Área Restrita
   

A construção do futuro com a força do passado*

Uma das marcas da PUC-SP é seu serviço à comunidade. Antes mesmo que a denominação “comunitária” fosse adotada por determinado segmento das universidades brasileiras, nossa universidade já havia se consolidado como instituição de definidas opções sociais em sua missão, expressa nos projetos de ensino, pesquisa e extensão.

Tais opções fizeram da PUC-SP uma universidade destacada pela crítica à desigualdade social e pela resistência ao totalitarismo, orientando-se no sentido da promoção humana, da prática, da liberdade, da reflexão política e da participação comunitária. O modo PUC-SP de ser, legado por sua história, tem a pessoa humana como valor irredutível e a justiça social como meta permanente de suas ações.

Como princípio e finalidade, as ações sociais da PUC-SP perpassam todas as suas políticas, indo assim além da dimensão concreta dos projetos sociais parcialmente descritos nesta publicação (PUC-SP: Universidade Comunitária).

Trata-se de um “carisma comunitário” que tem sido capaz de romper com as rotinas mais duras da sustentabilidade econômico-financeira, da competição agressiva do mercado do Ensino Superior e das burocracias acadêmicas.

A promoção da inclusão social revitaliza permanentemente nossa comunidade acadêmica, fazendo emergir, a todo momento, inúmeros projetos nas suas diversas unidades, o que se estende a universidade para além de seus muros físicos e teóricos, e tem lhe conferido, em muitos casos, prêmios, honras e méritos.

A PUC-SP acaba de completar 60 anos e se orgulha de sua trajetória de serviços à comunidade paulista e brasileira. Aproveitamos a data para agradecer a todos aqueles que contribuíram com a realização de seus ideais sociais e com a construção de sua marca comunitária.

O ideal de serviço que fundou a Universidade não perecerá e nos ajudará a construir a sociedade do futuro nas redes da igualdade. O mundo globalizado subsistirá sob a égide da sociedade do conhecimento e dos valores éticos que têm na universidade a incubadora primordial.

A PUC-SP, com sua expressiva memória social, já participa da construção desse mundo por vir.

Profa. Maura Pardini Bicudo Véras
Reitora da PUC-SP

* Texto publicado no livro PUC-SP: Universidade Comunitária, publicado pela Vice-Reitoria Comunitária em outubro de 2007



Uma universidade comunitária*

A PUC-SP nasceu com vocação comunitária. Sua origem se inscreve em um contexto histórico mundial que anseia por mudanças, após a catástrofe da Segunda Guerra Mundial. Em âmbito nacional, o ideal de desenvolvimento busca concretizar-se econômica e politicamente. A formação de uma elite intelectual, estratégia que quer contribuir com o desenvolvimento nacional, impõe a criação de universidades.

Em 22 de agosto de 1946, os idealizadores da segunda universidade paulista apostam na atuação do cristão leigo no mundo como agente transformador. A questão social, já lançada como desafio à Igreja pelo papa Leão XIII, no final do século XIX, vê na universidade uma possibilidade de contribuir com o desenvolvimento social e cultural dos povos. Aliás, o próprio Pontífice havia incentivado a criação de Universidades Católicas na América Latina por ocasião do Concílio Plenário latino-americano de 1899.

A Universidade Católica de São Paulo nasce com esse claro propósito, de “contribuir com o desenvolvimento da solidariedade humana, especialmente no campo social e cultural em defesa da civilização cristã”, como reza a alínea e do artigo 2º, do seu primeiro Estatuto (Anais de 1946, p. 202).

A perseverança nesse ideal demarcou a confessionalidade da Universidade no decorrer dos anos; os serviços prestados à comunidade traduziam de forma concreta sua identidade católica e consolidavam um modelo de Universidade de natureza comunitária. Na medida em que crescia institucionalmente, a PUC-SP soube preservar seu carisma original e administrar a tensão permanente entre esse ideal e a organização burocrática própria de uma instituição que se expande e adquire grande porte.

De fato, o serviço comunitário, firmado como espírito fundante, assumido como opção política e sacramentado como opção institucional, moldou a identidade de nossa Universidade no decorrer de sua história. A duras penas fez dela uma referência de liberdade de expressão, de qualidade acadêmica e de compromisso social e político, quando a noite da tirania pesou sobre nossa pátria. A luta pela liberdade abrigou os libertadores e libertários, a qualidade acadêmica produziu protagonistas do conhecimento e o compromisso social foi plantado inúmeras frentes de serviço, carismaticamente espalhadas pelas unidades da Universidade.

A PUC-SP pode, hoje, ostentar a afirmação desse ideal contra todas as tendências que reduzem o ensino superior a mera mercadoria. Suas frentes de serviços comunitários são a prova inequívoca dessa opção humanista e social, que passa pela prova ideológica dos militantes políticos, pelo teste da qualidade educacional e pelo juízo evangélico da confessionalidade cristã.

A comunitariedade da PUC-SP não tem sido entendida, e sequer praticada, como um aspecto isolado da vida universitária, estruturada como uma linha de ação específica e gestada por um setor localizada. Ao contrário, tornou-se um parâmetro permanente de toda a sua ação e uma mística que brota espontaneamente dos vários setores como fruto de iniciativas pessoais, de núcleos de pesquisa, de Departamentos, de Faculdades ou de Centros. Os projetos e serviços comunitários compõem, não só uma cifra onerosa para a Universidade, mas uma fileira honrosa de benefícios sociais e uma chave para entender a própria cultura puquiana. O ser comunitária é, nesse sentido, princípio e método de toda a ação universitária pensada, planejada e executada pelos sujeitos que compõem o conjunto da Universidade.

A tão falada extensão, como linha de ação estruturante da Universidade, recorta nossos projetos como grandeza ética e como estratégia de inserção social; noutros termos, fins e meios que se articulam para sustentar e mover a instituição em suas diversas frentes de atuação.

As sociedades paulistana, nacional e internacional, têm participado dos projetos comunitários da PUC-SP em trabalhos acadêmicos e sociais, como agentes diretos ou indiretos. O ensino e a pesquisa produzidos e oferecidos pela Universidade se retroalimentaram dos desafios advindos das realidades local e mundial, das quais emergiram projetos, parcerias e serviços, envolvendo as mais diversas unidades da comunidade interna, bem como entidades externas.

A inclusão do outro é nossa filosofia fundante, parâmetro ético para as ações acadêmicas e pedagógicas, e fonte de participação democrática que institui a universidade como um todo, em seus segmentos docente, discente e administrativo, nos seus órgãos colegiados e nas posições dirigentes. Tal tarefa faz uníssonas as motivações cristãs, sociais e políticas que aqui convivem em unidade e diversidade, construindo horizontes utópicos comuns.

Queremos registrar esta opção da PUC-SP e ensejar que ela continue nessa direção, adaptando-se sempre aos desafios interpostos pela realidade e antecipando o futuro: a “sociedade mais justa e fraterna”.

Prof. João Décio Passos
Vice-Reitor Comunitário da PUC-SP

* Texto publicado no livro PUC-SP: Universidade Comunitária, publicado pela Vice-Reitoria Comunitária em outubro de 2007