Laura Vinci instalou no prédio do Moinho um dispositivo de dissolução daquela sólida estrutura em concreto. Um sistema fluído vertical atravessando a rigidez horizontalizada da construção. Um monte de areia, que se esvai lentamente por um orifício no piso, para refazer-se no andar inferior do prédio. Como se parte da construção se desfizesse, como se um processo orientado de erosão estivesse reordenando a disposição da massa ali erguida. Criando conexões numa organização espacial rigidamente compartimentalizada.

Ao contrário do procedimento escultórico convencional, que engendra formas buscando a verticalidade, erguendo-se do solo, aqui temos um sistema de precipitação. Voltado completamente para baixo. Enquanto a escultura procura alguma forma de consolidação material, alguma rigidez estrutural, aqui temos uma forma que se delineia apenas pelo amontoar paulatino da areia. Sem qualquer mecanismo de sustentação. Uma mecânica que funciona também como um meio de medir a passagem do tempo.

Como uma ampulheta, introduzindo um compasso naquele universo tão inerte. Movimentação que se faz não só no espaço mas também no tempo.