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  Arquitetura Líquida
 
I. Solá-Morales

 

A cidade poderia não ser entendida como um sistema de espaços gerado pela massa de edificações ou os intervalos entre elas. Em vez disso, as construções seriam apenas limites ao redor dos quais fluiriam carros, transporte público e tráfico pedestre. A estrutura do espaço urbano seria vista como resultado de sistemas de fricção, com graus variáveis de viscosidade produzindo turbulências nos pontos de contato e diferentes densidades no interior dos próprios fluxos. A possibilidade de representar esse fenômeno parece, porém, ser seriamente limitada.

Uma arquitetura líquida, fluida, não é voltada para a representação ou o espetáculo. Uma arquitetura que abarque fluxos humanos em conexões de tráfico, aeroportos, terminais, estações de trens não pode se preocupar com aparência ou imagem. Tornar-se fluxo significa manipular a contingência dos eventos, estabelecendo estratégias para a distribuição de indivíduos, bens ou informação.

Produzir formas para a experiência do fluído e torná-las disponíveis para análise, experimentação e projetos urbanos é hoje ainda mais um desejo do que uma realidade alcançável. Dar forma à experiência sinestética do fluxo no movimento da metrópole se distanciando do planejamento programático puramente visual e das regulações pré-estabelecidas, de modo a experimentar outros acontecimentos, outras performances, é um dos desafios fundamentais da arquitetura que visa o futuro.

 


Ignasi de Solá-Morales. Liquid Architecture. Em: Anyhow. Cambridge, MIT Press, 1977.