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BREVE HISTÓRIA DA PUC

 





Da criação a 1960

Busca-se aqui recompor, em uma linha do tempo, os principais fatos e processos que marcaram a história da PUC-SP, resgatando-a brevemente a fim de contextualizar eventos descritos neste Relatório. Várias fontes foram utilizadas, tais como o Anuário da PUC-SP, o Fundo TUCA, a pesquisa No Laboratório das Palavras, teses, jornais de circulação diária etc., mas principalmente o jornal Porandubas que por meio de aproximadamente 150 números, publicados de março de 1977 a novembro de 1988, registrou os acontecimentos mais importantes da “comunidade universitária da PUC-SP”.



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O núcleo inicial da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo foi constituído por uma Faculdade de Filosofia, a de São Bento, fundada em 13 de janeiro de 1908 pelo abade D. Miguel Kruse do mosteiro São Bento, enquanto um prolongamento da Universidade Católica de Louvain, da Bélgica (Doc. 1 – Fac. São Bento). E, segundo Geraldo Pinheiro Machado, este é um fato importante para a PUC-SP, pois a Faculdade de Filosofia além de ter sido a “aglutinadora do sistema universitário no Brasil (...) é quem dá a especificidade de Universidade a um conjunto de Faculdades”.

Em 1920 é iniciada a construção do Convento das Carmelitas, cujo prédio foi projetado pelo arquiteto Alexandre Albuquerque, na rua atualmente chamada Monte Alegre e que se tornaria o principal campus da PUC-SP até os dias de hoje; tal convento foi inaugurado em 1 de julho de 1923.







A ideia de criação da Universidade Católica de São Paulo – UC surge por iniciativa do Episcopado Paulista sob a liderança de D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, à época Arcebispo Metropolitano de São Paulo, auxiliado por D. Paulo Pedrosa, abade do Mosteiro de São Bento, e pela Liga dos Intelectuais Católicos dos quais se destacam André Franco Montoro, posteriormente governador do Estado de São Paulo, e José Pedro Galvão de Souza. Segundo Montoro, em 1937-1938 foram organizados, em São Paulo, os dois primeiros núcleos da Ação Católica, representados pela Juventude Operária Católica – JOC e pela Juventude Universitária Católica – JUC. Estes “foram dois movimentos que tiveram, na época, a significação de uma mudança de atitude e que representavam a participação do setor operário e do setor estudantil no debate dos problemas nacionais e no encaminhamento de soluções, diante de uma perspectiva de substituição do paternalismo do Estado e das próprias autoridades religiosas, por uma participação responsável e ativa. Daí foi surgindo a ideia de se constituir uma Universidade Católica”.

Assim, em 1942, em plena efervescência da Segunda Guerra Mundial, D. Carmelo Mota solicita à Santa Sé autorização para criação de uma Universidade Católica em São Paulo, aproveitando o ambiente de comemoração do aniversário de constituição deste Estado.

Contudo, ainda conforme Montoro, constatou-se que era necessário, antes, criar uma Fundação que fosse a entidade mantenedora desta futura Universidade. Então, idealizada por D. José Gaspar, seu Estatuto foi finalmente aprovado em 10 de outubro de 1945, criando assim, no arcebispado de D. Carmelo, a Fundação São Paulo cuja finalidade era “instituir, manter e dirigir as Faculdades e demais Institutos que deveriam integrar futuramente a Universidade Católica de São Paulo”.

O núcleo central em torno do qual irá se organizar a Universidade Católica de São Paulo – UC era constituído pela Faculdade de Filosofia de São Bento e pela Faculdade Paulista de Direito, esta última criada em janeiro de 1946 com aula inaugural do professor Hildebrando Pompeu Pinto Acioli. Ambas passaram, então, a integrar as chamadas “Faculdades Católicas”.



D. Carmelo é o primeiro, sentado à direita (Jornal PUC-SP).


As referências fundamentais para o primeiro Estatuto da UC, segundo depoimento de Montoro, foram rascunhadas no verso de uma bandeja de pizza de papelão, na Pizzaria Giordano localizada na Av. Brigadeiro Luiz Antônio. Ainda segundo Montoro, a primeira ideia na criação da PUC-SP “não era que ela fosse uma Universidade Católica, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ela deveria ter o espírito desse humanismo cristão, mas deveria ser uma Universidade Latino-Americana, para colaborar na formação, no aspecto cultural, no problema da integração da América Latina. (...) O nome seria, até, Universidade Interamericana de São Paulo... Alguma coisa assim ou uma denominação semelhante. Esse era o objetivo inicial”. Continuando, destaca que os objetivos fundamentais dessa Universidade seria trazer a participação de todos os países latino-americanos para debater os problemas da América Latina. “Seria uma pré-Puebla”, conforme relata no Laboratório das Palavras. “Isso estava em sua primeira proposta de Estatuto; contudo, foi retirada” (Doc. 3 – Estatuto 1946).

Finalmente, em 13 de agosto de 1946 é fundada a Universidade Católica de São Paulo – UC e em 22 de agosto de 1946, portanto no mesmo ano, é reconhecida pelo Governo Federal mediante a promulgação do Decreto-Lei no 9632 do presidente Eurico Gaspar Dutra que esteve presente na solenidade.

 

 

Este Decreto-Lei dispunha que “ficam concedidas as prerrogativas de universidade livre equiparada à Universidade Católica de São Paulo”, ou seja, “livre” porque a UC não era federal, nem estadual, mas mantida por uma Fundação, e “equiparada” às federais para “efeitos de concessão de títulos, dignidades e outros privilégios universitários”.

Desta forma, D. Carmelo se tornou o fundador da atual PUC-SP e seu primeiro Grão-Chanceler, cujo mandato foi de 1945 a 1963. E, ainda em 1945, é nomeado o primeiro reitor das “Faculdades Católicas”, D. Gastão Liberal Pinto que, contudo, morre 14 dias após a sua nomeação. É sucedido por D. Paulo de Tarso Campos, de Campinas, cujo mandato vai de 1946 a 1959.

A universidade brasileira, estruturalmente, surge, conforme observa Nagamine, pela reunião de instituições preexistentes às quais iam sendo agregadas outras instituições à medida que o núcleo central se desenvolvia. E com a Universidade Católica não foi diferente. Constituíram o núcleo da futura PUC-SP, como visto, duas faculdades “incorporadas”, a São Bento e a Paulista de Direito, e mais quatro faculdades “agregadas”, ou seja, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Campinas; a Faculdade de Ciências Econômicas de Campinas; a Faculdade de Engenharia Industrial – FEI e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Instituto Sedes Sapientiae, fundada em 1913 e administrada pelas Cônegas de Santo Agostinho. As faculdades “incorporadas” eram administradas pela Fundação São Paulo e as “agregadas” tinham administração própria; nestas, só o diploma era dado pela Universidade Católica, pois o sistema pedagógico e as estruturas administrativa e econômica eram independentes porque ainda geridas por suas respectivas mantenedoras.

Aula no Sedes Sapientiae

A Universidade Católica de São Paulo foi a primeira no Brasil a receber do Papa Pio XII o título de “Pontifícia” em 25 de janeiro de 1947. A UC do Rio de Janeiro, mais antiga, só teve o seu título publicado no Osservatore Romano uma semana depois. Assim, a PUC de São Paulo é a primeira Pontifícia Universidade Católica no Brasil.

Em 1948 agrega-se à UC a Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais “Coração de Jesus”, que fora criada em 1938 e mantida pelo Liceu Coração de Jesus dos padres salesianos; apenas em 1964 será oficialmente incorporada à PUC-SP. No ano seguinte, em 1949, é agregada a Faculdade de Teologia N. Sra. Assunção.

Em julho de 1950 a PUC-SP se transfere para o seu novo e, até hoje, principal campus, o convento de Santa Teresa, no bairro das Perdizes na Rua Monte Alegre, doado pelas Carmelitas que o desocuparam em dezembro de 1948. Foram então doados um terreno de 18 mil m2, o prédio e a capela. Durante o ano de 1949 foi feita a reforma e a adaptação do prédio pelo arquiteto Benedito Calixto para a mudança da PUC no ano seguinte.

Segundo o jornal Porandubas, “o que mais atraia os alunos das “Faculdades Católicas” era a agradável convivência dos alunos entre si e com os professores. Eram concorridas as festas de São João, as comemorações de datas das Faculdades com jogos e churrascos e teve duradouro sucesso a campanha do Brandãozinho, presidente do CA 22 de Agosto: ‘passe o sábado em sua Faculdade’”.

Em 1955 agregam-se à PUC-SP a Escola de Enfermagem Coração de Maria e a Faculdade de Medicina de Sorocaba.

No ano seguinte, em 1956, ocorre tanto a agregação da Faculdade de Serviço Social quanto o desligamento das Faculdades de Campinas a fim de constituírem a UC daquela cidade. Dois anos depois, em 1958, agrega-se à PUC-SP a Escola de Jornalismo Casper Líbero.

Em 1959 a PUC-SP tem nomeado o seu terceiro reitor, D. Antonio Maria Alves de Siqueira, à época bispo auxiliar de São Paulo, cujo mandato vai até 1963.



De 1960 a 1988

Em 1960 tem início a construção do Auditório Tibiriçá, inaugurado em 18 de agosto de 1965. Ressalte-se que em 11 de setembro de 1965, estreia a peça teatral “Morte e Vida Severina” encenada por um grupo de alunos por iniciativa do Departamento Cultural do DCE, denominado Teatro da Universidade Católica – TUCA. O sucesso que a peça logrou foi tão grande que conquistou o público de São Paulo, do Brasil e ganhou o primeiro prêmio no Festival Internacional de Teatro Universitário de Nancy, na França. O auditório Tibiriçá já havia sido inaugurado, porém, a partir daquela data receberia outro nome: TUCA.


Na França, jornal e teatro em que foi apresentada a peça Morte e Vida Severina.


Segundo Ziccardi em sua tese de doutorado, em fevereiro de 1964, de um desentendimento entre o Diretor da Escola de Serviço Social e o secretário do Bispo-Auxiliar, o Monsenhor Vitor – que terminou com a expulsão dessa faculdade do campus Monte Alegre – resultaram uma intensa mobilização estudantil e a primeira ocupação da reitoria da Universidade. Dentre as reivindicações, os estudantes queriam um reitor laico na condução da Universidade, pois “diziam que os bispos não tinham tempo para a PUC”. Os “alunos se fecharam nas salas da reitoria durante dez dias e as meninas traziam lanches para eles por cima do muro da Universidade”, segundo Joel Martins. No bojo desta situação, o Grão-Chanceler, D. Carmelo Mota, em atitude inédita, resolveu substituir a reitoria até então composta por religiosos; desta forma, foi nomeado o primeiro reitor laico da PUC-SP e de todas as Universidades Católicas do Brasil, o Prof. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, da Faculdade Paulista de Direito, que assume em 1963 e seu mandato vai até 1972.

Conforme depoimento de Bandeira de Mello, a única condição que pediu a D. Carmelo para aceitar a reitoria é que “qualquer assunto entre D. Mota e a universidade fosse conduzido por meu intermédio”.

Destacando alguns fatos de sua gestão, afirma que “eu me opus quando desembargadores, tribunais de justiça e professores da Faculdade Paulista de Direito apoiaram a Revolução de 64; esta quis mesmo intervir na nomeação de professores”, mas “sempre receberam a minha manifestação contrária”. E ainda que “minha intervenção impediu que prendessem a Madre Cristina do Sedes (...). Contudo, observa “não me neguei a fornecer currículos de professores” quando a repressão exigia, “mesmo porque ameaçavam intervir e teriam a documentação do mesmo jeito”. Quanto à peça Morte e Vida Severina, encenada em sua gestão, esclarece que “houve uma crítica muito grande à minha pessoa por ter autorizado a apresentação (...) sob a alegação de que se tratava de uma peça comunista. “Vi e concordei com suas críticas”, pois, segundo ele, “a reivindicação social e a crítica ao capitalismo quando justas não são comunistas, mas dentro da Doutrina Social da Igreja”. E ao se referir à segunda ocupação da Universidade pelos alunos em 1968, disse: “a mocidade é assim mesmo. Tem os seus arroubos. Ai do moço que não seja de esquerda e, ai do velho que queira ser de esquerda; porque a aventura está no meio, nem esquerda, nem direita. No começo, quando moço, se compreende que ele seja de esquerda; o moço de direita é um desastre.

Ao final de 1964, D. Agnelo Rossi, Arcebispo Metropolitano de São Paulo torna-se Grão-Chanceler da PUC-SP e seu mandato vai de 1964 a 1970.

Com a expansão da PUC-SP e aumento do número de alunos faltava cada vez mais espaço no campus das Perdizes, até que, em julho de 1970, tem início a construção do chamado “Prédio Novo” cuja maquete impressionava a todos; foi construído no terreno localizado nos fundos do antigo convento onde, anteriormente, as freiras mantinham uma horta. Na reforma do convento para mudança da PUC, foram construídas, neste local, quadras de futebol, de basquete e de bocha. Destaque-se que as escadas que atualmente formam a chamada “prainha” eram, na realidade, as arquibancadas destas quadras.




Construção e inauguração, na Prainha, do Prédio Novo


No que se refere à criação dos programas de Pós-Graduação, Joel Martins, “artífice e modelador” da Pós-Graduação na PUC-SP, esclarece que “em 68, propus ao professor Bandeira de Mello a criação formal dos programas de pós-graduação”. Continuando explica que “começamos com três programas”: o da Antonieta Celani em Linguística; o de Psicologia da Educação do Joel Camacho e o programa de Teoria Literária da Lucrécia D‘Alessio.

Em 1969 a Portaria nº 77/69 do Conselho Federal de Educação, no bojo da Reforma Universitária, regulamenta a Pós-Graduação no Brasil, levando todas as instituições brasileiras a se adaptarem a este novo regime. Passados dez anos, em 1979, já havia 13 Programas de Mestrado e 7 de Doutorado na PUC-SP.

Desde os primeiros anos da década de 60 tem início os trabalhos de professores – que transcorreu grande parte na gestão do reitor Bandeira de Mello – para elaboração de uma proposta de Reforma Universitária da PUC-SP, cuja implantação iria ocorrer a partir de 1968. Neste mesmo ano, é promulgada pelo governo federal e imposta a todas as universidades, a chamada Lei da Reforma Universitária que em várias instituições do país iria desencadear mudanças nem sempre favoráveis à melhoria da qualidade do ensino superior; na PUC-SP, graças ao esforço inovador e de resistência de sua comunidade, esse foi um processo que resultou em um enorme salto de qualidade em suas práticas de ensino e de pesquisa.

Em 1971, o Estatuto, no qual se buscou concretizar institucionalmente as mudanças da Reforma, é reconhecido pelo Conselho Federal de Educação.

Em decorrência de exigências da Reforma Universitária de maior organicidade nas universidades seja em seu sistema educacional seja em suas instâncias administrativa e econômica, das 09 Faculdades “agregadas” 05 se desvincularam: a FEI, a de Teologia N. Sra. Assunção, a Escola de Administração e Negócios, Jornalismo Casper Líbero e a Paulista de Serviço Social. As demais Faculdades, Sedes Sapientiae, Escola de Serviço Social e as Faculdades de Medicina e de Enfermagem de Sorocaba decidiram se incorporar definitivamente à PUC-SP.

Uma das imposições do projeto de Reforma Universitária da ditadura, que a PUC-SP logrou transformar em uma experiência criativa, foi a criação do Ciclo Básico, que iniciou suas atividades em março de 1971, introduzindo metodologia inovadora nas práticas de ensino e currículo. Em agosto do mesmo ano o projeto foi aprovado pelo Ministério de Educação, cujo ministro era o Coronel Jarbas Passarinho.

De novembro de 1970 a maio de 1998 o então Arcebispo Metropolitano de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns torna-se Grão-Chanceler da PUC-SP, inaugurando um mandato que enfrentaria muitas dificuldades, pois a maior parte dele transcorreu sob a ditadura, mas também de luta e apoio aos que a ela resistiram. Conforme depoimento de Franco Montoro que, como visto antes, participou da criação da PUC-SP, “depois de 1964, com o retraimento [político] geral e adesão ao pensamento oficial, a PUC foi local de resistência, de cultura independente, de defesa da população e contra os interesses multinacionais e as violências do regime”.

O amparo que D. Paulo garantiu à PUC-SP associado à resistência de sua comunidade à ditadura propiciou a transformação desta Universidade em um local de referência das lutas pela garantia da autonomia universitária e pelas liberdades democráticas, como se poderá constatar nos acontecimentos descritos a seguir.

O prof. Geraldo Ataliba Nogueira, da Faculdade de Direito, assume a reitoria da PUC-SP de 1972 a 1976. Em seu mandato Celso Furtado, impedido de exercer suas atividades pela ditadura, foi convidado a integrar o quadro de docentes da PUC-SP, ministrando aulas na Pós-Graduação de Economia.

Geraldo Ataliba é sucedido pela reitora Nadir Gouvêa Kfouri, primeira mulher a assumir a reitoria em uma das Universidades Católicas. Administrou a universidade em dois mandatos, no primeiro como reitora nomeada pelo Grão-Chanceler e, no segundo, nomeada a partir de eleições diretas realizadas na comunidade. Sua gestão foi marcada pela predominância dos critérios acadêmicos nas decisões tomadas e pelas convictas defesas da autonomia universitária e da democracia, razões pelas quais completou a instalação dos órgãos colegiados da universidade e de seu processo de democratização. A marca de sua gestão pode ser avaliada pela natureza dos fatos relatados até 1984, período que abrange as suas duas gestões.

Em 25 de setembro de 1976 é criada a Associação dos Professores da PUC-SP – APROPUC que participou ativamente na redemocratização do país – em ações contra a repressão da ditadura, pela Anistia, pelas Diretas Já, pela Constituinte de 1988, pelo impeachment do Collor, além da participação na reorganização sindical de trabalhadores; na constituição da associação de professores da PUC-SP de caráter reivindicativo, criando a possibilidade de discussão com a Reitoria do contrato e condições de trabalho, do pagamento e reajustes dos salários, entre outras demandas, assim como manteve intensa participação no processo de democratização da PUC-SP.

No ano de 1977 ocorre a fundação do Instituto Sedes Sapientiae, que nasceu do desdobramento do curso de Psicologia da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Instituto Sedes Sapientiae, administrado pelas Cônegas de Santo Agostinho. Manteve o mesmo nome daquela Faculdade, porém como instituto autônomo, desvinculado da PUC-SP. Criado por iniciativa de Madre Cristina Sodré, foi assim definido por ela: "um espaço aberto aos que quiserem estudar e praticar um projeto para a transformação da sociedade, visando atingir um mundo onde a justiça social seja a grande lei". Sua biografia é marcada por lutas pela liberdade, pela igualdade de direitos e pela transformação social. Na ditadura militar lutou até o desespero para salvar vidas e ideais, amparando perseguidos políticos; foi chamada de comunista, de radical e, por isso, recebia ameaças de morte e de prisão. Faleceu no dia 26 de novembro de 1997.

Ao longo da década de 70, amparada pelos apoios de D. Paulo e da reitora Nadir Kfouri, a PUC-SP acolhe inúmeros professores cassados em outras universidades, sobretudo da USP, como Bento Prado de Almeida Ferraz Júnior, Florestan Fernandes, José Arthur Giannotti, Otávio Ianni, Paul Israel Singer, Pedro Calil Padis e Yvone Dias Avelino; notórios educadores como Casemiro dos Reis Filho, Maurício Tragtenberg e Paulo Freire; cassados de outras instituições como Bolívar Lamounier e Maria Nilde Mascellani idealizadora dos Ginásios Vocacionais. Acolhe também inúmeros estudantes expulsos de universidades por força do Decreto-Lei 477.

No período de 6 a 13 de julho de 1977 é realizada na PUC-SP a 29a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC que, ameaçada pela ditadura, fora impedida de ser sediada em universidades públicas. Ressalte-se que a SBPC não era apenas um importante protagonista nas discussões e formulações das políticas concernentes ao desenvolvimento científico e tecnológico do país, mas, sobretudo entre as décadas de 60 e 80, tornou-se um espaço de resistência ao governo militar: suas reuniões anuais eram um dos raros espaços para discussões de qualquer natureza, naquela época de regime político fechado e autoritário.





Assim, foi a PUC-SP que abrigou conscientemente em seu campus da Monte Alegre as atividades dessa sociedade, “numa demonstração clara de ter compreendido sua função e sua responsabilidade social naquele momento histórico brasileiro”.

Em 22 de setembro de 1977 este mesmo campus da PUC-SP sofre a invasão de forças policiais comandadas pelo coronel Erasmo Dias. A luta pela recriação da União Nacional dos Estudantes – UNE, posta na clandestinidade pela ditadura, levara à realização do III Encontro Nacional de Estudantes nesse ano; para tanto, em março, os estudantes se reuniram na USP; em maio no Largo São Francisco/USP e em setembro na PUC-SP. O fato dos estudantes terem feito um ato público em frente ao TUCA para celebrar a realização deste III Encontro serviu de pretexto para que agentes dos órgãos de segurança invadissem a PUC-SP, que era chamada por eles de “antro de subversão”.

Cerca de 1.500 estudantes foram levados para o estacionamento da PUC – à época localizado na esquina da rua Monte Alegre com a Bartira – num “corredor polonês” sob ameaças e cassetetes a fim de passarem por triagem policial e serem enviados para o DEOPS. Ao final, segundo reportagem da Folha de São Paulo, cerca de 40 alunos foram acusados de infringir o art. 39, inciso 1° da Lei de Segurança Nacional que previa pena de 10 a 20 anos de prisão para o ato de incitar a subversão da ordem, assim como o art. 43, que estabelecia pena de 2 a 5 anos de prisão por tentativa de reorganizar partidos, entidades e associações de classe extintas por lei.

Nesse episódio tanto a Reitora Nadir Kfouri, quanto o Grão-Chanceler D. Paulo Arns rechaçaram corajosa e firmemente a invasão. D. Paulo, referindo-se à tal ato de violência ao campus pelas forças policiais afirmou publicamente que

só se entra na universidade por duas portas: a do vestibular e através da reitoria e responsáveis pela universidade. Se a polícia não entrar por elas, não deve entrar na Universidade.

Observe-se que em 1985 a PUC-SP foi invadida novamente por forças policiais em razão da projeção, por estudantes, do filme Je vous salue, Marie, de J. L. Godard, proibido pela censura federal.

A reitora, em maio 1978, prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, em Brasília, sobre "A Situação do Ensino Superior no Brasil", ocasião em que, contrapondo-se à concepção “tecnocrática” de ensino – que “voltada para a formação de mão de obra, reprodução da ordem social e da tecnologia” não induz à mudança – defendeu a concepção “humanística” que, voltada para a “criação da ciência, da arte e da tecnologia, parte não de um corpo acabado de conhecimento, mas de problemas”.

Em 1 de julho de 1978 foi criada a Associação dos Funcionários Administrativos da PUC – AFAPUC e, em 28 de setembro do mesmo ano, ocorreu a primeira eleição para a sua diretoria.

No dia 1 de agosto de 1980, D. Paulo encaminha uma carta à comunidade conclamando-a a indicar, até 31 de agosto, uma lista de 6 nomes de candidatos à Reitoria para um mandato de 4 anos. Nesta carta sugeria que 3 nomes poderiam ser indicados pela APROPUC, a AFAPUC e o DCE, “escolhidos da forma que julgarem mais conveniente” e os outros 3 nomes viriam do CONSUN, indicados “do modo mais adequado” para garantir a representatividade, a fim de comporem uma lista a ser enviada a ele.

No dia 14 de agosto de 1980, a Comissão Comunitária se reuniu para discutir os termos da carta de D. Paulo, ocasião em que a APROPUC sugeriu eleições diretas para a indicação dos nomes. A proposta foi logo aceita. Formou-se então uma ”Comissão Eleitoral que definiu datas, urnas e também o peso igual, no total de votos, de funcionários, professores e alunos”. No dia 21 de agosto foi marcado um debate público no TUCA entre os candidatos e a presença da comunidade foi maciça. Contudo, dos candidatos oficiais, Nadir Kfouri, reitora nomeada em exercício que agora concordava em concorrer às eleições, foi a única a se apresentar ao debate.






As eleições ocorreram nos dias 25 e 26 de agosto, no campus Monte Alegre. Além de Nadir Kfouri, foram candidatos os professores Haydée Roveratti, Pe. Edênio dos Reis Valle e Adilson Dallari. Ao final da eleição, Nadir Kfouri obteve 62,3% do total dos votos apurados, incluindo brancos e nulos. A posse foi em 29 de novembro de 1980 e o mandato vigorou até 1984.

Ao ser entrevistado após as eleições, D. Paulo declarou que “nesses 10 anos, a eleição foi o momento mais feliz que tive com a PUC”. Ao ser perguntado como seria a escolha dentre os candidatos, respondeu “da minha parte já está confirmada a pessoa mais votada”, tornando-a a primeira reitora eleita dentre todas as universidades brasileiras. “A PUC-SP dava um exemplo de democracia não só para as outras universidades, como também para todo o país”, observava o jornal Porandubas.

A eleição direta para indicação da reitora constituiu uma via para a extensão do processo eleitoral a outros escalões da universidade, conforme previra D. Paulo ao afirmar que “penso que este é o único modo de agir a partir de agora”. Assim, em novembro de 1980, ocorrem eleições diretas para os Centros, na época cinco, além da Pós-Graduação.

Na sequência, em março de 1981, a Comissão Comunitária, por meio de um ofício à comunidade da PUC-SP declarou aberto o processo eleitoral para a primeira eleição direta aos cargos de Diretor de Faculdade, Chefias de Departamento, assim como para os Conselhos Superiores da Universidade, o Conselho Universitário – CONSUN, o Conselho de Ensino e Pesquisa – CEPE e a Comissão Comunitária, dando assim mais um passo no sentido da democratização da PUC-SP. Contudo, estas eleições se revelaram ainda um estágio inicial deste processo de aprendizagem, pois transcorreram com dificuldades de mobilização e alguma resistência por parte da comunidade em participar, em razão, de um lado, da pouca compreensão que a comunidade ainda detinha das funções e funcionamento daqueles Conselhos e, de outro, das tentativas de obstruções por parte de membros que se julgavam “natos” nos cargos e Conselhos. Há que se observar também que grande parte dos estudantes se manteve, por algum tempo, à margem desse processo ou por recusá-lo ou por desconhecê-lo.

Em reunião no dia 28 de abril de 1982, o CONSUN aprovou a criação de uma Constituinte com a finalidade de elaborar o novo Estatuto da PUC-SP que já estava em seu Projeto III de propostas de revisão. A proposta é que fosse instalada em 19 de julho e encerrasse seus trabalhos em 14 de agosto, funcionando em tempo integral.

Os estudantes que inicialmente contestavam a representação dos segmentos da comunidade apenas participaram da Constituinte quando esta já tinha iniciado seus trabalhos.

O texto final redigido por Enzo Guzzo, José Nagamine, Miriam Warde e Oswaldo Giacóia foi entregue em 29 de setembro, mas só foi aprovado pela Constituinte em 10 de novembro de 1982. Em seu congresso realizado neste ano, a ANDES e mais 40 associações de docentes de universidades brasileiras assinaram um documento hipotecando ”irrestrito apoio às práticas democráticas” da PUC-SP e reivindicando ao MEC e CFE a sua homologação. Contudo, como a Fundação São Paulo detinha discordâncias com cláusulas deste Estatuto ele não foi encaminhado ao MEC para aprovação; por essa razão, a Universidade por muito tempo observava dois Estatutos conforme a natureza de cada decisão.

Em uma noite de sábado, 22 de setembro de 1984, por volta das 19:30 horas – no mesmo dia da invasão da PUC-SP pelas forças da repressão 7 anos antes, em 1977 – ocorre um incêndio no TUCA de origem suspeita. O teatro estava vazio porque era intervalo entre dois espetáculos. O fogo iniciou-se no palco e rapidamente atingiu as cadeiras e o telhado. Quando finalmente a escada Magyrus dos bombeiros subiu para combater as enormes chamas do telhado, as pessoas “da calçada aplaudiram com lágrimas nos olhos”. Aproximadamente às 22:00 horas “o fogo e o TUCA estavam acabados”, conforme descreve o jornal Porandubas.

Na segunda-feira, em torno das 15:00 horas, D. Paulo, o governador Franco Montoro e vários Secretários de Estado participaram de uma reunião da comunidade em prol da reconstrução do TUCA. Em seu discurso, D. Paulo, qualificando a invasão da PUC em 1977 como “uma das maiores vergonhas nacionais”, voltou-se para Michel Temer e disse: “parece uma coincidência grande demais, Senhor Secretário de Segurança. É curioso demais que aconteça o incêndio no mesmo dia, na mesmíssima hora, entre duas sessões [do teatro], exatamente quando se passaram 7 anos, num lugar onde inclusive o Secretário de Segurança é professor. É preciso um inquérito com a maior severidade, para se ver o que aconteceu”. E conclamando todos a se darem as mãos para a reconstrução do espaço onde “recomeçou o Brasil depois do golpe de 64”, afirmou:

o TUCA não pode ficar no meio da caminhada como uma estátua de sal... Que este momento prove quem somos, a que viemos e o que iremos fazer no futuro.

Aproximadamente três meses depois, no dia 14 de dezembro do mesmo ano – outra “coincidência” com a data de publicação do AI-5, isto é, 13/dez/1968 – ocorre o segundo incêndio do TUCA. Sua proporção foi menor, mas o suficiente para destruir “a parte superior das salas de administração” do Teatro, conforme relata a professora Samira Chalhub, diretora do Serviço de Extensão Cultural – SEC ao qual o TUCA era vinculado, e componente da Comissão SOS-TUCA de Reconstrução. Conforme esclarece o Jornal PUCSP, “desta vez, após achar restos de uma bandeira embebida em thinner, os peritos concluíram ter sido um ato criminoso”. Cinco anos depois, em 1989, o TUCA é reaberto parcialmente e, apenas em 2003 reinicia suas atividades completamente restaurado e modernizado.

Em uma carta à comunidade datada de 21 de abril de 1984, D. Paulo, lembrando que na indicação da gestão anterior da reitoria procurara “sondar os anseios da comunidade”, iniciava o segundo processo de consulta para a renovação do mandato de reitor, delegando ao CONSUN e ao Conselho Comunitário “a tarefa de estabelecer as normas necessárias à realização da consulta” e sugerindo o mês de agosto para as eleições.

As eleições acabaram adiadas para setembro de 1984 em razão do pequeno envolvimento da comunidade e de um abaixo-assinado de cerca de 500 assinaturas reivindicando a convocação de um “2o Encontro da Comunidade Universitária” para discussão dos programas das chapas dos candidatos à reitoria e reavaliação das regras para a eleição. Estas regras estabeleciam, entre outras, (i) a votação em chapas – questionada porque limitava a liberdade de candidaturas isoladas; (ii) a exigência de título de doutor para os candidatos – também questionada porque além de impor limites contrariava o Estatuto da época e (iii) a exigência de que o Vice-Reitor Comunitário fosse sacerdote.

Ao final de três dias de discussões, o “2o Encontro” deliberou rejeitar aquelas regras e pedir o adiamento das eleições. E como não havia tempo para o CONSUN se reunir antes de expirar o prazo oficial de inscrição das chapas, nenhuma delas se inscreveu.

Por fim, as eleições foram marcadas para os dias 17 e 18 de outubro de 1984. Inscreveram-se para o cargo de reitor(a) os professores Lucrécia D’Aléssio Ferrara e Luiz Eduardo Wanderley. Os resultados deram vitória a este ultimo. A posse da nova reitoria ocorreu no dia 28 de novembro de 1984 para um mandato de 4 anos no período 1985 a 1988.

No primeiro semestre de 1985, a convocação de eleições gerais para os Conselhos Superiores da universidade – CONSUN, CEPE, Conselho de Administração e Finanças - CAF e Conselho Comunitário - CECOM – trouxe para o centro dos debates a questão da paridade entre professores, estudantes e funcionários nestes Conselhos. Foi tão intensa essa discussão nos três segmentos da comunidade, sobretudo entre os estudantes, que as eleições foram adiadas para agosto de 1985, data em que, finalmente, foram realizadas as primeiras eleições para a representação paritária. Ressalte-se que os representantes eleitos tomaram posse no bojo da primeira greve conjunta de professores e funcionários, que durou 9 dias, devido a discordâncias quanto ao índice do reajuste salarial.

No processo de reconstrução do TUCA, em agosto de 1985 é escolhido o projeto do arquiteto Joaquim Guedes Sobrinho que ofereceu gratuitamente seus serviços. Seu projeto polivalente foi submetido a sugestões da comunidade.

Em outubro de 1985, em razão de uma grave crise financeira, é divulgado o documento “Perspectivas para a PUC” que analisava o Projeto Educacional, a Natureza da Instituição e, em sua terceira parte, as Alternativas Organizacionais e Jurídicas da PUC-SP nas quais, tendo em vista a crise e a proposta de luta pela progressiva gratuidade do ensino superior, eram avaliadas duas possibilidades: a primeira, a manutenção de seu caráter de universidade particular e católica com ampliação das dotações de verbas públicas via MEC, de elaboração de projetos, de verbas provindas de entidades privadas nacionais e estrangeiras e, a segunda, a transformação da PUC-SP em uma universidade pública.

No cerne dessa discussão, é criada uma “Comissão de Emergência” e surge a proposta de realização de um “Congresso Universitário” para a comunidade analisar e propor saídas para a crise, intensificando-se a discussão da estadualização ou federalização da PUC-SP.

Ressalte-se que, de um lado, o Estado que já mantinha a USP, a UNICAMP e a UNESP, e a União, que tinha em mãos cerca de 200 pedidos de federalização de universidades não manifestaram, de imediato, interesse em assumir a PUC-SP e, de outro lado, a Fundação São Paulo sinalizou apoio ao estudo de “formas alternativas para a Universidade”, mas, posteriormente, não abriu mão de mantê-la católica nem de seu patrimônio.

Em abril de 1986 o CONSUN aprovou a realização do “Congresso Universitário” que teria caráter consultivo e que desenvolveria as suas atividades em duas etapas: em junho de 1986 e no segundo semestre do mesmo ano; mas esta segunda etapa foi adiada para 1987.

Em 21 de abril de 1987 é deflagrada uma greve que mobilizou toda a comunidade durante 30 dias: foi iniciada pelos funcionários, mas gradativamente envolveu os professores e alunos; os primeiros reivindicavam o pagamento de atrasados e o reajuste dos salários e os estudantes lutavam contra o reajuste das mensalidades. Pela primeira vez os funcionários ocuparam a Reitoria por 3 dias.

Tendo em vista que a Reitoria anunciava não haver dinheiro em caixa e que a expectativa de recebimento de verbas do Estado se esvanecia, a comunidade organizada em Assembleias Universitárias se empenhou na busca de soluções para a crise da PUC-SP e, no bojo deste movimento, surgiram inicialmente três propostas: Documento em Defesa da Estadualização da PUC/SP; Caminhos da Publicização, que era a proposta da Reitoria, e Em Defesa da Fundação Mista. Estas propostas foram levadas a plebiscito nos dias 9, 10 e 11 de junho de 1987 para escolha da comunidade e, para esta votação, as duas últimas propostas foram fundidas, pelo fato de seus autores acreditarem que detinham princípios comuns.

Venceu a proposta da Estadualização da PUC-SP. O CONSUN decidiu acatar o resultado da votação e nomeou membros para uma Comissão de Estadualização, presidida pela Reitoria, com a finalidade de realizar gestões junto à Fundação São Paulo e ao Governo do Estado, basicamente para incorporação da PUC-SP à UNESP. Gestões foram iniciadas, mas em agosto, o Grão-Chanceler, D. Paulo, em entrevista, tornou pública a posição da Igreja: não à estadualização. Nesta entrevista afirmou que “a PUC será generosa em permitir que se busquem e até criem outras soluções, contanto que não lhe arrebatem nem a liberdade, nem a sua identidade”. O reitor deixou a Comissão; em setembro também o CONSUN aprovou sua saída, mas a Comissão continuou.

Em outubro de 1987, a Comissão de Estadualização anunciou à comunidade, reunida em Assembleia Geral Universitária, que nas tentativas de negociações o reitor da UNESP, Prof. Jorge Nagle, propusera a absorção de parte de professores da Pós-Graduação para a formação de um núcleo que estruturaria cursos que, a médio e longo prazos, absorveriam o restante dos professores, alunos e funcionários. Com as manifestações da Igreja e, posteriormente da UNESP, a luta pela Estadualização da PUC-SP fenece gradativamente.

Em novembro de 1987, o CEPE decide pelo fim do Ciclo Básico,  experiência que durou 17 anos. A maioria dos cursos apresentou projetos para incorporação aos seus currículos de disciplinas até então oferecidas no Básico, reformulando assim o 1o ano destes cursos e verticalizando seus currículos, para implantação prevista para o primeiro semestre de 1988.

No dia 8 de junho de 1988, o CONSUN deu início ao processo de escolha do novo reitor da PUC-SP, definindo algumas regras eleitorais, mas adiando a decisão referente ao critério da ponderação dos votos de cada setor da comunidade – professores, alunos e funcionários – isto é, se com base na paridade ou não. Por fim, a decisão foi pela ponderação paritária dos votos de cada setor: 1/3 para cada um. As eleições foram marcadas para os dias 28 e 29 de setembro de 1988.

Outra decisão do CONSUN foi que as eleições seriam precedidas de uma consulta prévia à comunidade mediante a apresentação de uma lista de todos os professores elegíveis – 184 no total – inclusive dos que não pretendessem a candidatura. E somente aqueles que atingissem pelo menos 5% do total dos votos válidos poderiam candidatar-se, inscrevendo-se, registrando seu programa e sua equipe. O objetivo era motivar a participação da comunidade e privilegiar mais os programas do que as candidaturas centradas em nomes. Além disso, foi decidido que após as eleições o CONSUN não iria apresentar uma lista de nomes ao Grão-Chanceler, mas apenas a Ata dos resultados do processo eleitoral.

De todos os professores elegíveis apenas três atingiram os votos necessários na prévia: Leila Bárbara, Júlio Boschinni e José J. Queiróz, mas apenas a primeira se inscreveu  tornando o processo um pleito de candidato único. Sua posse ocorreu em 29 de novembro de 1988, com mandato até 1992.

Não foram poucos os que criticaram as novas regras deste processo, assim como o fato da baixa participação da comunidade. Estimou-se à época que dos cerca de 20 mil integrantes do colégio eleitoral apenas 20% haviam votado, assim distribuídos: 43% dos professores; 70% dos funcionários e apenas 14% dos estudantes.

Finalizando esta breve história da PUC-SP, o ano de 1988, limite deste relato, se encerra com algumas questões pendentes que ainda merecem reflexão.

Primeiro, a presença de uma crônica crise financeira e seus efeitos, que se intensifica em meados da década de 70 e perpassa a década de 80 – e seguintes – principalmente em razão de dívidas que vieram da construção do Prédio Novo; de um convênio com o governo do Estado economicamente desastroso que deixava à PUC-SP a maior parte da manutenção do Hospital Regional de Sorocaba mediante modestas dotações governamentais e, sobretudo, do esgotamento gradativo das verbas provindas do Governo Federal (MEC), resultante de sua política educacional aplicada ao ensino superior do país. Em 1967, aproximadamente 40% da receita total da PUC-SP provinha de dotações da União, em 1978 essa participação caiu para ínfimos 5%.

Segundo, pode-se reconhecer nessa breve história dois momentos distintos. O primeiro deles, a década de 70 e início da década de 80, quando a PUC-SP e outras poucas universidades do país constituíam raros espaços políticos com capacidade de impor alguma resistência à ditadura, pulsava em seus espaços a luta pela democratização do país, do ensino e pelos Conselhos paritários. Depois, em meados da década de 80 em diante, quando ocorre a redemocratização e a continuidade de grave tendência inflacionária no país, as lutas da comunidade, em sua grande parte, assumem caráter corporativista, concentrando, de um lado, os professores e funcionários na reivindicação salarial, no pagamento de atrasados e na instituição da carreira docente e, de outro lado, os estudantes na redução do valor das mensalidades.

Terceiro, também se pode perceber atravessando este breve período um difícil processo de aprendizado na construção da democracia interna da PUC-SP, resultando, especialmente na década de 80, em vários momentos de intensos debates e autocríticas concernentes ao relativo esvaziamento dos órgãos colegiados, ao desinteresse de várias Faculdades na indicação de seus representantes, à baixa participação nas eleições, particularmente por parte dos estudantes e, sobretudo, à gradativa burocratização das atividades dos Conselhos superiores CAF, CECOM, CEPE e CONSUN.

E, por ultimo, há que se observar que, até o final do ano de 1988, o Estatuto elaborado pela Constituinte de 1982, não fora ainda encaminhado à aprovação do MEC; lembrando que o Estatuto, mais que uma peça jurídica que consolida as normas de funcionamento da PUC-SP, concretiza e dá forma legal aos resultados das lutas de sua comunidade pela democratização da universidade.

Contudo, essa breve história evidencia também que este foi um período significativo que passou para a história da PUC-SP e do país.