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Contribuição
É possível a fraternidade no esporte?

Paolo Crepaz
 

Contribuição enviada pelo Movimento Humanidade Nova, trata-se do texto de reflexão utilizado no evento “A prática da fraternidade no esporte”.

Uma idéia universal: a fraternidade

No ano passado, em uma mensagem a um congresso de prefeitos latino-americanos, Chiara Lubich escreveu: “As grandes contradições que marcam a nossa época precisam de um ponto de referência tanto incisivo quanto penetrante, com categorias de pensamento e ações capazes de envolver cada individuo, assim como todos os povos, com suas estruturas políticas e sócio-econômicas. Existe uma idéia universal, que já è uma experiência vigente, e que está se revelando capaz de abraçar e enfrentar este desafio histórico: a fraternidade universal.” [1]

Propor a fraternidade universal como categoria de pensamento e de ação, como modelo de referência para a cultura, e, no nosso caso, para a cultura esportiva, è um desafio fascinante e muito novo.

Em 3 de abril de 2006, ao traçar os resultados do Ano Internacional do Esporte e da Educação Física, promovido pela ONU em 2005, Kofi Annan, secretario geral das Nações Unidas, disse: “O esporte deve se tornar um instrumento essencial para atingirmos os objetivos de desenvolvimento do mundo.”[2].
Porém, o esporte, especialmente o de alto nível, está interligado com as contradições atuais: a comercialização e o espetáculo exagerados, a cotidianização, o doping, o racismo e a violência. Com qual credibilidade portanto, pode o esporte exigir o seu direito de se tornar um instrumento de encontro, de amizade, de paz, de fraternidade?

O método da Fraternidade no Esporte, conteúdo e objetivo

Qual a contribuição que a Fraternidade realizada poderia oferecer ao esporte?
A espiritualidade da unidade nos impulsiona a imaginar a fraternidade não como algo que se possa somar ao esporte partindo de fora, mas uma realidade enxertada diretamente nos seus métodos, conteúdos e objetivos. Eis as primeiras idéias a respeito:

Colocando a fraternidade como método, pode-se abrir, como um fair-play de fachada, muitas vezes ineficaz, novos horizontes na dimensão agonística, importante pelo desafio consigo mesmo e com os outros, proposto pelo esporte. Imaginemos somente os efeitos da fraternidade aplicada nos relacionamentos entre as diferentes organizações esportivas, entre as mesmas e as instituições internacionais e locais, entre as várias agências da educação e do esporte, e assim por diante.

Mas a fraternidade deve ser concebida também, e isto é fundamental, dentro dos próprios conteúdos da cultura e da prática esportiva. O esporte hoje está intimamente ligado ao desenvolvimento econômico: a exagerada comercialização do esporte arrisca ligá-lo somente ao lucro. A fraternidade é uma referência fundamental para que tais interações se tornem construtivas e respeitosas dos valores inerentes ao esporte.

A atividade esportiva, especialmente a olímpica, pretende introduzir-se como importante recurso para a construção da paz [3]. Mas ninguém se iluda que o esporte traga paz por si só: de fato, “somente quando os próprios atletas durante as competições, assumirem como próprio o tema da paz, poderão então testemunhar, no decorrer do evento esportivo, o que significa ser construtores de paz. Somente então terão credibilidade.”[4].

No esporte, a vitória e o fracasso são passagens diárias obrigatórias. A fraternidade realizada poderá favorecer a cultura do fracasso por uma nova cultura da vitória: saber perder para saber vencer. Hoje, diante do imperativo tão difundido do “no-limits”, a fraternidade pode alimentar uma saudável e nova cultura do limite e do fracasso. Mais adiante, então, pode-se introduzir o pensamento de Chiara Lubich: “A alegria interior vem somente da doação pessoal e do amor, mais pura e mais límpida, para quem vencer (se lutou e venceu por amor) e para quem perder (se, da mesma forma, lutou e perdeu por amor). Então, o esporte se torna autêntico e será elevado à sua dignidade social. Poderá contribuir para recriar os homens nesta civilização demasiadamente estressante, tornando-se elemento de afinidade, de fraternidade e de paz entre povos e nações.” [5]

O esporte tem um valor insubstituível no trajeto da educação: se a pedagogia esportiva for iluminada pela fraternidade, o esporte poderá tornar-se uma autêntica escola de vida, objetivando o desenvolvimento da pessoa humana. “O esporte – como disse Chiara Lubich em sua mensagem no congresso do Sportmeet em 2004 – pode revelar a dimensão essencial do homem, seja como ser finito, diante das dificuldades e dos fracassos, seja como ser chamado ao infinito, capaz de superar os próprios limites.”[6].
A fraternidade è fundamental para que a espetacularização exagerada não desmorone os valores das práticas esportivas em si, para que seja dado um espaço adequado e equilibrado às várias disciplinas, superando dessa forma, por exemplo, a tentação monoesportista do futebol.

Em relação aos objetivos, um esporte orientado à fraternidade tem como meta contribuir com eficácia ao crescimento total e harmonioso da pessoa e à construção da família humana em unidade, juntamente com outras realidades.

As palavras de João Paulo II assumem um tom programático e profético indicando os objetivos do esporte à luz da fraternidade: “O esporte responda, sem perder sua natureza, às exigências dos nossos tempos: um esporte que ajude os mais fracos, não excluindo ninguém, libertando os jovens das incidências de apatia e de indiferença, e suscitando neles um agonismo saudável; um esporte que seja fator de emancipação para os países pobres e que ajude a cancelar a intolerância e a construir um mundo mais fraterno e solidário; um esporte contribua a fazer amar a vida, eduque ao sacrifício, ao respeito e à responsabilidade, e portanto à plena valorização de cada pessoa humana.”[7].

Fraternidade em ação: cultura e vida

Promover a fraternidade no esporte é um projeto que se desenvolve em dois níveis: da cultura e da vida. Sob o plano cultural está vivo um diálogo, feito de seminários de estudo, com várias agências culturais do esporte, antes de tudo, algumas academias universitárias, onde esta cultura poderá crescer e se difundir. O Sportmeet realizou também cursos de formação e convênios, nacionais e internacionais. “Uma cultura da derrota, por uma nova cultura da vitória.” foi o tema provocativo do Congresso de 2003, enquanto que em 2004, de acordo com O Ano Europeu pela Educação através do Esporte, promovido pela União Européia, se dialogou sobre: “Educar-se e Educar através do esporte.” Em 27 de maio de 2005 o Sportmeet promoveu uma mesa redonda nas Nações Unidas em Genebra para apresentar uma cultura e projetos de esporte pela paz, em ocasião do Ano Internacional do Esporte e da Educação Física, promovido pela ONU. O Congresso de 2005 foi realizado em Trento e teve como tema: “Sport&Joy – Com o esporte autêntico corre a alegria”.

Uma nova cultura do esporte precisa também de testemunhos de vida que a legitimizam e dão visibilidade. Para isso, o Sportmeet fez projetos como o Sports4Peace, um projeto que promove a paz no esporte e através do esporte. Iniciado na Áustria em 2003: Sports4Peace está se difundindo atualmente em vários países, europeus ou não, guiados por seis simples regras impressas sob as faces de um dado colorido, expressões da única “regra de ouro”: “Fazer aos outros aquilo que gostaria que fosse feito a vocês.” Alguns testemunhos do Sports4Peace, entre outros: os esquiadores Hermann Maier, Michael Walchhofer, o piloto Ralf Schumacher, o ex-caçador Gianni Rivera, Johann Cruijff, o maratona olímpico Stefano Baldini.

Uma cultura do esporte orientada para a construção da fraternidade universal se exprime também em ações concretas que se dispõe para favorecer a prática esportiva das pessoas, em países em desenvolvimento ou em situações com problemas sociais. Para este fim o Sportmeet dá assistência a alguns projetos esportivos de valor social: no Cameron, na República Democrática com promoção da prática esportiva em três colégios e escolas locais; na Argentina, Brasil, Colômbia e Polônia, com a assistência a projetos esportivos em favor de crianças e em regiões de dificuldade e risco.
Estas são as primeiras sementes de uma nova cultura esportiva, alimentada pela espiritualidade da unidade, e os primeiros exemplos tangíveis realizados no esporte.


Notas

1 C. Lubich, Rosario (Argentina) 2.6.2005 Messaggio al Convegno “Ciudades por la unidad”

2 www.un.org/sport2005

3 O esporte oferece a ocasião de “uma compreensão melhor e recíproca de amizade para onstruir um mundo melhor e mais pacífico” Carta Olimpica

4 Knut Dietrich: in: Sportler für den Frieden, Sven Güldenpfennig/Horst Meyer (Hrsg.), 1983, pag.20

5 Lubich C., Messaggio a Sport & Joy – Com o esporte autêntico desencadeia a alegria, contresso internacional do Sportmeet, Trento, 17.09.2005

6 Lubich C., Mensagem para Educar e educar-se através do esporte, congresso internacional do Sportmeet, Vienna, 08.09.2004

7 Giovanni Paolo II, Omelia al Giubileo degli Sportivi, 2000, n.3

 

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