aprimoramento - topo banner - clínica psicológica - puc-sp

BOLETIM CLÍNICO - número 20- julho/2005

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


3. Implantação do Aprimoramento Abordagem Junguiana Voltada às Questões Amorosas

O aprimoramento em questões amorosas surgiu a partir de três pontos que confluíram no tempo. Primeiramente as pesquisas e estudos realizados no Mestrado e Doutorado da Profª. Noely Montes Moraes, que se desdobraram em publicações, incluindo um livro, e na titulação em relações de gênero obtida em setembro de 2003. Foi sentida a necessidade de ter um lugar onde fosse possível dar continuidade a esses estudos, especialmente em utilizá-los sob a forma de prestação de serviços à coletividade; a seguir, em 2003, a equipe de triagem realizou um levantamento das queixas dos pacientes em espera na Clínica, em que foi possível constatar a alta incidência de questões de relacionamento, em especial, de queixas relativas às questões amorosas; por fim, os alunos do núcleo 12 de 2003 apresentaram um abaixo-assinado solicitando um aprimoramento sob a coordenação da Profª. Noely. Diante desses fatos foi proposto o aprimoramento em questão, na medida em que respondia às demandas da supervisora, dos alunos e dos pacientes. O sofrimento amoroso é uma queixa freqüente nas conversas e nos consultórios. Alimenta as tramas de novelas, filmes e a arte em geral. Se os dilemas amorosos sempre estiveram presentes é na contemporaneidade que atingem proporções ainda maiores. Com as transformações nas relações de gênero, o casamento, a sexualidade, a família, e o namoro, se tornaram campo privilegiado de conflitos, frustrações e, paradoxalmente, de altas expectativas de satisfação. Algumas políticas de saúde, como a prevenção da Aids e da gravidez precoce, esbarram em dificuldades relacionadas às questões de gênero como a exigência do uso de preservativos. Enfim, as dúvidas e angústias sobre o tema são abundantes como se pode notar nas revistas, jornais e nos sites da Internet. O psicólogo é muitas vezes consultado pela mídia para responder às indagações detectadas no público. Para que esta orientação seja eficaz e ética, o psicólogo deve ter estudado e refletido sobre o tema em todas as suas implicações (pessoais, coletivas, ideológicas) evitando comentários baseados em senso comum e moralismos que perpetuam preconceitos. Adotando essas diretrizes, iniciamos o aprimoramento em 2004 com dez aprimorandos: Carla Regino, Fernanda Menin, Helena Girardo de Brito, João Paiva, Lílian Loureiro, Luiz André Martins, Mariana Leite, Marina Winkler, Priscila Parro e Thiago Pimenta. Durante o ano de 2004 o grupo atendeu 21 pacientes, com as seguintes queixas: desilusão amorosa; ciúmes do parceiro; ciúmes por parte do parceiro; conflitos relacionados à sexualidade; luto pela separação; dificuldade em estabelecer e manter relacionamento; desgaste da relação conjugal; insegurança; insatisfação no relacionamento; ausência de liberdade e individualidade na relação; e solidão. Vale a pena ressaltar que alguns dos pacientes apresentaram mais de uma queixa. Além dos atendimentos clínicos, o grupo foi solicitado a desempenhar outras tarefas. Recebemos um convite do coordenador do site Vya estelar da UOL, para assumirmos uma coluna quinzenal sobre temas amorosos. O grupo assumiu a tarefa escrevendo primeiramente sobre temas solicitados pelo coordenador do site, e depois propondo temas que julgamos importantes. Colocamos 17 artigos no ar, sendo eles:

1º) É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo
2º) Fui traído, e agora?
3º) Mas, afinal, o que é traição?
4º) Por que trair implica em sacrifício?
5º) Afinal, o que é dar certo num relacionamento amoroso?
6º) Será que sou realmente capaz de amar?
7º) Ele (a) usa drogas, o que fazer?
8º) Estou sendo usado (a) neste relacionamento?
9º) Solidão criativa ou destrutiva? Você decide.
10º) Amor: os opostos realmente se atraem?
11º) Amor: quando ele ganha menos do que ela
12º) Porque a vida a dois é uma missão quase impossível?
13º) Qual o novo papel da mulher?
14º) Por que o ciúme é parente próximo da inveja?
15º) Por que cada um tem o parceiro que merece?
16º) Grávida? Saiba como a gravidez afeta suas emoções
17º) Por que o homem fica "grávido"?

Assim, nossa intenção de levar a reflexão sobre as questões amorosas à coletividade estava sendo cumprida. Com a publicação do 1° artigo, uma surpresa: quase cem e-mails de leitores dirigindo perguntas e comentários ao grupo. Tivemos de abarcar mais essa tarefa. Criamos um endereço eletrônico próprio e nos organizamos reunindo as perguntas nas seguintes categorias: definições e reflexões sobre o amor; ciúmes; insegurança; agressão; homossexualidade; solidão; atração por mais de uma pessoa; separação conjugal; insatisfação com o parceiro; sexualidade; amor não correspondido; infidelidade; questões de vínculo; busca de "receitas"; obstáculos externos na relação; não pertinentes. Elaboramos respostas-padrão para as perguntas mais freqüentes e dividimos o número de e-mails entre nós. O número total de e-mails foi 578, e vale a pena ressaltar que alguns dos e-mails foram contemplados em mais de uma categoria. Aqui cabe um agradecimento ao NPPI pela assessoria dada em relação aos aspectos técnicos e éticos na elaboração das respostas, uma vez que o objetivo não é o de se realizar psicoterapia on-line, mas sim de prestar orientação e esclarecimento. A publicação do 1° artigo trouxe outra surpresa e mais trabalho: a Editora Musa fez contato conosco e convidou-nos a escrever um livro com o título do artigo: "É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?". Aceitamos o convite e iniciamos a elaboração do livro, agora já concluído e aguardando publicação. Estes são os capítulos:

CAPÍTULO 1 - O Amor na Contemporaneidade
CAPÍTULO 2 - O Significado do Amor na Vivência Pessoal do Homem e da Mulher
CAPÍTULO 3 - Relacionamento Amoroso e o Peso das Expectativas
CAPÍTULO 4 - Traição
CAPÍTULO 5 - Os Mitos e o Amor
CAPÍTULO 6 - É Possível Amar Duas Pessoas ao Mesmo Tempo

Todas essas solicitações foram acatadas, pois representavam oportunidades de atingir exatamente os objetivos que nortearam a criação deste aprimoramento: constituir um núcleo de estudos, pesquisas, serviços, atendimentos, orientações e divulgação na área das questões de gênero e de relacionamento amoroso. Para dar conta da supervisão dos casos, da distribuição e execução de tantas tarefas, aumentamos o tempo da supervisão que passou a ser de três horas e fizemos reuniões aos sábados. Devemos registrar que tudo isso só foi possível porque o grupo que se formou reuniu talento, empenho, envolvimento e responsabilidade, mas acima de tudo, porque cada um de nós se sente particularmente tocado pela energia de Eros e Afrodite e abraçamos esse trabalho com paixão, como se abraça um amante, sabendo que esses deuses são impacientes e exigentes, e que seu chamado jamais pode ser ignorado.