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Homenageados | Mauro Spinelli

HOMENAGEM PÓSTUMA A MAURO SPINELLI
Alfredo Tabith Jr.
XV Seminário de voz da PUCSP

04 de Novembro de 2005

Gostaria inicialmente de deixar consignada a minha gratidão pela honra que me conferiram, os organizadores deste evento, de poder fazer esta homenagem ao Mauro, amigo e colega de longa data.

Pode parecer paradoxal, mas falar de Mauro é muito fácil e, ao mesmo tempo, muito difícil. É fácil falar de alguém que foi em vida um exemplo de homem, de colega e de profissional. É muito difícil porque tenho medo de não conseguir transmitir a vocês a exata dimensão de sua grandeza.

Formou-se Mauro na mais conceituada escola de medicina deste país em 1954, na Universidade de São Paulo. Foi responsável pela criação do serviço de foniatria do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Foi responsável pela criação do curso de Fonoaudiologia da PUCSP, em conjunto com Julio Bernaldo de Quiros e Ana Maria Popovic. Trabalhou intensamente em todos os momentos de transformação deste curso, bem como nos importantes períodos de evolução da Fonoaudiologia brasileira, levando-a de uma atividade sequer reconhecida oficialmente, até a posição que atualmente ocupa no cenário das profissões deste país.

Assume a direção do Instituto Educacional São Paulo, escola especializada na educação de crianças e jovens surdos em 1967 e, já em 1969, promove sua incorporação à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, criando a Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação da PUCSP. Com sua capacidade de liderança e aglutinação organiza uma equipe multidisciplinar, a qual, sob sua orientação, dá início às primeiras pesquisas no campo da audição, da voz e da linguagem.

Foi responsável pela constituição do Programa de Pós-graduação em Distúrbios da Comunicação, atual Programa de Estudos Pós-graduados em Fonoaudiologia. Iniciou também o curso de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Dizia Pedro Bloch que a melhor ou pior coisa que se pode dizer de um homem é, simplesmente, repetir o seu nome em voz alta. Se sua vida foi uma sucessão de dias sem luz; se sua existência se fez estéril e sem perspectivas; se o que deixou de si não enriqueceu seus semelhantes; se tudo o que realizou só ecoou no vazio; seu nome soará destimbrado, sem harmônices, sem ressonância no coração de seus contemporâneos.

Se, ao contrário, iluminou caminhos, se fez de sua vida uma contínua semeadura para que outros pudessem colher, sem temporais ou geadas; seu nome será, sempre, motivo de reconciliação com a condição humana, um exemplo a desenvolver, uma afirmação de valores permanentes e eternos.

Existe algo muito simples e que nem sempre notamos que é a importância de ser contemporâneo, de viver na mesma época, de partilhar, de dividir, de sentir junto, de questionar permanentemente, procurando encontrar denominadores comuns, com pessoas incomuns.

A melhor coisa que se pode dizer de Mauro Spinelli é pronunciar, simplesmente, unicamente, seu nome em voz alta. Assim está dito tudo, porque sua obra é tão patente, tão translúcida, tão presente, tão parte de todos nós, que comentá-la seria um pleonasmo dela própria.
Mauro era um constante retificador do saber. Junto com sua equipe de trabalho procurava com palavras suas entender a palavra de todos, penetrar-lhes os segredos, divulgar o que criava e aprendia.

Quando Guimarães Rosa foi criticado por escrever difícil dizia: "eu não escrevo difícil; eu simplesmente sei o nome das coisas". Saber o nome das coisas é realizar-se na condição mais humana. Mauro sabia o nome das coisas e conhecia as coisas em todas as dimensões. Cada palavra sua surgia numa dimensão de coisa investigada, analisada, aprofundada, vivida.

A homenagem que lhe prestamos nos honra a nós mais que a ele. Diz o ditado oriental que o perfume das flores fica nas mãos que as oferecem. Cada um de nós ficou com algo de Mauro. Os amigos que temos são pedaços de nós mesmos que dividimos e reencontramos. Mauro foi um amigo inteiro. Daqui para frente e a cada dia que passar, nos daremos conta de sua importância. Nos obrigou sempre a uma renovação constante, apontando caminhos e provocando saber. Era, sobretudo, gente, num mundo quase despovoado de pessoas humanas. Dizia Nietszche, filósofo do niilismo, que "a morte nos deixa uma grande vantagem que não morreremos jamais". Assim podemos dizer que Mauro viverá eternamente em nossas mentes e em nossos corações.

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