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MORTOS E DESAPARECIDOS

LUIZ A. ARAÚJO





Luiz Almeida Araújo nasceu em 27 de agosto de 1943 na cidade de Anadía, localizada no Estado de Alagoas. Era filho de João Rodrigues de Araújo e de Maria José Mendes de Almeida Araújo. Foi dado como desaparecido em 24 de junho de 1971, à época, militante da Ação Libertadora Nacional – ALN.

Mudou-se, em 1957, para São Paulo com sua mãe e quatro irmãos e, segundo o Dossiê Ditadura, os primeiros anos nesta cidade foram muito difíceis. Por isso, começou a trabalhar aos 14 anos de idade como office boy na loja de departamentos Clipper e para poder continuar estudando, transferiu-se para o período noturno do Colégio Santa Inês. Foi neste Colégio que começou a participar do movimento estudantil secundarista, aproximando-se da Juventude Estudantil Católica – JEC. Posteriormente, tornou-se professor desta escola ministrando aulas de História.

Com o golpe em 1964, foi preso pela primeira vez e torturado, como integrante do movimento estudantil secundarista, em decorrência de suas atividades políticas nesta instituição de ensino. Nesse mesmo ano viajou para o Chile e foi preso novamente quando retornou ao Brasil, em 1966.

Em 1967, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras São Bento da PUC-SP no curso de Ciências Sociais e, nesse mesmo ano, foi preso mais uma vez, ainda como integrante do movimento estudantil, mas já militante do Partido Comunista Brasileiro – PCB. Saindo da prisão, voltou às suas atividades normais, mas foi nesse período que se integrou à ALN, acompanhando a dissidência de Carlos Marighela daquele partido. Em 1968 renovou a sua matrícula na Faculdade, mas frequentou esporadicamente e, em 1969, sequer chegou a se matricular em razão de sua militância.

Nesse período, entre 1966 e 1968, além da militância, Luiz também participou de um grupo de teatro da Escola de Teatro Leopoldo Fróes, na qual conheceu Carmem Monteiro Jacomini que se tornou sua companheira até 1968, quando ele foi para Cuba.

Ao emprestar seu carro para a realização de uma ação armada da ALN ao Banco Francês e Italiano, o carro é identificado e ele preso novamente. Foi solto ainda em 1968, mas a partir de então passou a ser considerado “terrorista” pelos órgãos de segurança. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, documentos comprovam que Luiz passou a ser vigiado constantemente pelos órgãos de repressão a partir deste incidente.

Quando saiu da prisão viajou, com escala na então União Soviética, para Cuba a fim de participar de treinamento de guerrilhas urbana e rural, em companhia de Luiz José da Cunha, conhecido como “Crioulo”, que foi morto em julho de 1973. Ao voltar para o Brasil, em dezembro de 1970, Luiz passou a integrar o grupo armado da ALN.

Em depoimento prestado à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, em 27 de fevereiro de 2013, sua irmã, Maria do Amparo Almeida Araújo, também militante, relatou que seu irmão e o “Crioulo”, que era pernambucano, quando voltaram de Cuba, passaram por Recife em uma tentativa da ALN se instalar em Pernambuco. Luiz permaneceu por lá cerca de uma semana, voltando em seguida para São Paulo.

Vivendo na clandestinidade, Luiz teve pouco contato com a família. Ainda de acordo com Maria do Amparo, a última vez que ele viu sua mãe foi na noite do Ano Novo, na virada do ano de 1970, quando de surpresa apareceu em sua casa que, àquela época, se localizava em Santo André – SP. Nesta ocasião, estavam com Luiz uma companheira da organização e Francisco S. Okano, também membro da ALN.

No dia 28 de janeiro de 1971, a Justiça Militar da 2ª Auditoria da 2ª Região Militar de São Paulo decretou sua prisão preventiva.

A última vez que Maria do Amparo, que também vivia na clandestinidade, se encontrou com Luiz foi em 16 de junho de 1971, dia em que comemora seu aniversário. Lembra que, na ocasião, sua companheira Josephina Vargas Hernandes, também militante da ALN, estava grávida e encontrava-se em missão fora do país. Luiz morreu sem conhecer a filha, Alina de Paula que, atualmente, mora com a mãe na Europa.

Segundo o depoimento de Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz, militante da ALN, dado à Comissão da Verdade da PUC-SP, no dia 23 de outubro de 2013, Araújo era inteligente e tinha uma habilidade manual fora do comum. Por isso, ficou responsável pela área de explosivos da organização: desenvolveu desenhos e projetos de granadas que depois foram reproduzidos por outros companheiros. Além disso, remontou o esquema de falsificação de carteiras de identidade, passaportes, carteiras de motorista e outros documentos necessários na atividade política clandestina.

Informações do Dossiê Ditadura e da Comissão Nacional da Verdade indicam que Luiz pode ser considerado desaparecido político desde o dia 24 de junho de 1971, data em que, segundo estes dossiês, foi sequestrado nas imediações da Avenida Angélica, em São Paulo, após transportar um dirigente nacional da ALN em seu carro, Paulo de Tarso Celestino da Silva, para um encontro com militante da VPR; desde então, nunca mais foi visto. Paulo de Tarso, que seria preso e desapareceria no mês seguinte em razão da delação de Cabo Anselmo, foi a última pessoa a vê-lo. Conforme seu próprio relato, Luiz o deixou no "ponto" com a recomendação que voltasse em 5 minutos, pois o encontro seria rápido. Nunca mais voltou, e nunca mais foi visto.

Observe-se que, soube-se depois, que o Cabo Anselmo ou José Anselmo dos Santos era marinheiro e agente duplo com a função de se infiltrar, mapear, delatar e monitorar militantes, organizações e partidos políticos. É responsável pela entrega de vários militantes para tortura e morte, inclusive sua mulher, que estava grávida.

Ainda de acordo com o depoimento de Maria do Amparo, a data do desaparecimento de Luiz, 24 de junho de 1971, pode não ser exata. Ela relata que ambos tinham o costume de se encontrar aos sábados, e o último sábado que o encontrou foi no dia 12 de junho de 1971. Na semana seguinte, na quarta-feira, dia 16 de junho, foi seu aniversário e, por isso, se encontraram. Como era feriado, aproveitaram para fazer um treinamento de tiro, ela, Luiz e José Milton Barbosa; por este motivo não se encontraram no sábado daquela semana. O sábado seguinte foi dia 26 de junho e Luiz não apareceu no "ponto". Assim, sua irmã apenas foi saber do desaparecimento de Luiz quando ele não compareceu para cobrir este "ponto" com ela, Yuri e Alex Francisco na Avenida Nazaré, bairro do Ipiranga, em São Paulo, ou seja, cerca de dois dias após a data estimada de seu desaparecimento.

Era preciso urgentemente avisar a sua mãe. E como o telefone de sua casa possivelmente estava "grampeado", esperou por alguém que passasse pela rua e pediu a um rapaz que, em uma ligação anônima de um telefone público onde ela estava, avisasse sua mãe que seu filho, Luiz, havia sido preso e que ela procurasse imediatamente um advogado. Foi dessa forma que sua mãe foi avisada do desaparecimento do filho: por meio de uma ligação supostamente “anônima”, mas, na realidade, feita por uma pessoa a pedido de Maria do Amparo.

Assim, segundo a irmã de Luiz, ele foi sequestrado entre os dias 16 de junho, última vez que ela o viu, e o dia 26 de junho, dia em que ele não apareceu no "ponto".

Ao receber esta ligação, a mãe de Luiz, na companhia de outro filho seu, Manoel, saíram em busca de informações sobre o seu paradeiro. No DOI-CODI Manoel foi intimado a prestar depoimento, que durou horas, e obrigado a assinar uma declaração afirmando que entregaria seus irmãos Luiz e Maria do Amparo, caso tivesse informações deles. No DOPS nada conseguiram saber. E na 2ª Auditoria Militar de São Paulo foram informados que Luiz vivia clandestino e foragido.

Entre os meses de junho e julho de 1971, várias pessoas próximas a Luiz e sua família foram presas e interrogadas pela polícia. Uma delas afirmou ter ouvido durante horas os gritos de Luiz nas dependências do DOI-CODI/SP.

O depoimento de Carlos Eugênio, o Clemente, traz outras informações sobre a morte de Araújo. Segundo ele, sua morte foi decorrência da vinda de Cabo Anselmo de Cuba, em junho de 1971, na condição de “militante” da VPR. Ao chegar no Brasil buscou contato com a ALN, devido ao fato de ser “membro” de uma das organizações chamadas irmãs, isto é, MRT, ALN, MR8, VPR e PCBR. Carlos Eugênio conta que desde o começo desconfiava que Cabo Anselmo fosse agente duplo, devido a história de uma fuga dele da prisão, em 1964, que ninguém explicava. Além disso, conta que após a sua chegada, recebeu uma carta de companheiros da ALN, que estavam na prisão, alertando-o sobre tal possibilidade; contudo, ainda não havia provas e foi voto vencido na organização.

Carlos Eugênio observa que alguns dias depois foi levar e buscar Paulo de Tarso Celestino em um “ponto” com o Cabo Anselmo, no Brooklin Novo. Enquanto o encontro acontecia, ele ficou rodando com o carro nas vizinhanças do quarteirão, quando percebeu que estavam repletas de policiais. E ao sair do local com Paulo de Tarso viu o delegado Sergio Paranhos Fleury, em um Opala vermelho, parado em uma esquina próxima.

Dois dias depois, o Cabo Anselmo pediu um encontro com Carlos Eugênio; desconfiado, aceitou para não levantar suspeitas e alertá-lo. No encontro, o Cabo fez várias perguntas de como ele sobreviveu tanto tempo na clandestinidade, como ele montava os aparelhos etc. Após o “ponto”, Carlos e os demais militantes que o haviam acompanhado, à distância, decidiram segui-lo e viram que o Cabo se encontrou com o delegado Fleury e vários agentes da repressão. Ao serem percebidos, foram perseguidos pelos policiais e só conseguiram escapar em meio a um tiroteio.

Para a ALN estava claro que Cabo Anselmo era um traidor; contudo não foi possível alertar todos os seus militantes a tempo. Foi o caso de Araujo: quando Carlos Eugênio soube que ele teria um “ponto” com Anselmo era tarde demais para avisa-lo que, na verdade, se tratava de uma emboscada. Ele acredita que Araujo deve ter sido preso logo em seguida àquele dia do tiroteio.

Carlos Eugênio relata, ainda, um fato que, segundo ele, revela quem era Araujo: ao ser preso jamais disse aos agentes da repressão o endereço de sua moradia. Sua companheira, que estava grávida, lá permaneceu por vários meses, até poder se mudar para outro local. Quem já passou pelas prisões da ditadura sabe que esta é uma das primeiras informações que, por todos os meios, eles tentam obter.

Em novembro de 1973, Luiz foi absolvido do processo ao qual respondia, por insuficiência de provas.

Consta em um Relatório do Ministério da Marinha encaminhado ao ministro da Justiça em 1993, com informações sobre pessoas consideradas desaparecidas que, no mês de agosto de 1971, Luiz Almeida Araújo “teria sido dado como morto”, segundo o Dossiê Ditadura.

Em sua homenagem, a Prefeitura de Maceió – AL deu seu nome a uma Rua do Parque dos Eucaliptos.

Além do memorial da PUC-SP, de 2009, em homenagem aos seus estudantes mortos e desaparecidos durante a ditadura militar, Luiz também foi homenageado, em 2013 - com uma placa localizada na Praça da Paz - pela Universidade Federal de Alagoas/UFAL, em seu projeto Defesa da Vida. Seu nome está entre os alagoanos mortos e desaparecidos.

Luiz foi reconhecido pelo Estado brasileiro como desaparecido político pelo Anexo I da lei 9.140/95.

Foi também reconhecido como anistiado político post mortem pela Comissão de Anistia, em 3 de agosto de 2012.

Na CEMDP, seu caso foi protocolado com o número 028/96.