As Representações Sociais do Corpo e da Sexualidade no Protestantismo Brasileiro

Antônio Maspoli de Araújo Gomes[*] []

Resumo

Esta pesquisa busca explicitar as representações sociais sobre o corpo e a sexualidade veiculadas no protestantismo brasileiro através da literatura publicada sobre este tema para o consumo dos membros de igrejas. Inicialmente foram traçados dois objetivos: a) Explicitar as representações sobre o corpo e a sexualidade na patrística, bem como no protestantismo de Martinho Lutero e João Calvino; e b) Demonstrar como as representações do corpo e da sexualidade têm sido representadas na produção editorial e acadêmica na pedagogia sexual do Protestantismo.

Palavras-chave: Protestantismo, corpo, sexualidade.

Abstract

This research intended to clarify the social features on the body and sexuality linked to Brazilian Protestantism, as viewed in the literature already published on this matter, for the use of church members. Primarily, two goals were established for this academic research. Firstly, it intends to demonstrate the features on the body and sexuality according to the patristic thought as well as in the Protestantism, represented by Luther and Calvin’s thought. Secondly, it intends to show how the features on the body and sexuality have been portrayed in the academic and editorial production, moreover in the pedagogy of Protestantism.

Key Words: Protestantism, Body, Sexuality.

“Pra entender a asserção de Rabi Shimon, devemos observar sua ênfase: não encontrei nada melhor para o (corpo do) homem do que o silêncio’; para assuntos relativos ao corpo, para temas físicos, quanto menos conversa, melhor”.[1]

1. Introdução

O corpo humano é construído socialmente e historicamente determinado: tem uma história e conta uma história. A história do corpo confunde-se com a história da filogênese humana, isto é, com a história do desenvolvimento da espécie. E reflete, de certo modo, a história social da humanidade. Neste sentido, repercutem também sobre o corpo as contribuições das representações sociais construídas a partir das crenças e idéias religiosas. Esta assertiva é absolutamente válida quanto às representações do corpo no Cristianismo, que foram edificadas a partir da teologia cristã. Já a história contada pelo corpo, na ontogênese, no desenvolvimento do indivíduo, reproduz de certo modo a história da filogênese e incorpora o repertório de representações coletivas oriundas de uma determinada cultura num determinado intervalo de tempo, isto é: o corpo é histórico. Ele carrega consigo, na história do corpo individual de um determinado indivíduo, a história do corpo da humanidade, do corpo da espécie. Esta afirmação torna-se válida também quanto à sexualidade humana. O homem exerce a sexualidade num espaço de tempo determinado e perpassado pela economia, política, teologia e, em certo sentido, pela religião. Estes fatores, combinados, determinam suas crenças sobre o corpo humano e sua práxis sexual.

O tema do corpo no Cristianismo protestante tem despertado pouco interesse dos pesquisadores no Brasil. Aqueles que pesquisam este assunto ainda são, em sua maioria, ligados às denominações protestantes, e, por esta razão, dedicam seus estudos mais aos verbetes da enciclopédia teológica do que propriamente à formulação de uma teologia do corpo. Uma teologia do corpo parece não encontrar lugar nesta enciclopédia. E a tentativa de inserir o corpo nas pesquisas teológicas ocorre pela via da teologia adjetivada, da teologia pastoral. No Protestantismo brasileiro, a teologia prática reflete a praxis do pastor e vincula-se à tradição denominacional e ao discurso oficial de uma determinada confissão protestante. Isto, certamente, contribui para desestimular os estudos e pesquisas sobre o corpo e a sexualidade. Estas considerações trazem algumas questões à baila: quais as origens cristãs das representações do corpo e da sexualidade na Igreja primitiva? De que forma o corpo e a sexualidade foram representados pelos pais da Igreja? Que lugar ocupa o corpo e a sexualidade na produção editorial veiculada na comunidade evangélica brasileira? Que relação existe entre as representações sobre o corpo e a sexualidade no Protestantismo brasileiro e aquelas da teologia clássica do Protestantismo? De que forma estas representações podem incluir as representações oriundas da cultura brasileira? Quais as implicações das representações sobre e o corpo e a sexualidade sobre a consciência individual? Quais as implicações das representações sobre e o corpo e a sexualidade sobre a saúde mental?

O termo representações sociais, neste trabalho, será utilizado na mesma acepção dada por Durkheim,[2] Moscovici,[3] Jodelet,[4] e Berger,[5] Geraldo Paiva e Welligton Zangari,[6] isto é, aquelas representações coletivas geradas pelas crenças de um determinado grupo, no contexto de uma cultura e que servem para organizar o conhecimento do senso comum responsável pela dinâmica da vida cotidiana. Tais representações podem ser geradas pelas crenças religiosas, pelas crenças científicas, através da mídia, por meio da empresa, por intermédio da família e até nas relações face to face. Nesta pesquisa trabalharemos com aquelas representações veiculadas nos livros sobre o corpo e a sexualidade que circulam no Protestantismo brasileiro.

Destacamos, neste trabalho, as contribuições para o estudo do corpo e da sexualidade, numa perspectiva protestante, dos pesquisadores Zenon Lotufo Júnior[7], (Corpo e dimensão espiritual); Prócoro Velasques Filho[8] (Sobre comportamento protestante); Jaci C. Maraschin[9] (Fragmentos, harmonias e dissonâncias do corpo); Tolentino Rosa[10] (Religião e sexualidade); e, mais recentemente, o trabalho de Robinson Cavalcanti[11] (Libertação e Sexualidade).

Inicialmente, foram traçados dois objetivos para este trabalho: a) - explicitar as representações sobre o corpo e a sexualidade na patrística bem como no protestantismo de Martinho Lutero e João Calvino e; b) - demonstrar como as representações do corpo e da sexualidade têm sido representadas na produção editorial e acadêmica sobre o tema no Protestantismo brasileiro, especialmente na chamada Pedagogia Sexual do Protestantismo.

2. O Corpo nas Representações dos Pais da Igreja do I ao IV Século

Jean Pierre Vernan[12] apresenta o corpo do cidadão grego como legítimo representante do ideal da virtude que traduzia, na beleza das formas perfeitas, o sentimento produzido pela alhetéia, a verdade revelada pela natureza. O corpo grego era considerado o principal instrumento de construção e defesa da polis e, por esta razão, deveria ser modelado pela prática dos esportes e pela arte da guerra. Este corpo, todavia, era considerado neutro em relação à sexualidade, posto que o homem grego não conhecia o conceito de pecado sexual tal como formulado pela teologia cristã. Com algumas modificações, as representações sobre o corpo na sociedade grega foram incorporadas pelo Império Romano.

A conversão do corpo helênico, moldado nos padrões de beleza grego romano, no corpo judaico cristão, obedeceu a um processo de transformação que durou mais de quatro séculos, do século I ao IV século d.C. O historiador Peter Brown[13] realizou um mapeamento desta transformação utilizando como pedra de toque o que ele denominou de "princípio da renúncia sexual permanente" - a continência, o celibato e a virgindade perene – que se desenvolveu nos círculos cristãos deste período.

O corpo no Cristianismo século I é marcado por dois fatores: a esperança escatológica dos primeiros cristãos e a teologia do apóstolo Paulo. Os cristãos aguardavam a segunda vinda de Cristo com a conseqüente manifestação visível do reino de Deus. Esta esperança messiânica compungiu-os a deixar tudo: bens, família, trabalhos, lazer etc. na expectativa da parussia: a volta triunfante de Cristo. Outro aspecto que marcou o imaginário cristão reporta-se à teologia paulina sobre o corpo. Paulo apresenta o corpo como um objeto paradoxal. Se, por um lado, é alçado à condição de templo do Espírito Santo, por outro é marcado pela carne, a natureza adâmica decaída. Este dualismo paulino moldou o pensamento da patrística e se faz presente até hoje nas imagens que o Protestantismo cunhou sobre este tema. São Paulo afirma: “Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance, não, porém o praticá-lo. [...] Infeliz de mim! Quem me libertará deste corpo de morte? Graças seja dada a Deus por Jesus Cristo Senhor nosso.”[14] O grande problema sobre o qual se debruçaram os exegetas da Igreja Primitiva foi definir o que significava carne neste trecho das Sagradas Escrituras. Para alguns, que seguiam a interpretação literal, a carne significava o corpo humano; para outros, que utilizavam a interpretação metafórica, poderia significar a natureza humana decaída. Até Santo Agostinho, no século IV, prevaleceu a interpretação literal na qual a carne estava identificada com o corpo humano. Somente a partir da exegese realizada por Agostinho e pelo teólogos que o sucederem a palavra carne que aparece em Romanos[15] recebeu a conotação de natureza humana. No entanto, o problema da "maldade da carne" apontada por Paulo neste texto ainda não estava resolvida: o corpo está incluído na natureza humana pecaminosa. A interpretação corrente no universo protestante afirma que aqui aparece uma antítese espírito-carne. O espírito humano estaria ligado às suas origens celestiais e o corpo humano umbilicalmente preso às suas origens terrestres conforme Gênesis: “Então Iaweh Deus modelou o homem com argila do solo, insuflou em suas narinas o hálito da vida, e o homem se tornou um ser alma vivente.”[16]

Por outro lado a carne, em Paulo, foi cumulada de uma superabundância de noções superpostas, tornando-se cada vez mais complexa à compreensão do homem comum, do senso comum, que fora atraído pelo Cristianismo. A imagem carregada de sua linguagem confrontou todas as eras posteriores como um teste projetivo: é possível aquilatar, na exegese repetida de algumas simples centenas de palavras das epístolas de Paulo, o rumo futuro do pensamento cristão sobre a pessoa humana. Na época, Paulo reuniu associações que um pensador menos impetuoso talvez mantivesse separadas. A guerra do espírito contra a carne e da carne contra o espírito, no pensamento do apóstolo, expressando a imagem da resistência humana à vontade de Deus, da desobediência de Adão e Eva. Paulo não postulava o corpo humano em si como causa única desse mal tão terrível. A causa encontrava-se na natureza humana decaída do casal primevo. Convém lembrar que Paulo era um mestre instruído, tendo sido reconhecido como Rabi antes da sua conversão e seu encontro pessoal com o Cristo na Estrada de Damasco, tal como consta do relato em Atos Capítulo.[17]

Qualquer que fosse sua causa, o doloroso conflito entre o corpo e a alma era uma realidade da vida - muitos dos pecados que lhe eram mais repugnantes – em particular a luxúria, como expressão de uma sexualidade desregrada e a embriaguez – provinham, obviamente, da rendição às exigências do corpo. Esses pecados não esgotavam a sua complexa idéia da carne. Por mais que a teologia cristã queira abrandar o pensamento de Paulo sobre o corpo, como fez Karl Barth em seu Comentário aos Romanos, o corpo paulino já havia sido estigmatizado pela Igreja como habitação da maldade humana. Karl Barth observa: “Lembremos-nos o que ‘a carne’ significa: mundanalidade desqualificada; (vista justamente pela criatura religiosa) carne é a definitiva e inqualificável mundanalidade. ‘Carne’ quer dizer relatividade, nulidade, contra-senso, falta de sentido.”[18]

Cabe registrar que a melhor solução para a interpretação do sentido da carne no pensamento do apóstolo Paulo continua sendo aquela formulada por Santo Agostinho, Bispo de Hipona, para quem a carne foi interpretada de forma holística para significar o homem em sua totalidade:

“De acordo, porém, com o sentido da Escritura, uns e outros vivem segundo a carne. Com efeito, não chama carne apenas ao corpo do animal, terrestre e mortal, como quando diz: Nem toda carne é a mesma carne, mas uma é a carne do homem, outra a da besta, outra a das aves e outra a dos peixes, mas a essa palavra dá outras muitas acepções. Algumas vezes chama carne ao homem, quer dizer, à natureza humana, tomando o todo pela parte ”[19]

Nunca foi simples para o homem comum, que fora atraído para as comunidades cristãs pela mensagem dos evangelhos de Cristo, apreender tão complexa construção teológica. Para ele, se o corpo era em si mesmo uma natureza fraca, pecaminosa, estava aprisionado à sombra de uma força poderosa, o poder da carne. Todavia, a fragilidade física do corpo, sua propensão à morte e o inegável pendor de seus instintos para o pecado representado pela sexualidade serviram a Paulo como uma metáfora da natureza humana pecaminosa rebelada contra a obediência exigida por Deus:

“Nas cartas de Paulo, o corpo humano nos é apresentado como numa fotografia batida contra o sol: trata-se de uma silhueta negra cujas bordas estão inundadas de luz. Perecível, fraco, ’semeado na desonra’, ’carregando sempre a morte de Jesus’ em sua vulnerabilidade aos riscos físicos e à amarga frustração, o corpo de Paulo era realmente um ‘vaso de argila’. No entanto, já refulgia com certa dose do mesmo espírito que erguera da sepultura o corpo inerte de Jesus: ’para que a vida de Jesus possa manifestar-se em nossa carne mortal”.[20]

Paulo escreveu sobre o casamento e a sexualidade em diversos textos de suas Epístolas. Destaca-se aqui I Coríntios 7.[21] Nesta passagem, ele apresenta a sexualidade como uma concessão divina no casamento, porém estabelece a igualdade entre os sexos nas relações sexuais. Paulo:

“Passemos aos pontos sobre os quais me escrevestes. É bom ao homem não tocar em mulher. Todavia, para evitar a fornicação, tenha cada homem a sua mulher e cada mulher o seu marido. O marido cumpra o dever conjugal para com a esposa; e a mulher faça o mesmo em relação ao marido. A mulher não dispõe do corpo; mas é o marido que dispõe. Do mesmo modo, o marido não dispõe do seu corpo; mas é a mulher quem dispõe. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo e por algum tempo, para que vos entregueis às orações; depois disso, voltai a unir-vos, a fim de que Satanás não vos tente mediante a vossa incontinência. Digo isso como concessão e não como ordem”. [sic!][22]

O Apóstolo Paulo, um celibatário por opção voluntária, coloca o casamento como concessão divina. E, por outro lado, afirma não haver restrições para a prática da sexualidade no leito conjugal. No entanto, o cerne e a novidade deste texto é a igualdade sexual na relação entre os sexos. Marilena Chauí: “O Apóstolo introduz uma inovação sem precedentes, face à antiguidade: a igualdade sexual. Embora diga que a mulher deve obediência ao marido, no tocante ao sexo, a igualdade é a regra.”[23] Fica evidente no pensamento de Paulo que a sexualidade entre marido e mulher é algo que deve ser resolvido entre iguais, sem a interferência de terceiros. A regra de ouro estabelecida pelo "Apóstolo dos Gentios" para nortear a prática da sexualidade é o respeito mútuo a integridade, as necessidades e limites do parceiro (a).

O século II foi pródigo na representação do corpo humano e da sexualidade. Estes foram considerados como representantes da maldade inerente à natureza humana em sua luta insana contra Deus. Dentre os autores que mais influenciaram o pensamento cristão sobre o corpo e a sexualidade neste período destacam-se Hermas, o pastor, Orígenes e Valentino. Com algumas variações, eles construíram seu pensamento a partir da concepção do corpo como mau e, conseqüentemente, como a genuína habitação do pecado. O pecado passou a ser representado pela prática do ato sexual, inclusive no casamento abençoado por Deus e pela própria Igreja. Estes patriarcas vislumbraram nas concepções paulinas do corpo como templo do Espírito Santo um objetivo a ser alcançado nesta vida pela abstinência e elegeram a renúncia sexual como método supremo nesta tarefa.

Transformar-se no templo do Espírito Santo torna-se o objetivo do cristão. Para atingir esta consecução, o corpo deve ser sacrificado pela abstinência, pela renúncia sexual, pela pobreza voluntária e pela penitência. Para tanto, o corpo deve ser privado de qualquer atividade sexual: o beijo, o abraço, o ato sexual, o toque de mãos e até a visão do próprio corpo foram proibidos. Estas concepções foram cristalizadas no Gnosticismo e, posteriormente, no Maniqueísmo. O primeiro pregava a salvação através do conhecimento. Para conhecer, isto é, alcançar a gnose, o homem deve trilhar o longo caminho da purificação espiritual. A via da purificação deve começar pelo próprio corpo, que é considerado mau. O Gnosticismo se constituiu numa dissidência do Cristianismo e influenciou profundamente as concepções do corpo do século II. Na representação dos gnósticos, especialmente de Valentino, o corpo passa a ser considerado como o mal necessário para equilibrar a bondade do espírito que nele habitava. O corpo era um elemento absolutamente estranho ao verdadeiro Eu. Os gnósticos não viam oposição entre a luz e as trevas. O gnosticismo acreditava, contudo, na supremacia da luz sobre as trevas, do macho sobre a fêmea e do espírito sobre o corpo. Daí pregarem, também, sobre a necessidade da superação dos desejos sexuais pela abstinência como forma de purificação espiritual e santificação.

Ainda no século II, Clemente de Alexandria apresenta o corpo como um mal necessário e a sexualidade cristã como uma concessão no casamento. Clemente produziu uma vasta obra: Exortação aos pagãos; do Paidagogos; do Stromateis; Miscellanies; A salvação do homem rico; Contra os judaizantes. Do Paidagogos é um livro de boas maneiras que dá inicio a pedagogia sexual no Cristianismo. Descreve minuciosamente como deve ser o comportamento do cristão à mesa e, especialmente, à cama. O autor detalha o que deveria ser permitido ao casal cristão no ato sexual. Peter Brown: “O Paidagogos foi escrito para dizer como cada um de nós, devemos nos conduzir em relação ao corpo, ou melhor, como regular o próprio corpo”.[24]

Século III. Orígenes relacionou sua doutrina da abstinência sexual com a teologia paulina do corpo como templo do Espírito Santo e do cristão como membro do "corpo vivo" de Cristo. Em sua concepção, aqueles que subjugam a carne ganham como prêmio a morada de Deus em seus corações, tornam-se o templo do Espírito Santo e, nesta condição, membros do corpo vivo de Cristo. Orígenes:

“Vede agora como tendes progredido desde a condição de ínfimas criaturas humanas sobre a face da terra. Tendes progredido para vos transformardes num templo de Deus, e vós, que éreis mera carne e osso, chegastes tão longe que sois um membro do corpo de Cristo”.[25]

Século IV - Do final do século III ao início do século IV temos o surgimento dos "Padres (ou Pais) do Deserto". A sexualização do pecado e o controle da Igreja sobre o corpo havia chegado ao auge com o Maniqueísmo. Mani, seu fundador, teve aos doze anos de idade em Ctésifon, às margens do Rio Tigre, em 228-229, a primeira de uma série de visões que dariam sustentação a sua doutrina. O cerne da sua doutrina é uma visão dualista radical: o Bem, representado pela luz, em luta permanente contra o Mal, representado pelas trevas. A aplicação do Maniqueísmo sobre o corpo afirma que o espírito é bom e o corpo é mau.

Um número cada vez maior de cristãos acreditava que só o deserto era neutro e capaz de domar os desejos pecaminosos do corpo; para lá, portanto, afluíam. Nos lugares montanhosos fixavam suas moradas. Celas simples e parca alimentação, beirando à miséria, só com o necessário para manter a vida do corpo. O ideal do sofrimento e do sacrifício no Cristianismo foi levado ao extremo. Dentre os padres do deserto que mais contribuíram para o desenvolvimento de uma tecnologia para a mortificação e glorificação do corpo destaca-se Pacômio. Este, na realidade, desenvolveu os rituais de controle do corpo e dos desejos carnais a fim de chegar à perfeição adâmica, como demonstra o Paralipomena de Pacômio:

“Assim irmãos, deixai que a alma ensine a sabedoria a este corpo obtuso todos os dias, ao nos deitarmos à noite, e que diga a cada membro do corpo: ’Oh pés, enquanto tendes o poder de vos firmar e locomover, antes que sejais prostrados e fiqueis imóveis, erguei-vos animadamente para vosso Senhor.’ Às mãos, que ela diga: ’chegará o momento em que ficareis frouxas e imóveis, atadas a uma à outra (cruzadas sobre o peito), [...] e assim, antes que pendais nessa hora, não cesseis de vos estender para o Senhor”.[26]

Registra-se, todavia, que o resultado esperado é a absoluta domesticação do corpo humano, como demonstra o chamado Tratamento de Desabituação, mediante o qual o asceta arrancava do corpo todos os desejos representados pela sua excessiva dependência anterior dos alimentos e da satisfação sexual. A pulsão sexual era domada e, às vezes, extirpada. No final do processo, o monge adquiria o aspecto gerado pela repressão dos desejos da carne - alimentar-se, copular, divertir-se ou mesmo rir. O monge ficava domesticado, obediente, manso, auto-centrado, com domínio sobre todas as suas emoções, todos os desejos. A técnica adotada neste processo de santificação aparece com toda força na Carta a um Amigo de Filoxeno, de Mabug:

“Aumentai-lhe, se vos aprouver, o jejum, dos sabás, ou a vigília da noite, ou a leitura ininterrupta, e o corpo não adoecerá, pois ter-se-á acostumado a eles. O estômago ter-se-á reduzido [...] as vias sanguíneas ter-se-ão estreitado e só terão exigências moderadas. Os rins terão adquirido sua saúde natural e não necessitarão de muito calor. O muco terá sido retirado de todos os ossos, e em decorrência da pequenez do corpo, eles não serão enfraquecidos ou prejudicados pela vigília excessiva”.[27]

O quarto século da era cristã é marcado pelo pensamento teológico de Santo Agostinho, Bispo de Hipona. Este não só constrói as bases para a sistematização da teologia cristã em sua obra, como reformula as concepções sobre o copo e a sexualidade. A obra teológica de Agostinho é monumental:. A teologia do corpo e da sexualidade aparece em quase todas e As Confissões[28], A Cidade de Deus[29], Comentário Literal Sobre Gênesis[30] e Do Bem Conjugal e da Santa Virgindade[31], destacam-se entre outras. Sua obra contem as bases da teologia cristã. Dentre os inúmeros assuntos ventilados por ele destacamos em nosso trabalho aqueles aspectos relacionados ao corpo e a sexualidade. O corpo e a sexualidade foram tratados por Agostinho especialmente nos textos supra citados.

Em Agostinho, o corpo deixa de ocupar o lugar de "lobo mau" da espécie, onde o tinham colocado as concepções gnósticas e maniqueístas, para tornar-se parte indissolúvel e importante da pessoa humana. Agostinho percorre um longo caminho de reflexão sobre o corpo, rompe com a tradição dos Pais do Deserto - que considerava o corpo e a sexualidade intrinsecamente maus - e culmina com o ensinamento segundo o qual o cristão deve amá-lo e não odiá-lo. Agostinho:

“Deixai que eu vos expresse isso ainda mais intimamente. Vossa carne é como vossa mulher [...]. Amai-a, repreendei-a; deixai que ela componha um só vínculo de corpo e alma, um vínculo de concórdia conjugal [...]. Aprendei agora a dominar o que recebestes como um todo uno. Deixai que ela sofra a escassez agora, para que então possa desfrutar da abundância”.[32]

Agostinho reformula a noção de pecado original. Ele desvincula o sexo do pecado original e coloca a vontade humana como o centro da rebelião contra Deus. O que o homem deve controlar é a sua vontade, esta é a fonte de todas as virtudes e todos os males. O pecado original consistiu na desobediência a uma ordem divina: o homem e sua mulher não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, conforme disposto em Gênesis: “E Iaweh Deus deu ao homem este mandamento: Podeis comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás que morrer”[33].

Agostinho escreveu sobre a vida sexual dos cristãos e deslocou o foco da abstinência sexual obrigatória, inclusive no casamento, para a abstinência voluntária própria da vocação religiosa. Além da necessidade de procriação, a sexualidade ganha outra função: das relações sociais. Ela deveria pavimentar a estrada da amizade e do companheirismo entre os sexos e servir de modelo para as relações interpessoais. Para o Bispo de Hipona, o ato sexual é anterior à queda. Neste ponto, Agostinho rompe com a tradição patrística e estabelece as condições necessárias para que a cristandade passasse a ver a sexualidade como natural, inerente ao próprio corpo humano e sujeita às leis biológicas próprias. Agostinho:

“É verdade haver muitas classes de libido; quando, porém, se diz simplesmente libido, sem mais nada, é costume quase sempre entender-se a que excita as partes sexuais do corpo. E é tão forte, que não apenas domina o corpo inteiro nem só de dentro para fora,mas também põe em jogo o homem todo, reunindo e misturando entre si o afeto e o ânimo e apetite carnal, produzindo desse modo a voluptuosidade, que é o maior dos prazeres corporais. Tanto assim, que, no momento preciso em que a voluptuosidade chega ao cúmulo, se ofusca por completo quase toda a razão e surge a treva do pensamento”.[34]

Agostinho foi o primeiro a formular uma psicologia sexual da libido quando escreveu sobre a autonomia psíquica da libido como causa da impotência e da frigidez. Com esta proposição, a sexualidade foi efetivamente retirada do eixo puramente espiritual da literatura teológica e posta no âmbito dos fenômenos psicossomáticos. Tanto na impotência, quanto na frigidez, a vontade era escarnecida pelo corpo com a mesma sem-cerimônia do gozo incontrolável do orgasmo - a libido não serve a libido e volta-se contra si mesma num movimento de introversão. Santo Agostinho:

“Assim, coisa estranha, a libido não somente se recusa a obedecer ao desejo legítimo de gerar, mas também ao apetite lascivo. Ela, que de ordinário se opõe ao espírito que a enfreia, às vezes, se resolve contra si mesma e, excitado o ânimo, se nega a excitar o corpo”.[35]

3. As Representações do Corpo e da Sexualidade em Lutero e Calvino

A Reforma Religiosa do Século XVI, considerada a face religiosa do Renascimento, privilegiou a leitura dos clássicos: As Sagradas Escrituras do Velho e do Novo Testamento, alçados pelos reformadores à categoria de Palavra de Deus, o registro seletivo dos atos de Deus na História do seu povo, portanto, a única regra de fé e prática. Em última instância, os reformadores Martinho Lutero e João Calvino elegeram São Paulo e Santo Agostinho como divisores de águas para a solução dos problemas teológicos, e, mormente, àqueles relacionados ao corpo e a sexualidade.

O pensamento de Lutero[36] sobre o corpo e a sexualidade encontra-se em seus sermões e suas cartas pastorais e fundamentam-se, sobretudo, na interpretação da I Epístola de Paulo aos Coríntios. Quanto ao corpo e a sexualidade, pode-se dizer que Lutero foi generoso na comparação com outros homens de sua época. O corpo é considerado o templo do Espírito Santo, a morada de Deus. Não existe conflito entre o corpo e o espírito humano: ambos são faces de uma mesma realidade, unos e indivisíveis. Martinho Lutero: “Que é o templo de Deus? Acaso pedras e madeira? Não diz Paulo: É santo o templo de Deus que sois vós?”[37] Na concepção luterana, a santificação é considerada uma obra da graça de Deus através do Espírito de Cristo. As penitências não são apenas combatidas, são consideradas uma afronta à Pessoa e à Obra do próprio Cristo.

Martinho Lutero escreveu sobre a sexualidade a partir da teologia de Paulo e de Santo Agostinho. Seus escritos destinavam-se a orientar o rebanho protestante que nasceu em torno de suas idéias; contudo, demonstram um avanço nesta questão: a) Não existe uma pedagogia sexual em Lutero. A questão da praxis sexual, isto é, sobre o que deve ser praticado no leito conjugal, deve ser resolvido pelo casal; b) Lutero não apresenta nenhuma relação entre o sexo e o pecado original, portanto, não há nenhuma correlação entre a sexualidade e a culpabilidade humana original; c) A sexualidade é vista como inerente à própria identidade do ser humano. Martinho Lutero:

“Por isso, cada qual tem que aceitar o corpo tal como Deus lho criou, e não está em meu poder transformar-me em mulher, e não está em teu poder transformar-te em homem. Tal como fez a ti e a mim, assim somos: eu um homem, tu uma mulher”.[38]

d) O sexo é considerado como natural e necessário para homens e mulheres, a sexualidade é decorrente da vontade de Deus para a pessoa humana:

“Por conseguinte, assim como não está em meu poder deixar de ser homem, também não estar em meu poder ficar sem mulher. Analogicamente, assim como não estar em teu poder deixar de ser mulher, também não está em teu poder ficar sem homem. Pois aí, não se trata de livre escolha ou decisão, mas de algo necessário e natural: quem é homem tem que ter uma mulher, e quem é mulher tem que ter um homem”.[39]

e) Homens e mulheres devem se respeitar mutuamente no relacionamento sexual. Martinho Lutero:

“E Deus quer que essas boas criaturas sejam honradas e respeitadas como obra divina, e não permite que o homem despreze ou ridicularize a mulher ou a moça. Nem tampouco, a mulher, o homem, mas cada qual honre a pessoa e o corpo do outro como boa obra de Deus, que agrada ao próprio Deus”.[40]

f) O sexo como obrigação, no casamento, deve preservar seu caráter de ato voluntário e altruísta tanto pelo homem quanto pela mulher: “Aqui S. Paulo instrui os cônjuges sobre seu comportamento em relação aos deveres conjugais e fala do dever de atender aos desejos do parceiro. É portanto dever e, ao mesmo tempo, deve acontecer de boa vontade.”[41] g) O marido é obrigado, pelo matrimônio, a garantir e manter o prazer sexual da mulher no leito conjugal e; h) A mulher é igualmente compungida a garantir e manter o prazer sexual do marido; i) Também a mulher tem os mesmos direitos e privilégios sexuais do homem, portanto, deve ser tratada como igual; j) A relação sexual do casal deveria ser mantido inclusive com arranjos e combinações consentidas para garantir o prazer do parceiro no caso de impedimento grave[42]; k) Deus é misericordioso para com os pecados sexuais cometidos no leito conjugal: “Esse dever é a razão por que Deus faz concessões ao estado matrimonial e lhe perdoa coisas que em outras circunstâncias, castiga e condena.”[43] l) a reafirmação de que o pecado original não foi de natureza sexual abriu novas possibilidades para a sexualidade no casamento.

João Calvino pouco escreveu sobre o corpo e a sexualidade. A teologia calvinista, profundamente influenciada pelos escritos de Santo Agostinho, postula que Deus é soberano sobre todo o universo e toda a criação e que o homem foi criado à sua imagem e semelhança. Imagem e semelhança entendidas aqui em sentido espiritual, ético e moral. O homem reflete em sua natureza, embora decaída, aqueles atributos de Deus ligados à ética e a moralidade tais como o amor, a justiça, a santidade e a auto-determinação. Calvino formulou a doutrina da predestinação segundo a qual Deus escolheu, antes da fundação do mundo, alguns homens para a salvação eterna e outros para a danação. O homem predestinado para a vida eterna é livre para fazer a vontade de Deus. Esta servidão voluntária é o sinal e o pressuposto da eleição.

Nesta condição de eleito de Deus, o corpo humano transforma-se no templo do Espírito Santo. No entanto, ao postular o corpo como morada de Deus, a teologia calvinista, longe de resolver o problema do corpo, cria para o cristão um paradoxo ainda maior: como resolver o conflito gerado pelos instintos de um corpo naturalmente animal com a necessidade de preservar este corpo como morada de Deus? Só resta ao cristão calvinista a saída pela ética da via negativa: o corpo torna-se a clausura do cristão, o seu deserto é o mundo, seu corpo, a cela.

Talvez seja esta a forma mais vigorosa de repressão que o ser humano engendrou. O cristão calvinista é chamado do mundo pela palavra de Cristo - Mateus 11:28 Vinde a mim.[44] E em seguida é enviado ao mundo pela mesma palavra - Marcos 16:15: Ide e pregai.[45] No mundo, o cristão deve provar a sua predestinação e sua eleição pela rejeição de todas as formas de prazeres mundanos. O sinal da sua santificação é a clausura em seu próprio corpo, pois seu corpo é seu mosteiro. João Calvino:

“Por esta razão São Paulo conclui que somos templos de Deus, por seu Espírito que habita em nós (I Coríntios 3; 17; 6:19; II Cor. 2. (...) E o mesmo apóstolo com idêntico sentido, algumas vezes, nos chama templos de Deus e outras templos do Espírito Santo”.[46]

Neste contexto, a sexualidade ganha um papel secundário na vida do homem e da mulher: o sexo é permitido, no casamento, como uma concessão divina, um remédio contra a luxúria. Somente no casamento a sexualidade ganha o favor de Deus, sua benevolência:

“Agostinho trata do assunto, e por, muito bem, em seu livro das Vantagens do Matrimônio, e às vezes, em outras partes. Pode-se sumariá-lo como segue: o ato sexual entre esposo e esposa é algo puro, é legítimo e santo; porque é uma instituição divina. A paixão incontrolável com que os homens são inflamados é um vício oriundo da corrupção da natureza humana; mas, para os crentes, o matrimônio é um véu que cobre essas falhas, de modo que Deus não mais as vê”.[47]

O calvinismo é levado de Genebra, na Suíça, para a Escócia por John Knox e posteriormente, chega à Inglaterra. A Inglaterra aderiu ao movimento protestante para resolver os problemas políticos e sexuais de Herinque VIII. Este percebeu no movimento reformado a oportunidade que lhe faltava para se livrar do domínio de Roma e legitimar suas atrocidades sexuais contra as mulheres, suas esposas. A Inglaterra purgou os seus pecados por meio da criação da versão mais radical de que se tem notícia do protestantismo: o Puritanismo. O século XVII viu surgir, a partir da vertente escocesa do Calvinismo, o movimento puritano. A característica central deste movimento foi o conversionismo que deu origem as missões modernas. O pregador puritano acredita na necessidade da conversão do pecador a Jesus. A conversão é definida nesta expressão religiosa como o abandono do mundo e a volta para Deus. Servir a Deus, viver para a sua glória, torna-se o único objetivo do cristão nesta vida. A conversão deve ser marcada por uma profunda e radical mudança de vida da parte do convertido para expressar a consecução deste objetivo.

O Calvinismo ensina que a Queda afetou a natureza humana como um todo, comprometendo especialmente a volição. A vontade humana tornou-se o centro do conflito espiritual: de um lado, o espírito querendo voltar para Deus, do outro, o corpo rebelando-se e voltando-se para o mundo. O mundo é entendido como a ordem de coisas que se rebelou contra Deus. I João: “Nós sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno.” [48]Para solucionar este conflito, o movimento puritano identificou a mente humana como o centro da vontade e o corpo como templo do Espírito Santo. E postulou que “A mente vazia é a oficina de Satanás”. “(Ad tempora)”.Ou, dizendo de outra maneira, é preciso ocupar a mente humana para fugir à tentação pelo Diabo. Para ocupar a mente, o homem deve gastar todas as suas energias no trabalho: trabalhar, trabalhar, trabalhar... Trabalhar até a exaustão, para a glória de Deus. Este é o caminho da santificação puritana. Só resta ao corpo o ideal da ascese para se chegar a este destino: Marilena Chauí, (1991):

”Ascese quer dizer: limpar-se, purificar-se por meio de exercícios físicos, morais e espirituais que liberam a alma das impurezas e imundícies do corpo, particularmente daquela que está na origem de todas as outras: o sexo.”[49]

Nas colônias da Nova Inglaterra, o Protestantismo puritano criou raízes e produziu seus frutos: o corpo como templo do Espírito Santo de São Paulo, Santo Agostinho, Martinho Lutero e João Calvino se transforma pelo espírito puritano em mero instrumento de trabalho; a mente humana, centro de atuação do Espírito Santo na vontade do cristão, transmuta-se em oficina de Satanás; a sexualidade como expressão da identidade humana e das bençãos de Deus converte-se em um mal necessário, perigoso, a ser purificado pelo trabalho e o mundo, palco da atuação de Deus, vira o lugar privilegiado de atuação do demônio. A santificação já não mais significa viver para Deus e sim fugir do demônio e do mundo, o lugar da sua habitação. Evitar o demônio é deixar para trás todos os prazeres mundanos e buscar somente aqueles prazeres espirituais permitidos pela pregação puritana: o serviço divino, o jejum, a oração, a evangelização e, é claro, o trabalho, como observou Max Weber[50], em a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

4. As Representações do Corpo e da Sexualidade no Protestantismo Brasileiro

Boanerges Ribeiro[51] (1979) e Antonio Gouvêa Mendonça[52] (1995) observaram que o Protestantismo brasileiro, em suas origens históricas, vem de duas matrizes: a) O Protestantismo de imigração formado por imigrantes alemães e ingleses de confissão luterana e anglicana, especialmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina; b) O Protestantismo de matriz puritana, de missões, de natureza conversionista, que abrange os presbiterianos, metodistas, congregacionais, batistas etc. Este autor acrescenta uma outra vertente, ainda não pesquisada no Brasil, e que se encontra de igual modo na gênese do Protestantismo brasileiro: é aquele "Protestantismo de Exílio", no qual se inclui o presbiteriano sulista norte-americano, vindo para Campinas, Santa Bárbara do Oeste e Americana após a Guerra da Secessão.[53]

Boanerges Ribeiro e Antonio Gouvêa Mendonça consideram como constituintes do Protestantismo brasileiro aquelas denominações formadas pelo chamado Protestantismo histórico: luteranos, presbiterianos, anglicanos, congregacionais etc. É necessário considerar, todavia, que a partir do primeiro quartel do século XX este Protestantismo ganha novos atores com o advento do Pentecostalismo, a versão moderna e emocional do Protestantismo. Já o Neopentecostalismo surge na segunda metade do século XX como dissidência do primeiro. À semelhança de Pierre Bastian[54] e Willian Read[55], este autor considera que o termo "Protestantismo brasileiro" deve ser bastante elástico para abarcar os pentecostais e neopentecostais, posto que considera que são todos oriundos de um mesmo útero: o Protestantismo puritano norte-americano.

Este Protestantismo é hegemônico na constituição do Protestantismo brasileiro. E, em solo pátrio, produziu uma religião formal, legalista, tristonha, depressiva, cuja maior característica é a importação de paradigmas comportamentais do modelo cultural dos Estados Unidos. The way of life torna-se o paradigma do ideal a ser atingido pelo crente (como é reconhecido o protestante no Brasil) e produz, como conseqüência, aqueles comportamentos estereotipados, como por exemplo, a ética da via negativa, quando o crente se torna conhecido exatamente pela lista de coisas que ele não faz: não bebe, não fuma, não dança, não joga etc. E o ódio e rejeição, quase que absoluta, a todas as expressões da cultura brasileira, como observado por Antonio Mendonça e Prócoro Velasques Filho.[56] E a total condenação de toda e qualquer expressão corporal nos cultos e fora destes e, particularmente, o anátema daqueles aspectos ligados ao corpo e a sexualidade brasileira, tais como a sensualidade, o erotismo, o chamego e o xodó.

4.1 O corpo como templo do Espírito Santo

A teologia do corpo como templo do Espírito Santo e suas implicações para uma ética da sexualidade e mesmo da saúde é praticamente desconhecida dos arraiais protestantes. Simei de Barros Monteiro realizou uma pesquisa sobre os conceitos fundamentais expressos nos cânticos das igrejas evangélicas no Brasil. Nas letras compiladas por esta pesquisadora, nas trocas lingüísticas da hinologia cantada pelas grandes denominações evangélicas nacionais, encontra-se apenas um hino que apresenta o corpo como templo do Espírito Santo numa perspectiva que a autora classificou como libertadora. Simei Monteiro:

Tu nos deste este corpo que é teu templo,
Não queremos destruí-lo;
É tão bom senti-lo livre assim,
Sem amarras e mazelas,
[...]
Tu nos deste este corpo para a vida,
Não o queremos para a morte
, [....]
Tu nos deste este corpo para a glória
E a perfeita plenitude;
Não permita que ele seja
Negação da humanidade
Mas que em Cristo restaurado
Nos revele a tua imagem”
.
(Novo canto da Terra 187).[57]

Este cântico, único em todos os sentidos e não apenas pela expressão do seu conteúdo, pode significar uma mudança de paradigma na compreensão do corpo nas comunidades protestantes. Está evidente que este hino canta a libertação do corpo que foi destinado por Deus para vida e não para a morte (v. 5 e 6); para a glória; e a perfeita plenitude (v. 7 e 8). Estes versos parecem traduzir em sua essência o sentido do corpo como templo do Espírito Santo. Registra-se, contudo, que ainda se não tem notícia de estudos sobre as implicações deste postulado teológico para a expressão da sexualidade. Este cântico, todavia, se constitui numa exceção. Na prática, o que se encontra é um silêncio absoluto sobre o corpo e a sexualidade humana na produção musical e teológica do protestantismo brasileiro. Este vazio é preenchido com a importação de uma ideologia sobre o corpo e a sexualidade cuja tônica tem sido apresentar o corpo como mau e perigoso para a vida espiritual.

4.2. O corpo como habitação do Mal e do pecado

No esforço de demonstrar a maldade que habita o corpo humano, Michael Bitchmaya, autor de uma obra intitulada O Crente, apresenta o modelo moral do que considera como o espelho ético do comportamento do crente: não poupou nem mesmo o corpo de Cristo, considerado humano e perfeito por toda a cristandade ocidental e o apresenta, a partir de uma visão gnóstico-maniqueísta, como paradigma da maldade que habita o corpo humano. Bitchmaya:

“Deus formou o homem do pó da terra. Com sua sabedoria e amor Deus deu forma ao homem, porque por si mesmo o pó nada poderia formar. O pecado deformou o homem de tal modo que quem o tivesse visto antes, vendo-o agora julgaria ser impossível tratar-se do mesmo homem. Isaias 52:14. Mesmo o Filho de Deus, quando se fez homem, diz a Escritura que Ele era o mais belo de todos os filhos dos homens. Mas este homem tão belo foi deformado, desfigurado de tal maneira que a mesma Escritura diz que Ele não tinha beleza, nem formosura. Porque o pecado caiu sobre Ele, e foi desfigurado mais do que todos os homens”.[58]

À semelhança dos Padres do deserto, este autor, após apresentar o corpo humano como a verdadeira habitação do pecado, prescreve uma série rituais de purificação tais como o jejum, o sofrimento e a prática das boas obras como forma de transformar a maldade. A conseqüência natural da representação do corpo como pecaminoso é a sexualização do pecado. Isto leva a crer que a sexualidade é a única expressão de transgressão que restou ao Protestantismo. Este fato pode levar ao empobrecimento do conceito de santificação e da espiritualidade nas comunidades protestante e mesmo uma certa alienação em relação à ética cristã considerada em sua totalidade, como paradigma do relacionamento do cristão com a realidade, como observou Jaci Maraschin:

“A localização do pecado (ou alienação) no corpo humano, mais especialmente no prazer sexual, vem do empobrecimento do conceito de concupiscência significa o desejo de possuir a realidade toda para si. É a perda (alienação) de mim mesmo (portanto, de meu corpo) na busca da posse do que não me pertence. Esse desejo de perdição (pois me anulo, afinal, no todo) refere-se à realidade toda e não apenas a uma parte dela”.[59]

4.3 O corpo como morada do Diabo

Em 1976, Mary Baxter[60], norte americana, membro da National Church of God com sede em Washington, DC, afirmou ter sido levada por Jesus Cristo até o inferno, onde recebeu revelações inefáveis sobre a habitação do demônio e seus seguidores. Em 1995 sua obra foi lançada mundialmente com o título sugestivo de A Divina Revelação do Inferno. No Brasil, a primeira edição deste livro foi lançada em 1995 e já se encontra na 16ª reimpressão. O livro é uma espécie de "anti-apocalipse" - enquanto João, o Evangelista, foi levado por Cristo até o Céu, e narrou sua experiência no Livro do Apocalipse, livro que integra o Cânon Católico e Protestante, Baxter foi levada até o inferno, e descreve sua experiência subjetiva com riqueza de detalhes.

A novidade é que, nesta obra, o corpo humano é apresentado como morada do demônio. Segundo a autora, o inferno foi construído tomando-se como modelo arquitetônico o próprio corpo humano: “Jesus falou novamente: O inferno tem um corpo (semelhante ao corpo humano) deitado de costas no centro da terra. O inferno é como um corpo humano – muito grande e com muitos aposentos de sofrimento.”[61] Aqui a autora destaca que o corpo humano é um espaço destinado ao sofrimento em larga escala. O prazer está diretamente relacionado ao pecado, mormente os prazeres de ordem sexual: “Jesus virou-se para mim e disse: ‘Essa mulher teve relações com muitos homens, levando muitos lares a serem desfeitos. [...] Satanás entrou nela, e ela ficou fria, amarga e não perdoava os outros”.[62]

O Pentecostalismo e o Neopentecoslismo, versões emocionais e contemporâneas do Protestantismo, nutrem-se das práticas de exorcismos. É por meio do exorcismo que se encontra e recrutam-se seus adeptos. Já é folclórica a expressão utilizada pelos pastores e obreiros nos ritos de expulsão de demônios nos cultos de libertação: “Sai deste corpo que não te pertence” (ad tempora). Agora, na visão de Mary Baxter, é o inferno que se alimenta do corpo humano:

“Vi espantada, como os lindos corpos daquelas mulheres começaram a ficar cinzentos, e a se transformarem em carne queimada do inferno. O que antes era perfeito em beleza, agora ficaram nojentos de tanta feiúra. Os lindos corpos se desfizeram até que só ficou uma forma repugnante de morte. Suas formas eram cheias de demônios e de espíritos malignos, serpentes grandes e compridas saiam para fora dos seus estômagos”.[63]

As idéias de Mary Baxter expressam uma importante faceta da subjetividade pentecostal e neopentecostal: o corpo como habitação do demônio. É importante considerar que no Novo Testamento existem relatos de possessão demoníaca, mas jamais o corpo foi tratado como habitação do demônio pela Igreja Primitiva ou mesmo pelos pais da Igreja. Já os reformadores firmaram-se na doutrina do corpo como templo do Espírito Santo. A caracterização do corpo como morada do Diabo parece estar relacionado ao ressurgimento do Maniqueísmo. Konya:

“Além disso, o uso indica que as pessoas endemoninhadas foram habitadas corporalmente por pelo menos um demônio. A expressão de, do demônio entrando, ‘saindo’ ou sendo ‘expulso’ é empregada consistentemente com respeito a pessoas endemoninhadas (Mateus. 8:16, 32; 9:33; 12:22-24; Marcos 1:34; 5:8, 13). Se estes termos sugerem algo, sugere a idéia de um demônio realmente fazer uma residência soberana dentro do corpo da pessoa endemoninhada”.[64]

As conseqüências da idéia do corpo como habitação do demônio sobre a sexualidade humana são previsíveis: a homossexualidade, o lesbianismo, a masturbação, o adultério e até aquelas expressões próprias do namoro, como o beijo e o abraço são tratados como manifestações do demônio. No livro O Eros redimido, conheça as estratégias de satanás em relação aos pecados sexuais e a redenção maravilhosa de Deus para quem o busca, John White apresenta a sexualidade como sendo um pecado de caráter único e demoníaco:

“Sociólogos e psicólogos oferecem teorias descritivas sobre o domínio exercido pelo pecado, mas só vão até aí - a descrição. São incapazes de explicar a verdade. Para isso, temos que nos voltar para as Escrituras. Para começar a entender, é necessário ter claro na mente o fato de que o caráter do pecado sexual é único”.[65]

A atribuição de atos puramente humanos ao demônio libera a consciência de suas responsabilidades ética e moral e subordina esta consciência a um terceiro sujeito, aquele que tem efetivo poder sobre o demônio e, conseqüentemente, sobre o endemoniado. Além de estabelecer uma nítida estrutura de poder e dominação sobre o corpo do possesso, o exorcista torna-se o elo central desta importante cadeia de alienação humana. O ex-endemoniado, agora liberto, torna-se refém do obreiro que o libertou. A alternativa ao rompimento com esta dominação é cair novamente nas garras do diabo, é dantesco. O sujeito fica, portanto, preso numa teia de duplo vínculo, cuja saída só poderá ocorrer pela via da alienação e, ou, da loucura.

5. A Pedagogia Sexual do Protestantismo Brasileiro

Desde René Descartes, com a proposição do paralelismo cartesiano, de modo geral, a filosofia e a ciência consideram o corpo e o espírito como duas realidades distintas. O corpo é considerado em seu aspecto físico e biológico, por isso mesmo, mecânico e orgânico, submetido às leis das ciências biomédicas, desprovido de liberdade, e, o espírito, enquanto consciência, com características imateriais, que se constituem naquilo que se convencionou chamar sujeito, com capacidade de autodeterminação, de pensamento, com vontade própria e autônoma, isto é, com a capacidade de escolha entre o bem e o mal.

O pensamento cartesiano liberou o corpo do domínio da Igreja para o jugo da ciência. Sobre o corpo e a sexualidade debruçaram-se alguns ramos da ciência na tentativa de domesticá-lo e potencializar suas possibilidades de produção do prazer. A sexologia não pretende apenas levar o corpo a produzir aquele prazer que lhe é inerente e, sim, fabricá-lo em quantidade e qualidade capazes de mensuração.

Guido Mantega afirma que as ciências médicas e psicológicas, através da psiquiatria, da psicanálise e mesmo do behaviorismo, assim como das terapias corporais, assumem, às vezes, um papel ambíguo na pedagogia sexual, que posa ora como agente de controle, de repressão da sexualidade humana, e ora postula o papel de agente educador e libertador do prazer sexual. Guido Mantega critica esta postura da pedagogia sexual e afirma que a liberação do prazer pode não significar necessariamente a liberação da sexualidade e da culpa; ele cita como exemplo a indústria da pornografia, que se alimenta essencialmente da repressão:

“O espectador consome simbolicamente uma sexualidade que não consegue vivenciar, a não ser em seu imaginário. Além disso, os filmes mostram o sexo sob uma óptica técnica na valorização do capaz contra o incapaz, com soluções ocorrendo ao nível individual”.[66]

A sexologia combina os conhecimentos da medicina e psicologia cognitiva comportamental com parte do estudo das doenças sexualmente transmissíveis. O sexólogo propõe um tratamento rápido (mínimo de uma semana e máximo de uns seis meses) e promete o orgasmo perfeito. Para tanto, relativiza todos os outros fatores envolvidos na relação sexual, tais como a cultura, a religião, as condições sócio-econômicas do sujeito, suas condições históricas concretas (o que pode significar o simulacro da realidade sexual):

“Tenta-se modernizar a idéia de sexo como pecado, como garantia São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, mesmo sob o beneplácito do matrimônio o sexo não deixava de ser pecado. Não era mais mortal e sim venial apenas – a partir de uma embalagem atraente. Impossível! O terapeuta apenas substitui o padre e, ao invés de distribuir penitências, ele avaliza culpas, traumas, comportamentos neuróticos, etc”.[67]

A pedagogia sexual do Protestantismo brasileiro segue o modelo apontado por Marilena Chauí e Guido Mantega, acrescido de outros fatores próprios do Protestantismo puritano. Neste caso, é exercida por profissionais da fé, pastores, missionários - geralmente norte-americanos ou formados nos Estados Unidos -, o que lhes concede uma aura de especialistas em sexualidade humana. O status que lhes confere o papel clerical os coloca como sexólogos acima de qualquer suspeita, portadores de poderes capazes de resolver os problemas sexuais humanos.

Destacam-se as representações do corpo e da sexualidade nas principais obras publicadas nesta área, de Frank Lawes e Stephen Olford;[68] Jaime Kemp[69]; Nacy Pelt[70]; Ed Wheat e Gaye Wheat[71]; LaHaye e Beverly LaHaye[72]; Carl Brecheen e Paul Faulkner[73];Débora Evans;[74] Tim Lahaye e LaHaye[75]; John White[76]; Estes se constituem todos em manuais de sexologia, norte-americana, traduzidos no Brasil e divulgados na comunidade evangélica brasileira. Dentre estes, destaca-se: O ato conjugal, orientação sexual equilibrada, clara e sem rodeios. Um Manual completo para o casal e, O ato conjugal depois dos 40, orientação prática para melhorar ainda mais o relacionamento sexual dos casais, não importa se já passaram dos 40, 50,60. O primeiro livro foi publicado no Brasil em 1978 e o segundo em 2002, como se observa pelos títulos dos mesmos. O casal, Tim e Beverly LaHaye, pretendem acompanhar a vida sexual dos seus leitores em todas as fases da vida, da juventude à idade madura. Nestas obras, a metáfora da máquina é largamente utilizada pelos autores na compreensão do corpo e das funções sexuais deste. Seus autores ainda não utilizam o modelo computacional mais moderno, derivado da psicologia cognitiva, a nova ciência da mente, utilizados pelos modernos sexólogos. Utiliza-se do carro como modelo para a compreensão da sexualidade humana. LaHaye e LaHay: “Perguntaram a um marido realizado, se já se sentira tentado a experiências extraconjugais, ao que ele respondeu resumidamente, mas de maneira muito clara: Quando se tem um Cadillac na garagem, quem iria tentar roubar um ‘fusca’ na rua? [sic!][77]”. A metáfora do carro é apropriada para o corpo humano nestes manuais de sexologia. Trata-se de guias no estilo self made man.

Estes autores fazem um esforço sério para fundamentar os procedimentos sexuais sugeridos na Bíblia Sagrada, contudo o corpo é tratado como uma máquina que deve ser manipulada a fim de produzir prazer. Ao longo da leitura, tem-se a impressão de que é possível alcançar o máximo de prazer apenas aplicando a tecnologia sexual proposta. Palavras como desejo, erotismo, sensualidade, xodó, chamego, comunhão de corpos, de almas e de mentes são desconhecidas; e o ato sexual apresentado ganha contornos mecânicos. Nestas obras, a sexualidade encontra-se dissociada da identidade do sujeito, portanto fragmentada e compreendida somente como praxis. É bom lembrar que mesmo na Bíblia a identidade sexual é inerente ao ser. No relato de Gênesis: “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: sede fecundos, multiplicai - vos, enchei a terra e submetei-a.”[78] Nesta narrativa da criação, quando Deus criou o homem à sua imagem, ele os criou macho e fêmea. Esta expressão refere-se à identidade do homem e da mulher e, como observa João Calvino,[79] a identidade sexual é o primeiro elemento abençoado por Deus quando das obras da criação.

Observa-se que, nesta literatura, os autores utilizam-se daqueles tipos ideais observados por Weber[80] no Protestantismo puritano. Estes modelos foram estendidos para compreender não só à prática sexual, mas aquele tipo de familiar nuclear rural da primeira metade do século XX, sem nenhuma contextualização ou aculturação. Na aplicação dos tipos ideais supracitados, o homem ainda é apresentado como o provedor do lar, o cabeça da família a quem a mulher deve obediência e subordinação num evidente alheamento às transformações impostas à família a partir das mudanças do mercado de trabalho e da substituição no mundo globalizado da ética do trabalho pela ética do consumo. Tim Lahaye e Bervely LaHaye:

“Deus determinou que o homem fosse o agressor, o provedor, e o chefe da família. Por alguma razão, isto está ligado ao seu impulso sexual. A mulher que desgosta do impulso sexual do marido, embora admire sua liderança agressiva, faria bem se encarasse o fato de que não pode haver uma sem o outro”.[81]

A mulher apresentada nestas obras também é referenciada apenas ao lar, como boa dona-de-casa, mãe de família, aquela mulher que deve viver apenas em função de seu marido e colocar sua sexualidade com o objetivo de manter o lar funcionando. O homem deve receber todo o prazer sexual da mulher. Só resta à esposa oferecer seu corpo no altar do leito conjugal como sacrifício pelo bem-estar da família, um objeto de desejo do marido. Tim Lahaye e Beverly Lahaye:

“Uma esposa é mais que mãe ou dona-de-casa. Ela também é a parceira sexual do marido. Como o homem, se não obtiver sucesso no leito, ela fracassa em outras áreas, por duas razões: primeiro poucos homens aceitam um fracasso sexual sem reagirem carnalmente, ficarem irritados e insultarem a esposa; segundo, quando o marido não aprecia a união com ela, ele o demonstra claramente. A mulher obtém grande parte de sua auto-estima do marido. Aliás, ainda não encontramos uma só mulher com boa imagem própria, que não apreciasse a si mesma como esposa”.[82]

Robinson Cavalcanti, bispo anglicano, publicou algumas obras sobre este tema. Nestas, faz um resumo da moral sexual apresentada pela sexologia protestante. E apresenta aquilo que deve ser objeto do ato sexual. Observa-se que a expressão fere esse padrão aparece em todos os aspectos considerados desviantes. Robinson Cavalcanti:

“Parâmetros básicos e alvos éticos construtivos. Diferentemente de meros costumes e tradições esses padrões, quando rompidos possuem uma dimensão patológica, de riscos, de danos, de negatividade, em si mesmos. Como tudo na vida, há uma permanente tensão entre os alvos éticos de Deus na ordem da criação e antiética representada pelo pecado na desordem da queda. Há certo consenso na ética cristã de que: a) Por certo Deus destinou o ser humano a buscar a realização sexual com outros seres vivos. A necrofilia ou atração sexual por cadáveres fere esse padrão; b) Deus destinou o ser humano à realização sexual com outro ser da mesma espécie. A zoofilia, ou atração sexual por irracionais fere esse padrão; c) Deus destinou o ser humano à realização com o sexo oposto. O homossexualismo fere esse padrão; d) Deus destinou o ser humano a se realizar sexualmente por livre manifestação da vontade. O estupro ou relação sexual à força, fere esse padrão; e) Deus destinou o ser humano à realização sexual por amor. A prostituição fere esse padrão; f) Deus destinou o ser humano a relacionamentos estáveis que crescem e se aprofundam. A fornicação, ou relacionamentos sexuais efêmeros e sucessivos fere esse padrão; g) Deus destinou o ser humano a relacionamentos na amplitude da espécie. O incesto ou relacionamento sexual com parentes próximos fere esse padrão; h) Deus concebeu a atividade sexual como um ato de comunicação interpessoal. A masturbação, ou auto-realização sexual solitária, quando opção permanente fere esse padrão. i) Deus criou o ser humano a incumbência e a capacidade de reprodução da espécie. Ele é a fonte da vida e condena a morte. O aborto, ou destruição do ser enquanto ainda no útero, fere esse padrão; j) Destinou deus o ser humano a fazer da atividade sexual um ato construtivo de afeto. O sadismo, ou prazer em fazer sofrer, e o masoquismo, ou prazer no sofrer, ferem esse padrão”.[83]

A pedagogia sexual do Protestantismo brasileiro reproduz as formas apresentadas pelo Protestantismo puritano norte-americano: a sexualidade da norma, sem nenhum referencial à identidade do sujeito e sem nenhuma referência ao prazer. Trata-se, na verdade, de uma sexualidade ascética, cujo objetivo central é a funcionalidade do matrimônio e a geração de filhos. A dimensão do corpo, nesta expressão sexual, é aquele da máquina que deve funcionar apenas para atingir os objetivos propostos sem nenhuma consideração pela liberdade, autodeterminação e criatividade do sujeito envolvido. O corpo é tratado como um objeto que não tem existência em si mesmo; ele deve funcionar a partir de princípios externos e alheios ao sujeito.

A análise da literatura revista aponta algumas direções para as possíveis conseqüências da pedagogia sexual do Protestantismo: o tratamento da Bíblia Sagrada como caixa de pandora da sexualidade humana; a produção da ética protestante do trabalho; a descaracterização do sexo do outro e a ingenuidade no tratamento de tema tão complexo; a clandestinidade e a promiscuidade.

O Protestantismo, via de regra, reconhece a Bíblia como a Palavra de Deus, isto é a revelação dos atos de Deus na história de forma seletiva, suficiente para dar ao cristão os conhecimentos necessários sobre Deus e sobre os meios de graça para a salvação. A elevação das Sagradas Escrituras à condição de manual de sexualidade humana parece não se coadunar com a intenção de seus autores, considerados órgãos da revelação especial de Deus, e, portanto, preocupados em apontar os atos de Deus na história da salvação e o sentido destes para o homem. Porquanto alguns livros sagrados tratem explicitamente do erotismo - como é o caso dos Cânticos dos Cânticos de Salomão[84]-, as Sagradas Letras não se apresentam como compêndio de psicopatologia sexual, como fazem pensar os manuais de pedagogia sexual apontados nesta pesquisa. A Bíblia Sagrada não é uma caixa de pandora para a solução de problemas sexuais humanos. No âmbito do Cristianismo, a ética sexual desta limita-se, no mais das vezes, a explicitar aquilo que não se deve praticar nas relações sexuais no contexto da religião e da cultura judaico-cristã.

Firmados na ética da via negativa, isto é, apenas naquilo que se não deve praticar, os manuais de pedagogia sexual publicados no Brasil excluem todas as formas de manifestação corporais: o vestuário, a dança, a prática de esportes, o teatro, a coreografia nos cultos, etc. Marilena Chauí observa que o resultado da repressão puritana sobre o corpo e a sexualidade é a produção da ética protestante do trabalho, pesquisada e caracterizada por Max Weber.[85]

“O trabalho é o grande purificador daquilo que o puritanismo chama de vida suja. Nesta, o sexo é central e os puritanos defendem para todos os seres humanos aquela disciplina e contenção que a Igreja Católica havia reservado para a vida monacal. Com a ética puritana é como se o mundo todo virasse um imenso mosteiro. E as idéias sobre o casamento retomam as dos Primeiros Padres da Igreja: freio, remédio e castidade, após a procriação. O trabalho é a finalidade da vida e a vida em estado de graça é a vida operosa. Lutando contra o catolicismo e contra o anglicanismo dos reis ingleses, os puritanos condenavam as leis que instituíam os divertimentos populares: os bailes, os esportes e as representações teatrais.”[86]

Evidencia-se nesta literatura, um total desprezo e descaracterização da sexualidade do outro, do diferente, considerada promíscua e responsável por patologias psicossociais. De outra feita, os textos pesquisados apresentam certa ingenuidade na abordagem de assunto tão complexo: tudo o que contraria os modelos apresentados na literatura da pedagogia sexual do Protestantismo é pecaminoso e mal; já os modelos apontados nesta literatura são sempre considerados santos, cristãos e suficientes para dar conta dos problemas sexuais humanos.

Débora Evans comparou o que considera como os modelos sexuais Humanista, Hedonista e Judaico-cristão. Segundo a autora, a adesão aos modelos Humanista e Hedonista produz como conseqüências necessariamente “Relações em série que levam a: fragmentação do eu; alianças divididas; adulteração da aliança do casal pela formação de múltiplas alianças” [87]. E produz como resultados sociais:

“Filhos indesejados descartados pelo aborto; coabitação vista como algo natural; divórcio visto como algo normal; ampla distribuição de pornografia; prostituição vista como algo comum; maior aceitação de estilos de vida alternativos como casamento em grupo, homossexualidade, troca de casais. Epidemia de doenças sexualmente transmissíveis. Maior tolerância com a vitimização sexual de outras pessoas; aumento do índice de ataques e abusos sexuais [sic!]”[88]

Já para aqueles que adotarem os preceitos sexuais contidos no referido manual, é prometido o paraíso ainda nesta vida, no casamento: Debora Evans (2001):

“Propósito do sexo: O sexo é visto como um meio para um fim: O meio pelo qual se tornam os dois uma só carne; para frutificar a terra para Deus; fim da solidão e do isolamento social; Formas aceitáveis de expressão sexual: Atividade sexual entre um homem e uma mulher somente dentro do casamento; Conseqüências: Um vínculo para toda a vida que leva a: Libertação do pecado; viver em harmonia consigo mesmo e com o próximo; viver em harmonia com Deus. Resultados sociais: A continuação da herança familiar: filhos, netos e bisnetos; respeito pela dignidade e pelo valor de cada pessoa criada à imagem de Deus; rejeição de todas as formas de pecados sexuais - resultando na saúde e estabilidade de nossa cultura.[sic!]”[89]

No artigo Sexualidade - o prazer que liberta, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti apresenta algumas teses sobre a sexualidade humana e conclui que a clandestinidade torna-se a alternativa para aqueles que não se enquadram nos modelos de sexualidade veiculados pela literatura recorrente no Protestantismo brasileiro:

“A clandestinidade, contudo, pode se constituir, muitas vezes, no único caminho possível para os pioneiros, os inovadores e os dissidentes, diante da rigidez da repressão e do desrespeito à privacidade de parte dos sistemas, inclusive os religiosos. O preço da busca da felicidade e da sanidade e da democratização da libido que transforma a História pode requerer, em nossos dias, a silenciosa via das catacumbas”.[90]

Considerações Finais

Reina o silêncio sobre o corpo e a sexualidade no Protestantismo brasileiro. Quase nenhuma pesquisa foi publicada até hoje sobre este tema. As obras publicadas são, em sua grande maioria, traduções de títulos norte-americanos. Estes são oriundos daquela vertente do Protestantismo vinculada ao movimento puritano. Convém destacar que a pedagogia sexual veiculada nesta literatura não é apenas lida pelos protestantes, é utilizada, principalmente, como ferramenta de trabalho pelos chamados conselheiros cristãos. Estes são geralmente clérigos e leigos bem-intencionados, porém sem nenhum preparo nas ciências medico-psicológicas para atuar nesta área. A tônica destes livros e seus conselheiros é a confissão. Estes conselheiros são elevados à categoria de novos confessores do Protestantismo. Daí a escassez de pesquisas e publicações que apontem algumas questões relevantes, tais como: qual a relação da aplicação destes procedimentos com a produção de ansiedade, de angústia, e mesmo de doenças mentais? Qual a relação entre estes procedimentos e os resultados prometidos pelos gurus da sexualidade protestante? Quais as relações da ética puritana adotada nestes manuais para a potencialização da culpabilidade humana? Etc. Rosa:

“Há diversos tipos de vida religiosa: alguns regressivos e patológicos e outros mais progressivos e formadores de personalidades sadias. Há doentes em que os delírios de obsessão do pecado servem para condenar definitivamente todos os atos de origem sexual (mulher que se sente prostituta se obter prazer sexual; homem que transforma a esposa em prostituta). Há, basicamente, três tipos de concepção da vida religiosa: a legalista, que é essencialmente proibitiva e que corresponde a uma estrutura neurótica de perfeccionismo em ligação com o rigor do superego bíblico; a religião de dependência, que corresponde a uma estrutura neurótica de medo da liberdade e de conflitos com tendências negativistas e compulsivas; e, por fim, a religião do espírito, em que a crença religiosa, longe de ser sufocante ou dissociadora, unifica, todavia as tendências, os sentimentos, as idéias e centraliza a atitude do indivíduo no amor pelo próximo”.[91]

Na literatura pesquisada o corpo é fragmentado, dissociado do espírito e da identidade humana. A sexualidade é mecânica. O fazer sexual sobrepuja-se ao ser sexual. Palavras como erotismo, chamego, xodó, carinho são desconhecidas. E mesmo aquelas palavras próprias do Cristianismo, tais como comunhão de corpos, de mentes e de espíritos não são encontradas. O corpo ainda é considerado como máquina. A melhor metáfora utilizada para o corpo feminino é o do Cadillac.

O corpo como templo do Espírito Santo foi substituído pelas concepções do corpo como a morada do demônio e, no mais das vezes, como um mero instrumento de trabalho. A sexualidade como expressão da identidade humana e das benções de Deus é representada como um mal necessário a ser domesticado. Observa-se que, na literatura pesquisada, aquelas representações de algumas correntes dissidentes do Cristianismo que surgiram entre II e o IV séculos, tais como o Gnosticismo e o Maniqueísmo, encontram-se vivos e ativos nestas representações.

À guisa de conclusão, o presente trabalho demonstra que se faz necessário desenvolver e aprofundar pesquisas sobre o corpo e a sexualidade no Protestantismo brasileiro, com vistas a apontar caminhos que considerem a sexualidade como própria do ser humano, sem desvincular a prática sexual desta identidade. Também com vistas a representar o homem em sua totalidade no contexto da cultura brasileira, que incorpora nas relações sexuais palavras como erotismo, xodó, chamego, carinho, comunhão de espíritos, de corpos e de mentes. A fim de atingir este objetivo, é necessário pesquisar também as representações sociais dos crentes e compará-las com aquelas veiculadas na literatura protestante sobre o assunto.

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Notas

[*] Teólogo, e psicólogo e professor da pós-graduação em Ciências da Religião (Mackenzie).

[1] Irving M.BUNIN, A ética do Sinai. Ensinamentos dos sábios do Talmud, p. 62.

[2] E. DURKHEIM. As formas elementares da vida religiosa.

[3] S. MOCOVICI. As representações sociais da psicanálise.

[4] D. JODELET. Représentations sociales: phénomènes, concept et theórie In: MOSCOVICI, S. Psycologie Sociale.

[5] P. BERGER. O dossel sagrado.

[6] G.J. PAIVA E W. ZANGARI et alli. A representação na religião, perspectivas psicológicas.

[7] Z. LOTUFO JÚNIOR, Corpo e dimensão espiritual. In: Religião e psicologia. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1985.

[8] P. VELASQUES FILHO, O comportamento protestante. In: Religião e psicologia. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1985.

[9] J.C. MARASCHIN, Fragmentos das harmonias e das dissonâncias do corpo. In: Religião e Psicologia. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1985.

[10] T. ROSA, Religião e expressão da sexualidade. In: Religião e psicologia. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1985.

[11] R. CAVALCANTI, Libertação e sexualidade.

[12] J.P. VERNAT. Entre mito e política.

[13] P. BROWN. Corpo e sociedade, o homem, a mulher e a renúncia sexual no início do Cristianismo.

[14] S. PAULO. Romanos, capítulo 7:18; 25

[15] Ibidem, capítulo 7:5; 14; 18; 28.

[16] GÊNESIS, capítulo 2:7.

[17] LUCAS. Atos do Espírito Santo através dos Apóstolos, capítulo 9.

[18] K. BARTH, Carta aos Romanos, p.408.

[19] S. AGOSTINHO, A cidade de Deus contra os pagãos p. 132.

[20] Ibidem, p. 49.

[21] S. PAULO. I Conríntios 7:1-6.

[22] Ibidem.

[23] M. CHAUÍ, A repressão sexual essa (des) conhecida, p. 91.

[24] Ibidem, pp. 113

[25] ORÍGENES, apud P. BROWN. Ibidem, p.155.

[26] PACÔMIO, apud P. BROWN, Ibidem, p. 189.

[27] MABUG. Apud, P. BROWN. Ibidem, p.191.

[28] S. AGOSTINHO. As confissões.

[29] S. AGOASTINHO. A cidade de Deus contra os pagãos.

[30] S. AGOSTINHO. Comentário literal sobre Gênesis.

[31] S. AGOSTINHO. Do bem conjugal, da viuvez e da santa virgindade.

[32] S. AGOSTINHO, apud P. BROWN, p. 350.

[33] Gênesis, capítulo 3:16-17.

[34] Ibidem, p.156.

[35] Ibid.

[36] M. LUTERO. Ética, fundamentos, oração, sexualidade, educação e economia, p.160-193.

[37] M. LUTERO. Debates e controvérsias I, p.55.

[38] Ibidem, p.161.

[39] Ibidem, p.162.

[40] Ibidem, p.161-161.

[41] Ibidem, p.192-193.

[42] Ibidem, pp.163-173.

[43] Ibidem, pp.192-193.

[44] S. MATEUS, capítulo 11:28.

[45] S. MARCOS, capítulo 16:15

[46] J. CALVINO. Institución de la religión cristiana. Volume II, p. 80

[47] J. CALVINO. Comentário às Sagradas Escrituras, Exposição de I Coríntios, p.204.

[48] I JOÃO, capítulo 5:19.

[49] Ibidem, pp. 149-150.

[50] M. WEBER. A ética protestante e o espírito do capitalismo.

[51] B. RIBEIRO. Protestantismo no Brasil monárquico.

[52] A. G. MENDONÇA. O celeste porvir.

[53] F. P. GOLDMAN. Os pioneiros americanos no Brasil, (educadores, sacerdote, covos e reis).

[54] J.P.BASTIAN. Protestantismos e modernidade latino americana. História de uma minoria religiosa activa em América latina.

[55] W. READ. O fermento religioso nas massas do Brasil.

[56] A.G. MENDONÇA E P. VELASQUES FILHO. Introdução ao protestantismo brasileiro.

[57] S.B. MONTEIRO. O cântico da vida. Análise dos conceitos fundamentais expressos nos cânticos das Igrejas Evangélicas Brasileiras, p. 161.

[58] M. BITCHMAYA. O crente, pp.406.

[59] J.C. MARASCHIN, Ibidem, p. 201.

[60] M. BXTER. A divina revelação do inferno, p. 12.

[61] Ibidem, p.32

[62] Ibidem, p.40.

[63] Ibidem, p.64.

[64] A. KONYA. Demônios, uma perspectiva baseada na Bíblia, p. 17.

[65] J. WHITE. O Eros redimido, conheça as estratégias de Satanás em relação aos pecados sexuais e a redenção maravilhosa de Deus para quem o busca, p.59.

[66] G. MANTEGA. Sexo e poder, p. 84.

[67] Ibidem, pp. 86.

[68] F. LAWES. A Santidade do sexo.

[69] J. KEM. Respostas francas a perguntas honestas.

[70] N. V. PELT. Felizes para sempre.

[71] E. WHEAT. E G. WHEAT. Sexo e intimidade, prazer sexual no casamento.

[72] T. LAHAYE E B. LAHAYE. O ato conjugal.

[73] C. BRECHEEN. E P. FAULKNER. O que toda família precisa.

[74] D. EVANS. Guia da sexualidade da mulher cristã.

[75] T. LAHAYE E B. LAHAYE. O ato conjugal depois dos 40.

[76] J. WHITE. Ibidem.

[77] Ibidem, pp32.

[78] GÊNESIS, capítulo 1:27-28.

[79] J. CALVINO, Ibidem.

[80] M. WEBER, Ibidem.

[81] Ibidem, p. 75.

[82] Ibidem, p. 41.

[83] R. CAVALCANTI. Libertação e sexualidade, apud A. H. LISBOA. Sexo: desnudando o mistério, p. 41.

[84] SALOMÃO. Cânticos dos cânticos ou Cantares de Salomão.

[85] Ibidem, p. 150.

[86] Ibidem.

[87] Ibidem, p.289-294.

[88] Ibidem, p. 290.

[89] Ibidem, p. 294.

[90] “Sexualidade - o prazer que liberta”, In: Revista Exclusividade, CEA – Ano I - Nº 2., Publicação on line: http://www.ejesus.com.br.

[91] Ibidem, p. 189.