aprimoramento - topo banner - clínica psicológica - puc-sp

BOLETIM CLÍNICO - número 12 - abril/2002

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


4. Breve história do convento de Santa Tereza (Entrevista com Roberto Coelho Barreiro Filho) - Efraim Rojas Bocalandro

E- Antes de começar o diálogo eu gostaria que você apresentasse a sua trajetória.

R- Bom, eu entrei aqui há 24 anos atrás, na época da invasão da Universidade. Eu fui trabalhar na matemática com o professor Fernando Furquim de Almeida e com o professor Marcelo Dami de Souza Campos, eu trabalhava na Pós Graduação de lá. Em menos de um ano eu estava trabalhando no jornal Porandubas que foi um jornal que durou 12 anos na Universidade e eu trabalhei para assessoria de imprensa durante esses 12 anos, trabalhei como secretário do Padre Edênio, no conselho comunitário, depois eu fiz parte do grupo constituinte da Universidade, na época em que as coisas eram decididas de modo paritário dentro da PUC. Depois eu fui um dos coordenadores da primeira eleição para reitor, que elegeu a professora Nadir junto com o professor Hélio Roberto que hoje é da vice-reitoria comunitária, e com o Mariano que já não está mais nesse mundo, já foi embora da Universidade faz tempo. Depois que eu saí da assessoria de comunicação eu vim para a secretaria da Fundação São Paulo e aqui estou há aproximadamente dez, doze anos.

E- E no campo acadêmico como é que foi seu currículo?

R- Bom, eu sou publicitário da FAAP e fiz rádio-televisão lá também, depois eu vim pra PUC e na PUC eu fiz o mestrado em comunicação e semiótica, mais especificamente em semiótica da cultura, área na qual fiz a minha tese de mestrado. Feito isso eu fui para o doutorado em história, História da Cultura, área na qual realizarei minha tese de doutorado que conta a história da Universidade Católica de São Paulo faço um cruzamento entre a história da Universidade, as reformas da igreja e a expansão da cidade de São Paulo; mostro geograficamente a cidade de São Paulo e a sua expansão territorial, mostro a reforma da igreja, da necessidade da igreja de estar mais ligada ao povo, mais ligada a essa parte de conhecimento e de ensino e no surgimento da Universidade Católica como um projeto dentro desse projeto da reforma católica.

E- Você nasceu em São Paulo, você acompanhou o crescimento da cidade?

R- Eu fui criado em Ribeirão Preto, eu nasci em São Paulo aqui na Maternidade São Paulo.

E- Aqui na Frei Caneca ?

R- É exatamente, aqui na Frei Caneca. Mas eu fui criado na cidade de Ribeirão Preto, voltei pra São Paulo com oito anos de idade e aí fiquei por aqui; morei na Lapa, em Pirituba e nas Perdizes.

E- E como você acompanhou a transformação das Perdizes, de um bairro de casas relativamente pequenas a todos esses monstros...

R- Por exemplo, hoje eu moro na Leopoldina e quando eu era criança e vim pra São Paulo, você falava do bairro da Leopoldina e logo imaginava fábrica, operário e casas de trabalhadores. Hoje eu moro na Leopoldina e ela está virando uma Moema, todas as fábricas estão caindo e no meio das fábricas aqueles espigões imensos... agora estão dizendo que venderam o Ceasa, e que ali onde está o Ceasa hoje vai virar um conjunto habitacional. Então eu vi a Lapa, andei de bicicleta na rua 12 de Outubro; hoje a Lapa é um bairro extraordinariamente comercial, com camelôs na rua... deu pra ver bastante mudança.

E- Eu quis lhe perguntar porque eu conheço São Paulo desde o quarto centenário, que eu cheguei no Brasil em 54, eu vim morar em São Paulo a partir de 1960, quando Perdizes era esse bairro residencial, casas residenciais, escolas... não tinha esses prédios. Pegava o bonde até a Doutor Arnaldo, andava de bonde em São Paulo, depois toda essa transformação de cidade grande para megalópole; e eu assisti a construção do chamado prédio novo dessa universidade. Mas do outro prédio que era o convento de Santa Teresa, eu sempre tenho uma profunda impressão... quando eu cheguei nesse prédio eu desci aqui para o pátio da cruz, e aí eu senti alguma coisa diferente só que eu não sei o que. Não sei como dizer, a gente sabe o que sentiu mas não sabe como explicar em palavras... e eu considero que esse pátio, essa vibração foi o que fez com que eu permanecesse nesta universidade apesar de muitas contingências incômodas para mim, claro que também pesou muito na balança; a nossa liberdade de ser professor aqui na PUC, e todo o tempo que estou aqui, até hoje, nós professores, temos toda liberdade para produzir nossos programas e espaço para apresentar programas diferentes... enfim todo esse clima de liberdade de ensino me fez ficar aqui. Eu sei que você tem a história do convento de Santa Teresa.

R- Na verdade hoje esses prédios eles tem nome, como o senhor está falando, o convento de Santa Teresa. Na verdade teríamos que chamar de convento de Santa Teresa, anexo ao convento de Santa Teresa eles foram adaptados pra aula; o prédio que é chamado de novo, na verdade ele chama edifício Bandeira de Melo, então de novo ele não tem mais nada porque ele também é antigo... o nosso prédio novo seria aquele predinho que fica ali na Cardoso de Almeida, esse é o mais novo, que o pessoal apelidou de Cingapura. Dentro dessa liberdade que o senhor está falando, da academia, a gente tem que declarar que a PUC é um campus de uma liberdade muito grande, de uma democracia muito constante. Na história do próprio convento tem isso, a PUC ela começa lá em Higienópolis e quando ela vem para o convento, o Doutor Aquino que comentava isso. Afirmou que vieram para ver as freirinhas, eram vinte e nove freirinhas que moravam aí nesse prédio e elas andavam descalças, tinham uma vida muito reclusa porque eram enclausuradas e um dos primeiros atos democráticos que foram feitos, foram feitos com as próprias freirinhas, que foi pedido que o Dom Carlos Carmelo Mota pedisse a elas, exigisse, que andassem calçadas, de preferência com meia, com sandálias e meia; o prédio era muito úmido e isso causava muitas doenças às freirinhas, até aquela data ninguém tinha pensado nisso. Quando a PUC pela primeira vez entrou dentro do convento já pensou em fazer mudanças, a ala que tem dentro desse prédio é uma coisa muito curiosa pra quem não conhece, a ala dos dormitórios, a ala das celas das freirinhas é onde hoje está o RH, a ATP, a sala de reuniões, que é a grande sala de reuniões da universidade e a parte da reitoria. Onde elas permaneciam em descanso é onde hoje tem os principais setores da universidade; na ala onde tinha as atividades delas foi aonde surgiu o básico, as salas onde ficava a metodologia científica eram as salas de atividade das freiras.

E- Em que parte do pátio é?

R- É no segundo andar, no piso térreo da Monte Alegre, na lateral esquerda desse prédio olhando pela Monte Alegre. Ali eram as salas de atividades delas, onde elas ficavam para o trabalho do dia-a-dia, leituras e tal. Onde hoje está a faculdade de psicologia era o lugar de oração, o lugar da alma. Aonde hoje tem a ACI e é a entrada da universidade era o salão de chá e no andar onde tem o pátio da cruz era a área de lavanderia e de cozinha, e onde você tem hoje o centro de educação, ambulatório, a parte de ciências sociais. O pátio da cruz sempre foi daquela maneira, ele não foi alterado a não ser os arcos que foram fechados para que utilizassem como salas, onde hoje tem o laboratório de anatomia e onde é o centro de educação e o ambulatório. Se você for até lá vai ver que os arcos continuam dentro das secretarias, eles eram maiores, exatamente para que no período de chuvas você pudesse utilizar aquela área como área útil pra trabalho. Então é interessante verificar que nesses três andares, depois tem os porões também né, mas que nesses três andares você tem esse tipo de coisa acontecendo, dividida mesmo.

E- Eu li a respeito numa impressão, numa cópia do jornal da universidade da PUC em que está se falando que as dimensões, a configuração desse convento obedeceu fielmente à normas da confraria carmelita.

R- Ah sim, é, o prédio parece uma mandala, o prédio ele tem uma configuração de mandala, não que as carmelitas pensassem na mandala, mas ele tem uma configuração de mandala

E- Talvez essa configuração seja anterior à essas carmelitas, uma configuração bem mais antiga, o pátio tem uma disposição geometricamente perfeita, um quadrado perfeito. Então sabemos que todo quadrado pode ser inscrito dentro de uma circunferência, se essa circunferência é real, ou seja, completa ou é uma configuração imaginária, tanto faz. Se nós fizermos uma planta do prédio, do quadrado, nós podemos inscrever esse quadrado numa circunferência em que o raio vai ser o centro do quadrado até uma das quinas.

R- E é interessante que esse quadrado, pensando na estrutura arquitetônica dele, ele possui quatro grandes fundações e essas fundações estão em pedra, elas não foram feitas como são feitas hoje, elas são blocos imensos de pedra que seguram o prédio no seu terreno.

E- E dá para ver esses blocos de pedra?

R- É possível saber onde eles estão, mas não é possível ver.

E- E como você soube desses blocos?

R- Eu participei do projeto PUC 2000, e o arquiteto Guedes fez todo um projeto de reforma para esses prédios de maneira a unir o que é chamado de prédio novo com o que é chamado de prédio sede, então o convento é o prédio reitor de Melo, e também teríamos um terceiro prédio em cima de onde hoje está a quadra, e nós teríamos ligações; para que se pudesse fazer esse tipo de construção era necessário saber como era a fundação do prédio para não abalá-lo, e aí se descobriu isso, esse prédio tem uma fundação que é fantástica porque ele tá no morro e ele tem uma segurança muito grande, muito forte. Só que ele não deveria funcionar para abrigar muita gente dentro dele, ele foi construído para que as pessoas não ficassem circulando dentro dele, ele é um prédio pra residência e foi transformado em sala de aula, ganhou um anexo, perdeu uma torre, então tem algumas mudanças que foram feitas pra adaptá-lo pra aula.

E- Voltando o bloco de pedra, será coincidência aquela afirmação de Cristo sobre pedra construirei minha Igreja.

R- Eu não sei, toda igreja é construída num lugar alto, quando eu fazia a faculdade lá na FAAP eles diziam que essas construções católicas eram feitas em locais altos porque era uma proposta de marketing, e que o sino é o primeiro veículo de propaganda inventado pelo catolicismo... então eu não sei...cada um vê de um jeito. A igreja fica num lugar alto e todo mundo vê.

E- Mas também um lugar que está mais próximo do céu real, pra não dizer da Jerusalém celeste da Parusia, como se fosse um canal que pode levar a Jerusalém celeste.

R- Eu acho que o céu está mais perto da gente do que a gente imagina, e eu acredito muito que a pessoa faz a sua fé, a energia do ser humano é capaz de fazer grandes coisas, eu acredito nisso.

E- Grandes coisas e coisas muito ruins.

R- É, mas aí é que tá, eu acho que o homem nasce bom e ele se transforma em uma pessoa rude, porque viver em comunidade é uma coisa muito difícil, é mais fácil ele se isolar e começar a bater nos outros. Se todo mundo desse a mão ninguém puxava o gatilho.

E- Seguramente não tinha dedo pra puxar, ou uma arma no meio das mãos, gostei dessa imagem. Voltando ao prédio do convento de Santa Teresa, das carmelitas. Quando eu cheguei aqui na universidade o pátio da cruz não tinha canteiros...

R- Tinha umas roseiras...

E- Mas não eram canteiros muito grandes...aí, não sei quem determinou que se plantassem essas arvorezinhas que tem lá que o jardineiro me disse que são ficos, não sei até que ponto isso é correto.

R- São umas palmeirinhas né...

E- O fato é que são as palmeirinhas que me chamaram a atenção porque elas cresceram muito rápido e chegaram a uma altura muito grande, hoje algumas já estão fora do telhado.

R- É, estão já saindo do prédio.

E- Essas palmeirinhas cresceram tanto porque não tem vento, forte no Pátio da Cruz por ser um ambiente fechado.

R- Elas são muito fininhas né...

E- Muito fininhas...

R- E eu não sei porque se escolheu esse tipo de árvore para colocar ali também, é um mistério...

E- Pois é o mistério que eu estou vendo, de repente... Uma delas dá um abraço na Cruz do Pátio. De repetente tem um cruzeiro tropismo, uma das arvorezinhas em vez de ir para o céu, para o alto, ela faz uma cambalhota e vem colocar sua copa no centro da cruz.

R- A arvorezinha chega no centro da cruz do Pátio que está no centro do Pátio. Então além desse movimento estranho nós percebemos também uma outra arvorezinha que cresceu em direção ao céu mas que de repente muda sua trajetória para se aproximar do que podemos chamar de terceiro andar contando do pátio da cruz.

E- Ela aponta para o lado do RH não é isso?

R- Isso.Que daria para a direção da torre da igreja também se quiser pensar assim.

E- A torre da igreja que foi retirada?

R- Não não, a torre mesmo da capela da universidade, ela aponta para o que seria a ponta da capela da universidade, está apontando para o que seria a sala do RH hoje só que continuando da sala do RH você aponta para a torre da igreja, da nossa capela da universidade... e me parece que essas duas árvores saem do mesmo local do chão né?

E- Não sei, isso eu não lembro.

R- Me dá essa impressão...essa lembrança agora. O mais engraçado aí eu acho que é o abraço da árvore na cruz.

E- É um fato e eu não conheço outro igual, o tropismo que eu conheço, é o tropismo dos navegadores do século XVI.. .em direção ao cruzeiro do sul. Agora um tropismo vegetal, uma planta que tem um tropismo para uma cruz é a primeira que eu vejo, entendo isso como um fato marcante que se impõe à minha consciência.

R- O pátio da cruz ele tem um sentido diferente dentro dessa universidade. É interessante assim, as primeiras festinhas de final de ano que eram feitas entre os funcionários eram feitas no pátio da cruz, depois todas as atividades estudantis da década de 60 eram feitas no pátio da cruz, as pessoas vão no pátio da cruz hoje para ter um momento de reflexão. A professora Anne Shyrlei fez uma pesquisa dentro da universidade perguntando qual seria o ponto de encontro, aos alunos, e ela imaginava que todo mundo fosse dizer a rampa, o restaurante, a prainha que todos gostam.

E- A quadra de esportes...

R- Sim, mas o lugar mais votado foi o pátio da cruz. Existe uma ligação da pessoa que entra na universidade e se depara com o Pátio e surge uma paixão a primeira vista. É uma coisa de atração mesmo.

E- Amor à primeira vista...

R- É... e ele te leva de fato a uma reflexão, a uma paz interior. E é engraçado que hoje as pessoas fazem shows de rock no pátio da cruz, os alunos querem o pátio, eles não querem fazer isso na quadra, no salão, no anfiteatro, no teatro de arena...quando os alunos querem fazer um show, alguma manifestação cultural, eles querem fazer isso no pátio da cruz. É interessante esse caminho para o pátio da cruz.

E- Você me deu uma informação que eu não tinha, não sabia dessa pesquisa que vem a confirmar essa impressão que o pátio me deu há tantos anos atrás, que já são 42 anos atrás.

R- E é interessante porque você sente ali algo de energia, os centros acadêmicos estão todos sediados no subsolo do prédio do convento, é como se você tivesse um abrigo natural ali. O centro acadêmico de direito, de ciências sociais, cavaram por debaixo do pátio da cruz para utilizar mais espaços dentro, e existe um pequeno espaço ali aberto pelo anexo do convento, o anexo do prédio sede, que o centro acadêmico de direito quer a todo custo abrir uma porta para lá, e ele fica numa área aberta que ninguém utiliza, e fica bem no meio do anexo do prédio sede. É engraçado isso porque as pessoas querem ficar dentro do convento, isso é um fato curioso. Esse anexo, foi feito há uns anos atrás quando decidiu que quem tivesse no convento de Santa Teresa pudesse ir por dentro até a escada que leva ao prédio chamado de Bandeira de Melo. Não existia. Quando foi feito o pré anexo não existia o prédio Bandeira de Melo. No local onde tem esse prédio chamado prédio novo era um campo de futebol e uma quadra fechada.

E- Quando eu cheguei em 60 não tinha quadra, era só o campo de futebol.

R- E nós tínhamos um campo coberto aonde é a área hoje da biblioteca. Pra ter uma idéia ali era um ginásio coberto, onde hoje é a nossa quadra era um jardim, uma espécie de pracinha que ficava ali. Esse anexo ele foi feito na reforma do prédio para adaptar o convento às salas de aula. Isso no final da década de 50, começo da década de 60 aproximadamente.

E- Então começou a ser usado como local de ensino a partir de que ano?

R- 52, 53... por aí. Então a idade da universidade conta a partir da formação do campus Higienópolis. Do campus de Higienópolis, onde hoje é a cúria metropolitana foi ai que começou a PUC de São Paulo. Começou com a doação da casa da cúria metropolitana. E os alunos e os professores da São Bento que saíram do Largo de São Bento foram colocados naquela casa, porque a faculdade de São Bento não entregou nenhum patrimônio para a PUC. Entregou alunos e professores. E aí a Faculdade Paulista de Direito que foi pra lá, instalou-se também nessa casa. Quando essas faculdades se instalaram no campus Monte Alegre ela se juntou à faculdade de administração. Tínhamos 3 faculdades agregadas mais ficava ali em Santa Cecília, o Sedes Sapientiae, que era como unidade agregada e também a FEI como unidade agregada que faziam parte da formação inicial da Universidade. O Sedes foi a unidade que entregou mais patrimônios à Universidade. Ele entregou um campus pronto, que é o campus do Sedes Sapientiae lá na Marquês de Paranaguá; além de uma imensa Biblioteca, alunos, patrimônio e professores.

E- Depois o Sedes Sapientiae foi incorporado né?

R- É... a incorporação se dá em 71 por conta do regimento, da lei do MEC e se o Sedes não se incorporasse à PUC, nós não teríamos PUC porque os cursos que o Sedes entregou à Universidade garantiram o número de cursos pra que a PUC fosse Universidade, senão ela seria uma faculdade de direito e filosofia, alguma coisa assim. E é engraçado que todo mundo veio pra fazer parte da PUC dentro desse prédio que é o convento porque todas as reuniões de conselho, todas as reuniões, a própria reitoria... Ah, e um outro fato engraçado também é a não saída da reitoria do prédio do convento. O Bandeira de Melo quando construiu esse edifício que hoje tem o nome dele, no quarto andar ele projetou para ser a reitoria, e montou lá todas as salas para as vice-reitorias, para as reuniões dos conselhos.

E- Agora eu entendi porque o quarto andar é top set...

R- É, é todo diferente. E assim que ficou pronto a reitoria deveria ter ido pra lá, só que ela optou por não ir, e optou por ficar no local do convento.

E- Eu tenho uma curiosidade, eu conheci um pequeno auditório no local da reitoria Depois fizeram um tapume e realmente se perdeu toda linha de conecção entre a reitoria e esse espaço aberto no fim da escada. Você sabe o que aconteceu com esse auditório?

R- Nós tínhamos um auditório ali no andar superior, do prédio sede. Ele ficava na verdade onde hoje está o RH, lá no fundo, inclusive tinha um tablado.

E- Se eu não me engano era nesse local da reitoria que tinha a porta a escada.

R- Ah sim, existia um outro auditório onde hoje fica a sala do reitor, inclusive uma sala grande, bem grande. Pra auditório é pequeno mas para sala é bem grande. Eu não tenho entrado na reitoria nesses tempos, eu não sei se foi dividida aquela sala, ela ficaria muito bem dividida.

E- Agora o que é estranho é esse tapume na frente do nosso vitral né?

R- Ah, hoje tapa ali a saída do vitral, porque antes era um hall de distribuição... foi na segunda reitoria da professora Nadir que fecharam essa área. Esse prédio foi tombado pelo patrimônio histórico, acredito que seja o momento de começar a estudar a retirada dessas divisórias... Inclusive a própria cor dele, porque esse prédio originalmente é verde musgo na sua soleira e branco que são as cores das carmelitas. Ele é um verde bem escuro no sopé do edifício, depois ele passa ao branco, é todo branco...e ele foi pintado com essa cor meia... meia cor de rosa. É como o arquiteto Guedes fala, como ele não tem um estilo definido, que segundo Guedes é neobastardo. O próprio Guedes fala que o convento não tem estilo definido.

E- Curioso, achei que tinha alguma coisa de colonial...

R- Ele lembra muito alguma coisa de colonial, depois ele lembra muito alguma coisa barroca... e não lembra nada porque não tem estilo arquitetônico definido. E aí é que tá, de novo nós estamos falando de um tombamento de um prédio, não pelo o que ele é arquitetonicamente falando, mas pelo o que ele é na sua essência, porque o prédio do convento de Santa Teresa foi tombado por tudo aquilo que a PUC representou no cenário nacional... é estranho né, ele é como se fosse o símbolo de um período histórico e não uma arquitetura que deva ser preservada, o que se está preservando ali é a memória de uma história recente da história da Universidade Católica, de novo nós estamos falando da alma e não do material.

E- E também o prédio é novo, ele foi construído em 1924...

R- Ele é bem recente, inclusive saiu no jornal que ele pertencia à chácara do Cardoso de Almeida. Ele não pertencia. A chácara estava aonde hoje é o colégio São Domingos. Existe aí um erro de trajetória. A chácara do Cardoso de Almeida era bem grande, mas ela pegava o que hoje chama rua Cardoso de Almeida e que antigamente chamava rua do Tombo, por conta de que você descia as ladeiras da Cardoso de Almeida e caía. Da mesma época do convento Santa Teresa é também a formação do colégio Santa Marcelina, e se entrar no pátio velho do colégio Santa Marcelina vai ver a mesma configuração do nosso Pátio da Cruz.

E- E tem cruz lá também?

R- Não, no meio do pátio tem um poço de água. Teve água durante muito tempo, hoje está desativado mas existe toda a estrutura pra água. E é interessante também porque são três andares, no último andar também é dormitório até hoje porque tem ainda as internas No segundo andar é de atividade e no andar do poço é onde fica hoje o ginásio de esportes A cozinha, é a mesma configuração desse.

E- Não foi convento ali também?

R- Não foi convento porque foi feito ali pra ter aula, pra as alunas que vinham do interior no tempo dos barões de café.

E- É no centro do Pátio que está o poço?

R- É bem no centro do pátio que fica o poço de água.

E- Fica como uma mandala, que simboliza a água, a contrapartida do fogo celeste.

R- É como a igreja, a nossa capela é feita em formato de cruz, onde o centro da cruz é o altar, isso também é uma configuração feita por norma da igreja.

E- No formato da Cruz, temos o cruzamento da energia celeste fogo com a energia da água , por isso, a cruz simboliza o andrógino, a totalidade. Na cruz temos o braço vertical que simboliza o fogo. O masculino. E o Braço horizontal que simboliza a água. O feminino. Portanto a integração dos dois aspectos originam o andrógino. Tem um andrógino como uma chama espiritual, todos somos andróginos, psicologicamente temos o masculino e o feminino.

R- E é interessante que se nós colocássemos uma mandala numa cruz, então olhando a cruz de frente ela estaria do lado direito superior a essa configuração da cruz, porque se nós olharmos como mandalas e cruzes nós teríamos uma cruz e no seu canto direito superior nós teríamos uma mandala. É interessante verificar isso porque você tem essa montagem, e esse prédio foi feito dessa maneira.

E- Eu não sei se repete ainda essa orientação da igreja mas antigamente nos primeiros tempos do cristianismo, acho que na Idade Média superior as igrejas eram orientadas para o leste.

R- Aqui eu não sei se isso acontece... a capela ficaria ao leste, o convento estaria a oeste, teria essa configuração. Vai ver que é por isso. Tem coisas muito interessantes neste prédio, ele já foi cercado e depois foi retirada as cercas dele. Uma coisa que eu gosto deste prédio é o jardim e a mureta que é praticamente soma de limitação de espaços. Ali naquela muretinha baixa que tem da calçada pra dentro da PUC, antigamente existia uma cerca de ferro e ela foi toda tirada na inauguração do TUCA e eu acho isso muito bacana.

E- E do outro lado do jardim está muito bonito também, as árvores tem crescido com uma formação bonita, na parte de grama e plantas baixas está muito bom, eu acho que os jardins da frente estão como eles merecem.

R- E uma outra coisa que também deveria ser pensada é a volta da abertura dos portões da Universidade, nós estamos nos fechando por conta dos ladrões, da violência urbana, só que nós somos uma universidade inserida na cidade, nós somos urbanos e nós estamos nos fechando, trancando nos para dentro da universidade, eu acho isso ruim.

E- Novos tempos novas modas né? Eu gostaria de terminar colocando outro é um marco simbólico no prédio do convento das carmelitas. O convento de Santa Teresa. Você sabe quando esse vitral foi colocado no local em que está?

R- Ele foi colocado na reforma no ano de 1950; data que está inscrita no pequeno vitral embaixo do maior.

E- Agora o local foi muito bem escolhido, ali no acesso ao primeiro andar.

R- Ele está no acesso ao andar superior, ele fica entre o andar térreo que seria o primeiro andar se contarmos o solo do pátio da cruz como primeiro andar, como térreo. E aí tem mais um térreo que é lá no subsolo onde estão os centros acadêmicos. É uma confusão porque se conta o terreno da PUC como sendo o endereço oficial a rua Monte Alegre, então o térreo da Monte Alegre é na verdade o primeiro andar desse prédio cujo solo dele está no Pátio da Cruz. E por exemplo esse prédio do Bandeira de Melo é o único prédio que você sai da garagem e vai ao subsolo, você consegue sair de um lugar que é mais baixo que o subsolo e chega no subsolo, e se você subir mais um andar, estaria no terceiro andar, contando do primeiro como sendo térreo você está no andar térreo.

E- Eu, quando queria mostrar para os meus alunos o relativismo, perguntava qual o andar térreo deste prédio. É difícil responder porque são três: o térreo lá embaixo da garagem, rua Ministro de Godoy; tem o térreo do subsolo, Rua Bartira e o térreo da entrada do Pátio Novo.

R- E os centros acadêmicos são os porões do convento de Santa Teresa, o andar térreo do convento de Santa Teresa na realidade deveria ser o pátio da cruz porque afinal está no térreo. Só que como esse prédio está no morro, ele vem tendo térreos, porque se você entrar pela Monte Alegre você adentra no 1º andar.

E- Voltemos ao Vitral. Esse vitral conta toda uma história simbólica. Ele tem o Vaticano em cima. A praça de São Pedro...

R- Isso, depois ele tem os brasões todos...

E- Três brasões...

R- Então olhando para o vitral, à esquerda o brasão do cardeal Mota, no meio o brasão da PUC e no lado direito o brasão do Bispo.

próxima página >>