Os trilhos avançam através de uma área desativada e erma, cortando a cidade como uma chaga. Abandonados, deixados à margem da circulação, estes lugares são palco de uma ocupação provisória, de pessoas de passagem, em busca de esconderijo. Tornaram-se focos de tráfico e assaltos. Inscrições alertando forasteiros ou relatando cenas de agressão só acrescentam mais uma camada de violência às paredes.

Ao cobrir as paredes do que restou de uma sala da Matarazzo com 7.000 seringas, Cildo Meirelles não está apenas aludindo às transações que se fazem por ali, mas amplificando o sofrimento que se afligiu aos lugares e às pessoas. As seringas, espetadas uma após a outra em paredes e pisos, formam um tapete que recobre tudo. A beleza resultante do líquido vermelho, destacado da parede, sangue e sublimação estética, é convulsiva.