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BOLETIM CLÍNICO - número 7 - outubro/1999

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


Com este questionário tentamos:

1. pesquisar com mais detalhes os sintomas que sugerissem estar o nosso sujeito em uma crise de pânico;

2. pesquisar com mais precisão se o portador da crise estava vivendo uma situação de estresse, na época do aparecimento da primeira crise.

Sujeitos:
Os sujeitos de nossa pesquisa foram os clientes de nosso consultório particular, clientes da Clínica Psicológica "Ana Maria Poppovic" da PUC-SP e outros contatados pela Internet; todos moradores na cidade de São Paulo. A nossa faixa etária variou de 17 a 38 anos e todos foram informados sobre a pesquisa e se prontificaram a ser voluntários.

A nossa amostra constou de 12 sujeitos de ambos os sexos. O critério de seleção foi o de que fossem portadores da Síndrome do Pânico, diagnosticados por médicos e que tivessem procurado o psicólogo para tratamento, não só pela PAG, mas também por outros problemas psicológicos.

Análise Qualitativa:
Vários motivos diferentes levaram os sujeitos desta amostra a procurarem um psicólogo. Cinco sujeitos nos apontam que procuraram este tipo de tratamento por causa da Síndrome do Pânico; outros seis sujeitos relatam que tal busca se deu por problemas psicológicos, tais como: depressão, fobia, medo, problemas sexuais, insônia, etc. Um sujeito teve uma indicação do endocrinologista para um tratamento psicoterápico, já que seus exames não indicavam nada.

Em relação à idade na qual os nossos sujeitos tiveram suas primeiras crises, é possível dizer que ela varia entre 17 e 38 anos.

As respostas dos sujeitos mostram que as mudanças em suas vidas depois das primeiras crises foram vivenciadas de modos diferentes, enquanto metade deles dizem que não houve mudanças após este acontecimento, a outra metade relata que as mudanças foram significativas, já que alteraram suas vidas cotidianas, normalmente por causa do medo que sentiam.

Quanto ao aspecto da orientação médica, os sujeitos, ao serem perguntados se seguiram ou seguem tal orientação, foram unânimes, já que todos responderam que sim. Isso nos indica que esta amostra foi, toda ela, diagnosticada por médicos como portadores de Síndrome do Pânico. Todos os sujeitos relatam que tomam medicamentos apropriados para o alívio de suas crises, além de antidepressivos. Os remédios mais citados são: Anafranil, Trofanil, Aropax, Lexotan, Valium e Prozac.

Dez sujeitos dizem que fazem terapia atualmente, sendo que apenas um sujeito faz há mais de quatro anos, e os outros nove tem uma média de tratamento psicoterápico que varia de um a três anos. Entretanto, dois sujeitos buscam atualmente ajuda psicológica esporádica, ou seja, apenas durante as crises de Síndrome do Pânico, porque já passaram pelo processo e hoje se sentem melhores.

Onze sujeitos relatam que tiveram uma melhora significativa em seu sofrimento, porém, atribuem essa melhora a aspectos diversos, cinco deles mencionam a associação entre o tratamento psicoterápico e a medicação como responsável pela redução dos sintomas, um sujeito enfatiza apenas os medicamentos, enquanto um outro sujeito fala apenas da terapia. Três sujeitos relacionam suas melhoras a causas diferentes das apontadas acima, como por exemplo: conhecimento das crises, auto-conhecimento, força de vontade, relação social com amigos, apoio da família. É importante notar que um sujeito não atribuiu sua melhora a nenhuma causa específica.

Nove sujeitos apontam que não possuem problemas de relacionamento familiar. Já os que relatam esse tipo de conflito, o fazem de maneiras diversas, citando problemas com a mãe, sogra, namorada.
Quanto a problemas de relacionamento profissional, nove sujeitos relatam que não possuem esse tipo de dificuldade. Em dois casos, os sujeitos apontam que já tiveram problemas desta ordem anteriormente, mas que já foram superados. Apenas um sujeito do sexo feminino declara ter problemas profissionais, pois foi afastada de um cargo de confiança, e segundo ela, foi muito humilhada.

Dez sujeitos declaram que não possuem problemas com amigos e conhecidos; porém, dois sujeitos responderam que têm tais problemas, sendo que para um deles isso se dá pelo fato de que não consegue ter o controle necessário de suas próprias emoções. Outro sujeito relata ter dificuldade em expressar suas emoções.

Quanto à existência de problemas de saúde física, atuais ou antigos, considerados importantes pelos sujeitos, sete deles apontam que não se defrontaram com algum tipo de doença; porém, cinco sujeitos citam doenças variadas, dentre elas estão: dores lombares, paralisia de pernas, reumatismo, infecção urinária, hipertensão, problemas com visícula, úlcera, duodenite aguda, hérnia de hiato, toxoplasmose, pleurite, Doença de Chron e nevralgia.

Quando perguntados se houve algum fator desencadeante da primeira crise, dois sujeitos responderam que não. Porém, os demais sujeitos dão explicações completamente diferentes para o surgimento da crise: preocupação com o trabalho, separação marital, problemas afetivos, mudança de residência, aborto espontâneo, o fato de assumir responsabilidades, cirurgia, infância problemática, tensão e rotina; outro sujeito assinalou o fator hereditariedade como sendo o causador da crise (seu pai e seu avô eram portadores da síndrome, segundo ela).

A última questão proposta no questionário: "Relate fatos ou acontecimentos que você considere importantes" trazem informações muito genéricas que ajudaram muito no entendimento das questões anteriores.

RESULTADOS
Resumindo os dados obtidos com a pesquisa, vimos o seguinte:

Quanto à análise estatística, o que ficou claro é que todos os sujeitos da amostra apresentaram pelo menos dois dos sintomas abaixo relacionados de forma significativa, antes da eclosão da primeira crise de pânico:

* angústia ou medo excessivo diante dos fatores conhecidos e/ou desconhecidos;
* nervosismo;
* períodos de tristeza em relação a alguns aspectos de sua vida.

Esses sintomas podem ser considerados patognomônicos de nossa amostra. Todos esses três itens se referem a sintomas psíquicos.

Na análise qualitativa encontramos o seguinte:

* todos os sujeitos eram portadores da PAG e procuraram psicoterapia por problemas de ordem psicológica (5 deles pela Síndrome do Pânico, por problemas psicológicos variados e um que por não ter sido encontrado nenhum problema físico, foi sugerido pelo médico endocrinologista que acompanhava o caso, que o problema era de ordem emocional e que fosse procurar um psicólogo).

* também verificamos que o aparecimento da primeira crise se dá em várias faixas etárias, como já foi levantado pela maioria dos pesquisadores.

* todos os nossos sujeitos tomavam medicamentos anti-depressivos.

* a associação de tratamento medicamentoso com anti-depressivos e psicoterapia, na nossa amostra, foi o fator mais determinante da melhora do quadro.

* além disso, fatores como: conhecimento da crise, auto-conhecimento, relação social com outros portadores da PAG e ajuda da família também contribuíram na superação das crises.

* os nossos sujeitos estavam passando por problemas emocionais, como os três sintomas já descritos acima sugerem. Isso pode estar indicando que os mesmos passavam por uma situação estressora. Também é preciso salientar que seria necessário um estudo mais aprofundado para verificar se esses sujeitos não são portadores de distúrbios como depressão, medo e ansiedade, como parte de sua personalidade. Ou seja, podem ser portadores de neurose depressiva, fóbica ou ansiosa.

CONCLUSÕES
Chegando ao final do nosso trabalho, gostaríamos de dizer, que embora os resultados deste estudo não possam ser generalizados para todos os portadores da Síndrome do Pânico, em virtude do número reduzido de sujeitos e o uso de um único instrumento - o questionário -, acreditamos que o mesmo trouxe dados interessantes que poderão contribuir para o melhor conhecimento dos portadores dessa síndrome e da eclosão da primeira crise.

Tendo agora uma visão mais global dos dados encontrados, vamos confrontá-los com o objetivo proposto por nós, no início do trabalho.
O nosso objetivo era verificar se o grupo de portadores, por nós estudado, estava passando por uma situação de estresse, por ocasião da eclosão da primeira crise de pânico.

Não é possível afirmar que nossos sujeitos estivessem passando por uma situação de estresse. Isso porque não aplicamos um questionário já padronizado e validado para esse fim. Mas podemos dizer que todos estavam tendo sintomas que poderiam estar sugerindo situações estressoras. A angústia, o medo e a depressão podem ter outras origens que não o estresse e foram esses três sintomas que apareceram de forma significativa na nossa amostra.

Embora não possamos fazer generalizações dos resultados de nosso estudo a outras populações da síndrome, acreditamos que ele sugere algumas questões para a realização de novas pesquisas sobre o assunto.

Uma amostra maior, um questionário já validado e padronizado, teria sido mais efetivo para a resposta a nossa pergunta.

Se ficar estabelecido que o estresse está na raiz da eclosão da primeira crise, podemos perguntar, há quanto tempo o sujeito está vivendo uma fase estressora? A eclosão poderia ocorrer depois de algum tempo depois dessa fase? Quanto tempo; dias, meses, anos? Também seria interessante pesquisar melhor as características de personalidade daqueles que desenvolvem a Síndrome do Pânico? Será que o aumento do aparecimento de portadores da PAG estaria ligado com o aumento da violência, da "feiura" da nossa civilização moderna, onde somos bombardeados por notícias de assassinatos, estrupos, roubo, acidentes, guerras, entre tantas outras ocorrências, principalmente nos grandes centros urbanos?

Nota:
[1] Psicóloga, mestre e doutorada em Psicologia Clínica pale PUC-SP, Professora Assistente-Mestre da PUC-SP e chefe da Clínica Psicológica "Ana Maria Poppoovic" da PUC-SP.

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