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Atividades

Como parte das atividades da Cátedra Paulo Freire, também foram elaboradas "cartas abertas" como as que se seguem:

Nós, pesquisadores e pesquisadoras, estudantes da Cátedra Paulo Freire da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), vinculados a diversos cursos e diferentes linhas de pesquisa, nos organizamos para compartilhar a perplexidade em relação às últimas declarações e ações do movimento “Escola sem Partido”. O nome de Paulo Freire tem sido atacado sistematicamente por esse movimento sempre que o debate em torno da educação crítica surge.

No site do “Escola sem Partido” há diversas reportagens que buscam deslegitimar o pensamento de Freire, educador reconhecido mundialmente como uma das maiores expressões da história da pedagogia e Patrono da Educação Brasileira. O “Escola sem Partido” demonstra não conhecer profundamente o pensamento desse autor, nem ter interesse em conhecê-lo. Evidencia, em suas argumentações, equívocos conceituais e deturpações das proposições de Paulo Freire.

Para nós, questões fundamentais da proposta freireana precisam estar presentes na educação. A escola é um espaço para o diálogo entre as distintas visões de mundo, o que inclui o necessário debate sobre a diversidade no contexto curricular, assim como a respeito das diferentes dimensões e perspectivas das políticas que orientam as relações humanas. Refletir criticamente e se posicionar sobre temas polêmicos, tais como ditadura, tortura, sexualidade, movimentos sociais, entre outros, é fundamental para promover o respeito aos direitos humanos, sem dogmatismos e autoritarismos.

Ao condenar a possibilidade de o professorado tratar de temas de gênero, por exemplo, levantando a bandeira da ‘neutralidade’ do processo educacional, o “Escola sem Partido” revela seu compromisso com a manutenção do status quo. A intolerância manifestada nas ruas do país reflete, perigosamente, essa intenção. É ingênuo, quando não deliberadamente falacioso defender que esse persistente cenário de violência contra as mulheres possa mudar sem um trabalho de conscientização, o que se faz no âmbito da educação.

Com esse manifesto queremos ampliar importante debate da educação na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Não há possibilidade de construção de conhecimento e humanização quando não há diálogo e convívio na diversidade. Todo ato pedagógico é um ato político, dotado de intencionalidades. Portanto, para combater a desigualdade e a violência é imprescindível assumir uma posição, ter um lado, ter clareza de que se estará sempre a favor ou contra um certo projeto de ser humano e de sociedade. A educação crítica contribui para a conscientização e a humanização de homens e mulheres, tendo como horizonte a transformação social.

Uma escola que se diz sem partido, trabalhando para ocultar as urgentes questões políticas e sociais brasileiras, só pode estar do lado da manutenção das condições que geram opressão e injustiça. Demonstra assim, embora não declare, o seu lado, o seu partido.

Assine a carta no link: https://www.change.org/p/cr%C3%ADtica-ao-movimento-escola-sem-partido .

Pesquisadores da Rede Freireana, participantes da Cátedra Paulo Freire da PUC-SP, que desenvolvem seus trabalhos no âmbito do projeto Paulo Freire: legado e reinvenção, repudiam a Sugestão Legislativa que propõe revogar a Lei 12.612/2012, de autoria da deputada federal Luíza Erundina, que tornou o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.

A justificativa para a Sugestão Legislativa é infundada, apresenta equívocos históricos e conceituais, e está atrelada a ações ideológicas orquestradas contra Freire, envidenciando que o legado do educador incomoda os atuais representantes das forças conservadoras e autoritárias. Consideradas “perigosas” durante a ditadura militar brasileira, as ideias freireanas ainda ameaçam grupos opressores que atualmente se utilizam de sequestros semânticos e poderosos apoios midiáticos para angariar adeptos à manutenção do status quo na tentativa de deslegitimar a opção político-educativa de Paulo Freire.

Reconhecido internacionalmente como autor de uma pedagogia que se compromete com a humanização, contrária a todo tipo de opressão, a pedagogia freireana tem como horizonte a construção de uma sociedade mais justa e mais democrática. Ao assumir a não neutralidade da educação, Freire faz a denúncia da cumplicidade do sistema educativo com a desigualdade socioeconômica e política e propõe uma educação problematizadora na qual se destacam a dialogicidade, a solidariedade e a justiça social.

Para Freire, o processo ensino-aprendizado se faz com diálogo crítico entre educadores e educandos, mediados por objetos de conhecimento, para ampliar a consciência sobre as razões da opressão que limita o potencial de “ser mais” dos seres humanos e desencadear ações de mobilização que permitam a superação de situações- limite. Ao propor o diálogo, como conceito fundante e radical de sua pedagogia, Freire rejeita qualquer possibilidade de doutrinação e demonstra o valor de educadores e educandos desenvolverem um pensamento autônomo que permita uma leitura cada vez mais crítica da realidade.

A práxis freireana implica luta pelo acesso e permanência de crianças, jovens e adultos em escolas dignas e bem equipadas, respeito ao saber e à cultura dos educandos, como ponto de partida da prática educativa; produção e apropriação de conhecimentos, com rigorosidade metódica, para o desvelamento da realidade; formação permanente dos educadores, e oposição aos processos que causam desigualdades e opressão, trabalhando com práticas solidárias e humanizadoras.

Diante do exposto, externamos a nossa profunda indignação com o retrocesso que representaria a revogação do título de Patrono da Educação Brasileira, outorgado a Paulo Freire e defendemos a resistência em busca da garantia de uma educação democrática, com qualidade social.

São Paulo, outubro de 2017.

Professora Dra. Ana Maria Saul Coordenadora da Cátedra Paulo Freire da PUC-SP.