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Ocupação sem matéria

 

Até recentemente, considerações funcionais e econômicas indicavam que uma alta densidade nas áreas centrais era desejada, quando não inevitável. Mas uma explosão de densidade pode ocorre, hoje, em qualquer lugar da cidade. Este fenômeno é independente da interpretação tradicional da cidade como um campo contínuo. Em qualquer lugar podem ser abruptamente instaladas imensas estruturas arquitetônicas, em geral horríveis, que acomodem uma grande variedade de funções quase-urbanas, convertendo-se num ponto de densidade.

 

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A cidade hoje é uma constelação de densidades, evitando definitivamente a condição de massa crítica. Densidade agora só existe com condição de ser cercada pelo vazio. A ocupação de imensas áreas por uma megaestrutura autosuficiente, isolada do restante da cidade, tal como prenunciam os projetos de desenvolvimento urbano em escala global, seria a única alternativa possível no atual processo de reestruturação urbana? Haveria um outro modo de pensar a cidade em grande escala, que não seja pelo grande conteiner?

Projetos como SP Tower são inevitáveis num amplo processo de reconfiguração da Zona Leste? A restruturação urbana em escala global de São Paulo tem necessariamente que se fazer segundo os padrões estabelecidos pela especulação imobiliária e o capital financeiro internacional? Quais outras estratégias de intervenção poderiam ser propostas neste contexto tão amplo e complexo?

Podem estratégias urbanas globais engendrar mutabilidade urbana local? Situações locais tornam-se mais complexas através da intensificação de múltiplas linkagens. Intensidades locais podem engajar sistemas urbanos mais vastos, através do desenvolvimento de relações entre múltiplas escalas e locações.

A condição metropolitana da Zona Leste: um terreno vago entre o centro histórico e periferia. Um vazio ainda pleno de potencial. Demandando portanto um programa que não lhe imponha forma, mas responda à instabilidade que lhe é constitutiva. Propostas de configurações sempre mutantes, que guardem uma indeterminação programática, permitindo modificação e substituição. Apenas programa, sem estrutura. Criação de campos que acomodem processos que recusam a se cristalizar em formas definitivas. Manipulação de infraestrutura para infinitas intensificações e diversificações, curtos-circuitos e redistribuições. Explorar a condição metropolitana: densidade sem arquitetura, uma cultura da congestão “invisível”.


Referência:

R. Koolhaas. Congestion without matter. In S. M.L.X.L 010 Publishers, Rotterdam. 1995