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BOLETIM CLÍNICO - número 18 - setembro/2004

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos



7. Serviço Inclusão / 2004

1 - Considerações Iniciais

A Organização Mundial de Saúde da ONU (OMS) estima que 10% da população do mundo é afetada por algum tipo de anomalia (deficiência) física e / ou mental, que exige recursos especiais para que sua inserção na cultura se realize.

Esses 10% mundiais de pessoas necessitadas de recursos especiais sociais / médicos / educacionais / emprego apoiado está, pelas estimativas da OMS, assim distribuído:

- afetados pela deficiência mental:........ 5%
- afetados pela deficiência física:.......... 2%
- afetados pela deficiência auditiva:...... 1,5%
- afetados pela deficiência múltipla:....... 1%
- afetados pela deficiência visual:......... 0,5%

Em termos da população do Brasil, por essa estimativa, contaríamos então com 8 milhões de pessoas afetadas pela deficiência mental e uma população total de 16 milhões de pessoas, que a grosso modo, podem ser descritas como pessoas portadoras de necessidades especiais, se pudermos considerar que o Brasil seja um país desenvolvido, pois as estimativas da OMS se modificam frente aos paises em desenvolvimento ou sub-desenvolvidos: o percentual de 10% de pessoas afetadas por essas deficiências, nos paises nessa condição, salta para 25%. Isto significa, que nesses paises sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento, se incluirmos no cômputo os familiares e parentes, que devem cuidar dessa população, em condições muito precárias de apoio, encontraremos que 50% da população sofre as conseqüências resultantes do pauperismo do país e das deficiências físicas e / ou mentais de um ou mais de seus membros, o que necessariamente acaba por atingir o próprio desenvolvimento do país.

2 - A função das universidades frente às diversidades humanas.

Naturalmente, frente ao grave quadro das conseqüências pessoais e sociais acarretadas pela existência de percentuais, numericamente tão significativos, da existência de pessoas, por variados fatores, necessitadas de políticas inclusivas, por marcas que portam no corpo, a função das universidades torna-se primordial na formação de pesquisadores, prestadores de serviços e educadores sensíveis e atentos a essa população e às políticas inclusivas.

Não se trata aqui, é meu modo de ver, de incluir as pessoas portadoras de necessidades especiais, mas de incluir as pessoas formadas nas universidades, para uma atuação efetiva nos campos da excepcionalidade e das políticas inclusivas, deixando as universidades de serem uma espécie de ilha da fantasia, que apenas de modo marginal, encaram as excepcionalidades humanas - elas são, não só significativas numericamente como, no nosso país, estão à margem de qualquer política governamental efetiva.

As universidades, pela sua própria função, deveriam estar muito mais voltadas e empenhadas nos campos da excepcionalidade no Brasil, a fim de poderem subsidiar e contribuir, de modo efetivo, para com as políticas inclusivas já existentes e para a formação de profissionais aptos à prestação de serviços inovadores e eficientes, adequados às nossas realidades sócio / culturais. Ainda hoje impera, com algumas exceções, no campo da excepcionalidades, políticas de fundo assistencialista, geralmente praticadas em instituições originadas a partir das urgências dos familiares das pessoas portadoras de necessidades especiais.

É dentro desse propósito, de formarmos psicólogos atentos e competentes, inseridos nas questões deste novo século, que é o século da diversidade, que foi concebido o Projeto Inclusão em 2000.

O Projeto Inclusão deve ser tomado na acepção correta de sua nomeação - incluir os formados em Psicologia da PUC-SP, nos campos da excepcionalidade, a partir da experiência de atendimento clínico / psicológico de orientação psicanalítica a pessoas portadoras de um funcionamento intelectivo específico, usualmente conhecido como deficiência mental. Na população considerada como habitante do que eu denominei, inspirada na Bíblia, no episódio da história de Caim e seus descendentes, como moradora do leste do Éden, as pessoas consideradas deficientes mentais constituem certamente a população moradora dos territórios mais distantes e ignotos, pelo impacto que causa ao nosso narcisismo.

Esse Projeto Inclusão tem atualmente, à partir de 2004, um braço que se constitui o Serviço Inclusão, que, na Clínica Psicológica Anna Maria Poppovic, se localiza no Aprimoramento Clínico Institucional.

A Clínica Psicológica, sempre atenta ao que, quando professora chefe dela, nos anos de 81/ 85, eu defini como uma das suas tarefas primordiais: ser o local do encontro entre o teórico/reflexivo e a prática clínica voltando-se depois para o teórico/reflexivo, refinado agora pela experiência clínica, se constitui assim um efetivo espaço que pode contribuir para as adequações que se façam necessárias ao currículo que temos e desse modo podermos sempre, enquanto Faculdade de Psicologia, contarmos com um currículo atualizado e renovado, que se adapta sensivelmente às contingências atuais.

3 - Serviço Inclusão

O presente projeto de instalação de um Serviço Inclusão na Clínica Psicológica é bastante geral nesta sua apresentação inicial.

A instalação deste Serviço Inclusão específico para o atendimento de pessoas deficientes mentais e seu entorno (cuidadores, instituições especializadas, equipes institucionais especializadas, recursos de comunidade, instituições inclusivas) se fundamenta no fato de que é clinicamente observável que as pessoas afetadas pela deficiência mental, contam com um aparato psíquico em tudo e por tudo semelhante ao das pessoas não afetadas por ela e estão inseridas no mundo humano, necessitando apenas de recursos especiais que facilitem seu acesso à cultura, e entre estes o atendimento psicológico e psicoterapêutico. Justifica-se assim a instalação desse serviço numa clínica escola.

A - Objetivos

3.1 - Atender psicologicamente (diagnóstico e psicoterapia de orientação psicanalítica) a população de pessoas deficientes mentais que procuram a Clínica Psicológica "Ana Maria Poppovic", recorrendo, sempre que necessário, aos serviços complementares dessa Clínica e inserindo-se assim num atendimento multiprofissional.

3.2 - Propiciar atendimento psicológico aos cuidadores dessas pessoas através das modalidades Consultas Terapêuticas, Grupos Operativos, Grupos de Reflexão bem como às instituições especializadas / inclusivas públicas e não governamentais para questões de Inclusão.

3.3 - Habilitar o jovem profissional (através do Serviço Inclusão) e os alunos da Formação Profissional da PUC-SP (através do Projeto Inclusão), à prestação de serviços psicológicos junto a essa específica população, deles carente, bem como incentivar a produção de conhecimento no campo das deficiências mentais e diversidade humana por marcas no corpo.

3.4 - Realizar e atualizar um levantamento dos recursos sociais disponíveis na cidade de São Paulo, quer inclusivos, quer os específicos para a população portadora de necessidades educacionais e sociais especiais, procurando para isso estabelecer parcerias com a Faculdade de Serviço Social e com a Faculdade de Educação, Secretarias da Saúde e Educação e através das respectivas coordenadorias das sub - prefeituras regionais da cidade de São Paulo.

3.5 - Contribuir para alargar a inserção da Clínica Psicológica:

1) nas políticas sociais de inclusão, pelo atendimento psicológico supervisionado dessa população / alvo e seu entorno familiar e social.

2) pelo estabelecimento de parcerias com serviços públicos e não governamentais existentes, atendendo assim a vocação social da PUC-SP e muito especificamente essa vocação na Faculdade de Psicologia.

3.6 - Contribuir para alargar o leque profissional das atividades dos psicólogos clínicos e institucionais, pela habilitação profissional neste campo, o que naturalmente ampliará sua competência em todos os demais campos, pelo refinamento de sensibilidade do seu olhar clínico.

B - Justificativas

O Serviço Inclusão, agora apresentado, justifica-se:

a - Pelo número de pessoas afetadas pela deficiência mental no Brasil (estimado em 8 milhões de pessoas, diagnosticadas antes do dezoito anos).

b - Pela exigüidade de relatos clínicos psicológicos, voltados para essa população, publicados. Tudo acontece como se as pessoas por afetadas pela deficiência mental fossem apenas afetadas organicamente, e logo, devessem ser apenas objeto de educação especial ou reabilitação.

c - Desconsidera-se seu profundo sofrimento psíquico detonado por sua anomalia, a qual é determinante de um aparteid social efetivo que é também compartilhado pelos familiares e pelos profissionais pelos que se dedicam a essa população. Ficam todos isolados no leste do éden, conforme exposto na minha tese.

d - Nas Faculdades de Psicologia urge que nos debrucemos sobre modos e meios de atender psicologicamente essa população, as instituições a ela destinadas, os profissionais dessas instituições e os cuidadores dessas pessoas.

4- Profissional responsável: inicialmente Maria Cecília Corrêa de Faria, como professora supervisora. Poderá o Serviço Inclusão contar com parcerias e profissionais voluntários, a serem efetivadas, que serão oportunamente detalhadas.

5- Inter- relação com demais atividades da Clínica, inter-relação com outros setores da PUC-SP, inserção de estagiários: como já foi exposto acima é nossa pretensão o estabelecimento de parcerias com outras faculdades da PUC-SP, já estando inserido este Serviço, pelo Projeto Inclusão que lhe dá origem, nas outras atividades da Clínica desde 2000. A inserção de estagiários será feita de acordo com as regras que regem os Serviços da Clínica, de modo geral.