Home | Movimento Estudantil | ME na PUC e no Brasil

Contextualização



 

A atuação política dos estudantes universitários no Brasil que ia crescendo desde os anos 30, teve um momento decisivo quando a União Nacional dos Estudantes, UNE, fundada em 1937, organizou uma campanha para que o país aderisse à luta contra o nazismo e o fascismo durante a II Guerra Mundial. Em 1942, a UNE tomou o Clube Germânia, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, que costumava ser o local de reunião dos aliados nazistas. Com a redemocratização do país ao fim do Estado Novo, a UNE foi uma das principais protagonistas da campanha “O Petróleo é Nosso” e mais tarde, durante os governos JK, Jânio e Jango, de outras campanhas por reformas sociais profundas como a Reforma Agrária e a Reforma Universitária.

A Reforma Universitária propugnada visava incluir os estudantes na gestão universitária e ampliar o acesso da população às universidades e ao ensino em geral. Além disso, por meio do Centro Popular de Cultura, o CPC, a UNE foi responsável por um vibrante movimento de renovação cultural que inovou no cinema, na música popular e no teatro deixando suas marcas até os dias de hoje.

Por isso, uma das primeiras ações dos golpistas de 64 foi a invasão e o incêndio da sede da UNE na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, na madrugada do dia 31 de março de 1964. O presidente da entidade, José Serra, que havia estado ao lado de Jango no famoso comício da Central do Brasil, na sexta-feira dia 13, juntamente com boa parte da diretoria da UNE teve que pedir asilo político na Embaixada da Bolívia para escapar à violência dos golpistas.





No entanto, apesar da posta na ilegalidade da UNE e demais entidades estudantis, da prisão e do exílio dos seus principais líderes, os estudantes universitários brasileiros foram o primeiro setor da nossa sociedade a conseguir se reorganizar como movimento político em oposição à Ditadura. Isso se explica em parte por terem sido alvo de uma repressão muito menos violenta do que foi o caso dos movimentos sindicais nas cidades e principalmente no campo e também por serem mais tolerados devido à sua origem social de classe média.

Portanto, já em 1965 ocorrem importantes greves e manifestações de protesto nas universidades em Brasília e no Rio de Janeiro. Entre as principais bandeiras estudantis estavam a reivindicação por mais verbas e melhores condições de ensino, democratização das escolas e universidades e liberdade de organização. Comparada aos dias de hoje, contudo, a população universitária consistia na época em um grupo bastante reduzido, cerca de 200 mil estudantes, ou aproximadamente 0,5% da população brasileira, concentrada nas principais capitais do país sedes das universidades públicas federais e estaduais e das Pontifícias Universidades Católicas dos diversos Estados do país, além de algumas poucas universidades protestantes como o Mackenzie. Por isso é no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília que acontecem as principais agitações estudantis, embora outras capitais também tenham sido cenário de greves, manifestações e passeatas estudantis.

Na cidade de São Paulo, a USP e a PUC são os principais centros do movimento estudantil. Sob a proteção da Cúria de São Paulo, particularmente após a chegada de Dom Paulo Arns e de Reitorias que não endossaram medidas repressivas contra professores e alunos, estudantes e professores desfrutaram de uma liberdade rara, senão única naquela época. Por isso o movimento estudantil na PUC desempenhará um papel tão importante no movimento estudantil nacional, daqui despontando importantes lideranças estudantis como Luís Travassos e José Dirceu e muitos dos jovens que integrarão os movimentos e organizações de luta contra a Ditadura.



Dirceu e Travassos no DCE Livre da PUC em 1980