Auto retrato - 1948

O Artista

Schenberg sempre nutriu paixão pela arte. Seu trabalho como crítico era reconhecido pelo público e pelos artistas. O físico escreveu textos sobre Alfredo Volpi, Lygia Clark e Hélio Oiticica, entre outros. Conheceu Di Cavalcanti em Paris, e as duas companheiras que teve na vida - ele orgulhava-se de ser legalmente solteiro - eram artistas. Tinha uma coleção de arte invejável e expunha quadros até na cozinha e nos banheiros de sua casa. Eram telas de pintores famosos misturados com obras de iniciantes, que ele comprava para ajudá-los. "Como crítico de arte, sempre lhe interessaram as pessoas dos artistas, como eles se ligavam no mundo", diz a física Amélia Hamburguer, membro do Conselho da Cátedra Mario Schenberg do Instituto de Estudos Avançados da USP.

No entanto, o pernambucano não era apenas um interessado pela arte. Nos anos 1940, quando passava uma temporada na Universidade de Chicago, ele pegou algumas lentes de um laboratório de astrofísica e tirou fotos que, depois de expostas no Observatório de Yerkes, foram parar dentro de uma caixa de sapatos na bagunçada casa do fotógrafo. "O curioso em relação às fotos é que, através delas, Lygia Clark diz ter entendido o que era o expressionismo abstrato", diz uma citação do físico na exposição da Casa das Rosas. "Se for justo o que ela diz, fui um dos criadores desse movimento", diverte-se.

O pernambucano publicou ainda livros sobre física, arte ou sobre si próprio. "Foi um período muito gostoso", lembra José Luiz Goldfarb, editor e biógrafo de Schenberg. As reuniões eram demoradas pois, segundo Goldfarb, Schenberg 'viajava' muito rápido. "Ele passava de um assunto a outro com uma facilidade incrível, mas nunca perdia o gancho", lembra-se. "Nunca o vi perguntar: 'Sobre o que eu estava falando mesmo?'. Ele sempre concluía o raciocínio."

Foi durante a ditadura, porém, que Schenberg se dedicou com mais assiduidade à arte. Cassado e proibido de entrar no campus universitário, ele passou a viver das críticas que fazia. "Nessa época, ele descobriu que o meio artístico era muito mais solidário do que o acadêmico", diz Goldfarb.