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BOLETIM CLÍNICO - número 5 - março/1999

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

4. Projeto Interdisciplinar de Aprimoramento Clínico-Institucional: Grupos Temáticos de Pais - Mirel Granatovicz(1) e Yara Spadini Vicini(2)

Historiando a formação dos grupos:

Por solicitação da direção da Clínica, vindo de encontro a necessidades já sentidas pelo Serviço Social, esse setor propôs-se a atender grupalmente a clientes em fila de espera. Essas pessoas representam uma faixa tangencial da população que procura a Clínica, vindo em busca de alívio para sofrimentos de ordem psíquica. Ao mesmo tempo, elas nos proporcionam os elementos essenciais ao aprendizado dos nossos alunos e ao aprimoramento de nossos instrumentos teórico-operativos.

Já vimos anteriormente que há uma preocupação da Clínica em não simplesmente dispensar as pessoas que "sobram", em termos numéricos e de elegibilidade, às nossas necessidades de "matéria-prima" para os estágios, mas de atendê-las da melhor forma possível. Acreditamos que os cuidados da Clínica com a "fila de espera" é uma expressão, por excelência, da sua inserção na comunidade como prestadora de serviços, na linha preconizada pela própria Universidade.

O Serviço Social iniciou em 1993, em conjunto com Professora Mirel, a organização dos primeiros grupos de clientes inscritos para a triagem, naquela época em número bastante elevado (cerca de 500 -quinhentas - pessoas). Num primeiro momento, trabalhamos com o que chamamos de Grupos de Recepção, dos quais surgiram depois, respectivamente, os Grupos Temáticos de Pais e Grupos Temáticos para Adultos, tendo sido introduzidas em fins de 1995 as Equipes Reflexivas (de profissionais e estagiários), como um novo instrumental de trabalho.

Relatamos, a seguir, os objetivos, conteúdo e dinâmica das reuniões, referentes a cada um desses grupos, bem como as considerações metodológicas que foram acompanhando as experiências realizadas.

1. Grupos de Recepção
No decorrer da pesquisa, foram realizados, em média, 2 (dois) Grupos de Recepção por mês.

Esses grupos têm como objetivo dar uma atenção aos clientes em fila de espera, levantando, ao mesmo tempo, os motivos que levaram essas pessoas a procurar a Clínica, conferindo sua elegibilidade aos serviços e fazendo eventuais encaminhamentos externos. Procura-se, desse modo, agilizar o processo de triagem, no intercâmbio com professores triadores. Ocorre, ainda, uma verificação de quantas pessoas permanecem no aguardo do atendimento, eliminando-se as desistências.

As reuniões têm como conteúdo informações sobre a natureza da Clínica, ressaltando suas características de Clínica-Escola, sua organização e funcionamento, breve descrição de seus serviços, a forma de pagamento, a utilização das contribuições, os motivos da fila de espera.

Os clientes relatam rapidamente os problemas para os quais buscam ajuda e, em todos os grupos, acentuou-se a necessidade de se esclarecer o sentido e objetivos do tratamento psicoterapêutico, sua diferença em relação ao atendimento psiquiátrico, psicopedagógico e outros. Na grande maioria das vezes, sensibilizam-se para o entendimento dessas questões e objetivam suas expectativas em relação à Clínica e ao seu tratamento específico.

Dentre os motivos que trazem as pessoas em busca de ajuda, destacam-se questões do tipo: dinâmicas familiares conflitivas, relações conjugais ou parentais bloqueadas (em geral, os filhos trazendo a patologia do casal), perdas, questões de adoção, dificuldades escolares, crianças portadoras de deficiências mentais, leves ou graves, muitas vezes associadas a deficiências físicas, dificuldades de comunicação, timidez, "pânico", depressão, agressividade, repressão, drogadição, questões de terceira idade, dificuldades em se utilizar limites, questões sexuais, patologias graves de personalidade, bloqueios afetivos e intelectuais.

A dinâmica das reuniões obedece à participação espontânea dos clientes, sob a coordenação de equipes de professores e estagiários, integradas, sempre que possível, por assistentes sociais e psicólogos. Quando oportuno, são utilizadas técnicas de reuniões que facilitem as discussões.

Os encontros têm a duração de 90 (noventa) minutos, com a participação que varia de 10 (dez) a 20 (vinte) clientes.

No final das reuniões, os presentes preenchem uma ficha com dados da composição familiar, escolaridade, profissão, idade e estado civil de cada membro, além da renda média da família e condições gerais de moradia. Esses dados têm servido como amostra do perfil das pessoas que procuram a Clínica.

Os clientes antes eram consultados quanto ao seu interesse em participar de grupos temáticos de pais ou para adultos. Atualmente, depois da sistematização dos Grupos de Pais, estes são informados que serão chamados para esses grupos. Abordaremos essa mudança na avaliação geral do trabalho de grupos.

O grupo de observação

Com a finalidade de possibilitar a participação de maior número de estagiários, uma vez que a equipe é numerosa (em geral, participam regularmente desta 6 (seis) estagiários de Serviço Social e de 3 a 4 (três a quatro) da Psicologia, instituímos os grupos de observação: são equipes formadas por 1 professor e alguns estagiários que permanecem na mesma sala, fora do grupo central. São apresentados como outros membros da mesma equipe de trabalho, justificando-se as condições de uma Clínica-Escola, em que professores e alunos atuam juntos. Essa equipe de observação, em geral, permanece em silêncio e é convidada, no final, a integrar a avaliação da reunião e a complementar algum ponto que julgar necessário. Os estagiários da observação ficam responsáveis pelo registro do conteúdo das reuniões (gravações ou anotações por escrito).

No final de cada encontro, é feita sua avaliação. A grande maioria dos clientes o vêem como um espaço importante, em que se sentem considerados, além da oportunidade que lhes é oferecida de esclarecimentos e intercâmbio de experiências. Há manifestações de surpresa em encontrar esse espaço. Percebemos que houve mudanças, nos últimos anos, em relação ao tratamento psicológico e mesmo psiquiátrico, superando-se um certo preconceito em relação a esses serviços, no sentido de que se prestam só a "loucos".

No entanto, esses mitos permanecem ainda no imaginário de muitas pessoas que nos procuram, principalmente aquelas que internalizam modelos muito severos. Várias delas mostram-se aliviadas nessas reuniões, com a constatação de que a Clínica não se utiliza de "métodos torturantes "ou "invasivos" e, ao contrário, mostra-se acolhedora de seus problemas.

São bastante significativas também as observações que surgem em vários desses grupos, fornecendo-nos parâmetros da sua importância, que se expressam nessas frases: " - em geral as instituições perguntam tudo sobre a gente, mas nunca informam sobre o funcionamento delas" ; " - vão continuar a atender tão bem a gente como hoje?"

2. Grupos Temáticos
Do início dos trabalhos com os grupos, até fins de 1996, passamos a organizar grupos temáticos, partindo de interesses e problemas levantados pelos clientes nos Grupos de Recepção. Eram formados grupos de pais de crianças e adolescentes inscritos para triagem e grupos de jovens e de adultos, que procuravam atendimento para si mesmos. Em média, de cada 3 grupos de Recepção, realizávamos 2 grupos temáticos, cada um com 2 encontros.

O objetivo principal dessa atividade (que ainda permanece e se amplia nos atuais grupos temáticos de pais) era oferecer aos clientes que aguardam o tratamento psicoterapêutico, um espaço propício ao desenvolvimento de assuntos diretamente relacionados às suas dificuldades específicas, no intercâmbio com experiências semelhantes. Esses grupos não têm caráter psicoterapêutico, enquanto não se fazem interpretações de situações pessoais ou das relações no próprio grupo, cuidando os coordenadores para que os assuntos tratados permaneçam na esfera temática. Dessa forma, os clientes sensibilizam-se ao tratamento psicoterapêutico, ao mesmo tempo que se integram à Clínica, enquanto aguardam ser chamados.

Os temas tratados nesses grupos referem-se aos problemas que trazem essas pessoas à Clínica, já relatados anteriormente (v. item "Grupos de Recepção"). Concentram-se em questões de relacionamento familiar (grupos de pais) e de interesse em superação de dificuldades pessoais (grupos de jovens e adultos).

A dinâmica das reuniões obedece aos recursos e técnicas de cada sub-equipe interdisciplinar que compõe a sua coordenação, que são basicamente os recursos verbais, áudio-visuais ou jogos grupais, de aquecimento e facilitadores da discussão.

Antes do final da reunião, a coordenação dirige-se à Equipe Reflexiva, solicitando sua contribuição (v. item a seguir - As Equipes Reflexivas).

Na avaliação, ao final desses encontros, a fala dos clientes confirma a validade dos mesmos, em relação aos objetivos propostos. As pessoas sentem-se aliviadas pelo acolhimento inicial que lhes é dado e, em geral, motivadas ao tratamento que vieram procurar.

No entanto, esse é o ponto polêmico que nos levou a repensar a organização desses grupos: os grupos de pais vinham se impondo como bastante apropriados, enquanto educativo/preventivos, servindo como ampliação de contextos favoráveis ao futuro tratamento das crianças e adolescentes inscritos (v. Projeto de Grupos de Pais, anexo); por outro lado, os grupos temáticos de adultos, que levavam certo alívio a esses clientes, eram questionados exatamente nesse ponto, como uma possível interferência no seu futuro tratamento, por imiscuírem-se as linhas de orientação e o acolhimento oferecido pelos profissionais que conduziam os grupos com as futuras formas de trabalho psicoterapêutico.

Não havendo possibilidades de intercâmbio maior de profissionais envolvidos nessa questão, estamos atualmente centrando o trabalho interdisciplinar nos grupos de pais, atendendo também à solicitação da Direção da Clínica.

As equipes reflexivas
Integradas à metodologia dos Grupos Temáticos, instituímos, no início de 1995, as chamadas Equipes Reflexivas, com base na proposta do psicoterapeuta de família Tom Andersen, adaptada às condições específicas do nosso trabalho grupal.

A Equipe Reflexiva, assim como os grupos de observação, é constituída por um professor e dois ou mais estagiários, sempre que possível das duas áreas, Serviço Social e Psicologia. Seus integrantes acomodam-se na mesma sala onde se realiza a reunião do Grupo Temático, ficando fora do círculo central, em semi-círculo. Eles se encarregam de observar e registrar os dados principais da discussão e, principalmente, de acompanhar os conteúdos que vão sendo construídos no grupo central.

Quando solicitados pela coordenação, em geral nos minutos finais da reunião, os integrantes dessa equipe movimentam-se formando um pequeno grupo e passam a conversar entre si, sem dirigir o olhar ou a fala diretamente a pessoas do grupo maior. A finalidade dessa disposição física é propiciar aos clientes, que antes estiveram sendo ouvidos, observados, "conduzidos" nas suas reflexões, a oportunidade de ouvir, observar e tirar suas próprias e silenciosas conclusões do que está sendo falado pelos técnicos.

Estes falam espontaneamente sobre suas próprias elaborações, a partir das questões colocadas na reunião, ampliando seus conteúdos e sublinhando seus aspectos fundamentais. As intervenções não têm o caráter de complementação de temas, nem de correção, nem de criticar ou dar instruções, mas de ampliação dos assuntos. É o que Tom Andersen chama de construção de diálogos sobre os diálogos.

Julgamos importante deter-nos um pouco mais na descrição deste trabalho, usando palavras do autor da proposta. Ele nos conta que a idéia da equipe colocar-se no mesmo ambiente e não atrás do espelho, surgiu em 85, durante uma sessão com uma família que havia passado por um longo período de sofrimento e estagnara no processo terapêutico. Nessa sessão, Tom Andersen propôs a inversão das luzes da sala de consulta e da sala de espelho unidirecional, pediu aos profissionais que dialogassem entre si e que a família os observasse, na penumbra.

Foi "a diferença que faz uma diferença" (Bateson). Ao reverter-se a luz e o som, proporcionou-se uma liberdade surpreendente entre a equipe e a família. A equipe já não era a única responsável pelas mudanças, mas apenas uma das partes, superando-se barreiras de "poder" entre sujeitos e objetos da ação.

Propõe ainda T. Andersen: "a estrutura da equipe reflexiva oferece àqueles que nos consultam a possibilidade de, à medida que escutam a equipe, fazerem-se novas perguntas, estabelecendo novas distinções. Terão descrições diferentes, levando a explicações diferentes do que foi antes descrito.

O autor orienta o preparo da Equipe Reflexiva da seguinte forma: "enquanto escuta, cada membro da equipe permanece em silêncio, não dialoga com os demais, fala consigo mesmo, fazendo-se perguntas: de que maneira a situação ou os temas que se apresentam podem ser descritos além da descrição apresentada? De que outra forma pode explicar-se a situação ou o tema, além da explicação apresentada?

Quando são convidados a falar, cada membro da equipe reflexiva dá a sua versão sobre os temas definidos como problemáticos. Em geral, criam-se novas versões, à medida que se conversa em forma de perguntas". Esse processo dá a todos a possibilidade de estabelecer um "diálogo interno".

O nosso modo de conduzir as reflexões dos grupos é evitando-se opiniões ou aconselhamentos "fechados". Com base ainda em T. Andersen, a equipe reflexiva também só faz reflexões especulativas, não existindo para ele uma versão "objetiva" ou final a respeito de qualquer assunto. Não há julgamento crítico. "a comunicação protetora que oferece o uso da equipe reflexiva é extremamente útil para dar às pessoas a liberdade de aceitar ou rejeitar um pensamento ou uma idéia, inclusive a liberdade de escutá-la ou não.

Destaca-se a presença do interesse múltiplo. A curiosidade surge ao redor das questões. Por exemplo, "que conversa teríamos desenvolvido, se tivessem sido feitas todas as perguntas que não fizemos?". "E que explicações teriam sido construídas, baseadas em todas essas outras descrições não vistas?" Para T. Andersen, somente podemos ajudar se o trabalho nos faz sentir curiosidade. "Como em outras questões da vida, a curiosidade é o motor das transformações".

3. Grupos Temáticos de Pais
Acatamos o encargo da Direção da Clínica, de organizar grupos sistemáticos de pais, com mais encontros, recebendo pais não só em fila de espera, mas também aqueles encaminhados pela triagem ou por terapeutas de crianças e adolescentes em psicodiagnóstico ou em tratamento.

Essa opção favoreceu a concentração e melhor organização do trabalho da equipe ampliada.

Fomos, ainda, estimulados a trabalhar com pais, fundamentações em pressupostos teórico-práticos que norteiam nosso pensamento, ressaltando a importância da família no nosso contexto sócio-cultural. A família vem mudando na sua estrutura e organização, encontrando outras formas de coexistência, diferentes do modelo exclusivo pai/mãe/filhos.

Traz questões intrinsecamente relacionadas ao contexto social, econômico, político, cultural, em relação ao qual, muitas vezes, ela pode ser simples reprodutora ou núcleo de resistência e mudança, como todo agrupamento humano. Não cabe nessa pesquisa o aprofundamento dessa questão, mas ela está presente nas nossas reflexões. Apesar das mudanças na família, a grande maioria de nossos clientes vivem numa forma de organização familiar de modelo "tradicional".

Além disso, podem haver mudanças na forma de organização e composição dos membros de uma família, mas permanecem valores adquiridos, construídos no seio das relações familiares, que devem ser preservados e ampliados para outros grupos de convívios, até em organizações que cuidam de crianças ou jovens "sem lar", para que as pessoas possam se desenvolver física e emocionalmente sadias. Autores das mais diferentes abordagens e épocas (Henry Dicks,l970 - Donald Bloch,l983 e 1997, Raquel Soifer, 1993, e outros) são unânimes em afirmar que o ser humano deseja e necessita possuir um núcleo afetivo para poder desenvolver-se. "Temos a necessidade de outros e é importante possuir a sensação de que outros necessitam de nós". Segurança, apoio e afeto são também as características fundamentais desejadas quando se busca o cônjuge ideal.

As tensões advindas do mundo moderno trouxeram alterações do núcleo familiar. O que antes era aglutinado na família hoje pulveriza-se nas várias instituições. Os papéis e as relações hierárquicas na família alteram-se, principalmente, pela participação da mulher no mercado de trabalho. A família acaba sendo "o microcosmo da sociedade atual" (Dicks), com todas as sua possibilidades e dificuldades. As tentativas de melhorar as relações e proteger as crianças podem oferecer a possibilidade de experimentar um sentimento de valorização e maturidade pessoal. Essa é a proposta de trabalho educativo/preventivo que apresentamos com a realização de grupos de pais, cujos objetivos aparecem explicitados no corpo do Projeto transcrito adiante.

A partir de março de 1997, apresentamos um ante-projeto de trabalho com grupos temáticos de pais e no decorrer do semestre implantamos a experiência, avaliada adiante. Apesar do projeto repetir alguns dados já levantados no procedimento metodológico deste relatório, julgamos oportuno transcrevê-lo na íntegra, por tratar-se de uma "peça autônoma", já divulgada aos demais profissionais e estagiários da Clínica, nos seguintes termos:

ANTE-PROJETO DE TRABALHO COM GRUPOS DE PAIS - Grupos Temáticos
Os autores da Pesquisa "A interdisciplinaridade a partir do trabalho multiprofissional na Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic - um estudo teórico-prático", juntamente com a Equipe de Serviço Social, propõem-se a realizar um trabalho sistemático de Grupos Temáticos sobre a relação Pais e Filhos.

O projeto é parte integrante da pesquisa-ação citada acima, em curso há um ano e meio com aprovação do CEPE - PUCSP, que vem realizando, entre outros, um trabalho experimental com grupos de pais de crianças e adolescentes incritos na Clínica.

O trabalho vem sendo planejado e executado por professores e estagiários da Psicologia e do Serviço Social, integrando projetos de Iniciação Científica nessas duas áreas.

Até o momento, os Grupos Temáticos são oferecidos aos pais em fila de espera para a triagem de seus filhos, encaminhados pelos Grupos de Recepção, com objetivo específico de dar atenção a esses pais enquanto aguardam a triagem ou o atendimento. Por meio do diálogo com seus pares e com profissionais e estagiários especializados, o grupo oferece-lhes informações e orientações sobre seus problemas e expectativas em relação à Clínica, inserindo-os como corresponsáveis no trato dessas questões.

A presente proposta pretende reunir sistematicamente esses pais, mantendo os objetivos iniciais e acrescentando outros, abaixo explicitados. Serão incluídos, ainda nos Grupos Temáticos, pais encaminhados pela Triagem, pelos Núcleos de Diagnóstico ou Terapia e demais setores da Clínica.

Objetivos de trabalho
-oferecer a esses pais informações, conceitos, sobre os temas preocupantes que os levaram a procurar ajuda;

-estabelecer um clima de abertura, de troca de conhecimentos e de experiências, numa dinâmica grupal de participação, tentando sensibilizar, aliviar sentimentos de culpa e promover maior aceitação das pessoas de si mesmas e, conseqüentemente, de seus filhos;

-mediante essa troca, propiciar elementos de reflexão capazes de provocar mudanças nas relações pais e filhos, aliviando tensões que, muitas vezes, dependem da ampliação de conhecimentos e de incentivo e apoio do grupo e dos profissionais;

-discutir e esclarecer o papel dos pais diante das possibilidades e limites do atendimento psicológico, ampliando suas possibilidades de se tornarem participantes e facilitadores do desenvolvimento emocional de seus filhos;

-ampliar as possibilidades de atendimento da Clínica Psicológica, enfatizando sua função preventiva e educativa junto à comunidade, pelas modalidades de atendimento que possam abranger maior número de pessoas e envolver maior número de profissionais e estagiários;

-sistematizar núcleos de trabalho multiprofissional, como oportunidade de crescimento e aprimoramento de propostas interdisciplinares, essenciais na ação preventiva em saúde mental.

Procedimentos
-promover séries de 4 (quatro) reuniões quinzenais com os pais encaminhados por intermédio dos Grupos de Recepção, das entrevistas de Triagem ou pelos próprios terapeutas de seus filhos. Dependendo do número de clientes e de profissionais e estagiários disponíveis para o trabalho, poderão ser realizadas de 2 (duas) a 4 (quatro)séries de reuniões por semestre. 0 contrato inicial com os grupos pode prever um alargamento do número de reuniões para 6 (seis), nas quais poderão ser aprofundados temas específicos de maior interesse dos grupos, surgidos nas discussões;

-os temas específicos a serem abordados em cada grupo serão levantados pelos participantes. O trabalho experimental realizado com grupos de pais vem apontando os assuntos que mais os preocupam e que aparecem quase sempre como sintomas dos conflitos existentes e como queixas iniciais. Os principais são: dificuldades escolares; comportamento agressivo ou passividade; timidez; desmotivação para o estudo ou lazer; medos, ansiedades e insegurança; rebeldia; mentiras; pequenos furtos; uso de drogas; comportamento sexual inadequado; namoro e gravidez na adolescência; desconhecimento dos limites nas relações; brigas em família; impotência dos pais no trato com essas questões; liberdade e limites; consumismo; estilos diferentes de educação.

Esses assuntos estarão em pauta e serão o ponto de partida das discussões, merecendo atenção e esclarecimentos específicos.

Caberá aos professores, no entanto, assegurar que informações e conceitos básicos sejam discutidos, para o alcance dos objetivos propostos. Considerados de forma abrangente, esses temas referem-se ao relacionamento intra-familiar, da família com o seu meio sócio-cultural e à compreensão dos processo de desenvolvimento psico-social das crianças e dos adolescentes.

Propomos a seguinte seqüência de temas para as quatro primeiras reuniões:

1º Dia - Apresentação dos objetivos e forma de trabalho, apresentação da equipe e dos participantes - Levantamento das expectativas dos pais em relação ao trabalho da Clínica (relacionadas às suas queixas) - confronto com o tema: a interação familiar e a sedimentação de padrões de comportamento por meio de seqüências repetitivas no modo de agir - Os mitos familiares - Os limites que permeiam as relações conjugais e fraternais (as relações hierárquicas) - A responsabilidade de todo o grupo, familiar na construção de relações sadias - conflituosas - patológicas - As características pessoais x condições ambientais.

2º Dia - Os "modelos" de família : a noção de família real (vivida) e família ideal (pensada) , com base no texto de H. Szymanski - A percepção do real, como possibilidades concretas de mudança - Conceito de mudança - Família rígidas e famílias flexíveis(famílias autocráticas, democráticas, liberais).

3º Dia - As características básicas do desenvolvimento da criança e do adolescente - As condições psíquicas individuais que favorecem a abertura a mudanças - a percepção integrada do mundo exterior x percepção cindida.

4º Dia - Os processos de socialização, da formação da identidade - A família e seu ambiente sócio-cultural - O papel dos grupos sociais na ampliação de problemas ou na busca de enfrentamento e solução.

Havendo possibilidade de duas outras reuniões, poderiam ser aprofundadas as questões mais apontadas nos grupos, dentro dos temas específicos relacionados anteriormente:

- as equipes de trabalho realizarão reuniões semanais para avaliação do grupo anterior, aprofundamento teórico dos temas e estabelecimento da dinâmica da reunião seguinte;

- os relatórios dos conteúdos, da metodologia e dos resultados dos trabalhos serão feitos ao final de cada série de reuniões, servindo de base para avaliação e aprimoramento da proposta. Poderão ser colocados à disposição de estagiários e professores da Clínica.

Metodologia
A sistematização metodológica do trabalho objetiva propiciar acúmulo de experiências para sua avaliação e continuidade desejável e ao mesmo tempo explicitar e respeitar as especialidades técnicas e teóricas de cada profissional.

A metodologia de cada grupo de reuniões e a dinâmica de sua condução devem ser da responsabilidade da equipe de professores e estagiários que as realizarem. A unidade do trabalho será assegurada pelo conteúdo dos temas a serem tratados e pela estratégia de condução do trabalho que não tem caráter psicoterapêutico e sim educativo/preventivo. Assim, por exemplo, trataremos de relações familiares, no âmbito da troca de experiência e ampliação das temáticas, mas não serão interpretadas nem trabalhadas terapeuticamente no grupo as situações específicas de cada um dos presentes:

- número desejável de participantes do grupo: 1O pessoas;

- duração das reuniões: 90 (noventa) minutos;

- coordenação: um professor e um estagiário, preferivelmente de áreas de atuação diferentes, até o momento Serviço Social e Psicologia;

-equipe de reflexão: aos moldes de como vem se realizando nos grupos temáticos, a equipe de reflexão deve colocar-se na mesma sala, fora do grupo central. É composta por 1 professor e estagiários de S. Social e Psicologia. Essa equipe acompanhará o trabalho do grupo, registrará os pontos principais aí levantados e será convidada, dez minutos antes do final, a contribuir com suas reflexões a respeito do assunto tratado. Esta proposta, adaptando experiências do psicoterapeuta Tom Andersen, visa à ampliação do conteúdo dos temas abordados, o fortalecimento das relações da própria equipe de trabalho e a superação de barreiras entre sujeitos e objetos da ação, pela troca de posições entre clientes e profissionais;

- avaliação final de cada reunião: todos os pais integrantes do grupo, professores e estagiários, são convidados a expressar livremente suas impressões sobre o trabalho realizado, podendo surgir, com a síntese do coordenador, sugestões para os temas das reuniões seguintes;

- a eficácia do trabalho depende em grande parte da coesão da equipe que o propõe e a crença na sua validade. As equipes de trabalho reunir-se-ão sistematicamente para o preparo do conteúdo e metodologia das reuniões, elaboração de seus relatórios e troca das representações de cada um sobre a própria atuação e a dos colegas. As avaliações de desempenho têm o caráter de colaboração, devendo superar o caráter de crítica e de correção;

- a avaliação periódica do trabalho será feita pela equipe ao final de cada série de encontros, revendo programação, objetivos e metodologia, junto à Direção da Clínica.

Continuação...