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Apresentação:

Este número da revista Fronteiraz discute a Crítica literária, sob o enfoque Críticos-escritores e escritores-críticos. Sua temática, entre outras questões, indaga: até que ponto a produção literária atual demanda uma crítica renovada, cujos riscos e razões de ser implicam liberdade? Como, no poema-crítico, a noção de crise é seu estado definidor? Como em Dante o pensamento da forma é gérmem da lírica moderna? Em que medida pensamento crítico e poesia se entrelaçam em Eliot? Nos escritores-críticos, como teoria e crítica se inserem no fazer literário, configurando novo estatuto seja à ficção, seja à poesia? O que devora a antropofagia oswaldiana? Como se articulam, na literatura contemporânea e na crítica, a hibridez de gêneros? Até que ponto a correspondência de escritores é reveladora de posicionamentos estéticos?

Antes de respostas definitivas, os artigos reunidos se propõem como possibilidades de leitura, reflexões em torno de problemas acerca da crítica literária, os quais têm sido abordados em sua história, mas buscam aqui o protagonismo de seu tempo.

Refletir sobre o espaço da crítica e sua forma pluralista em diferentes meios é a meta do artigo de Lourival Holanda - “Reconsiderando a crítica literária” -, no qual reavalia  tais aspectos, enfatizando, na tarefa do crítico, o risco e a liberdade. A crise, a lírica e a transcendência surgem como linhas de força nos textos de Annita Costa Malufe, Eduardo Sterzi e Alcides Cardoso dos Santos. Marcos Siscar, Dante Alighieri e T. S. Eliot são, respectivamente, os poetas-críticos analisados, cuja produção poética permite interrelacionar reflexão e poesia como herança da modernidade.

A seguir o artigo “A crítica literária e a literatura crítica de Maria Esther Maciel”, de Luciana Andrade Gomes e Jacques Fux, reflete sobre a gênese literária da escritora a partir de aspectos teórico-críticos presentes em sua ficção. Essa intersecção é também objeto de análise de Eduardo Fava Rubio que considera o romance La Pesquisa, de Juan José Saer, à luz não só do gênero policial, mas também da autoreflexão literária e do diálogo estabelecido com a tradição argentina.

Antropofagia e devoração marcam a presença de Oswald de Andrade em dois artigos, um de autoria de Aurora Cardoso de Quadros e outro de Ângela das Neves. O primeiro ressalta a parceria entre Oswald de Andrade e Astrojildo Pereira como articulistas do Jornal O Homem do Povo. Embora de linha canibal, distingue-os de acordo com suas formulações. O segundo trata de artigo pouco publicado de Oswald – “Questões de arte”-, assim como de seu diálogo com o ensaio “Le roman”, do escritor francês Guy de Maupassant.

A crítica feita por escritores também é enfatizada em artigos de Vandemberg Simão Saraiva e Márcia Cristina Silva. Enquanto Saraiva trata de Machado de Assis, leitor de Shakespeare, analisando pontos de interseção entre os dois escritores; Silva trata do relacionamento do processo de criação da poesia infantil de José Paulo Paes com o seu pensamento crítico, não deixando de ressaltar, entre os elementos construtivos, a imagem. A dimensão critica é abordada, ainda, na relação entre a pintura de Magritte e a experiência do olho, no texto de Maria Eliane Souza da Silva e Ilza Matias de Sousa.

Cartas literárias de Adolfo Caminha e correspondência de Murilo Mendes mereceram estudos. Leonardo Mendes busca esclarecer posicionamentos estéticos e políticos do escritor cearense, assim como sua luta pelo reconhecimento literário. Luciano Rodolfo e Lúcia de Sá Rebello centram-se na análise de trechos de cartas enviadas a Guilhermino Cesar, nas quais Murilo exercita a crítica ao avaliar a qualidade dos escritos de seus coetâneos modernos.

Fechando essa série de artigos, outros três escritores – Álvares de Azevedo, Júlio Cortázar, T. S. Eliot -  tematizam a crítica. A partir do Prefácio “A’ O Conde Lopo”, Natália Gonçalves de Souza Santos e Eduardo Vieira Martins revelam, em Azevedo, o amálgama de duas correntes, uma mais moderna e outra mais neoclássica, a perfilar sua compreensão de obra de arte. A respeito de Último Round, Julie Fank e Lourdes Kaminski Alves  mostram como tal publicação rompe com a crítica e configura um novo olhar de Cortázar sobre o estatuto contemporâneo da ficção. Sobre dois ensaios de Eliot, que tratam da função e das fronteiras da crítica, Letícia de Souza Gonçalves procura explicitar as diferenças conceituais traçadas entre os textos, assim como enfatizar a interrelação entre literatura e crítica na obra do autor.

Na seção Tradução, um texto de Juan José Saer, intitulado “O conceito de ficção”. Luís Eduardo Wexell Machado enriquece a revista com a tradução desse escritor e ensaísta de visada polêmica e de espírito crítico.  A relação entre verdade e ficção passa, aqui, por tratamento de rigor, reflete sobre a duplicidade de seu caráter que mistura o empírico e o imaginário.

Fronteiraz 8 traz, ainda, na seção Estudos, a significativa contribuição de Geruza Zelnys de Almeida sobre a obra do filósofo Emmanuel Lévinas, principalmente, no que aponta para a crítica ao “falar no lugar do outro” ou responder à responsabilidade em relação ao Outro. Esboço de um pensamento filosófico rastreado para o pensamento crítico, ambos em busca “do mais humano no Homem”.

Encerrando esta edição, o destaque à palestra do professor e crítico literário Davi Arrigucci, proferida na abertura das atividades deste semestre do Curso de Especialização em Literatura, em parceria com o Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUCSP. Jorge Luís Borges foi o âmago da palestra e do debate. Arrigucci enfatizou o narrador borgiano na fronteira da tradição oral  com a reflexão filosófica e ensaística, abordou, também, a “forma mesclada” como campo de força da produção literária e crítica de Borges.

Nossos agradecimentos vão para todos os colaboradores deste número 8 de Fronteiraz, pela possibilidade da edição, mais uma vez, tornar-se espaço de exposição, debate e troca intelectual. É nesse sentido que este diálogo com a literatura e a crítica, com os escritores e os críticos, permite-nos retomar as epígrafes escolhidas por Julie Fank,  Lourdes Kaminski Alves, e Ângela das Neves, como uma espécie de potência de sentido das atividades literária e crítica:

– Como, quem sou? Não está vendo quem eu sou?
– Vejo uma farda de guarda – explica o cronópio muito aflito . – O senhor está
dentro da farda, mas a farda não me diz quem é o senhor.
Cortázar

Aliás, a minha finalidade é a crítica.
Andrade (2007, p.47)

 

 

 

 

                                     

Maria Aparecida Junqueira
Editora de Fronteiraz 8