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Defesa da vida: a urgência da solidariedade
Dalton Luiz de Paula Ramos
 

Dalton Luiz de Paula Ramos é professor associado de Bioética da Universidade de São Paulo, membro da equipe de assessores de bioética de CNBB e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa/CNS/MS, membro correspondente da Pontifícia Academia para a Vida, do Vaticano, coordenador do Projeto Ciências da Vida do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP


Diante do atual debate sobre o aborto, percebemos certa dificuldade em considerar, ao mesmo tempo, todas as dimensões da pessoa em um determinado momento, bem como em todo o processo de sua vida, desde a fecundação até a morte.

Aliás, poder-se-ia dizer que a dificuldade em considerar todas as dimensões da pessoa, biopsicosocial (ou moral) e espiritual, refere-se não só ao nascituro (concebidos, mas ainda não dados à luz) ameaçado de morte, mas de todas as pessoas envolvidas: a mãe, o pai, os demais familiares e amigos, o profissional de saúde consultado, talvez um psicólogo, um assistente social. É preciso considerar também um contexto social, econômico e cultural mais amplo, que envolve e pode condicionar quem deve tomar a decisão de aceitar ou não o próprio filho em situações que poderiam ser definidas como “desfavoráveis” à auto-realização dos pais ou do nascituro.

Até mesmo o modo como se usa a expressão “interrupção da gravidez”, fazendo uso de um jogo de palavras, confunde os pais e a sociedade, escondendo consciente ou inconscientemente a verdade do que se está propondo: o aborto provocado, matar e retirar a criança do útero da mãe.

Quando surge esta proposta? Em uma gravidez indesejada, não planejada, por exemplo. Nesse caso, apresenta-se um dilema para o casal, ou para a gestante, que muitas vezes terá de escolher se assumir sozinha o filho. As injustiças e violências contra as mulheres constituem-se em um fato que não pode ser menosprezado. É uma injustiça, por exemplo, considerar que assumir ou não uma gravidez seja de responsabilidade única da mulher, sendo que o homem (pai) é plenamente co-responsável por esta situação. Muitas vezes o que é apresentado na perspectiva de “direitos da mulher” pode se constituir em um recurso semântico para encobrir uma postura machista em que se busca transferir integralmente para as mulheres responsabilidades que verdadeiramente são do casal.

Outra situação seria o diagnóstico de má-formação fetal ou uma gravidez fruto de violência, como o estupro, situações essas de fortíssimo impacto emocional, social e econômico. Não são experiências fáceis de serem enfrentadas, são dramáticas, provocam angústia e incertezas em relação ao futuro, mas é possível resolvê-las sem se apelar para uma “solução” de morte. Como?
Na busca de uma solução para o sofrimento, para a dramaticidade inerente à situação tratada, o aborto provocado não pode se apresentar como uma “solução”, porque sendo assim seria uma tragédia. Não se pode tentar resolver o que é dramático com o trágico! No dramático existe a possibilidade de uma positividade, no trágico só a destruição.

Dizer: “não vejo saída”, pode significar: “você pode me dar uma outra opção? Você vê algo a mais?” É nosso modo humano de ser, nossa visão limitada a partir de uma perspectiva. O ser limitado não é um obstáculo em si, se visto como ocasião de relação, expressão de nossa sociabilidade.

O que é dramático, em uma perspectiva antropológica, em que se retoma o sentido da vida humana e da própria maternidade/paternidade, provoca, potencialmente, a possibilidade de que o belo e o próprio sentido do sofrimento possam emergir. Muitos são os testemunhos, principalmente entre tantos que conviveram com pacientes desenganados pela medicina ou com filhos com deficiências, de que é possível se viver uma positividade mesmo dentro da situação de sofrimento. Tudo isso, é claro, exige um caminho de vida. Uma companhia de verdadeiros amigos com quem, muitas vezes com muita fadiga, compartilha-se o sofrimento e se alcança um sentido para a realidade, o sentido de positividade de cada acontecimento.

Este caminho requer um movimento de sair de si, de assumir a vida uns dos outros, sentirmo-nos responsáveis uns pelos outros, algo além de um dever ou uma norma, trata-se de uma escolha pessoal: a caridade. É possível transformar uma realidade de solidão fazendo-se próximo, não só as pessoas mais diretamente envolvidas – como os pais, parentes e amigos – mas também todos os que estão entorno dessas pessoas, a comunidade que os cerca, as pessoas engajadas em organismos governamentais e não-governamentais.

 
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