As chaminés industriais serviam para expelir a fumaça e os gazes nocivos produzidos pelas antigas fornalhas. Eram um modo de isolar aqueles lugares de práticas contaminadoras do resto da cidade.

O interior da chaminé de uma fábrica abandonada, embora ainda marcado pela fuligem, não guarda mais referência ao fumo e aos odores que expulsava para o céu. Ao inverso, o recinto circular formado pelo tubo de tijolos é banhado por um delicado halo de luz. Quem entra nele vê um círculo de céu muito alto, contido na escuridão da torre, como um espaço arcaico. Hoje as chaminés funcionam como um condutor que nos põe em contato com a cidade, por onde nos chegam _ filtrados, envolvidos em silêncio _ os ruídos de automóveis, de trens, ouvidos à distância. Através da chaminé tocam-se o tempo perdido da ruína e o tempo presente da metrópole. O silêncio ôco do passado mesclando-se com o frêmito da atualidade. José Miguel Wisnick converteu a chaminé num grande instrumento musical.

No seu interior, uma composição de diversas fontes sonoras chega ao ouvinte através de diferentes caminhos acústicos e tempos de reverberação, dialogando com os ruídos da cidade que entram pela boca superior do tubo, amplificados por microfones. Sons de instrumentos de sopro, numa reverberação do princípio do tubo, portadores de memória musical e afinidade com o mundo mecânico. Ruídos que remetem à própria mecânica do instrumento e a ferramentas, motores, sirenas e buzinas, cujos espectros são incorporados na composição.

A chaminé inerte é transformada numa tubulação que situa o ouvinte na circulação entre diferentes espaços, aquela área abandonada e o restante da cidade, e entre diferentes tempos, a era da acústica mecânica e o presente amplificado da metrópole.