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Diálogos Impertinentes

Diálogos Impertinentes - O HUMOR 28/04/1998.

Seriedade do humor - por Mario Sergio Cortella para Folha de São Paulo Uma conversa em torno do tema "O Humor" reuniu, por duas horas, a inteligência sarcástica do ator e dramaturgo Plínio Marcos e a expressividade atrevida da colunista da Folha Barbara Gancia. Isso aconteceu no teatro do Sesc Pompéia em São Paulo, com transmissão nacional ao vivo pela TV PUC (por meio dos sistemas de TV a cabo e parabólicas); foi o segundo programa da série 98 dos "Diálogos Impertinentes", uma promoção conjunta Folha/Sesc/PUC-SP (já no seu quarto ano). Naquele diálogo, Barbara e Plínio (provocados pelo jornalista Sérgio Dávila, editor da Ilustrada, e por mim) passearam, algumas vezes cáusticos, outras mordazes, pelas trilhas do humor, do hilário, do cômico e, claro, pela tristeza. Plínio Marcos (em muitas oportunidades vítima da censura, por ele considerada mal-humorada) fez uma séria distinção entre humor e comicidade. Para o dramaturgo, "no humor, você não tem compromisso com a risada, e pode ter humor sem ser cômico, pois desperta para a sutileza; a maioria dos cômicos não é humorista ou bem-humorada. Humor é arte de primeira (por isso é que tem pouco humorista e uma porção de respondedores sobre filosofia)". Já Barbara Gancia afirmou que "o senso de humor é a qualidade mais importante que o ser humano pode ter; implica grandeza de espírito, inteligência. É a grande qualidade que redime e que tem o amor embutido dentro dela; é uma qualidade grandiosa e a mais espiritualizada", desde que sem vulgaridade. Plínio completou: "No humor não há lugar para a vulgaridade; só no cômico". A eficácia terapêutica do humor foi, também, destacada: "Tem muita gente que fica doente de tristeza e por causa dela morre", falou Plínio; Barbara, por sua vez, indicou os ingleses como o povo com mais senso de humor, "o inglês é o produtor do melhor riso", principalmente o humor mórbido, que é desconcertante. Ao analisarem o humor na televisão, no rádio e na música brasileira, ambos foram categóricos: com raras exceções, emburreceu e nivelou por baixo. Para a jornalista, algumas das músicas metidas a engraçadas se aproximam muito mais de filmes pornô e de música nada têm; para Plínio Marcos, "quem tem a máquina é que dá o mote; então, a TV é uma coisa que está na mão do governo, e ele tem o máximo interesse em manter a sociedade composta de imbecis". Ao relacionar humor e amor, Plínio disse que "uma pessoa bem humorada é sempre um bom amante porque ri, porque sabe rir; quem ri destrava a barriga e, destravou a barriga você fica paxá. Veja as pessoas que comandam, as que mandam; elas tem sempre a barriga dura e não riem...". O ator, ao ser perguntado se Deus teria humor, não vacilou e, humoradamente, sem vulgaridade, disse: "Deve ter; senão não fazia o Brasil". Rimos todos (autopiedade complacente?); deve fazer parte da crueldade humorística. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs24059824.htm

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