Editorial - REVER número 2, ano 6, 2006

Modernidade, Pós-Modernidade e Religião: Debates, Desafios, Perspectivas

A velha Modernidade, inaugurada há centenas de anos, de longa data vem apresentando inequívocos sinais de esgotamento. Pululam críticas, deserções, amargura pelas promessas não cumpridas; percebe-se uma busca intensa de novos rumos. Há algumas décadas, um termo, polêmico, impreciso e até oscilante em seu próprio enunciado (Pós-modernismo? Pós-Modernidade? Condição Pós-moderna? Pós-Estruturalismo? Hiper-Modernidade?) aparece e conquista amplo espaço em quase todas as áreas do saber e da cultura. Este número da REVER não pretende tomar partido nem ir fundo na polêmica sobre a Pós-Modernidade. Mas é inegável estarmos vivendo uma era heurística e até limiar. Transpondo para o contexto mundial hodierno as palavras de Paulo Freire, quando escrevia, nos anos 60, sobre a sociedade brasileira em transição, é possível notar “um choque entre um ontem esvaziando-se mas querendo permanecer e um amanhã por se consubstanciar, que caracteriza a fase de trânsito da nossa época como um tempo anunciador”. Para Freire, o tempo de trânsito é mais do que simples mudança. “Implica em uma marcha acelerada da sociedade à procura de novos temas e novas tarefas” (FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade, 12ª.ed. Paz e Terra,1981:46).

Essa fase heurística impregna a sociedade, as ciências, a cultura e os estudos da religião. Neste número, REVER abre espaço para trabalhos que buscam focalizar a religião na arena dos debates fronteiriços entre a Modernidade e a Pós-Modernidade e apontam novos temas e tarefas para a fase de trânsito que vivemos.

Artigos

A secção inaugura-se com dois trabalhos de cunho filosófico. O primeiro, Deus e crenças religiosas no discurso filosófico Pós-moderno, de José J. Queiroz, organizador deste número, inicia-se com uma tomada de posição acerca do debate sobre a Pós-Modernidade. Depois, apresenta alguns discursos de notáveis filósofos pós-modernos sobre a religião e o seu retorno na atualidade, e finaliza discutindo as possibilidades e os limites que a filosofia da linguagem, a partir das Investigações Filosóficas de Wittgenstein, oferece para o estudo das crenças religiosas.

O segundo artigo, Nietzsche: um tipo de asceta, de Mauro Araújo de Souza, mestre em Ciências da Religião e doutor em Filosofia pela PUC-SP, discorre sobre um aspecto pouco trabalhado nas obras do famoso filósofo. Embora Nietzsche se localize, no tempo, em plena Modernidade, suas críticas aos pilares do pensamento ocidental, ao logocentrismo, à metafísica e ao seu fundamento teológico, colocam-no entre os precursores do pensamento antimoderno e pós-moderno.

O ascetismo de Nietzsche, segundo o autor, se opõe ao religioso ou transcendente e ao ascetismo filosófico de Schopenhauer, e assume uma ascese na imanência. Nietzsche seria o próprio protótipo do asceta afirmativo, aquele que sofre de abundância de vida, que necessita também dos obstáculos para resistir, ultrapassar e encarar a tragédia como necessária ao crescimento. Nietzsche asceta encara o fatum (destino) como amor e encarna o ideal dionisíaco.

O terceiro artigo, de José Maria da Silva, professor das Faculdades Integradas Vianna Junior, de Juiz de Fora, e coordenador do Grupo de Pesquisa O Mundo Religioso e a Pós-Modernidade, da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR), adentra nas proximidades entre Teologia e Pós-Modernidade a partir das reflexões do teólogo suíço Hans Kung e do filósofo e teólogo espanhol André Torres Queiruga.

Kung escreve, em 1986, uma obra desafiadora, Teologia para a Pós-Modernidade: fundamentação ecumênica (infelizmente ainda não traduzida no Brasil), na qual busca encontrar perspectiva e desenvolver um programa para uma Teologia, segundo ele, imersa em múltiplas tensões, em direções cambiantes e sistemas diversos, sofrendo uma crise de credibilidade e clareza. A Teologia, afirma Kung, no prólogo da obra, só poderá alcançar uma nova credibilidade e relevância social apresentando a fé cristã com uma responsabilidade científica fiel ao seu tempo e ao Evangelho. Trata-se de um passo para um mundo novo e um novo tempo que, embora não sejam considerados como “a irrupção de uma nova era, muitos sociólogos já não se atrevem a qualificá-los ingenuamente como modernos mas de preferência como pós-modernos”.

Abordando algumas obras do teólogo, em especial o Projeto de Ética Mundial, José Maria da Silva delas extrai indicativos para apontar as dificuldades que as religiões encontram na atualidade e as mudanças que lhes cabe assumir diante das exigências pós-modernas. O articulista busca também precisar o sentido que a Pós-Modernidade assume na teologia de Kung.

Também em Torres Queiruga o autor focaliza proximidades com as possibilidades pós-modernas, analisando particularmente a obra Fim do Cristianismo pré-moderno: desafios para um novo horizonte, que contém uma proposta de aproximar o atual labor teológico aos grandes temas hodiernos no âmbito de um “marco geral” anunciador de uma mudança radical na fronteira dialética entre Modernidade e Pós-Modernidade. O articulista também trabalha as posições que, segundo Torres Queiruga, o Cristianismo deveria assumir para ocupar “o vazio” ocasionado pelo abandono das formas tradicionais de religiosidade, tendo diante de si o espetáculo paradoxal do nosso tempo, o desencantamento do mundo (ateísmo, secularização) no bojo de uma sociedade novamente povoada de deuses.

Partindo para um bloco de análises de cunho sociológico, temos o quarto artigo, de Rodrigo Portella, mestre em Ciências da Religião pela UMESP e doutorando em Ciências Sociais da Religião pela UFJF, Religião e Secularização na Pós-Modernidade, que retoma e amplia a discussão de um dos temas levantados por Queiruga e expostos no trabalho anterior, o paradoxo de um mundo secularizado ao lado do vigoroso retorno das manifestações religiosas. O articulista indaga se a religião assume novas feições nesse mundo secularizado e se a secularização, por sua vez, influi sobre as novas e antigas formas de religião.

Em busca de resposta, o autor inicia colocando em foco a questão central - as relações entre sociedade contemporânea e religião - que, segundo ele, são paradoxais, pois a religião não se extingue com a secularização, mas ganha novas formas e contornos, embora os grandes sistemas religiosos percam o controle do universo cultural, social e individual. Em seguida, focaliza um conceito amplo de religião na Modernidade, possível ser encontrado em atitudes secularizadas, “não sacras”, que conferem sentido a sujeitos e grupos, constituindo um crer disseminado em pequenas estruturas de crenças. Todas essas formas de religião na sociedade (pós) moderna reforçam a religião funcionando como indicativos da desregulamentação religião/instituição.

Segundo o autor, a Modernidade e a Pós-Modernidade mostram uma profunda ambigüidade, porquanto a secularização da sociedade é acompanhada de uma revitalização do universo religioso, sendo de grande relevância o surgimento das emoções como resposta a um universo racionalizado, no qual acontece a fuga dos deuses. E o próprio pluralismo religioso da (Pós) Modernidade se torna simultaneamente fator e resultado da secularização. Os deuses persistem e convivem com o avanço da secularização.

No quinto artigo, Ana Donnard, Bolsista Pós-Doutorado Junior da FAPEMIG atuando na Faculdade de Letras da UFMG e membro do NEAM - Núcleo de Estudos Antigos e Medievais, trabalha o tema As origens do neo-druidismo: entre a tradição céltica e a Pós-Modernidade. O neo-druidismo pode ser tido como uma das múltiplas formas que caracterizam o constelação de espiritualidades e religiosidades da Pós-Modernidade. A autora investiga esse tema na matriz do Celtismo, que se projeta nos discursos neo-druidas bretões. Apresenta um itinerário histórico dos druidas desde a antiguidade até a era romântica e a Pós-Modernidade. O druida, “aquele que tem conhecimento”, segundo a definição etimológica da Armórica, vem de um passado longínquo, mas a oralidade e a ausência de textos escritos dificultam a reconstituição dos ensinamentos lógicos e mitológicos desse povo. A teoria interpretativa do antigo Druidismo se faz mediante a análise dos textos mitológicos cristãos irlandeses do século VI.

Dada a extensão do tema, a autora não focaliza o neo-druidismo no Brasil e na América Latina, limitando-se a trabalhar a reconstrução ou ressignifcação dos neo-druidas na Pós-Modernidade no âmbito do segmento bretão, que, segundo a autora, não se configura como religião, mas como expressão de uma espiritualidade singular ligada ao culto da natureza e à tradição oral dos bardos, poetas das cortes medievais e detentores de uma memória arcaica. Esse neo-druidismo está ligado de forma consistente a dois personagens lendários, Artur e Merlin, que fizeram sonhar não apenas os bretões místicos, mas toda a Europa medieval, gerando o que mais tarde seria a matéria do Graal, que se vê relançada na Pós-Modernidade “com os fenômenos editoriais de exploração fácil do gesto mundano pelos mistérios de toda sorte, como o 'Código Da Vinci'”.

O sexto trabalho, que também caminha pelo viés sociológico, é apresentado por Jorge Cláudio Noel Ribeiro, professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP, sob o título Georg Simmel, pensador da religiosidade moderna. Em Simmel (1858-1918), o articulista vai buscar referências teóricas para embasar uma pesquisa de campo em desenvolvimento, no Departamento ao qual é filiado, intitulada Perfil da Religiosidade do Universitário - um estudo de caso na PUC-SP.

Embora seus escritos tenham sido produzidos há mais de 80 anos, Simmel, tido como um dos fundadores da Sociologia Alemã, é hoje redescoberto como precursor do pensamento atual ao propor várias categorias teóricas que até se aproximam das posições da Pós-Modernidade. De fato, guiando-se por uma concepção pragmatista, Simmel, segundo a leitura do articulista, recusa a existência de verdades absolutas e afirma a vida como valor supremo e critério da verdade e do erro. Não há realidades puras; elas sempre existem “para alguém” e a realidade humana é um mundo formado em moldes diferentes, no qual arte e religião ocupam espaço relevante. A sociedade é um acontecimento e as “sociações” (neologismo de Simmel) têm origem nas ações recíprocas entre os indivíduos.

A categoria mais fértil de Simmel, trazida como base da pesquisa, é a sua distinção entre religiões e religiosidade. À diferença das religiões, a religiosidade é uma dimensão humana, identificada com a fé do individuo na sociedade, que envolve toda a existência e lhe confere sentido. Ela pode tornar tudo religioso, embora, em si, nada seja religioso. A religiosidade é tida por Simmel como “qualidade da alma” anterior a formulações doutrinárias e rituais. Essa posição foi tida como fundamental para iluminar uma “vivência profunda” encontrada nos sujeitos pesquisados. Em uma população altamente secularizada, como os universitários, a pesquisa desvendou uma intensa disposição “piedosa”, envolvendo uma racionalidade que freqüentemente assume características de sacralidade.

Fórum

Nesta secção, temos o texto O Sagrado e o Moderno, de autoria de Marcelo Perine, professor no Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUC-SP e coordenador da área de filosofia da CAPES. O autor começa focalizando as raízes da nossa Modernidade, período histórico iniciado no século XVII, no qual surge o fenômeno típico da filosofia ocidental, a “virada antropocêntrica”. São revisitados vários filósofos, que colocaram os pilares dessa virada, na qual se descobriu “o Homem” e “a subjetividade”.

Em seguida, passa a tratar do problema de Deus e sua raiz filosófica. Deus entra no discurso filosófico pela tentativa de transpor as certezas pré-racionais para o registro da razão demonstrativa e, em última análise, porque, pela sua atitude de fé, vivida na história, o ser humano se compreendeu como humano e, nessa compreensão, acabou explicitando uma nova categoria do discurso filosófico.

O esquema de processão e retorno do neo-platonismo - tudo procede de um Primeiro Princípio ao qual tudo retorna - traduz a matriz teológica que está na base do pensamento filosófico ocidental até Kant. Nesse esquema, o mundo pensado como grandeza teológica, independemente de ser concebido ou não como obra de Deus, torna-se o pressuposto epistemológico de todo esse ciclo de pensamento no qual as provas da existência de Deus de caráter cosmológico tiveram uma autoridade superior às outras.

Com a filosofia do sujeito, a partir de Descartes, o problema de Deus situa-se no terreno da própria razão e então vem a prevalecer o argumento ontológico sobre o cosmológico para provar a sua existência. Quando a razão passa a ser o pólo da inteligibilidade do mundo, a ciência moderna caminha na direção de tornar dispensável a “hipótese Deus” para a compreensão do universo, e Kant transpõe o problema de Deus para o plano da liberdade, isto é, da “razão prática”. Já para Hegel, a História, como campo da liberdade, constitui a verdadeira teodicéia. Assim, ele busca restaurar na História a teologia dos antigos filósofos. Com Marx e Comte elimina-se o último reduto de uma teologia natural porque o processo histórico é afirmado como auto-explicativo. Para Nietzsche, a única possibilidade de afirmar a vida como criação de valores é negar o Valor Transcendente, Deus.

Depois da revolução antropocêntrica, do agnosticismo kantiano, do além-homem de Nietzsche e do fim da teologia natural, haveria ainda algum sentido falar do futuro do sagrado? O autor procura responder à indagação afirmando que isso só pode ocorrer se conseguirmos identificar alguma experiência humana, demasiadamente humana, que nos permita resgatar a transcendência, sem que, para isso, seja necessário negar a imanência. E a última parte do texto é dedicada a essa busca.

Intercâmbio

O texto desta secção, The Power of the Spirits: The Formation of Identity based on Puerto Rican Spiritism, é de autoria de Bettina E. Schmidt, que foi pesquisadora do Departamento de Antropologia da Universidade Philipps de Marburgo, Alemanha, professora visitante do Departamento de Estudos Porto-riquenhos e Latino-americanos da City University de Nova Iorque e, atualmente, professora do Departamento de Estudos da Religião da Universidade de Oxford.

A autora não pretende descrever as principais características do Espiritismo, mas quer mostrar como essa religião foi usada para definir uma demarcação étnica em dois diferentes contextos, no século XIX, entre os peninsulares e jibaros, e no século XX, entre porto-riquenhos e outros latinos nos Estados Unidos. De certo, o Espiritismo não é o único critério dessa demarcação; ele constitui apenas um dos elementos. Mas, segundo a autora, os sistemas de crenças populares devem ser levados em consideração toda vez que se pretende entender o modo do povo criar a sua identidade.

Bettina Schmidt aponta várias diferenças entre as características do Espiritismo porto-riquenho e o brasileiro. Uma das suas afirmações mais interessantes é que o Espiritismo no Brasil, em suas várias manifestações, Kardecismo, cultos afro-brasileiros, nunca chega a influenciar a auto-identificação do nosso povo, como acontece no Espiritismo porto-riquenho. Entretanto, ao final do trabalho, a autora chama a atenção para um aspecto importante: a identidade nunca é fixa ou estática, mas se altera de acordo com as circunstâncias e os objetivos dos sujeitos sociais. E a religião entra como pedra angular nesse processo. A ampla bibliografia, que aparece ao longo do texto, serve como indicativo para quem desejar aprofundar a riqueza dos temas apresentados pela autora.

Resenhas

A primeira resenha, elaborada por Cleusi Gama da Silva, focaliza a obra do sociólogo Rodney Stark, O crescimento do Cristianismo: um sociólogo reconsidera a história, livro recém-publicado pela editora Paulinas; e a segunda, redigida por Maria Aparecida dos Reis Pereira, expõe o livro do filósofo Evilazio Borges Teixeira, Aventura pós-moderna e sua sombra, editado em 2005 pela Paulus.

Grupos de Estudos e Pesquisa sobre Pós-Modernidade e Religião

Neste número de REVER é oportuno informar aos leitores que existem no Brasil pelo menos três grupos instituídos que trabalham a temática Pós-Modernidade e religião:

1. Na PUC-SP, desde a década de 90, estuda-se o tema no âmbito do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião. A preocupação inicial, em 1996, foi a abordagem do tema em uma atividade programada oferecida a alunos do Programa e de outras áreas sob o título Deus no discurso filosófico da Pós-Modernidade. Teve início com a discussão de A religião e o sagrado nas encruzilhadas da Pós-Modernidade, que deu origem a um capítulo homônimo do livro Interfaces do Sagrado em Véspera de Milênio (PUC/CRE/Olho d´Água, 1996). Depois, foi focalizada A crise dos grandes relatos e a religião, com uma leitura crítica da obra de Lyotard, A condição Pós-moderna. Este estudo também veio à luz integrando o livro Religião Ano 2000 (CRE/Loyola - 1998). Posteriormente, por ocasião da virada do milênio, estudou-se o tema da relação Milênio e futuro no discurso filosófico Pós-moderno, também publicado no livro Milenarismos e messianismos ontem e hoje (PUC/CRE/Loyola, 2001). A polêmica posição do Baudrillard sobre o desaparecimento do real na era dos simulacros e da simulação colocou a questão sobre a persistência da realidade religiosa: Deus se torna um simulacro sem consistência? Esse debate levou a uma busca de aprofundamento da experiência religiosa na Pós-Modernidade. Entre outros autores, teve destaque o Pós-moderno Vicenzo Vitiello, na obra Cristianesimo senza redenzione e a sua tese de que o mal do mundo não é redimível, o Cristianismo coloca o finito no coração do infinito e Cristo simboliza a experiência da infinita ausência do infinito. Foi estudada a obra seminal de Francesco Crespi, A experiência religiosa na Pós-Modernidade (EDUSC, 1999). Gianni Vattimo, na obra Credere di Credere (tradução portuguesa Acreditar em Acreditar, Lisboa, Relógio d´Água, 1998), também foi debatido na sua proposta de uma experiência de fé para além da metafísica, tendo por base a kenosis decorrente do pensamento e da moral “fraca”, características da Encarnação de Jesus. A questão do retorno da religião, que preocupou notáveis filósofos pós-modernos, cujas conferências aparecem na obra A Religião (ed. Estação Liberdade, 2000), teve ampla repercussão no curriculum da Atividade Programada.

A partir desses estudos e pesquisas, que se projetaram em várias dissertações de mestrado, oficializou-se, em 2003, o grupo Pós-religare - Pós-Modernidade e Religião, alocado no Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião da PUC-SP, de caráter interinstitucional e certificado pelo CNPq. O objetivo do grupo é estudar e pesquisar a relação Pós-Modernidade e religião, tendo como linha de investigação a religião nas fronteiras da linguagem. Com esse propósito, a partir de autores modernos e pós-modernos, vem discutindo e pesquisando temas como a possibilidade da linguagem expressar a experiência religiosa, os limites e o alcance da linguagem nos discursos religiosos, os discursos da violência no âmbito religioso, os jogos de linguagem e a religião, a hermenêutica em enfoque moderno e Pós-moderno, o símbolo na vertente fenomenológica e na leitura pós-moderna. O grupo também organiza ou participa de atividades (encontros, cursos, palestras) e publicações relativas ao tema e está elaborando um banco de dados sobre Pós-Modernidade e religião.

2. Na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), há alguns anos, está em atividade um grupo de pesquisa Religião e Pós-Modernidade, fundado e coordenado até o presente pelo professor Jaci Maraschin (que, infelizmente, se aposenta do magistério neste ano e deixa a UMESP). Alocado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade, o grupo vem introduzindo grande número de alunos no debate dos temas que tocam a religião na “condição pós-moderna”. Em 2004, fundou a Associação Brasileira de Estudos da Pós-Modernidade - ABEP - com o objetivo de “oferecer aos estudiosos da condição pós-moderna, espaço de criatividade, pesquisa, intercâmbio de idéias e ambiente de liberdade para o exercício da crítica acadêmica”. A Associação não se declara nem proselitista, no sentido de procurar propagar as assim chamadas idéias pós-modernas, nem “posmofóbica”, no sentido de militar contra o estudo de diversos autores considerados, em geral, pós-modernos. Em 2005, a Associação lançou a revista eletrônica Margens, de periodicidade semestral (http://www.margens.org.br), com o objetivo de publicar trabalhos sobre temas relativos aos seus objetivos, elaborados por seus membros e por outros colaboradores. À guisa de exemplo, no ano 1, nº. 1, de março de 2005, foi publicado o trabalho História e Pós-Modernidade; no ano 1, nº. 2, Jacques Derrida e o futuro da religião; no ano 3, nº 2, de abril de 2006: Da teologia à Pós-Modernidade - A trajetória do pensamento de Jaci Maraschin; Vestígios do Sagrado na Pós-Modernidade; Religião e Secularização na Pós-Modernidade.

3. Na Associação Brasileira de História das Religiões - ABHR - atua, há dois anos, o grupo de pesquisa O Mundo Religioso e a Pós-Modernidade, coordenado pelo professor José Maria da Silva. Segundo o coordenador, o número de participantes aumenta a cada congresso da ABHR “devido à grande paixão que o tema desperta atualmente: como pensar o dado religioso num momento de extrema relativização de valores em todos os setores do viver”. A linha que norteia as discussões, debates e pesquisas está assim formulada: “a diversidade de expressões e relatividade aparecem no mundo hodierno como realidades presentes. Pretende-se, neste grupo de pesquisa, observar as relações entre pluralismo e relativismo, características fortes da Pós-Modernidade, no que tange especificamente ao aspecto religioso. As grandes explicações e certezas religiosas com pretensões de abarcar a todos cedem paulatinamente lugar, não sem reações e fundamentalismos, a uma pluralidade de efêmeras tentativas explicativas. Compreende-se que todo ponto de vista é a vista de um ponto”.

Finalizando este editorial, podemos afirmar que o itinerário da REVER, no número em pauta, na esteira dos trabalhos elaborados pelos autores, convida o leitor a um mergulho nas águas profundas, que banham as fronteiras entre a Modernidade e a Pós-Modernidade, no campo religioso. Um campo vasto de temas desafiadores e ao mesmo tempo ricos de possibilidades e perspectivas. Boa leitura!


José J. Queiroz

Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-SP e coordenador do grupo de pesquisa Pós-religare - Pós-Modernidade e Religião - certificado pelo CNPq.