Jovem, pobre, solteiro, com pouca escolaridade e religiosidade. Esse é o perfil predominante da população carcerária de São Paulo e do Rio de Janeiro, segundo pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas. Realizado depois da onda de violência nos presídios paulistas, o levantamento mostra que, além dos investimentos em educação, a geração de emprego e a diminuição da desigualdade social devem ser prioridades.
O acesso à educação influencia diretamente na possibilidade de uma pessoa ser presa, revela o estudo. Em São Paulo , aqueles que tiveram menos de seis anos de estudo têm 2,2 mais chance de serem presos do que os demais. O impacto é ainda maior na capital carioca. Entre os fluminenses, quanto mais anos na escola, menor o risco de ir para uma penitenciária: ter mais de seis anos de escolaridade reduz em 70% a possibilidade de uma pessoa ser presa.
Se a educação pode prevenir a prisão, o investimento em geração de empregos e o combate à desigualdade social ajudam a evitar que o preso retorne à penitenciária. Na disputa por uma vaga de emprego, um preso fluminense teria 50% menos chance de consegui-la se tivesse de competir com uma pessoa fora da cadeia, no Rio de Janeiro. Se conseguisse a vaga, a situação ainda não pareceria favorável: seu salário seria menos que a metade do que o de um cidadão sem ficha criminal. "A desigualdade social e o desemprego influenciam mais do que a pobreza e o analfabetismo", analisa o professor da FGV Marcelo Neri, responsável pela elaboração da pesquisa.
O levantamento indica um foco para políticas de prevenção à violência: elas devem ser voltadas, principalmente, aos jovens, do sexo masculino, entre 20 e 24 anos. E solteiros. A pesquisa, feita nos presídios do Estado de São Paulo e do município do Rio de Janeiro, revela que o número de solteiros é 3,5 vezes maior na população carcerária paulista. No Rio, a relação é duas vezes maior. "Os jovens, solteiros, sem família constituída, estão mais propensos a assumir riscos", afirma Neri.
Quando o perfil da população dos presídios dos dois Estados é comparada, em São Paulo percebe-se maior presença de imigrantes e no Rio, de negros e pardos. Assim como na população de cada Estado.
A falta de religiosidade dos presos fluminenses chamou a atenção do pesquisador. "Rio é o Estado com o maior número de ateus e a população carcerária é ainda mais atéia", aponta Neri. Na capital fluminense, o número de presos sem crenças religiosas é quase o triplo da população do município que também se declara sem religião. Entre os jovens, 52,2% dizem não seguir nenhum tipo de religião. Em São Paulo , a composição religiosa é mais parecida com a brasileira. O catolicismo predomina (48,7% dos presos; 71,7% no Estado) e os evangélicos são em menor número do que no Estado.
A pesquisa traça um retrato comparativo da população adulta do Estado com aquela que vive nas prisões a partir de uma amostra de 5,4 mil presidiários paulistas extraída do último censo do IBGE. Apesar de o levantamento no Rio de Janeiro restringir-se à capital, Neri explica que o perfil dos presos fluminenses é semelhantes ao dos detentos cariocas.
|