Dormentes são usados, quando da construção de uma estrada de ferro, para pavimentar a colocação dos trilhos. É sobre essas toras de madeira que eles são assentados, de modo a nivelar o terreno e amortecer choques. Estranho paradoxo deste elemento acolhedor que serve para construir um caminho, por onde tudo vai embora. Vigas de madeira, a princípio associadas à construção da moradia, transformada em base do leito por onde tudo se esvai.

Ao reverter o processo, construindo uma casa de dormentes, Rodrigo Andrade completa o ciclo de volta ao lugar. Esculpida numa pilha de toras, ela remete ao lugar essencial _ a Morada _ do qual a modernidade mecânica, impulsionada pelo trem, nos afastou. Essas casas, compactas, pesadas, parecem ter se erguido ali para sempre. Elas são tudo aquilo que as construções da metrópole não poderão jamais ser.

É extraordinária a presença destes objetos tão simples e no entanto tão carregados de força simbólica. Aqui eles recuperam a quietude e a serenidade entranhada nas árvores, características ocultadas quando postas à serviço do movimento. Essa forma assim despojada parece condensar um itinerário que se originou em tempos imemoriais e nos levará para muito além da modernidade.