimada de 800 mil pessoas, aproximadamente 16 mil são brasileiros. A primeira foi estabelecida na cidade de Kakegawa em 2005. A igreja adventista em Hamamatsu é a segunda congregação brasileira no Japão, implantada em 2006; mais recentemente, está se formando um terceiro núcleo em Toyohashi, na província de Aichi.

Undokai e Adventismo

O Collegio Adventista, hoje Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) abrigou centenas de estudantes japoneses em quase um século de existência. Em 1997, passou a celebrar uma tradicional festa japonesa o Undokai, como meio de agregar os descendentes nipônicos da região e fortalecer o projeto de evangelismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia Central Japonesa, que organiza anualmente o evento que tem chamado a atenção da mídia. Em média 600 pessoas se envolvem em programação cultural e de lazer, integrando diferentes gerações em atividades recreativas lúdicas. Embora não tenha registros de conversões resultantes desse projeto, aparentemente tem auxiliado mais no fortalecimento da identidade da Igreja Central Japonesa, composta de descendentes de japoneses.

Discussão

Ao longo da apresentação das histórias de conversão de japoneses ao Adventismo observamos alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, constamos que uma parte expressiva dos poucos japoneses que se converteram ao Adventismo possuíam uma relação com o Cristianismo, aceitaram a mensagem cristã no Japão ou tinham construído um referencial positivo prévio sobre o Cristianismo, de modo que a compreensão da mensagem de um grupo radical dentro da mesma religião poderia fazer sentido. Os próprios japoneses que haviam se convertido ao Cristianismo no Japão, de certa forma, optaram por uma religião não-dominante.

Em segundo lugar, que as histórias de conversão de japoneses ao Adventismo poderiam ser chamadas de conversões individuais. São experiências singulares e basicamente isoladas. O discurso conversionista está nas raízes do Cristianismo, embora a idéia de uma experiência pessoal de conversão não seja originária desta religião (MEEKS 1993). A expansão cristã pela Europa, como demonstra Fletcher (1997), se deu basicamente por uma imposição de cima para baixo, na qual, a conversão dos governantes ao Cristianismo significava que os súditos passariam a ser cristãos. Além disso, ele demonstra em suas análises dos processos de conversão que, mesmo quando não houve imposição de uma nova religião por parte dos governantes, se deu um processo de aceitação da religião (muitas vezes “invasora”) da classe dominante. Provavelmente, a motivação estava em obter melhor condições de vida ao compactuar com a religião da classe dominante. Assim, a conversão não se dá apenas no plano individual, mas também social.

Hefner (1993) destaca que há um processo de racionalidade na conversão e não meramente um sentimento. Suas considerações apontam que a conversão de membros de religiões nativas e tradicionais ao Cristianismo se deu muitas vezes em função da própria complexidade da religião cristã em relação as anteriores. Isso também pode ser observado na expansão do Islamismo em condições similares. No entanto, a adesão ao Cristianismo não se dá da mesma forma quando os sujeitos vêm de religiões igualmente complexas. Poderíamos afirmar que o trânsito religioso não ocorre de igual forma entre as religiões. Essa questão fica bem demonstrada através do pequeno impacto da pregação adventista sobre os imigrantes japoneses, ainda mais quando o registro histórico demonstra que na realidade a maior parte dos poucos conversos já eram de origem protestante e tinha se convertido em sua pátria, além de terem sido trazidos para o Brasil dentro de um projeto missionário e de emigração conjugados. É sabido, segundo demonstrado por Weber (2004), que as conversões às seitas normalmente ocorrem com mais facilidade nas camadas mais populares da sociedade. É provável que justamente uma parte dos japoneses cristãos tenham se sentido motivados e emigrar por pertencerem às camadas populares da sociedade.

O crescimento da comunidade de japoneses e descendentes apresenta, como foi visto, os primeiros conversos para formar um grupo apenas na década de 1960, quando o grau de assimilação, em parte forçado pela proibição da língua japonesa no período de guerra, era maior. Na realidade, essa comunidade já apresenta mestiços, uma vez que dentro da própria IASD os filhos dos japoneses são mestiços. Assim, aqueles que já possuem uma herança cultural partilhada ficam um pouco mais próximos da mensagem adventista. Quando Fletcher (1997) destaca o sentido da conversão como uma vantagem na relação com uma cultura dominante, ela acaba por explicar por que não há praticamente casos de japoneses budistas que se converteram ao Adventismo. Afinal, se era necessário ter uma relação amistosa com a cultura seria mais significativo converter-se ao Catolicismo do que há um grupo, ainda que cristão, hostil à sociedade brasileira. O movimento de conversão de descendentes de japoneses ao Adventismo a partir da década de 1960, inclusive com uma parte deles sem interesse em participar das igrejas étnicas, demonstra, em nosso entender, que a assimilação cultural faz com que essas conversões devam ser estudadas dentro de um outro contexto. Pierucci (2006) sugere, no entendimento do processo de conversão atual no campo religioso, que o atual contexto atua contrariamente a identidade cultural na adesão religiosa. Assim, o processo das poucas e pontuais conversões de japoneses ao Adventismo não se relaciona com adesão de descendentes de japoneses, eventualmente, ao Adventismo em nossa época.

Os relatos e os biografados nesta pesquisa indicam quase um sentido pessoal da adesão dos primeiros japoneses ao Adventismo no Brasil. É importante destacar que mesmo esses convertidos não parecem, no primeiro momento, planejar um trabalho específico entre as colônias japonesas. Apenas no início da década de 1960 é realizado um pequeno trabalho no bairro paulistano da Liberdade, reduto oriental em São Paulo. O fato, porém, de a igreja ter sido construída no bairro do Capão Redondo, a cerca de 20 quilômetros da Liberdade, e o reduto mais importante do Adventismo no Brasil, onde se situa o Centro Universitário Adventista, sugere que houve dificuldades em continuar um trabalho específico para alcançar a comunidade japonesa, que de fato cada vez mais se integra e se mistura à sociedade brasileira. Nas igrejas dessa região encontramos vários descendentes de japoneses em igrejas brasileiras.

Considerações finais

Essas narrativas ajudam a compreender melhor um pouco da conversão religiosa entre o imigrantes japoneses no Brasil, ressaltando que, ao contrário do imaginado, uma parte dos japoneses que migraram eram cristãos protestantes. Também contribuem para uma melhor compreensão dos processos de adesão religiosa, revelando que a conversão do Budismo para o Adventismo (uma forma cristã mais radical) foi do ponto de vista social inexistente, restringindo-se a casos isolados, do qual, na fase inicial apenas um bem documentado. Apesar de ser pequeno o número de japoneses convertidos, constatou-se que eles se engajam no ministério adventista, uma vez que a maioria acaba realizando trabalhos de longa e significativa contribuição para a consolidação do Adventismo no Brasil.

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Notas

[*] Professor de História no UNASP, Mestre em História pela USP.

[**] Professor de Ciências Socias no UNASP, Doutor em Ciências Sociais e Religão pela UMESP

[1] Os adventistas pensavam inicialmente que no Céu havia um Santuário no sentido literal e que Jesus Cristo entra nessa data na parte do Santíssimo, seguindo o paralelo existente no Santuário hebreu descrito no Pentateuco. O Sumo Sacerdote no Santuário hebreu entrava apenas uma vez por ano no Dia da Expiação, no Santíssimo. Assim, os adventistas viam Jesus Cristo fazendo esse mesmo rito, mas apenas uma única vez. Com o passar do anos, alguns tem defendido uma visão mais espiritual desse Santuário Celestial, sendo que a profecia iniciaria uma nova fase no processo celestial de salvação e não uma passagem física de um local para outro.