A sociedade espectadora. O "Panóptico" de Michel Foucault revisitado
THOMAS MATHIESEN

Resumo
O artigo tem como ponto de partida um aspecto do conceito de panóptico de Jeremy Benthan utilizado por Michel Foucault em seu livro Vigiar e punir. Trata da vigilância e da ênfase nas mudanças e rupturas fundamentais que, presumivelmente, ocorreram no século XVII, a partir de arranjos sociais em que muitos vigiavam poucos, para atividades de vigilância modernas, nas quais poucos vigiam muitos. É certo que Foucault contribuiu de modo importante pare a nossa compreensão e sensibilidade, considerando os sistemas de vigilância e as práticas modernas que se expandem rapidamente; mas ele descuidou de um processo oposto, de grande significado, que ocorreu, simultaneamente e na mesma velocidade: os meios de comunicação de massa e, especialmente a televisão que, com grande força, hoje levam o povo - literalmente centenas de milhões de pessoa ao mesmo tempo - a ver e admirar alguns. Em contraste com o panoptismo de Foucault, o outro processo é chamado sinoptismo. Juntos, os processos nos situam em uma sociedade de espectador numa via de mão dupla. Este artigo aborda o desenvolvimento das comparações e relações entre o panóptico e o sinóptico, assim como suas recíprocas funções. É certo que a vigilância e a disciplina da "alma", isto é, a criação de seres humanos dotados de autocontrole e que, assim, ajustam-se a uma sociedade denominada capitalista democrática, é uma tarefa que de fato é cumprida por um sinóptico moderno considerando que Foucault viu nisto uma função do panóptico.
Palavras-chave: Foucault, meios de comunicação de massa, panóptico, vigilância, sinóptico.

Abstract
The article has as its point of departure one aspect of Jeremy Benthan's concept of "Panopticon" used by Michel Foucault: the aspect of surveillance, and the emphasis on a fundamental change and rupture which presumably occurred in the 17th century: social arrangements in which the many watched the few were substituted for modern surveillance activities in which the few watch the many. It is maintained that Foucult contributes in a important way to our understanding of and sensivity regarding modern surveillance systems and practices, which are expanding at an accelerating rate; however, he overlooks an opposite process of great significance which has occurred simultaneously and at an equally accelerated rate: the mass media, and specially television, wich today bring the many - literally hundreds of millions of people at the same time - to watch and admire the few. In contrast to Foucault's panoptical process, the latter process is referred to as synoptical. Together, the processes situate us in a viewer society in a two-way street. This article explores the developmental parallels and relationship between Panopticon and Synopticon, as well as their reciprocal functions. It is maintened that the control and discipline of the "soul", that is, the creation of human beings who have self-control and who thus fit neatly into a so-called democratic capitalist society, is a task wich is actually fulfilled by modern Synopticon, taking into account that Foulcault saw it as a function of Panopticon.
Keywords: Foucault, mass media, panopticon, surveillance, synopticon.

* Tradução do original em inglês (Theoretical criminololy, Londres, Sage Publications, v. 1, n° 2, pp. 215-234) por Maria Margarida Cavalcanti Limena e Priscilla Limena P. Pereira e revisão de Edson Passetti.